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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Immanuel Wallerstein - China e Estados Unidos: bem além dos mitos


As relações entre a China e os Estados Unidos são uma grande preocupação dos que se preocupam com política (jornalistas, blogueiros, políticos, burocratas internacionais). A análise tradicional vê uma superpotência em declínio – os Estados Unidos – e um país que emerge rapidamente – a China. No mundo ocidental, a relação normalmente é definida como negativa, sendo a China vista como uma “ameaça”. Mas uma ameaça a quem, e em que sentido?
Alguns vêem a “emergência” da China como a retomada de uma posição central no mundo – que o país já teve e estaria retomando. Outros enxergam um processo mais recente: Beijing estaria desempenhando um novo papel nas relações geopolíticas e económicas no sistema-mundo moderno.
Desde meados do século XIX, as relações entre os dois países tem sido ambígua. Por um lado, naquele momento os Estados Unidos começaram a expandir suas rotas de comércio com a China. Enviaram missionários cristãos. Na virada do século XX, proclamaram a Política das Portas Abertas, menos dirigida para a China do que para outras potências europeias. Pouco tempo depois, participaram, com outros países ocidentais, na campanha que sufocou a rebelião Boxer, contra imperialistas estrangeiros. Dentro dos Estados Unidos, o governo (e os sindicatos) procuraram evitar a imigração de chineses.
Por outro lado, havia um certo respeito – com algumas marcas de inveja – pela civilização chinesa. O extremo leste (China e Japão) eram os locais preferidos para trabalhos de missionários, à frente da Índia e da África, com a justificativa na suposição de que a China era uma civilização “mais avançada”. Talvez a isso estivesse relacionado ao fato de nem a China, nem o Japão, terem sido directamente colonizados, na maior parte de seus territórios. Por isso, nenhuma potência colonial europeia tentou reservar os dois países para seus próprios missionários.
Depois da revolução chinesa de 1911, Sun Yat-Sen, que viveu nos Estados Unidos, tornou-se uma figura simpática no discurso estadunidense. E na época da Segunda Guerra Mundial, a China era vista como uma aliada na luta contra o Japão. De facto, foram os Estados Unidos que insistiram para que a China tivesse uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Quando o Partido Comunista Chinês conquistou a maior parte do território e estabeleceu a República Popular da China, os dois países pareciam terem-se tornado inimigos mortais. Na guerra da Coreia, estavam de lados diferentes; e foi a participação militar activa da China, ao lado da Coreia do Norte, que garantiu que a guerra terminasse num impasse.
No entanto, após um tempo relativamente curto, o presidente Richard Nixon foi a Pequim, encontrou-se com Mao Tse Tung (ou Mao Zedong) e estabeleceu uma aliança de facto contra a União Soviética. A situação geopolítica parecia dar uma reviravolta. Como parte do acordo com a República Popular da China, os Estados Unidos quebraram suas relações diplomáticas com Taiwan (apesar de continuarem garantindo que a China não a invadisse). E quando Deng Xiaoping tornou-se líder da China, o país entrou num processo de lenta abertura para operações de mercado e integração nas correntes comerciais da economia-mundial capitalista.
Embora o colapso da União Soviética tornasse irrelevante a aliança China-EUA contra a União Soviética, as relações entre os dois países não mudaram realmente. Se algo aconteceu, foi uma aproximação ainda maior. Na situação em que o mundo se encontra hoje, a China tem um superávit significativo no balanço de pagamentos com os Estados Unidos. Mas investe muito deste saldo nos próprios títulos do Tesouro norte-americano, o que permite a Washington continuar a investir grandes recursos em suas múltiplas actividades militares no mundo todo (principalmente no Oriente Médio), assim como ser um bom consumidor de exportações chinesas.
De tempos em tempos, a retórica que cada governo usa em relação ao outro é um pouco dura, mas não chega nem perto da retórica da Guerra Fria entre os Estados Unidos e União Soviética. Ainda assim, nunca é sábio prestar muita atenção à retórica. Em assuntos globais, a retórica normalmente é usada para produzir efeitos políticos dentro de cada país, e não para expressar a política realmente em relação ao país ao qual se destina.
Deve-se prestar mais atenção às acções dos dois países. Em 2001 (pouco antes do 11/09), um avião chinês colidiu com um avião estadunidense, nas vizinhanças ilha Hainan. O avião dos EUA provavelmente estava espionando a China. Alguns políticos norte-americanos pediram uma resposta militar. O presidente George W. Bush não concordou. Ele desculpou-se razoavelmente com os chineses, e o avião foi devolvido junto, com os 24 militares capturados por Beijing. Nos vários esforços feitos pelos Estados Unidos para conseguir que a ONU apoiasse suas operações, a China discordou algumas vezes. Mas nunca vetou de fato uma resolução patrocinada por Washington. A precaução dos dois lados parece ser a forma de acção preferida, apesar da retórica.
Então, onde estamos? A China, assim como todas as potências de hoje, tem uma política externa multifacetada, envolvendo-se em todas as partes do mundo. A questão é: quais são as prioridades do país? Penso que a número 1 é a relação com o Japão e com as duas Coreias. A China é forte, sim, mas seria incomensuravelmente mais forte e se fosse parte de uma confederação do nordeste asiático.
A China e o Japão precisam um do outro – primeiro, como parceiros comerciais; além disso, para assegurar que não haja confrontações militares de nenhum tipo. Apesar de surtos nacionalistas ocasionais, eles estão se movendo nessa direcção. O movimento mais recente foi a decisão conjunta de realizar as operações comerciais entre as duas partes com suas próprias moedas – eliminando o uso do dólar americano, e protegendo-se das flutuações da moeda norte-americana, cada vez mais frequentes. Além disso, o Japão começou a considerar que o guarda-chuva do exército dos Estados Unidos pode não durar para sempre; e que portanto precisa de um acordo com a China.
A Coreia do Sul enfrenta os mesmos dilemas do Japão, e ainda precisa lidar com o problema espinhoso da Coreia do Norte. Para a Coreia do Sul, a China é a força de detenção crucial sobre os norte-coreanos. E para a China, a instabilidade da Coreia do Norte colocaria uma ameaça imediata para sua própria estabilidade. A China pode desempenhar, para a Coreia do Sul, o papel que os Estados Unidos já não têm condições de exercer. E nos termos complicados da colaboração que China e Japão desejam, a Coreia do Sul (ou quem sabe uma Coreia unida) pode jogar um papel essencial de equilíbrio.
Como os Estados Unidos percebem esses desenvolvimentos, não é razoável supor que o estejam tentando fazer chegar a um acordo com esse tipo de confederação do nordeste asiático, enquanto ela se constrói? Pode-se analisar a postura militar dos Estados Unidos no Nordeste, Sudeste e e Sul asiáticos não como construção de uma posição militar – mas como uma estratégia de negociação no jogo geopolítico que está em curso e que se desenrolará na próxima década.
Os Estados Unidos e a China são rivais? Sim, até certo ponto. São inimigos? Não, eles não são inimigos. São colaboradores? Eles já são mais do que admitem, e serão muito mais no desenrolar da década.

