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sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mundo Cão


Nas últimas semanas mudei a minha visão do mundo. O “Quando o povo tem fome tem o direito de roubar”, do Belmiro, ajudou nisso.

Percebi também que a Grécia continua a abalar consciências. No Secundário costumava ouvir dizer que aquilo que identificava os gregos, face aos outros povos da altura, era a ausência de chefes. Obedeciam à lei e à ordem e assim combatiam. Os gregos da Antiguidade, bem entendido. Hoje anda meio mundo excitado com o cão grego libertário, que se passeia entre manifs e morde as pernas aos polícias.
Lembrei-me que as minhas cadelas podem ter nesta crise um papel. A Lex , como o nome indica, está do lado da ordem e quer filar o Belmiro. Já a Boom, mais alternativa, quer andar na boa-vai-ela atrás do Kanelos.

Nada como um banho para aclarar ideias.

Da vossa,

Josina MacAdam

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O dia em que meu pai foi Ringo Starr


(Desenho João Neves)

Quando o JSP aqui homenageou o Roberto Carlos e o Barroca, fez referência ao Clube Roberto Carlos da Mafalala e lembrei-me de mais esta história. Por inabilidade minha, da qual não são culpados, para a entenderem ajudaria, para quem não viveu esses tempos, ler A Curva do Rio, do Naipaul, e qualquer dos Coetzee, que descreva a África do Sul.
O Barroca era um português de gema. Um Oliveira da Figueira na figura e na capacidade adaptativa. Era um bravo. Na adolescência tinha sido mandado, de castigo, para a metrópole, fazer o equivalente ao 9º ano, num internato de padres, no Norte de Portugal. Não o vergaram. Na tropa (só dois do grupo do meu pai lá foram parar) perdeu a arma durante a recruta. Foi mandado noutro castigo, agora não familiar, para a guerra no Norte de Moçambique. Debaixo de um ataque, ganzado e bêbado, foi o único a responder ao ataque inimigo. Apocalypse Now avant la lettre. Nestas andanças cafrealiza-se. Recusa a cultura do colonizador. Celebra a vida onde ainda ela faz sentido. Entra pelos compound e descobre que há uma grande festa moçambicana enquanto o caldeirão não rebenta. Arrasta os amigos e leva-os a essa enorme descoberta. Uma espécie de Os últimos dias de Saigão. Um dia desafia-os para irem a uma festa no Clube Roberto Carlos. Música do melhor. Dilon Djindji , rock e claro, música do patrono. Mal saíram do carro foram muitíssimo bem recebidos. Com tombazanas e tudo. Todos, eram seis, ficaram com os nomes de um dos Beatles, mesmo que repetido. Mesmo o meu pai, i.e. o Ringo, o Ninito, i.e. o George, e o Luís Filipe. Esse mesmo Luís que entrava, em 1978, sem camisa, nas tascas da Almirante Reis, em Lisboa, a berrar que era o Sandokan e a passar por cigano (e que na Mafalala era o Paul). Essa festa, com muito de tudo e do bom, acabou com uma carga da brigada da polícia montada que se desviou dos Beatles e varreu os outros à bastonada. Penso que terem vivido isso implicou escolhas fortes. Não terá sido o primeiro momento, também não foi o último, mas foi um dia decisivo na conversão deles à democracia e ao multiculturalismo em liberdade. O Barroca, como vos disse o JSP, morreu no Brasil. Os outros andam por aí no samba-rock. É do fado. Gilberto Freire tinha razão.

