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terça-feira, 13 de julho de 2010

O Mundial da vuvuzela - Breves notas finais


Desculpem o atraso, tenho andado com mais que fazer que blogues, e mesmo agora o tempo não abunda. O Mundial terminou, venceu o melhor, como quase sempre acontece. A Espanha é de longe a melhor equipa do mundo na actualidade, e provou-o num Mundial em que foi crescendo de jogo para jogo.
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A Holanda jogou a final com as armas que tinha. Para tal, descaracterizou o seu futebol. O lateral-direito perseguiu Iniesta por todo o campo. Os médios de cobertura passaram o jogo a correr como loucos atrás dos médios espanhóis (e a distribuir porrada, diga-se). Kuyt, em vez de extremo, parecia um segundo lateral, sempre de olho em Sérgio Ramos. O Próprio Sneijder aparecia amiúde, qual trinco, à frente da sua área. Seria possível jogar de outra forma contra esta Espanha? Não me parece. O plano era o possível, e esteve perto de resultar, obrigando à lotaria dos penalties. Não era possível à Holanda fazer mais, e muito mérito ao seu treinador, por levar uma equipa que não era das melhores em prova à final, e ficar tão perto do seu objectivo.
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Fabrégas ficou guardado no banco, qual arma secreta, até ao minuto 85. Entrou, encheu o campo, levou a bola para a frente, e assistiu Iniesta para o golo decisivo. Realmente quem tem jogadores como a Espanha, e se dá ao luxo de ter no banco Fabrégas, Silva, Marchena, Navas, Llorente ou Torres, arrisca-se sempre a ganhar. Ao seu treinador, o mérito de fazer o mais difícil neste momentos: a gestão do grupo, que todos se sintam importantes. Mesmo Fabrégas, o caso mais difícil (é a estrela do Arsenal, está a ser negociado com o Barcelona e pouco jogou), ainda foi a tempo de deixar a sua marca, de se sentir parte do triunfo.
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Uma nota final para o meu querido amigo Luiz Inácio: escrever (e pensar) sobre futebol é uma alegre inutilidade. Um passatempo como jogar às cartas. Há por aí muita gente, isso sei bem, que ocupa o vazio dos seus dias a pensar de modo monotemático e monocromático, no futebol e no seu clube, ou seja, na sua religião. Há também, e viu-se por essa blogosfera, quem se preocupe, e escreva posts em catadupa, sobre se o futebol é de esquerda ou de direita, que futebol é de esquerda ou de direita, e outras minudências. Isso sim, diria eu, é perder tempo. Olhar para o futebol com o olhar felino do analista, é para mim como interpretar o subtexto do texto. Claro que se o analista é bom ou mau, isso já é outra conversa.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Notas sobre o choque e o espanto no Mundial da vuvuzela (7), ou a máquina espanhola


Falei, na minha crónica anterior, da máquina alemã. Pois o que se viu nesta segunda meia-final foi a máquina espanhola. Pela primeira vez a Espanha fez um jogo à altura do seu estatuto, e o resultado foi uma exibição portentosa, um domínio quase absoluto sobre a melhor selecção em prova até então, um futebol de posse de bola e controlo total do jogo, servido por um conjunto de médios de qualidade estratosférica, de avançados do melhor que há, e de uma defesa onde todos sabem jogar à bola, e assim podem fazer parte da circulação verdadeiramente estonteante que a selecção espanhola produz.
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Tinha aconselhado Del Bosque a colocar o Fabrégas, mas o treinador espanhol fez melhor. No lugar do Torres colocou o Pedro Rodriguez, um extremo convertido em falso segundo-avançado, sempre a cair para os flancos. A equipa ganhou assim o que lhe vinha faltando: largura de jogo e profundidade pelas alas. Os laterais Capdevilla e, especialmente, Sergio Ramos, cavalgaram para a frente e para trás, originando superioridade no ataque. Eu tinha escrito sobre os centrais da Alemanha não serem tão bons como os de Portugal; pois bem, a Espanha pressionou-os logo no momento da saída de bola; como são cepos a jogar, ao contrário dos espanhóis, os erros sucederam-se. Depois, foi observar na soberba qualidade técnica de Xabi Alonso, Iniesta, Xavi, Busquets, Villa e Pedro a circular a bola, anestesiar os alemães, e esperar pelo momento certo para desferir o golpe. Um show de futebol táctico e técnico. Depois da derrota no primeiro jogo, a Espanha foi crescendo, e chega ao jogo decisivo no topo da forma, finalmente com o problema táctico solucionado, com a inclusão de Pedro, e ainda com Fabrégas como possível arma secreta, caso seja preciso dar maior profundidade ao meio-campo. Vamos ver o que diz o polvo, mas cheira-me que vai prever nova vitória espanhola no domingo.
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E o que dizer do Queiroz a surgir no Sol a acusar a FPF de amadora, depois a desmentir acusando o jornalista de "vigarista"? As barracas sucedem-se, e alguém para além do "professor" ainda acredita que ele tem condições para continuar?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Notas sobre o choque e o espanto no Mundial da vuvuzela (6), ou o Mundial dos treinadores


