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sexta-feira, 13 de junho de 2008

Tóni Negri: " Foucault foi um marxista revisionista inteligente "


" Estava em Paris quando Foucault morreu. E recordo-me da enorme pressão para o fazerem anti-marxista. E para tentarem apresentar o seu pensamento como uma premissa de uma concepção neo-liberal da história. Vinte anos depois começamos a apurar que ele era na realidade um marxista revisionista inteligente.

"A classe operária é hoje um conceito muito estreito para poder fundar uma nova subjectividade revolucionária. Urge tentar acrescentar a essa nascente nova subjectividade revolucionária, não só a classe operária mas também o trabalhador intelectual, o funcionário dos serviços e largas franjas do campesinato. Foucault tinha antecipado esta realidade, de certa forma.

"Com efeito, Foucault tinha compreendido que o poder do Capital controla a vida dos operários na fábrica, mas age também sobre toda a sociedade. Estas dinâmicas ideias surgiram também na Itália nos anos 70, tendo contribuído para a realização do revisionismo de esquerda do marxismo. Foucault, do meu ponto de vista, foi alguém que viu no plano teórico, o que outras correntes conseguiram reinterpretar de uma forma política; entra no post-modernismo comunista dessa forma "
In " Multitudes ", revue théorique franco-italienne
FAR

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Paul Veyne: Podemos viver sem mitos?

O Foucault de Paul Veyne surgiu. Vai fazer acontecimento. Tem o rigor de um trabalho minucioso de filosofia e de história. Conta episódios fundamentais da vida quotidiana do autor de "As palavras e das coisas". Paul Veyne é um dos maiores historiadores do século XX/XXI, e conheceu M. Foucault nos bancos da ENS da Rue d´Ulm.

"A humanidade pode passar sem a existência de mitos, tais como os da consciência e do progresso? Não sei, mas não se imagina que o consiga. Assim como não se consegue vê-la sem religiosidade ou ainda sem curiosidade filosófica. Apesar de todos os Nietzsche e Foucault do mundo, a humanidade gosta de invocar a Verdade e acredita ser verdadeiro aquilo em que crê. "Mitos" é uma palavra demasiado carregada de sentidos múltiplos, falemos porventura mais de enganos; o calvinismo foi o engano da economia da empresa capitalista."

"Essa palavra engano apareceu com grande insistência sob a caneta de Foucault, e tentamo-nos para lhe dar um destino, afirmando que constitui a primeira facilidade das estetizações: não é uma necessidade (cria-a, antes do mais), e não visa qualquer finalidade; as que pretendem continuar são pretextos: a salvação, a tranquilidade da alma, o nirvana, etc. A sua energia procede da sua liberdade, de uma pulsão do eu, da misteriosa "caixa negra" íntima, mais do que qualquer doutrina persuasiva: esta serve tão-somente de engano, de racionalização e de terreno de exercício".

In « Foucault », de Paul Veyne, Albin Michel Editeurs, Paris, Abril, 2008

FAR

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Schizos e Paranos (2)

Inventar um novo estilo de escrever, de ler, de pensar. Continuemos neste desafio e provação. Mas com os sentidos e o erotismo bem activos, claro. Convidamos todos a participarem. A nos darem as suas linhas de acção e pensamento. A mostrarem as suas escolhas e predilecções. Nas últimas semanas, desencadeou-se uma grande troca cruzada de opiniões, em torno do Holocausto, provocada por uma crónica irregular e despretensiosa sobre uma visita a Auschwitz-Birkenau. O mundo da Blogosfera lusitana vive agora no balanceamento que lhe é permitido pela “ética republicana”, à la JP Pereira, e o trauma luxuriante dos filhos do pós-modernismo militante, de que o Metablogue é o expoente máximo e soberano.

O que se passa, efectivamente, é que a profusão dos comentários, e de alguns marcantes e expressos, criaram uma boa série de argumentos para seguir os conselhos de Wittegenstein à letra. Que nos prescreve, com non-chalance, o autor das Pesquisas Filosóficas? Três coisas, para que Jacques Bouveresse alerta, fundamentalmente: “A primeira, relaciona-se com o facto de não só uma cadeia de razões tem um objectivo, uma finalidade, como muitas vezes não possui nenhum começo. A ausência de justificação (no sentido de ausência de lugar para um problema de justificação), não pode, realmente ser interpretada como uma ausência de legitimidade. Podemos dizer do conceito agonal (reminiscência) o mesmo que Wittgenstein diz da dúvida, pode estar ausente ou funcionar no grau mínimo ou no máximo”.

Na última colecta póstuma de textos, “Deux Régimes de Fous”, Gilles Deleuze aborda as suas relações intelectuais e humanas com Michel Foucault. A traços fortes e decisivos, portanto: “ Não só o admirava como, ainda por cima, me fazia rir. Ele era mesmo muito engraçado Não tinha com ele senão uma coisa em comum: ou trabalho, ou digo coisas insignificantes. Há muito poucas pessoas no mundo com quem se consiga falar de coisas insignificantes. Passar duas horas com alguém, dizendo coisas insignificantes, é a súmula da amizade. Só com grandes amigos se pode falar de coisas insignificantes. Com Foucault, era do género uma frase para aqui outra para acolá. Um dia, na corrente da conversação, ele disse: eu gosto muito de Péguy, porque é um louco. Questionei-o: Porque dizeis que era um louco? Basta olhar como escreve. Isso é muito interessante em relação com o próprio Foucault. Isso queria dizer que alguém que sabe inventar um novo estilo, produzir enunciados novos, é um louco”.

(Continua)

FAR