Josina MacAdam




(Fotos dos Beatles da Mafalala)

domingo, 25 de abril de 2010

25 de Abril

Há 36 anos eu não tinha nascido. O problema dos aniversários não é o do tempo que passou. É envelhecermos mal. Tipo onça ao sol. Há porém datas que me confortam. “imaginam as damas, as senhoras, as jovens e as adolescentes que só pelo 25 de Abril se tornou possível saírem à rua e ocuparem espaços públicos sem serem mandadas, impedidas, molestadas ou incomodadas? Não sejam modestas em demasia, minhas caras concidadãs, vocês foram, sobretudo por mérito vosso (pois claro), a conquista menos corroída, porque mais estrutural, daquela madrugada.”(Vias De Facto). Daqui grito já um grande: Viva o 25 de Abril. Mas nem tudo por cá é alegria. O meu pai a propósito da data teve uma discussão sobre o 25 de Abril e o 25 de Novembro. Acabou mal. Também só um reaça como ele é que se ia lembrar da associação. E logo frente à namorada, que me faz lembrar a Pasionaria. Lá vai ele acabar o dia abraçado aos amigos a cantar o Vieille canaille. Hoje o João Neves fazia anos e já não estão todos. Também não estão sós. Vivam os amigos à solta!

Josina MacAdam

Para os amigos de meu pai

Serge Gainsbourg

domingo, 14 de março de 2010

Homens que Matam Cabras só com o Olhar

A mim já nada me anima. Apenas o meu Sporting, sob o efeito Costinha, me pode tirar deste ambiente depressivo em que vive o País e o meu pai. Deixemos o futebol de lado. Ponhamos também de parte a política (o Congresso do PSD, com os Três Estarolas, seria para rir não fosse a necessidade de uma Oposição com gente de bom senso). Passemos ao meu pai. Lembram-se que aqui há tempos vos contei que estava a viver uma “fairy-tale” familiar. Pois é, o sonho acabou. O meu pai apaixonou-se e saiu de casa. Acreditam que pensou em mim ou no meu irmão? Do estado em que ficou a madrasta nem vos falo. Mas graças a uma espécie de justiça divina está a pagar o seu desvario. Ainda não dorme debaixo da Ponte 25 de Abril, mas sem grande esforço lá chegará. Incompatibilizado com a paixão (bem feito), que o expulsou de casa, está a viver numa mansarda da Baixa de Lisboa. Eu, que fiquei a viver na casa da família que ele abandonou, vou de quando em vez, durante o dia, tomar um café com ele ao tasco da esquina. O meu irmão, por imperativo da regulação do poder paternal, fica com ele de 15 em 15 dias e já deve conhecer muito bem o “bas-fond” e as noites sórdidas da capital. Claro que a mãe do meu irmão se insurgiu com o actual estado das coisas e escreveu a meu pai. Acontece que burro velho não aprende línguas e a misoginia é um traço de carácter da geração que nasceu nos anos 50 do século passado. Para mim é pré-história. Meu pai respondeu-lhe de uma forma curta dizendo que era o pai que podia ser, mas que era pai. (Aqui até lhe dou razão porque me parece que além de ter sido um bom pai para mim, também o foi para o meu irmão e para ela própria, que era muito novinha quando casaram). Disse ainda que o lugar onde vivia tinha uma beleza poética, segundo a Gabriela, uma esteta amiga dele. E quase concluiu a jogada apresentando a prova dos seus dotes paternos. Tinham ido pai e filho ver o filme: Homens que Matam Cabras só com o Olhar. Por último rematou: “Infelizmente não tenho poderes paranormais”. Valha-nos o Costinha!

Josina MacAdam

Post dedicado ao Luís Filipe, ao Parcídio e ao Severo e ainda à memória do Zé Manel e do Zé Maria

