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domingo, 20 de abril de 2008

A CRISE DA ECONOMIA AMERICANA

Bill comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares financiado em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Bill passou a valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou pro Bill se ele não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares.

Com os 800.000 dólares. Bill, vendo que imóveis não paravam de valorizar, comprou 3 casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. A diferença, 400.000 dólares que Bill recebeu do banco, ele comprometeu: comprou carro novo (alemão) pra ele, deu um carro(japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou tv de plasma de 636 polegadas, 43 notebooks, 1634 cuecas. Tudo financiado, tudo a crédito. A esposa do Bill, sentindo-se rica, sentou o dedo no cartão de crédito.

Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo. As casas que o Bill tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham liquidez

O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Fácil... Parecia fácil. Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o Bill pagava começaram a subir (as taxas eram pós fixadas) e o Bill percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre.

Milhões tiveram a mesma idéia do Bill. Tinha casa pra vender como nunca.

Bill foi agüentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das 3 casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, as das cuecas, dos notebooks, da tv de plasma e do cartão de crédito.

Aí as casas que o Bill comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento Bill achava que já teria revendido as 3 casas mas, ou não havia compradores ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o Bill havia pago. Bill se danou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e das 3 casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Bill.

Bill optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar
com os bancos que não quiseram acordo. Bill entregou aos bancos as 3 casas
que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido. Bill quebrou. Ele e sua família pararam de consumir.

Milhões de Bills deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Bills em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a inadimplência dos Bills esses títulos começaram a valer pó.

Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel, preço que despencou. Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares e de repente passou a valer300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores.

Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, especulação pura. A inadimplência dos milhões de Bills atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia acaba. Acabou.

Com a inadimplência dos milhões de Bills, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Bills pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado.

O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir.

O FED começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as taxas de empréstimo interbancários. O FED também começou a injetar bilhões de dólares no mercado, provendo liquidez. O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o consumo porém essas ações levam meses para surtir efeitos práticos. Essas ações foram corretas e, até agora não é possível afirmar que os EUA estão tecnicamente em recessão.

O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias esperançosas. Até que na semana passada o impensável aconteceu. O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, correntistas correndo para sacar suas economias, boataria geral, pânico. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu, quebrado, insolvente.

O FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por 2 dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares. Dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos. A bola da vez seria o Lehman Brothers, um bancão. O mercado e as pessoas seguem sem saber o que esperar.

O que começou com o Bill hoje afeta o mundo inteiro. A coisa pode estar apenas começando. Só o tempo poderá dizer o que vai acontecer...



HÉLIO MAURO FRANÇA

Consultor do PNUD - Projeto MDG - NEPAD - FUDECAD
Assessor do Grupo Técnico Interministerial GTM - SADC
Ministério da Indústria - Gabinete do Vice-Ministro Abrahão Gurgel


José Pinto de Sá

segunda-feira, 24 de março de 2008

Economia-Mundo: Recessão épica ou desregulação feérica?

(...) assistimos à criação em todos os sectores de redes de influência ou de sociedades secretas. Isso não é senão um produto natural do movimento de concentração do Capital, da produção e da distribuição. O que, neste complexo, não se desenvolve, tem que se extinguir; e nenhuma empresa consegue crescer se não adoptar os valores, as técnicas e os meios usados hoje pela indústria, o espectáculo e o Estado. Isso é, em última análise, a forma de desenvolvimento sui-generis que foi escolhida pela Economia actual, que impõe em todo o lado a formação de novos laços pessoais de dependência e de protecção”. In « Commentaires sur la société du Spectacle », por Guy Debord.

Estamos todos a assistir a uma abracadabrantesca crise do sistema financeiro norte-americano, nas últimas semanas. A chave do sistema - a desregulação e a supremacia do mercado - abrem brechas e mesmo o staff de GW Bush multiplica os ziguezagues para só muito poucos perceberem que o Estado tem que financiar as ribombantes (cada dia é um mundo, como dizem os economistas do Financial Times) perdas do sector financeiro, especialmente as ligadas com o surreal (e indescritível) sistema de empréstimos sem caução de espécie alguma, em especial para o sector imobiliário. A incerteza da perspectiva que moldou a teoria económica de J:M Keynes, a anteceder a Grande Depressão, parece estar de volta. Mas agora com novos processos de engenharia financeira e de política monetária, que só uma elite pode condicionar e manipular.

Como o escreve Edmund Phelps, Nobel de 2006 da Economia,, os riscos de gestão do crédito sem rede eram inverosímeis e inescapáveis, ao mesmo tempo…E vai direito à sua tese principal, defendida há uma semana atrás nas colunas do WS. Journal: “All the risks in economy, it was claimed, are driven by pureliy random (azar,chance…) shocks - like coin throws – subject to known probabilities, and not by innovations whose uncertain effects cannot be predicted “. A que se soma aquela ideia peregrina da política monetária que tenta equilibrar, num mundo opaco e já sem defesas contra a especulação, o nível médio das taxas de juro acoplado com a média do desemprego e da inflação. Coisas que geram, oscilam e são incertas: a quadratura do círculo, onde a boa prestação da economia real se torna capital, claro. E os grandes indicadores da economia USA, por exemplo, entraram no vermelho em Novembro passado. É o carrossel do poço da morte!