Estou sempre a falar de treinadores nestas crónicas. Talvez eu mesmo seja um desses milhões de treinadores wannabes, frustrados. Mas como não o fazer neste Mundial? Onde estão as estrelas, Kaká, Messi, Ronaldo ou Rooney? Quem ficou no seu lugar? Para além da Espanha, uma equipa que talvez não tenha ainda expresso todo o seu potencial, e muito por causa de algumas dúvidas tácticas que o seu futebol oferece, os outros três semifinalistas são equipas cuja principal característica é a organização, o perfeito enquadramento dos jogadores na táctica, que permite aos artistas expressar da melhor forma o seu futebol, através do jogo de equipa, onde não se observam "estrelas" a tentar resolver jogos sozinhas, a tentar fintar o impossível, e mesmo no caso onde a diferença entre a estrela e o resto dos jogadores é gritante, o Uruguai.
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À Argentina faltava jogar com uma equipa de topo, e o fracasso foi total. Maradona não é um treinador. Viram-no no fim do jogo? Os treinadores vão ter com os seus jogadores, confortam-nos pela derrota, lembram-nos da efemeridade da vida e do jogo, e das coisas verdadeiramente importantes. Diego foi chorar com eles para o balneário. Ele é um deles. Um capitão, não um mister. Claro que se isto resultou enquanto se tratou de inspirar espírito de equipa e uma certa aura à volta deles (dos jogadores, ou seja, do capitão  Maradona e dos outros), tudo foi mais complicado quando o assunto passou a ser o de tomar decisões difíceis, decisões de treinador. Por exemplo, tirar o Higuain e colocar o Milito, num jogo que estava tanto a pedir o Milito, um verdadeiro ponta-de-lança em vez de (mais) um avançado móvel. Maradona não foi capaz de tirar um dos seus, um dos seus principais. Para além disso, o dilema táctico da Argentina sempre foi o de jogar com Messi a 10, atrás de Tevez e Higuain. Se isto resultou contra equipas fracas ou médias, contra a Alemanha foi gritante a falta de alguém a recuperar bolas e a ajudar o Mascherano, quando os três da frente ficavam lá parados, o Di Maria estava encostado à linha e o Maxi Rodriguez parecia perdido em campo. Mas o essencial não foi isso. Se a Argentina teve ocasiões para empatar (com os jogadores que tem, era impossível que não tivesse), a dado momento chegou a exasperar-me a imobilidade do "treinador", como ele não tomava a decisão óbvia, aquela que milhões de treinadores "wannabes" gritavam a plenos pulmões, pôr o raio do ponta-de-lança, e ainda por cima um dos melhores do mundo, em campo.
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Por falar em treinadores, o do Uruguai, Tabarez, deve ter andado a enganar-nos bem este tempo todo. Como é possível que uma equipa que durante quase todo o torneio joga com dois ponta-de-lança puros e um avançado vagabundo por trás (mais ou menos como a Argentina, mas com muito menos classe em campo, e avançados mais fixos que móveis) defenda tão bem, execute tão bem o pressing e seja eximia na recuperação? Talvez possa dar umas lições ao Maradona.
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Uma meia-final espectacular, e tiro o chapéu ao Uruguai: organização, força, e um imenso querer em campo. Obrigou a Holanda a vestir-se de gala para passar. Amanhã, a melhor equipa até ao momento, a Alemanha, contra a equipa com melhores jogadores ainda em prova, a Espanha. Esta Espanha apresenta alguns problemas evidentes: joga sem extremos, pelo que pouco lateraliza em profundidade. Depois, são todos exímios a trocar a bola, mas parece faltar alguém que corra com ela para a frente; no Euro2008 a coisa também começou assim, mas depois entrou Fabrégas para a equipa, e tudo mudou nesse aspecto. Neste mundial ele tarda em entrar. Será que o Del Bosque está com dificuldades em escolher, entre todos os seus excelentes jogadores do meio-campo para a frente, aquele a sacrificar? Ou confiará em absoluto no poder hipnótico do toque de bola espanhol? Contra a máquina alemã, que alia uma impressionante precisão táctica a uma invulgar velocidade na frente, e a uma criatividade que resulta já da evolução do jogador alemão, isso pode não chegar. Agora reparem que, dos jogadores alemães, o trinco, o lateral-esquerdo, e os dois centrais não tinham lugar na selecção portuguesa. Mas quando jogam nesta equipa parecem de classe mundial. Não são apenas os jogadores que fazem a equipa; ela também faz os jogadores. Ou não fosse este o Mundial das equipas, perdão, dos treinadores.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O desporto-rei e a rainha das nações (3)


