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terça-feira, 30 de outubro de 2007

Como se acaba com a Escola Pública

O "estatuto do aluno", especialmente no que toca ao fim das penalizações por faltas injustificadas, é a prova que faltava, se era preciso prova alguma mais, de que os "responsáveis" pelas políticas educativas em Portugal, ou perderam o juízo, ou estão completamente desligados da realidade do que é uma escola neste país, ou se preocupam apenas com as estatísticas do insucesso escolar e nada com os resultados das políticas que aplicam na formação das próximas gerações deste pobre país. Ou ainda, o que é mais assustador, mas que considero plausível, não acreditam sequer no modelo de Escola Pública.
O meu ilustre colega de blogue Armando Rocheteau, nas muitas conversas que já tivemos sobre estes temas, tem razão quando diz que o poder dos professores era muitas vezes usado por pequenos ditadores, que, todos o sabemos, destruiram a vida de muitos alunos, especialmente dos menos preparados culturalmente para a sobrevivência na selva. E tem também razão quando diz que o ensino obrigatório tem, necessariamente, de ser para todos. Mas há um limite que se ultrapassou, um limite de bom senso, inteligência, e resultado. Começou algures nos anos 90, com os disparates pedagógicos das "areas escolas" e afins, ao mesmo tempo que se diminuia a exigência dos programas das disciplinas nucleares. E foi prosseguindo até atingir o climax nesta Ministra da Educação, com a total descredibilização da autoridade prática e mesmo moral dos professores, cujo culminar é a criminosa rábula dos colocados com cancro e outras doenças incapacitantes, tratados como crápulas, vigaristas, usurpadores dos recursos do Estado em seu proveito próprio.
É que o problema principal já não é, sequer, as condições de trabalho dos professores. Neste momento, a questão é mesmo os alunos. Não se consegue entender que interesse futuro terão em sairem da escola aprendendo nada ou quase nada. A escola democrática, inclusiva, e a própria essência do conceito de ensino obrigatório, entende-se facilmente, são subvertidas nesta lógica de facilitismo. Há muitos anos que não era tão compensador para o futuro de uma criança colocá-la numa escola privada. Se pensarmos que, em breve, as universidades passarão a escolher os alunos que admitem, percebe-se o triste destino das próximas gerações daqueles que, por razões económicas ou culturais, definharão no caixote do lixo da escola pública. Nessa altura será tarde para pedir responsabilidades a esta ministra ou a outros responsáveis. As virtudes da democracia representativa fá-los-ão justificar-se com a "livre escolha dos eleitores", e os seus filhos e netos aprenderão felizes no colégio, esperando o bilhete garantido para a melhor faculdade e o seu futuro brilhante, onde cumprirão a especial e necessária função de se perpetuarem como casta dominante.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Sobre o ensino (público) entre nós...

Sucede que, por vezes, vejo a RTP Memória e, por vezes, leio o jornal "Público".
Nesta segunda-feira houve uma conjunção de vistas e leituras.
No jornal uma entrevista com Júlio Pedrosa, responsável pela CNE, e na TV uma reportagem de Barata Feyo sobre o Plano Nacional de Alfabetização (1978).

Perfazemos exactamente 3 - décadas - 3 de erros consecutivos no nosso sistema de ensino (público)!

Desculpem, mas é aquilo que deduzo. Do dito plano aos dias de hoje vejo apenas uma tentativa para facilitar.
Criar a ilusão para que esta se pareça com a realidade - esta tem sido a política seguida.

Um Ministério a engordar de funcionários, gente que se fica pelos corredores e engrossa as Direcções Gerais e Regionais e tudo o que seja burocracia para evitar o contacto com a situação real: sala de aula.

As famigeradas ESE's, ao abrigo dos Institutos Politécnicos (Públicos), a lançar para o Sistema gente que não tem nem habilitação, nem condição para se considerar Professor.
Lanço o desafio: vamos ao 1º ciclo do Ensino Básico Público e contabilizemos as habilitações e a proveniência das mesmas daqueles que são efectivos desse mesmo quadro.
E lá me vejo eu a questionar os docentes. A culpá-los daquilo que não funciona neste sistema de ensino. A achar que se uma professora não consegue responder correctamente num concurso televisivo devia procurar outra profissão ou, então, dar o seu lugar a uma criança com 10 anos...

Sem rei nem roque.
Há ideias para o nosso sistema de ensino?

A fazer fé nas últimas determinações do ME (estatuto do aluno do Ens. Secundário) parece que entrámos num 'sauve qui peut...'.

O 'pãozinho': esse continua a ser essencial. Não há escolaridade obrigatória, nem abandono escolar sem que estejam garantidas as condições para que uma família mande o seu filho à escola.
A fome sempre foi má conselheira, sabêmo-lo todos. Com a barriga a doer, por estar vazia, não há lugar para discernimento de qualquer espécie.
Quem quer aprender de barriga vazia?...

O ensino, entre nós, continua a ser um problema social.
Lá vou eu ao desperdício: ponham os olhos no Porto: 3 - dias - 3 para uma Conferência, que começou hoje e há-de terminar na próxima 4ª feira, sobre o Ensino Artístico em Portugal, organização a cabo do ME, com convidados estrangeiros e etc.
As Escolas Soares dos Reis e António Arroio a desmarcar-se de tal evento, os órgãos de comunicação a calarem, a conversa de surdos, com tradução directa.

Tudo vai bem, no melhor do mundo possível. Ou, como diria Pangloss: "o que se deve dizer é que tudo está o melhor possível.".