Paul Samuelson, o venerando e mítico deão do MIT, publicou dois artigos capitais no NY Times, em Novembro passado e no corrente mês. O primeiro tinha por título,” Nova Crise, controlar a liberdade do Mercado”; o segundo, de 19 do corrente, tinha por antetítulo,” Décadas perdidas”, e “ Repelir um demasiado longo colapso”. Samuelson assinala que, mesmo a heróica plêiade de economistas nipónica, ainda não conseguiu jugular os efeitos inflacionistas negativos gerados pela estagflação do estertor da “ bolha “ do mercado imobiliário dos anos 80…O que vale, do mal, o menos, é que a crise financeira parece confinada aos EUA e alguns sectores bancários da União Europeia, que fazem tudo para refinanciar e organizar o sector em perigo. Qual bola de neve, que pode esconder a responsabilidade das elites que nos governam. O que se verifica, acima de tudo, é que os países com grandes almofadas de divisas e funcionais sistemas bancários, bem como com pujantes sectores virados para a exportação, parecem estar imunes a esta real ameaça de contaminação económica e financeira. A curto ou a médio prazo, toda a política económica mundial terá que ser reavaliada para confinar a incerteza inerente ao mega-mundo.

FAR

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A recessão nos EUA pode degenerar em estagflação na Europa

Novo ano, crise velha: é o que apetece dizer sobre o rebimbar da “bolha” do imobiliário americano. Os grandes jornais do Mundo - com o Financial Times à cabeça -fornecem, desde o fim do Verão passado, diariamente notícias da louca corrida pelo abismo dos empréstimos hipotecados…sem caução de espécie nenhuma. Coleccionei umas dezenas de artigos, onde até os Prémios Nobel - Summers e Stieglitz - fazem parte do lote. Esta maravilhosa entrevista publicada, no Libé, sintetiza tudo aquilo que podiamos vir a enunciar. Dean Baker, economista, alerta sem dó nem piedade. E culpa Alain Greenspan, ex-boss da Fed, por ter “ignorado os conselhos de regulação do Mercado de crédito”. E ninguém vai escapar: economias como a portuguesa podem ficar seriamente abaladas. Só há, ou havia, recurso nos fundos soberanos das petro-monarquias do Próximo e Médio Oriente…

"Les signes d’une récession américaine se précisent-ils chaque jour un peu plus ?
Oui, sans aucun doute. L’impact du crash immobilier est énorme. Selon les dernières estimations, le prix des maisons s’effondrerait à un rythme annuel de 11,3 %, ce qui représenterait une perte virtuelle de 2 200 milliards de dollars et conduirait à une baisse de la consommation de plus de 100 milliards de dollars… Les oracles pensaient au départ que la crise serait circonscrite aux subprimes, ce fameux secteur des prêts hypothécaires. Mais on s’aperçoit qu’elle a désormais un impact sur la consommation, qui représente 70 % de notre économie. Les gens ne peuvent plus hypothéquer leur maison et emprunter pour consommer…

Quelle peut être l’ampleur de ce retournement et pourquoi n’a-t-il pas été anticipé ?
Les économistes ne prédisent jamais les récessions. Ils les reconnaissent quand elles sont déjà là. Celle qui se profile sera certainement la plus féroce depuis la Seconde Guerre mondiale. Parce qu’il est toujours plus difficile de récupérer d’une récession due à l’effondrement d’une bulle financière. La récession de 2001, celle de la bulle Internet, a conduit à une hausse du chômage, qui ne s’est atténuée qu’avec la création d’une autre bulle, celle de l’immobilier, histoire de booster l’économie. Les outils traditionnels qui consistaient à baisser les taux d’intérêt pour pousser les gens à emprunter de l’argent ne pourront plus marcher cette fois.
D’autant que l’inflation a atteint 4,1 % en 2007, un record depuis dix-sept ans…
C’est vrai. Et c’est ce qui va préoccuper et limiter la marge de manœuvre de la Fed [la banque centrale américaine, ndlr]. D’abord parce que c’est le double de l’hypothèse fixée par le patron de la Fed, Ben Bernanke. Ensuite parce qu’il va être difficile de baisser encore plus les taux d’intérêt pour tenter de relancer l’économie. Les taux d’intérêt à dix ans sont déjà en dessous de l’inflation…

Qui peut endosser la responsabilité de la crise ?
Le premier, c’est l’homme qui table aujourd’hui à 50 % sur une récession aux Etats-Unis. Et qui a lui-même contribué à la laisser arriver en encourageant la bulle : Alan Greenspan, l’ex-boss de la Fed. Il a ignoré les conseils de régulation du marché du crédit, qui aurait pu limiter les abus. Aujourd’hui, il réécrit l’histoire en tentant de s’exonérer. Il dit qu’il ignorait le scandale des subprimes ou qu’il n’a pas été prévenu. C’est faux. Il n’a pas d’excuse pour une telle négligence, un tel laisser-faire dicté par le seul souci d’enrichir les plus riches…

Les places boursières mondiales dévissent, les prévisions de croissances sont révisées à la baisse. Quelle sera l’étendue de la contagion ?Le reste du monde sera clairement affecté par ce qui se passe chez nous. D’abord, parce que les Etats-Unis restent le premier marché d’importation du monde. Ensuite, parce que d’autres régions connaissent aussi une bulle immobilière sans précédent. En France, même si elle est différente et moins importante qu’en Amérique. En Espagne et en Irlande, surtout. Et même si, à l’inverse des Etats-Unis, la crise à venir affectera moins la consommation, elle sera réelle. On le voit déjà. Les banques, qui ont perdu beaucoup, et vont encore perdre beaucoup, vont durcir plus que jamais les conditions du crédit."

Dean Baker pose un regard pessimiste sur l’économie mondiale :
Recueilli par CHRISTIAN LOSSON. Libération

FAR