(Aparte: estou com pouco tempo, mas mais logo retomarei as "notas", com especial ênfase à Argentina, uma selecção sem treinador. Até logo, meus fieis leitores)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O desporto-rei e a rainha das nações (1)

Ronaldo e Queiroz


Um video da "Cuatro" espanhola sobre o dia menos bom de Ronaldo contra a Espanha. Aos 2 minutos e 10 segundos: "Assim não ganhamos Carlos". Cristiano para Queiroz após a substituição de Hugo Almeida. Até o Ronaldo percebeu; e essa de tratar o seleccionador por "Carlos"...
É óbvio que havia um problema de liderança, de respeito pelas decisões do treinador. Só o mais fanático dos "queirozianos" não vê isto depois de se repetirem os casos e casinhos, as declarações mais ou menos a quente, os recados para dentro e para fora. Voltarei ao tema com mais profundidade, talvez mais logo.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Notas sobre o choque e o espanto no Mundial da vuvuzela (4), ou Nem choque nem espanto


A importância de uma substituição: O fatídico minuto 60. Duas substituições quase em simultâneo. Del Bosque, o treinador da Espanha, coloca um ponta-de-lança torre, o Llorente do Bilbau. Queiroz, o treinador português, tira o ponta-de-lança torre, o Hugo Almeida, e coloca um extremo, o Danny. Em três minutos, a Espanha empurra Portugal para a sua área, o Llorente quase marca de cabeça, e o Villa acaba por fazer golo, num movimento colectivo que, todo ele, tira partido da recém-chegada superioridade na área portuguesa. Um jogo dividido desiquilibra-se nos pormenores-pormaiores, como aliás o nosso próprio treinador tinha antecipado. Um daqueles pormenores tão pormaiores que, desta vez, toda a gente reparou.
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O balanço possível, para já: Estou com pouca vontade de escrever. Desiludido. Apesar de detestar este treinador, a selecção chegou a fazer-me acreditar. Quis comer o meu chapéu, acabei a beber cerveja  em conversas inúteis sobre o que é a arte, e os apoios do Estado à cultura. Merdas para esquecer. De regresso à Terra, à Pátria do Futebol, ao nosso Portugal dos Navegadores à conquista da Boa Esperança, relembro o filme do Mundial 2010 para a selecção nacional: nem bom nem mau, antes pelo contrário. A pior das sensações, um agridoce na boca.
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O futuro, para já: Voltarei ao tema, e com a profundidade que se exige a um escriba do meu calibre, mas quero adiantar desde já algo sobre o futuro da selecção, já que sei que as altas instâncias do futebol nacional fervem de ansiedade pelas minhas instruções: ganhámos alguns jogadores; acima de todos, o Eduardo, que passou o teste com distinção e provou ser guarda-redes de classe mundial. O Coentrão, apesar de hoje menos bem, demonstrou ser o lateral-esquerdo que faltava. O Meireles e o Tiago, mais o primeiro, são dois médios completos que terão sempre lugar num futuro próximo. O Hugo Almeida surpreendeu e deixou a interrogação sobre a necessidade de naturalizar um brasileiro para o lugar, ainda por cima trintão. Os centrais são excelentes, e o Carvalho ainda aguenta bem mais uns tempos. Foi pena o Amorim, que nem tinha sido convocado inicialmente, ter-se lesionado e assim não ter podido provar ser o melhor lateral-direito disponível (até o João Pereira é melhor que o Paulo Ferreira, o Ricardo Costa e este Miguel juntos). Portugal continua a ter um excelente lote de jogadores. No fim do jogo pareceu que o Ronaldo tinha dito merda ("perguntem ao Queiroz", disse ele, quando questionado sobre o jogo). É pena ter desdramatizado posteriormente, porque era um óptimo pretexto para retirar-lhe a braçadeira de capitão. Dar-lha foi um erro do Scolari, salta à vista de todos que é demasiada responsabilidade para aquela cabeça, e que o melhor era deixar o "minino" jogar, ser estrela, decidir jogos, mas que seja outro a liderar o grupo, que para isso ele não dá.
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O Queiroz, para já: Toda a gente sabe a minha opinião sobre este treinador. E neste Mundial, até esteve bem melhor que eu supunha; mas é medíocre, medroso, e, seja pela lógica do jogo, seja por motivos que nos ultrapassam e que se calhar estão escritos nas estrelas, continua a falhar (outros acham que tem azar. Também vale). Infelizmente, conhecendo o Madail e esses figurões da federação, estou a antever mais dois anos de "projecto", "renovação", "estruturação", enfim, de um futebol sofrível.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Onde se prova, mais uma vez, o meu conhecimento sobre futebol. Ora aprendam:

