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terça-feira, 3 de junho de 2008

Audácia e fair-play(2):Maio 68 segundo Slavoj Zizek


Este texto do filósofo Slavoj Zizek, enquadrado num conjunto homólogo de perspectivas com Alain Badiou, Negri e Hardt, apela para a lucidez da tarefa de politização dos escravos do sistema subtil que nos asfixia, a pouco e pouco. Ler o artigo na totalidade no Le Monde, clicar aqui. E recorda qual o objectivo essencial posto em jogo por Maio 68: " O coração de Maio 68 foi a rejeição do sistema liberal-capitalista, um não endereçado ao sistema na sua totalidade ".

Zizek, que é o filósofo da actualidade mundial com os livros mais traduzidos em Portugal, advoga que " a tarefa essencial do séc.XXI será a de politizar- organizando-as e disciplinando-as- as massas desestruturadas dos bairros da lata ". Porque, reitera, " a verdadeira questão, hoje, consiste: devemos tomar em conta a aceitação generalizada do sistema ou o capitalismo global produz no seu seio contradições suficientemente potentes para impedir a sua reprodução perpétua ?".

" Estas contradições assinaladas são pelo menos em número de quatro: a ameaça de uma catástrofe ecológica; a inadaptação da noção de propriedade privada aplicada ao que se chama de " propriedade intelectual"; as implicações sócio-éticas dos novos desenvolvimentos técnico-científicos( nomeadamente em biogenética); enfim, e não é o de somenos importância, a aparição de novas formas de apartheid, de novos muros e bairros da lata ".

" A lógica crucial do capitalismo global: um habitante das favelas do Rio de Janeiro ou de um bairro da lata de Shangai não é diferente de um indivíduo que vive nos subúrbios de Paris ou num ghetto de Chicago . O que nos ameaça é vermo-nos confrontados a ser sujeitos cartesianos e vazios, privados de todo o conteúdo substancial, desapossados da nossa substância simbólica, constrangidos a suportar a manipulação da nossa base genética e de vegetarmos num ambiente insuportável ".

"Slavoj Zizek vai mais longe e define: " A verdadeira utopia consiste em acreditar que o sistema global actual se pode reproduzir ad aeternum; a única forma de ser verdadeiramente realista é de encarar o que, pelos critérios deste sistema, não pode surgir senão como impossível . Se ignorarmos o problema dos excluídos, todas as outras contradições perderão a pertinência subversiva. A ecologia reduzir-se-à a um problema de desenvolvimento durável, a propriedade intelectual a um complexo problema jurídico e a biogenética a uma questão ética ".


L'un des plus célèbres graffitis apparus sur les murs de Paris en Mai 68 disait : "Les structures ne défilent pas dans la rue !" - autrement dit : on ne saurait expliquer les grandes manifestations étudiantes et ouvrières de 1968, selon les termes du structuralisme, comme des phénomènes déterminés par les changements structurels de la société.
Accédez à l'intégralité de cet article sur Lemonde.fr

http://www.lemonde.fr/opinions/article/2008/06/02/la-veritable-lecon-a-tirer-de-mai-68-par-slavoj-zizek_1052652_3232.html

FAR

sexta-feira, 28 de março de 2008

Toni Negri ao “Le Monde”: Maio 68 corre-nos nas veias para sempre!

Os 40 anos da efeméride exaltante de Maio 68 prometem um dilúvio de teses e de cerimónias evocativas. O Le Monde, o jornal de centro-esquerda francês mais conhecido no Mundo, resolveu dar à estampa um número Especial sobre o tema. Sob a batuta do sociólogo Jean Birnbaum, optou por entrevistar António Negri, um dos mais conhecidos filósofos e altermundialistas da mouvance italiana.
Negri anuncia na sua residência de Veneza, que quer compor uma Autobiografia para ser publicada até ao final do ano.

O “maestro cattivo”, o cúmplice de Deleuze e Guattari, traça as diferenças essenciais entre o Maio 68 francês e o italiano. A experiência italiana começou nas fábricas e repercutiu-se nas Universidades. A insurreição tricolor começou em Nanterre-Universidade, se bem que Debord e os seus muxaxos tenham andado a espevitar a coisa uns anos antes por Estrasburgo, Lille e Toulouse.

“Sim, Maio 68, foi o fim do velho movimento operário. A reconstrução terminou e assiste-se a uma formidável mutação dos assalariados. Em Maio 68 nasce um movimento que procura reinventar o comunismo de outra forma. Depois disso, o capitalismo soube-se organizar. Helàs, ao contrário do movimento operário”, afirma Negri.

Birnbaum questiona-o se o conceito de “multitude”- massa, classe e outras coisas mais - nasceu em Maio 68. Negri atira: “ O operário indistinto cede o seu lugar ao trabalhador social. Na linguagem marxista, fala-se de produção para as mercadorias e de reprodução para a vida. Melhor seria realizar o inverso: dizer produção quando se fala da vida e reprodução quando diz respeito às mercadorias. É esta mutação que é fundamental em Maio 68“.

“Afirmar que a produção é cada vez mais “ imaterial”, é sublinhar que em realidade ela se torna cada vez mais vital, e que o elemento corporal se revela decisivo. 68, é a revolução dos corpos, uma reivindicação de libertinagem que passa pela libertação do desejo“, reitera.

