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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Da democratização da informática


O Magalhães

Vinda de onde vem — políticos com sensibilidade às novas tecnologias, jornalistas, bloggers da direita, etc.; e nem todos são tontos — a campanha contra o computador Magalhães roça o irracional. O governo faz propaganda? É evidente que sim. Que outro governo não faria? A introdução do Magalhães na rede de ensino é uma medida de indiscutível alcance? É evidente que sim. O busílis está em que Sócrates se lembrou, e eles não. Tão simples como isto. Saber se o computador é 100% português (e já agora gostava que me indicassem um computador 100% americano, japonês, inglês, coreano, alemão, indiano ou chinês) ou resultado de parcerias, não lhe retira eficácia. O tour dos ministros era dispensável? Eu acho que sim, mas eu não faço política. O PSD teria feito exactamente o mesmo se, sendo governo, os seus ideólogos tivessem força (não teriam) para impor a distribuição de computadores nos termos actuais. O clamor da oposição é directamente proporcional à mudança de paradigma. Portugal não se resume aos meninos da alta classe média cujos papás podem pagar tecnologia de ponta. Porque os da média-média têm sérias dificuldades. E os outros simplesmente não podem (nunca puderam). O que é espantoso é que a democratização da informática, hoje, provoque sobressalto idêntico ao que teria provocado, há cem anos, uma campanha de alfabetização em massa. O resto é cantiga.


Com a devida vénia ao Eduardo Pitta

terça-feira, 23 de setembro de 2008

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Na rentrée escolar


O grande arco do conservadorismo, da esquerda à direita

Lutar contra as desigualdades num país como Portugal é difícil. Para além das dinâmicas de equilíbrio negativo que as sustentam de modo quase semi-automático, grande parte das elites económicas, políticas, profissionais, jornalísticas, etc., só se lembra delas quando se trata de acusar um qualquer governo de incompetência. Nos restantes 300 e tal dias do ano, as desigualdades não trazem grande mal ao mundo. Pelo contrário, permitem ter acesso a produtos e serviços a preços baixos.

Mas é ainda mais difícil lutar contra elas quando agentes altamente qualificados que deviam ter a luta contra as desigualdades no topo, senão da sua agenda, pelo menos da sua preocupação ou sensibilidade, desvalorizam mudanças em processos absolutamente essenciais no mecanismo de reprodução das (ou luta contra as) desigualdades.

Falo, neste caso específico, dos resultados escolares. Para estes agentes, quando os resultados melhoram - e os dados mais recentes mostram que melhoraram -, são "artificiais", ou não merecem "credibilidade", ou são para "inglês ver", ou são "propaganda", ou...ou....

Estes são, recordo ingenuamente, os mesmos resultados escolares que, quando generalizadamente negativos, punem as crianças os jovens, e definem o seu futuro de forma precoce. São os mesmos resultados que, quando generalizadamente negativos, reproduzem ou reforçam a pobreza e as desigualdades, privando as crianças e os jovens de um futuro diferente do dos seus pais. São os mesmos resultados escolares que ajudam a que Portugal exiba - no dia da publicação do enésimo relatório internacional sobre educação que sublinha este problema - um défice quase escandaloso de qualificações nas comparações internacionais.

Mas, suponho, com isto, não parece haver grande problema. O problema mesmo é quando os resultados melhoram. Ora, não, não, isso é que não pode ser! Que isso permita às crianças e jovens outros horizontes escolares e profissionais - e, convém lembrar, ao país - é, parece, absolutamente irrelevante.

Apetece-me dizer que, entre acabar com a retenção e o insucesso escolar e acabar com a OCDE, imagino que muitos escolhessem a segunda hipótese. Ficávamos a saber um bocadinho menos do mundo, mas seguramente mais reconfortados na luta pela "exigência" da educação e contra o "facilitismo" e a "propaganda".

A luta contra as desigualdades é também uma luta contra o conservadorismo - de esquerda e de direita. Para quem sofre as suas consequências, que ele seja de esquerda ou de direita é, afinal de contas, irrelevante.


Faço uma vénia ao Hugo Mendes

quarta-feira, 14 de maio de 2008

domingo, 11 de maio de 2008

Mambo 44

Apesar de não constar propriamente do nosso alfabeto, é uma instância corporal antes até de constar das nossas crenças poliglotas e suores académicos se os há.
Engraçado é também o fenómeno metafórico, num dizer semi-consciente do "deixemos que as coisas caiam por si", num escasso "interferir nas coisas do mundo", em prol da gravidade tomada com ligeireza ou da tomada de consciência da ausência de impacto real através da linguagem tradicional, o boom da imagética ainda que sem fim de rua com cadeiras onde pensar.
Curiosa também será a origem desta experiência estética provocada; foi nas prisões americanas onde é proibido o uso de cintos por motivos de segurança, que surgiu primeiramente o rastilho para esta nova postura provisória de liberdade inventada sobre a pele, à falta de outras ou tudo apenas por causa da inocência primaveril do despontamento da corporalidade, sem razões como a rosa é sem porquês..
Letras e letras.