Uma sugestão do Paulo Ferreira, retirado daqui.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

domingo, 17 de junho de 2007

"Nem o melhor, nem o pior, parecem ser sempre certos"

O dispositivo político-ideológico agenciado pela Mundialização conhece novos dados operados pela recente campanha das Presidenciais francesas e que podem ser confirmados na segunda volta das Legislativas

O debate apaixonante em torno do fenómeno político obrigou, é o termo, os conselheiros políticos de Obama Barac e de Hillary Clinton a estudarem o dilema em Paris, no coração da épica e terrível disputa entre Ségolène e Sarkozy, que acabou por dar a vitória ao neoliberal atípico do centro-direita. Ninguém desconfia, no entanto, de que a Mundialização, os seus efeitos antagónicos e irredutíveis, estiveram no centro da escolha do eleitorado e moveu, é o termo, os lances de argumentação e manipulação dos respectivos estados-maiores partidários. Ora, como disse Maquiavel, nem o " melhor, nem o pior parecem ser sempre certos ", e no estado actual do Mundo urge ousar lutar e tentar perceber.

Como disse Gael Slima, director-delegado da BVA-Sondagens, num texto, clicar aqui, está longe de ser verdade o diagnóstico formulado pelos comentadores políticos e os partidários da candidata da Esquerda, de que existe " uma forte tendência de direita " no eleitorado francês. Isso parece errado, pois, segundo Slima, a esquerda era largamente maioritária na intenção de voto do eleitorado nos largos meses da pré-campanha. " Os eleitores interessaram-se por temas que davam estruturalmente vantagem à esquerda como " o emprego, a luta contra a pobreza, o poder de compra e a Educação (temas nos quais a esquerda suplantava ainda a direita dentre 10 a 23 pontos de diferença no arranque da campanha oficial) ", frisa., para rematar: " O facto que este potencial inicial não tenha sido transformado em voto revela, simplesmente, o diferencial de persuasão respectivo de cada candidato. Trata-se menos de um problema pessoal do que de projecto: a direita propôs aos franceses um projecto de sociedade coerente, legível e bem marcado ideologicamente, a esquerda não o fez ".