Negri elabora um terrível requisitório contra a Esquerda tradicional: “O socialismo real é incapaz de compreender isso: não é mais possível organizar a produção e as pessoas de maneira vertical e hierarquizada. Passámos da hierarquia às redes! Em Maio 68, isso foi claro, nós tínhamos assimilado essa mutação, de um ponto de vista teórico. Mas perdemos sobre o terreno político."

“Como diz a anedota, os verdadeiros marxistas estão em Wall Street. A esquerda não conseguiu compreender esta mutação. Ela abordou-a, tão-só, sob o aspecto negativo, da forma: o comunismo acabou. Existe uma grande crise da Esquerda, hoje. Não é somente devido ao facto de não ter compreendido a nova base material da nossa sociedade. Mas também isso se prende com o facto de não ter sabido mudar, de não ter conseguido reorganizar-se, acabar com a velha forma do partido bolchevique, um modo de funcionamento que não se adaptará nunca mais ao processo de trabalho actual, isto é, intelectual e baseado em redes “. E conclui: “ Mas o pior erro da esquerda, é de não compreender a fraqueza do capitalismo, que é agora obrigado a apoiar-se num tipo de pessoas como Bush, Berlusconi ou Sarkozy. O sistema está terrivelmente fragilizado, porque o capitalismo financeiro é uma forma absurda de dominação: eis, o que a Esquerda não percebeu“.

FAR

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Ségolène ultrapassa ilusão-Bayrou nas sondagens

A candidata da Esquerda oficial realizou um final de campanha notável. Sarko lidera intenções de voto da primeira volta e Bayrou ensaia o canto da"mula" para captar indecisos persistentes. Não houve tema dominante na campanha e a questão do futuro da Europa foi pouco ventilada...

O declínio económico francês e as lutas fratricidas entre os dirigentes das duas grandes formações políticas - UMP e PS - acabaram por desorientar as aspirações de voto da parte nuclear do eleitorado. A dois dias da primeira volta das Presidenciais Francesas, persistem sérias dúvidas sobre a " cristalização " das intenções dos votantes, sobretudo no espectro de centro-esquerda. Num texto de hoje publicado no Libé, os dois magos das Sondagens analisam, clicar aqui, o conteúdo fulcral desta indecisão política maior.

"Inquietação passageira ou grave doença ?´ Um número elevado de pessoas disseram-nos que ainda não tinham escolhido. No nomento em que as escolhas se deviam cristalizar, é porventura a indecisão que se cristaliza", constata Emmanuel Rivière, da Sofres. E ele acrescenta: ´Há uma indecisão no centro da oferta`. Para Jerôme Sainte-Marie, do instituto BVA, "a posição do candidato centrista é frágil: 47 por cento dos eleitores que podem escolher Bayrou declaram poder mudar de ideias, contra só 20 por cento entre os potenciais eleitores de Sarkozy, Royal ou Le Pen", frisa o texto referenciado.

E vai mais longe esta análise de opinião abalizada e muito trabalhada: "As incertezas mergulham também no posicionamento respectivo de François Bayrou e Ségolène Royal. Os dois candidatos pertencem a campos opostos, mas nenhum deles se limita a entoar os cânticos do seu reduto político. Sego não teme agitar a bandeira nacional e entoar o hino pátrio, de apelar para uma grande firmeza contra a delinquência e interrogar-se sobre os resultados das 35 horas. François Bayrou, por seu turno, multiplica-se para dizer o melhor que sonha dos dirigentes dos Sindicatos da Educação Nacional. Acabou mesmo por achar Olivier Besancenot (LCR, trotskista) " simpático ", ao mesmo tempo que apela para a apresentação de uma moratória sobre os OGM, como o repetiu ontem ".

As grandes diferenças entre os programas de Sego e de Bayrou situam-se no campo das opções económicas, clicar aqui. De acordo com Christian Saint-Etienne, expert universitário e membro do Conselho de Análise Económica junto do PM, as grandes diferenças entre os programas de Sego e Bayrou situam-se ao nível da resolução das disparidades entre a oferta e a procura, por causa da perda de competitividade da economia francesa e dos balanços da Mundialização.

"Para Bayrou, o país está confrontado com uma crise de oferta. A França é cada vez mais incapaz de fornecer produtos e serviços competitivos. O antecessor de Villepin explicava amiúde que, quando ia em viagem oficial à China, tentava oferecer os Airbus e o TGV e ao fim de 20 produtos já não tinha mais nada para vender. Enquanto que o seu homólogo alemão, à época Gerhard Schröder, ia para lá com uma lista de 200 produtos made in Germany. Sego e os socialistas avaliam que a crise se manifesta tanto na oferta como na procura", indica.




Num suplemento excepcional do Le Monde sobre as Eleições Francesas, clicar aqui, alguns dos grandes sociólogos mundiais, como Axel Honneth, o sucessor de Habermas no Instituto de Pesquisa Social de Francfort, Pierre Rosanvallon e o norte-americano Lawrence Kritzman ; justamente o grande teórico rocardiano e Prof. agora no Collège de France, Rosanvallon , chama a atenção para o " nível extremamente baixo de elaboração teórica interna nos partidos políticos e nos estados-maiores dos candidatos ", frisando, por conseguinte, que se vive o fim dos "conselheiros do príncipe" e que a sociedade mediática " suplantou a campanha de ideias".
Tudo a juntar aos dossiers daquele quarteto de pavés onde a revista Marianne, o Charlie Hebdo e o Canard Enchainé se coligam com a fortíssima operação comandada por Laurent Joffrin no Libération quotidiano.



FAR