Quem quiser entender aquilo que um jogador vale para uma tática, que veja o jogo do Brasil hoje. Jogar com o Ramires em vez do Filipe Melo, sem alterar em nada a tática, foi uma mudança da noite para o dia na qualidade de jogo do Brasil. O "duplo pivot", para funcionar bem, precisa de um médio mais defensivo, trinco puro, e ao lado de outro que seja um verdadeiro transportador de bola: Costinha-Maniche; Petit-Tiago, e etc. Isto toda a gente sabe, mas parece que o Dunga não sabia. Jogando com o Gilberto e o Filipe Melo, apresentava um onze com dois trincos puros, uma ideia boa para o Gil Vicente quando vem jogar à Luz. Com o Ramires, que é a melhor opção que tem à disposição para o lugar, a equipa ganhou um verdadeiro transportador de jogo: partindo do mesmo princípio posicional, a dinâmica é completamente diferente. Vejam o golo do Robinho, e a cavalgada que o Ramires faz com a bola do meio-campo à entrada da área. Claro que isto aconteceu por acaso, já que o Filipe Melo se lesionou. Irá Dunga perceber a tempo a razão da mudança na qualidade de jogo do escrete? Nunca se sabe.
Entretanto, quanto a nós amanhã, espero que a ideia do Queiroz não seja a de jogar como fez contra o Brasil: dar a bola à Espanha é suicídio, o que os espanhóis mais gostam é de ter a bola nos pés e circulá-la. Ao contrário do Brasil, não perdem a paciência, aliás a paciência é a grande virtude do jogo da Espanha, e é tanta que às vezes começa a ser um defeito, já que os espanhóis parecem convencidos que, com calma, o golo há-de aparecer mais cedo ou mais tarde. Na verdade, com este treinador nunca estou seguro, o seu currículo em perceber as coisas mais simples do futebol não é famoso. Mas nunca se sabe.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Notas sobre o choque e o espanto no Mundial da vuvuzela (3), ou Eu ainda como o meu chapéu


