a cebola é uma metáfora
e a sucessão ritual das cascas
em subtracção
seu fluxo descodificador
uma a uma
como botões soltando-se
metáfora e não cópia
batendo a asa
botões que não rosas nem pétalas esboçadas
pura transparência
uma coisa é certa
a cada descasque explícito
interpelando com as suas estrias em cobra sigilosa e curvilínea
o voyeur pensa
nos translúcidos efeitos burka
flor de amora a explodir preta na menina do olho
e suspende na respiração a prosa de imagens
então a pétala vai no rio mastigado de palavras
pelo frenesim de afluentes quotidianos e horas de ponta
mais do que metáfora
metáfoda
na sombra a ciência artesanal dos dedos
malhando na nova casca
sem especiaria nem cor de época e fruta
aluando na aleatória inversão de ocasos
trágico é habitar cebola o fim
na cebola envolvente
e nem o cru sublime do vazio divisar
da matrioska
esse aberto oposto do caroço
polegar desunhando-se
em abismo no nada rarefeito
do dedo o pulsar de articulações
no âmago em asas e fogo
remeteria a origem
no ser assim:
cebola és
o que cinicamente vence:
o perfume da cebola
convívio difícil
que os contemporâneos
trocaram pelo consenso
dos pequenos nadas em sindicatos a dias
os rumos apesar de tudo podem florir em rimas
do livro horto meu horto
de entreanov espasmodicus
poema mudado para português por
f.arom