Olá!
Hoje tenho a dizer-vos que estou bem lixado com os globalizados antiglobalização. Cortaram a linha de caminhos-de-ferro que liga Kuhulungsborn a Heiligendam e eu gastei cinco horas para percorrer 16 quilómetros para falar com o grande timoneiro Durão a que alguém insistiu em chamar de “Presidente Barolo”.
Mas já lá vamos.
O que aconteceu é que para ir ao local onde os 8 Governadores se reúnem (e “penduras” como o “president Barolo”) os 5.000 mil jornalistas que aqui se encontram para rescrever “press releases” e comer e beber do bom e à borla precisam apanhar o comboio a vapor antigo, relíquia da ditadura do proletariado mas que é bem giro e que portanto merecia uma viagem.
Foi por isso que decidi ir à conferência de imprensa do “Presidente Barolo”. Lixei-me. Os globalizados antiglobalização interromperam a linha de caminhos-de-ferro o que lançou a burocracia da segurança da Bundesrepublik em paranóia total. Primeira reacção foi a do costume: ninguém mais vai ao local onde estão os 8 Governadores. O Barolo deve ter protestado porque depois lá concordaram em permitir que a malta fosse a Heiligensdam. Mas primeiro tivemos que preencher uma lista com os nossos nomes, que depois foi lida por uma gajo da segurança com bigodes grandes e que só falava alemão e que parecia um actor de um filme cómico a ter que ler os nomes da malta. Fartei-me de rir! Principalmente quando ele tentou ler o meu primeiro nome escrito com a minha letra!!! O porquê de termos que preencher uma lista de nomes que depois foi lida por um gajo de bigodes em uniforme escapa-me. Um brasileiro da Folha de São Paulo disse que isso é prova da decadência da Bundesrepublik: "Isto é organização de índio selvagem”, disse ele. “Em Moçambique está bem, mas aqui?” Fiquei calado. Deve ser vocabulário de progressistas!
Lá fomos depois de passados a pente fino pela segurança que incluía uma gaja com um cabelo loiro e uns pulmões de lhes tirar chapéu e depois fomos transportados por vedetas da marinha da Bundesrepublick até Heiligensdam. Porreiro. Um passeio de barco pelo mar báltico protegidos por gajos em barcos de borracha todos vestido de preto estilo carnaval dos Ninjas e que de vez em quando davam umas aceleradelas para impressionar os marinheiros das nossas vedetas que iam a passo de tartaruga (do mar).
Bem lá chegámos a Heiligensdam. Só que ninguém estava à nossa espera e uns gajos da segurança vestidos de fatos muito largos com chumaços debaixo do casaco estavam verdadeiramente em pânico porque não nos esperavam. Fiquei com a impressão que teríamos sido todos passados a fogo de metralhadoras se não estivéssemos sob a protecção da marinha da Bundesrepublick e dos “ninjas”. Os “ninjas” estavam lixados a gritar aos gajos dos casacos com chumaços.
Enfim! Tivemos que esperar na doca enquanto os gajos de fato e chumaços trocavam informações através de microfones escondidos nas mangas dos casacos. Nunca percebi porque é que os gajos da segurança escondem os microfones nas mangas do casaco. Um puto camera man disse-me há tempos atrás que é porque “it looks cool”. Deve ser.
Depois lá fomos a pé através de uma vila onde ao contrário do que acontece em Kuhulunsborg ainda não há recuperação da ditadura do proletariado. Velhas mansões sem pintura, com um aspecto da abandonado ao lado de algumas mansões já recuperadas para o que vai ser um local de turismo dos super ricos. Porreiro!. Fiquei a pensar que os gajos da ditadura do proletariado não deviam gostar de casas grandes. Todas a cair de podre. Atravessámos uma pequena floresta e fiquei alarmado quando um gajo da segurança nos disse : “não saiam do carreiro”. Só espero que não se esqueçam de levantar as minas quando acabar a conferência dos 8 Governadores. Mais tarde perguntei ao gajo da segurança se tinham posto minas na floresta e ele riu-se.
Lá chegamos ao local da conferência de imprensa do Durão e foi aí que um jornalista, creio que da Bulgária, começou a falar do Presidente Barolo. Ena Pai! Um camara man alemão ia caindo, da plataforma onde estava a filmar o acontecimento, de riso.
Depois da conferência ninguém estava interessado no que o Durão tinha dito. Toda a malta queria era falar do Presidente Barolo (que como vocês sabem é um vinho distinto italiano) pelo que eu acrescentei a minha parte à bazofia: “Red Barolo”. O camara man alemão foi o único que compreendeu. Horas depois já em Kuhulungsborg ia eu a sair do mictório quando dei de caras com ele. “Red Barolo”, disse o camera man para depois rebentar a rir.
Na conferência de imprensa eu fiquei lixado porque o Durão passou 95% do tempo a falar do aquecimento do global. Eu fiquei lixado porque já que na sexta feira os 8 Governadores vão reunir-se com os súbditos africanos eu pensava que os problemas da malária, da doença e da pobreza eram mais importantes. Aquecimento global é problema da brancalhada, porra. Por isso eu queria perguntar ao “presidente Barolo”: “Você acha que é possível combater a pobreza sem emitir gases que causam o efeito de estufa?”
Eu acho que é uma pergunta legítima já que os países que causam menos poluição no mundo são em África e são todos os mais pobres do mundo. Pode ser que África seja o futuro, sei lá!
Bem pus a mão no ar mas o “handler” que dirigia a conferência de imprensa não me dava a palavra e o Barolo acabou por só falar do aquecimento global o que me pôs a ferver.
Depois lá voltámos nas vedetas da Bundesrepulibk acompanhados pelos Ninjas. Cinco horas gastei eu nesta palhaçada em que o melhor da festa foi a referência ao Presidente Barolo. Quando cheguei a Kuhulunsburg fui logo beber uma “Rostock” que uma morena alemã de olhos verdes me tinha recomendado na noite anterior. Bem boa!(ambas).
Hoje quinta-feira tenho que ir encontrar-me com o Sarko. Ao princípio da noite. Espero que os globalizados antiglobalização já tenham deixado de tirar mau sino com o comboio. Não estou para outra viagem com Ninjas e marinheiros da Bundesrepublik. Senão se calhar vou é beber uma Rostock com a morena alemã de olhos verdes que graças aos milagres da globalização não fala uma única palavra de inglês, francês, dinamarquês ou mesmo português.
Um abraço
Aqui de Khulungsborg perto do local da conferência dos 8 Governadores
Jota Esse Erre