O choque e o espanto: Não, desta vez não fui eu a dar a táctica ao Queiroz. Eu teria jogado olhos nos olhos com o Brasil, e não assumindo a superioridade do adversário. Sabem que mais? Hoje o gajo esteve melhor que eu. Estou a começar a ficar muito espantado com o que se está a passar, já que, se é verdade que um relógio parado dá as horas certas duas vezes por dia, neste caso começo a pensar que alguém deu corda ao relógio. Mas vamos aos factos: apresentando-se num 4x5x1 muito defensivo, com um médio esquerdo de contenção, um lateral direito que é um central extra, o Pepe no lugar do Pedro Mendes, e deixando o Ronaldo na frente para o contra-ataque, a linha inicial de Portugal, desta vez, deixou toda a gente com a pulga atrás da orelha. Talvez este facto se tenha, também, devido ao sítio onde assisti ao jogo: o British Bar, a pátria dos cépticos insuportáveis. A verdade é que, desta vez, o inominável acertou. O excesso de gente na defesa fez o Brasil perder bolas atrás de bolas. Este Brasil, já se sabe, ataca com pouca gente, e o Dunga é incapaz de desfazer aquele patético duplo-pivot na frente da defesa. Resultado: a nossa superioridade em número na zona de ataque do Brasil, aliada a uma boa concentração dos defesas, e, é preciso dizê-lo, a uma tarde de pouca inspiração dos brasileiros, quase anulou o perigo do escrete. Em compensação, as bolas perdidas originavam contra-ataques perigosos, e apesar da jogada de maior perigo da primeira parte ter sido do Brasil, graças ao Ricardo Costa (tapa-se a manta de um lado, destapa-se do outro, já se sabe...), o maior número de chances foi nosso. Jogo parecido na segunda parte, uma oportunidade do Meireles para empatar o também em  chances claras de golo, algum risco, mas pouco, com as entradas do Simão e do Pedro Mendes. O Brasil, diga-se, também pouco parecia interessado em arriscar. Não esquecer que o empate os deixou em primeiro lugar.
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Estilo: Não alinho com aqueles que dizem que Portugal "não assumiu o jogo", e coisas que tais. O que interessa, no futebol, não é a forma, mas o conteúdo. Desmultiplicando: pouco importa se se joga em ataque continuado, como o Brasil, ou em puro contra-ataque, como a nossa selecção hoje: o que importa no futebol é criar oprtunidades e marcar golos. Duvido muito, mas muito mesmo, que jogando de igual para igual com o Brasil tivessemos, não só evitado as chances deles, como criado tantas nossas.
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No entanto... Não deixa, contudo, de ser verdade, que hoje era Portugal que tinha algo a ganhar do jogo, e não o Brasil, ou seja, evitar a Espanha nos oitavos. Apesar de estar a dar o braço a torcer quanto às minhas previsões calamitosas sobre a prestação da equipa orientada por este treinador inútil, vamos ver se não pagamos caro os erros e a falta de coragem do primeiro jogo.
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Figuras: O Eduardo e o Ricardo Carvalho comandaram com distinção uma defesa que esteve imperial. O Ricardo Costa, um jogador banal e que deixa dúvidas sobre a sua convocatória, esteve bem naquilo que lhe mandaram fazer, e o que não fez é aquilo que não sabe fazer (a maior parte das coisas que se faz num jogo de futebol). Merece destaque, já que se antevia um descalabro daquele lado, o que acabou por não suceder.
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O meu chapéu: Faço como o outro: se Portugal passar a Espanha, como o meu chapéu.
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Para destoar do clima de euforia: A nossa PSP, que parece querer, nos últimos tempos, assumir-se publicamente como a cambada de idiotas fardados e mal formados que realmente é, fez o favor de originar uma carga policial no Parque das Nações, sem razão que o justificasse, sobre portugueses e brasileiros que assistiam pacificamente ao jogo. Com ou sem Mundial, com ou sem vitórias, com ou sem esta alienação geral, de vez em quando a realidade chama-nos à Terra.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Notas sobre o choque e o espanto no Mundial da vuvuzela (2), ou Portugal através da lupa do filósofo Diógenes


