“O neoliberalismo deu às pessoas a ideia que o mundo é uma selva e a selva é para os mais fortes, que se alimentam dos mais fracos. É o que se chama o ‘darwinismo social’. A força, aliás, não se mede pelo músculo, mas pela carteira. Cada vez há mais pobres e maiores desigualdades(...)”
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Como define a relação que existe actualmente com o dinheiro?)
“Desde que há novas normas de segurança, deixei de ir. Já tive vários convites, mas não estou disposto a estar ali horas a ser fiscalizado, a preencher papéis e a responder às perguntas, nem sempre inteligentes, que os agentes fazem na fronteira”
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Tem ido aos Estados Unidos?)
“(...) Sócrates acumulou demasiadas más vontades. Na classe média, no povo, no seu eleitorado tradicional. È tempo, julgo, de corrigir o rumo, pensando mais à esquerda. É daí, de resto, que vai soprar o vento, vindo donde menos se esperaria: da América do Norte."
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Quais os ministros que não funcionam?)
“(...)Gosto dos meus compatriotas, mulheres e homens, gosto de sentir o calor do entusiasmo popular e entendi-me particularmente bem com os jovens. Com os da minha faixa etária é que foi8 o diabo: não compreenderam a minha insistência. Achavam que devia estar, como eles, a ver televisão, com uma manta sobre os joelhos." (
Quando fez a sua última campanha presidencial, sentiu o gosto de voltar a ter o contacto da rua?)
“(...)no meu sistema racional o problema de Deus não se encaixa. Acreditar que há um Deus que está algures, no universo, para recompensar e julgar as pessoas que andam cá por baixo é algo que para mim não faz sentido. Como não faz sentido a imortalidade da alma. Com o que conheço da ciência não faz sentido. Não creio na existência de um Deus, muito menos antropomorfo.(...)”
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Tem alguma nostalgia da não crença, de não acreditar em Deus?)
“(...)Digo sempre a verdade. Melhor: aquilo que penso ser a verdade. Como não tenho nada a ganhar e nada a perder, sinto-me muito solto e livre. E gosto de partilhar a ampla experiência que adquiri ao longo da vida. È uma forma de dar aos outros aquilo que recebi dos outros, que foi imenso.(...)”
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Politicamente, quer fazer outras coisas?)
Excertos da entrevista de
Cândida Pinto e Clara Ferreira Alves. Única. Expresso de 9/06/2007