terça-feira, 1 de abril de 2008

É 1 de Abril

Caixa de comentários do Blasfémias

«Pelo Rei e pela Grei! Diz:
31 Março, 2008 às 10:11 am
Tudo isto se resume a um ponto:
A “rapaziada de Abril”, que tomou as escolas e universidades de assalto, que insultou e expulsou professores, que fez e desfez programas escolares em nome de “amanhãs que cantam”, que fez doutoramentos com júris “populares”, que invadiu e destruiu embaixadas, que abandonou o Império à sua triste sorte, etc., etc., envelheceu! Tem hoje filhos e filhas que frequentam as Escolas portuguesas… E o resultado é este!
Para haver democracia não era preciso isto!
Resposta para “Ali há quem mande*”»

Não é peta.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Da Capital do Império

Olá,

Hoje quero escrever-vos sobre algo que me aconteceu há mais de 40 anos e ficou-me gravado na memória para sempre.
Tenho no entanto em primeiro lugar dizer-vos que ao contrário de muitos eu não sou daqueles que tem grandes recordações da meninice. Sempre me espanta (e fico cheio de inveja!) quando ouço pessoas a recordarem coisas que se passaram quando tinham dez, oito ou mesmo cinco anos de idade. Eu praticamente não me lembro de nada do que se passou quando tinha essa idade, à parte marcos importantes como escola, casa, nomes de alguns colegas (da escola primária creio que só um!) e pouco mais. Dos professores da escola primária só me lembro do nome da Dona Deolinda, a professora porreira da terceira classe para onde fui transferido depois de ter apanhado um enxugo da palmatoadas da outra professora da terceira classe onde estava inicialmente, enxugo esse que me deixou as mãos inchadas que não pude esconder do meu pai que – para meu embaraço – foi à escola protestar junto do Professor Renato que era director, tinha pança grande e de quem toda a malta tinha um cagaço dos diabos. Eu ainda mais cagaço tinha dele porque um dia tinha sido levado à sua presença por estar a atirar pedras à mangueira frondosa que ficava na parte detrás da escola. Sei que fiquei acagaçado mas já não me lembro porquê.
O compromisso entre o Renato e o meu pai foi mandarem-me para a classe da Dona Deolinda. Não me lembro do nome da professora que me deu o enxugo de palmatoadas e já não me lembro também porquê. Tenho no entanto a dizer-vos que eu era assim um pouco pró burro com dificuldades em aprender tudo o que fosse com números e penso que foi isso que a irritou.
O facto de pouco ou nada me recordar da minha vida nessa altura pode ser um indicativo da importância que para mim teve o incidente aos 10 anos de idade e que sempre quis contar e que agora tenho a oportunidade e (penso eu) audiência para tal. Um dia estava sentado no passeio à beira da estrada, em frente à escola técnica Joaquim de Araújo à espera da boleia para casa que nesse dia o meu pai me tinha prometido.
É um passeio estreito esse, numa rua que sobe vinda dos bairros operários e da lata e caniço da cidade onde nasci, ali perto aliás do hangar dos machimbombos encarnados e brancos que não sei lá porquê me fascinavam e de onde eu já tinha aprendido para meu grande orgulho a saltar em andamento nos dias em que não tinha boleia do meu pai. E em que não usava a bicicleta, a que toda a malta chamava “burra”. A minha era uma Robin Hood, um pouco mais abaixo em categoria das Ralleighs mas sem dúvida uma “burra” bem boa. E além disso esta tinha mudanças. Três velocidades o que na altura era um luxo. Durou-me anos.
Pois nesse dia de nem “burra” nem machimbombo, creio que ao princípio da tarde de um Sábado, eu tinha deixado a minha pasta carregada de livros e cadernos que nunca abria, no passeio de cimento aos quadrados simétricos, afastada da berma da estrada e um pouco mais abaixo de onde eu estava sentado.
Lembro-me de ter olhado para baixo e de ver que um homem negro - que eu na altura considerei velho - a subir a avenida, um pouco vergado pelo calor e humidade da cidade pouco após a uma da tarde.
Corri para tirar a pasta do passeio a pensar que o “velho” ainda podia tropeçar na mesma. Cair. Magoar-se. Levantei a pasta. Vi o homem a olhar para mim. Corri de novo para o local onde estava sentado, agora com a pasta bem ao meu lado., a aconchegar-me a perna no meu assento à beira do alcatrão. Sem perigo de poder causar um acidente qualquer a uma qualquer pessoa menos prevenida.
Passaram-se uns segundos. Ou talvez um minuto. Não sei. Sei que o homem negro parou ao meu lado, olhou para mim com um ar de semi-irritado mas resignado e disse: “O menino tem muitos maus pensamentos”.
Eu pasmado, sentado à beira da estrada, agarrado à pasta, a olhar para cima para a cara irritada do homem. “Não vou roubar a sua mala,” acrescentou. Virou-me as costas e foi-se embora, chateado, talvez mesmo magoado.
Eu fiquei ali, nos meus 10 anos, ainda agarrado à pasta, sem palavras na boca. Espantado. Sem poder explicar.
Ainda hoje penso regularmente neste pequeno incidente. Não sei porquê.

Abraços,
Da capital do Império

Jota Esse Erre

terça-feira, 3 de julho de 2007