sábado, 22 de março de 2008

Na Páscoa lembro-me do fim do Verão

O Verão a acabar. Agora vem aí o Outono. Bela estação para se começar o ano escolar. A queda das folhas faz-me lembrar a depressão do meu pai. O homem ficou preso aos tiques e às convicções de “Grande Timoneiro”. Uma mistura, caseira, do Henrique Monteiro, do Expresso, com o José Manuel Fernandes, do Público, e ainda com os maneirismos do Espada, de Oxford. Só que o meu pai, coitado, propôs-se objectivos mais modestos. Tentou educar a família. Família alargada, entenda-se. E, num Verão como este que está no fim, passámos a ser menos. Foi as últimas férias que passámos juntos. Quase juntos. A minha madrasta, acabada a Universidade, estava a estagiar e a lutar pelo primeiro emprego. O meu pai tratava de nós e da casa. Parecia a “Música no Coração” sem governanta. Isto é, o meu pai fazia também de governanta. Acordávamos e deitávamo-nos com hora marcada. Aliás tínhamos hora para tudo. Para as refeições, para a praia, para os jogos, para as lições. E, quão divertidas as aulas que tínhamos! Português, Matemática e Música. As de música então eram um espanto. Sobretudo os últimos 30 minutos. O meu pai convocava a especial atenção do meu irmão, na altura, com três anos, trazia o xirico e o canário do Härz, punha o James Brown a cantar o “sex machine” e tudo solava. O timoneiro gostava do multiculturalismo. Na primeira quinzena de Julho e durante o mês de Agosto foi assim, todos os dias, à mesma hora. Não sei se estas rotinas eram por amor a Phileas Fog ou a Kant. Sei como tudo acabou. Faz, por esta altura, anos. Já em Setembro, o xirico e o canário apanharam-se com a gaiola aberta e fugiram. Quem a abriu? Penso que um foi para Norte e o outro para Sul. A minha madrasta feito o estágio entrou para os quadros da empresa e mandou o meu pai ir pregar para outra freguesia. Ao meu pai caiu-lhe um muro, maior do que o de Berlim, em cima. Deixou-se de querer educar. Mas, nem sabe o êxito que teve. Um dia, no Outono, ou noutra estação qualquer, eu e o meu irmão, cada um por si, sairá a cantar por aí o “I’m a sex machine” , esvoaçando para Norte ou para Sul.

Josina MacAdam

Com muitos ovos para quem nos visita de novo e ainda mais para os da casa. Estamos na Páscoa e tenho obrigações familiares. Peço desculpa pela republicação.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Há quem se queixe da época

Há quem se queixe da época. Vai ser Natal. Costuma ser um tempo de fecho do ano que finda e de esperança no novo ano. À volta da fogueira, aqui diz-se lareira, com entes queridos, entre morcelas, rabanadas, “fiéis amigos” no prato, com variações nas culturas familiares. Cá por casa é tempo de festejar a coisa. Com uma grande preocupação. O mais velho não se redime. Já prometeu que 2008 era a data do aparecimento do “homem novo”. Fez a barba, uma destartarização, usa uma roupita nova, diz que vai deixar o cigarro. Estará a prometer um amanhã que canta? Não vou nessa! Registo a sua inabalável esperança. Até em tempos foi às Taipas procurar ajuda. Apaixonou-se pela Psi e entendeu que não existiam as condições para que a cura resultasse. Deve ser da influência freudiana. Também é verdade que levou tratamento de allien. Lá só tratam os agarrados à dura. O meu pai deve ser dos moles, mas tem boa vontade. Haja paz na terra e esperança. Para mim e para vocês. Eu se mandasse internava-o. O Dr. Correia de Campos ajuda?

Josina MacAdam

sábado, 1 de dezembro de 2007

Conto que me perdoem

Voltei. Não trago boas notícias. O meu pai passou-se. Ontem foi comprar droga no café da esquina, “ O Central da...”, do nosso bairro. Eu e o meu irmão estamos desonrados. Já tinha ouvido falar do suicídio de classe, mas não estou preparada para viver com um burguês decadente. Que se lixe o marxismo. Onde estão privacidade e recato? E isto é cá por casa e pela vizinhança. Na madrugada de hoje apanhou com uma das novas rusgas socráticas e safou-se. Ali, ao Cais do Sodré, percebida a dimensão do aparato policial, o velho meteu a pedra na boca e, ao contrário de Demóstenes, calou-se com um sorriso de beatitude nos lábios. Velho, pior que um carocho, com sorte. Feito o desabafo vou voltar ao estudo dos códigos. Quando for dentro só lhe resta esta vossa,

Josina MacAdam
para o defender. Vivó Direito e a Democracia.