quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Silogismo Neoliberal

P1- O sistema actual é inevitável.

P2- O sistema actual sacrifica milhões de pessoas.

C- O sacrifício de milhões de pessoas é inevitável.

10 comentários:

Joao Galamba disse...

sao as tais afinidades marxisto-utopicas. A historia e o presente sao sacrificios necessarios que temos de sofrer. Progresso e' depois. O Bernstein (nas lectures que eu disponibilizei sobre a fenomenologia do espirito do hegel) diz que uma das razoes pelas quais nao e' liberal e' que nao pode considerar a historia como um mero passado. Posto assim, as vitimas nao podem ser uns dados estatisticos ou ingredientes necessarios para o que quer que seja se venha a realizar. Ele destaca a dimensao tragica da historia que diz encontrar em Hegel (interpretacao muito disputada e que contraria a leitura tradicional)e critica ideologias que nao concebem essa dimensao (Marxismo e Neoliberalismo). Inevitabilidades sao necessariamente extra-politicas pois tornam-se uma especie de dado ou lei natural que nao compete aos homens contestar politicamente (lembro-me do Joao Miranda quando disse que o liberalismo apenas se preocupava com a forma de funcionamento do mundo). Da uma olhada nas lectures que acho que vais gostar. Um abraco.

Joao

Joao Galamba disse...

mas ha um ponto que os neoliberais contestam no teu silogismo: que o sistema actual sacrifica milhoes de pessoas. Ou seja, eles precisam de uma especie de filosofia progressista e tem que se manter fieis a este credo. Sera que ele e' verdadeiro? Eu acho que nao, mas a minha razao nao e' economica. Acho que se entrarmos por ai, os neoliberais tem alguma vantagem, pois nao e' liquido que o mercado (apesar de todas os seus custos)nao seja a forma mais eficiente e eficaz de garantir o tal progresso material. O mercado tem componentes igualitarias fortes (a origem protestante e o odio a distincoes qualitativas que lhe esta associado sao fundamentais). O combate por um elemento meramente distributivo e' muito dificil de travar (acho eu), pois o contexto onde ele era possivel tem vindo a desaparecer. Como acho que utopias cosmopolitas distributivas sao uma ilusao (perigosa) o debate tem de ir por outro lado. Acho que algumas posicoes da teoria critica e seu seguidores sao fundamentais, embora tenha duvidas quanto ao seu potencial practico. Dilemas e tragedias...

André Carapinha disse...

(muito pouco tempo para comentar)

O problema dos neoliberais é justamente, como dizes e bem, essa filosofia "progressista". Como se trata de um credo que dispensa qualquer análise de outra índole, eles nem sequer reparam na essência daquilo a que chamam "mercado". Que mercado é esse onde os dados estão viciados à partida? Para eles é só deixar andar, que os mais aptos sobreviverão para bem de todos e blá blá blá, quando lhes escapa precisamente a História, e tudo o que nos ensina em termos de relações estruturais de Poder, como mostra o Focault. Num mercado viciado, a livre-concorrência é apenas a perpetuação dos mais fortes.

(voltarei)

Abraços

Anónimo disse...

As iniciativas de André Carapinha suscitam o nosso empenho. Algumas notas para se pensar em acto. Caso contrário, como dizia Adorno,a forca das coisas torna-se em determinacao negativa. 1)." A brguesia veio ao poder porque é a classe da economia em desenvolvimento. O proletariado nao pode ele próprio ser poder, senao tornando-se a classe da consciência. O amadurecimento das forcas produtivas nao pode garantir um tal poder,mesmo pelo desvio da despossessao crescente que traz consigo. A tomada jacobina do Estado nao pode ser um instrumento seu ", Guy Debord; 2)Os conceitos teóricos nunca oferecem uma alternativa real- é preciso nao nos enganarmos a esse respeito. No seu exercício mais radical, fazem oscilar a realidade, representam um desafio ao real. E devem continuar dessa forma, sob pena de se vos oporem sob a forma de juízo de valor, sob a forma de princípio, e em particular desse princípio de realidade a que se deve opor resolutamente ". J. Baudrillard.;3) O que liga estreitamente a teoria de Marx ao pensamento científico é a compreensao racional das forcas que se exercem realmente na sociedade. Mas ela é fundamentalmente um além do pensamento científico, onde este nao énservado senao superado: trata-se de uma compreensao da luta, e de modo nenhum da lei: " Nós só conhecemos uma ciência: a ciência da história ", dizia a Ideologia Alema( G. Debord). Marx tinha razao, essa a grande crítica a todos os revisionistas,nao se trata de tentar interpretar o mundo, mas, pelo contrário, de o transformar. Debord, Castoriadis e Tony Negri sao vias redentoras para a accao, que o 2+2=5 tem analisado, a par e passo. FAR

AA disse...

Quem vicia o mercado?

Anónimo disse...

Refutação desejável do silogismo neoliberal- tentativas metafísicas

No melhor dos mundos possíveis temos de poder negar a conclusão:
Se o sistema actual é inevitável então ele sacrifica milhões de pessoas. Agora por modus tollens:Se o sistema actual não sacrifica milhões então não é inevitável!!! Sacrifica quase todos

André Carapinha disse...

O Poder

Anónimo disse...

pois é, mas este silogismo não é válido, o sujeito na conclusão é mais extenso q na segunda premissa onde é predicado e viola uma das regras do silogismo aristotélico...

e qd nãe é válido, é falacioso!!tem de ser rearranjado...

André Carapinha disse...

O silogismo é válido se se interpretar como uma bi-condicional ("se e somente se") e não como uma condicional ("se... então...")

André Carapinha disse...

Aliás, a primeira premissa remete logo para a bi-condicional:

O sistema actual é INEVITÁVEL

É preciso um pouco de interpretação dos termos, isto não é lógica pura.