Bipolaridade: 12:30, uma cervejaria em Alcântara - vox populi: "não estou nada optimista", "estes tipos não jogam nada"; "ainda perdemos com os coreanos"; "os coreanos têm lá um granda jogador, aquele nº9". 14:30, na mesma cervejaria e na rua: "Por-tu-gal! Por-tu-gal! Fom-fom-fom fom fom! Bi-Bi-bi bi bi"
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O esquecimento é o pai da repetição da história: Sete golos depois, é difícil lembrar como um jogo decorreu verdadeiramente. A euforia e o êxtase tomam conta das cabeças dos portugueses, sobretudo depois daquela garrafa de branco e do Famous Grouse no fim do almoço. Até ao primeiro golo, a coisa não estava a correr bem. Essa potência futebolística que dá pelo nome de Coreia do Norte causava problemas, e tinha, até, mais chances de golo que Portugal. Não tinha, e nunca terá, é Ronaldos, Meireles ou Hugos Almeidas. Após um golo "à Portugal", com boa jogada e enorme mérito do Meireles (a propósito, sem dúvida o melhor em campo. O Tiago foi mais influente no jogo, mas o Meireles foi-o quando o jogo estava difícil, e não quando foi altura do baile), a toada pouco se alterou. Em contrapartida, um inicio fortíssimo de segunda parte da equipa portuguesa (que me deixou, confesso, de boca aberta), resolveu o jogo. A partir daí, foi assistir à derrocada colectiva de uma equipa formatada para defender e aproveitar espaços, e ao festival dos jogadores portugueses, que se apanharam a jogar como mais gostam, com espaço na frente e onde podem tirar proveito da sua técnica, não esquecer que os jogadores portugueses são, com raras excepções, de grande classe. Eu tinha dito a quem estava comigo, que precisava de três golos neste jogo para me reconciliar com a selecção. Fizeram-me a vontade mais que a dobrar. Agora, convém que um jogo em que tudo correu bem não faça esquecer os problemas que se mantém, e que mais abaixo serão descritos, caso contrário será o primeiro passo para que esta seja uma vitória de Pirro.
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O segredo: É altura de revelar o segredo: recebi ontem uma chamada do prof. Carlos Queiroz. Perguntava-me, com ar de preocupado, voz deixando antever o pânico, o que fazer para derrotar a Coreia. Eu disse-lhe: "O Deco não corre. Já que deixaste o Carlos Martins em Portugal, mete o Tiago. E tira aquela múmia do Paulo Ferreira, o Miguel, mesmo gordo, é vinte vezes melhor. O Liedson, ó burro, não rende um boi sozinho na frente. Mais vale o Hugo Almeida, mesmo com todas as limitações que tem, pelo menos é alto, impõe o físico e ganha bolas de cabeça. E o Danny, já percebeste finalmente que é tudo menos extremo, não é? Claro que tem de jogar o Simão naquela posição, já que fizeste o favor de originar a lesão do Nani." Acabo de receber uma nova chamada do professor: "Foda-se André, tinhas razão". Ao que retorqui: "Vês ó Queiroz? Fizesses o que te digo desde o princípio e ganhavas nas calmas à Costa do Marfim. Agora, vê lá se não cedes aos barões lá do teu grupo, e manténs esta como a equipa base, já deu para veres que é a melhor, né?"
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O futuro: Que isto sirva para moralizar uma equipa que não jogava nada há dois anos (desde, precisamente, a entrada do Queiroz para seleccionador), que, como o próprio disse no flash interview, estava mesmo a precisar de um resultado destes, mas que não iluda ninguém, nem ao grupo nem a nós: tudo correu bem neste jogo, contra uma equipa muito fraquinha que, a partir do momento em que teve de atacar organizado, deixou de existir, e desde o 3-0 entrou em pânico, quando começou a aperceber-se que os familiares e amigos iam ser enviados para o campo de concentração. Para que Portugal saia deste Mundial de cabeça erguida vai ter de jogar contra equipas muito fortes, e vai ter de jogar mais. Primeiro, e isto é o essencial, deixar estes jogadores como equipa base, cedendo à tentação do Deco e do Paulo Ferreira. Depois, muito maior  coesão na equipa, linhas mais juntas em ataque organizado, menor distância entre sectores. E já agora, calem-se todos os que falam mal do Fábio Coentrão (o que acontece, evidentemente, apenas por ele jogar no Benfica): gratos devemos todos estar a Jesus, o profeta vermelho, por ter inventado um lateral-esquerdo de classe mundial, finalmente e uns vinte anos depois do último que tivemos.
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O Queiroz: Quem me conhece e quem me lê sabe o pouco em conta que tenho este treinador, um loser que falhou todas as vezes que treinou equipas séniores. Depois deste jogo, e de ter finalmente ouvido as minhas recomendações sobre a melhor equipa inicial, passo a dar a esta selecção o benefício da dúvida, não esquecendo, claro, o que está para trás (o esquecimento é o pai da repetição da história). Mas há algo de muito paradoxal, típico, aliás, do futebol, que não podemos esquecer: este treinador conseguiu deixar as expectativas sobre a prestação desta equipa, uma das melhores do mundo, tão em baixo, que agora qualquer coisa que seja mais que a barraca que se chegou a prever aparece como uma grande vitória. Aquela rara espécie de homens que são os que gostam de futebol e são lúcidos ao mesmo tempo sabem que esta vitória é boa, mas não é nada ainda em relação ao que esta equipa tem obrigação de fazer.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Temos um grande seleccionador, sempre atento a todos os pormenores

Entusiasmo no treino 'tirou' Nani do Mundial


“Acaba com o golo mais espectacular.” Foi esta a ordem que Carlos Queiroz deu na sexta-feira, no estádio do Real Sport Clube, em Massamá. Os jogadores aceitaram o desafio, com Nani a tentar ser o mais espectacular na finalização. Recebeu um centro da direita, tentou o pontapé de bicicleta e caiu sobre o ombro. Alguns minutos mais tarde acabaria por se queixar e não mais recuperou a 100%. Agora está fora do Mundial."