E aqui cruzamo-nos com o diagnóstico publicado no Le Monde pelos politólogos Gérard Grunberg e Zaiki Laidi, sobre o " pessimismo social " da Esquerda, em que o centro dessa atitude, advogam, " se fixa num sentimento de impotência - ou de resistência impotente - face ao mercado e à Mundialização ". Se Sarkozy logrou convencer o eleitorado a ultrapassar esta " depressão ", Sego e o PS não o conseguiram realizar. Porquê? A superideologização de longa duração dos socialistas parece ser fruto de um bloqueamento: "Temendo as divisões de um debate em profundidade, decidiram-se por fechar o caldeirão ideológico depois de timidamente o terem aberto, e inventando fórmulas vazias ou insuficientemente explicadas como o " reformismo de esquerda " ou o " sim à economia de mercado, não à sociedade de mercado ".

E vão mais longe, focando o cerne do diferendo sobre o futuro da social-democracia: " A social-democracia, é o compromisso social entre o trabalho e o capital numa base nacional. Ora, hoje, devido especialmente à Mundialização, a relação de forças entre o capital e o trabalho não está mais constrangida pelo contexto nacional. Devido à chegada ao mercado mundial de um bilião de novos participantes, centra-se no nível planetário o repensar e o restabelecimento de um compromisso - se tal for possível ". Mas, advertem, " os princípios de diálogo, de concertação, de antecipação, de descentralização e de co-responsabilização permanecem sempre pertinentes, como desde os tempos áureos".


FAR

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Do Reino da Dinamarca

Olá,

Já deixei o local da conferência dos Oito Governadores que como vocês se devem ter apercebido foi um sucesso. Toda a malta comeu e bebeu bem, toda a malta foi à praia e os globalizados antiglobalização andaram à porrada com a polícia pelo que não houve nada de anormal. Houve também um comunicado final a dizer que sim e tal e coisa e o aquecimento global e uma promessa de mais 60 mil milhões de dólares para África. Nada de anormal portanto.
A malta das organizações missionárias que estão sempre presentes a estas conferências e que hoje em dia são conhecidas por ONGs disse como era de esperar que a massa não chega e ficaram particularmente chateadas porque os oito governadores não disseram quando é que vão gastar essa massa. Ficaram todos de certo modo embaraçados quando numa conferência de imprensa alguém lhes perguntou o que é que tinham a dizer sobre o facto dos Estados Unidos e a Grã-Bretanha serem os países que mais cumpriram as promessas feitas há dois anos atrás e o que é acham do facto do burro do George Bush ser aquele que mais massa dá a África. Eu pensava que iam responder “porque é burro” mas, ena pai parecia que tinham engolido um sapo. Mais chateados ficaram quando o jornalista, com um ar e pronúncia do continente asiático, perguntou o que é que achavam do facto dos 60 mil milhões agora prometidos 30 mil milhões virem dos Estados Unidos. Eu pensei mais uma vez que iam responder “porque ao contrário dos italianos que nos últimos dois anos não deram um tostão do que prometeram o George Bush é burro” mas não. Disseram que é tudo uma “cortina de fumo para esconder o facto de que não estão a cumprir anteriores promessas” e coisa e tal. Um dos activistas missionários disse que “o povo rugiu e os g 8 ganiram”. A malta dos jornais gramou à brava e eu tenho que admitir que dá um bom título.
No último dia foi outra vez a conferência de imprensa do Sarko e desta vez fiquei porque o dito cujo pregou uma finta ao pessoal de informação. Chegou mais cedo vejam lá! É bom sinal. O Chirac fazia ponto em chegar atrasado o que me irritava sempre e eu mais irritado ficava quando ele começava a dizer bacoradas sobre a importância da França no mundo que como vocês sabem está muito rapidamente a caminhar para o zero. Ou como dizia um alemão no local da conferência dos 8 Governadores: zilch que eu creio que significa nada ou pelo menos soa a isso.
Nesse último dia fui dar uma volta pela vedação construída em redor do local da conferência e fiquei impressionado. Tenho que voz dizer que os alemães continuam a ser os melhores em construir vedações para impedir pessoas de passear se de um lado para o outro. Desta vez como a maior parte dos polícias eram da antiga Alemanha do proletariado foi só recordar como a coisa era feita e aplicá-la em pequena escala. Ao contrário do que aconteceu há dois anos na Escócia nenhum globalizado antiglobalização conseguiu furar a rede patrulhada ao seu longo por carros e policias a cavalo e helicópteros sempre no ar. O Honeckker teria ficado orgulhoso. Eu cá achei que nos pontos de entrada da vedação deveriam ter posto sinais como “check point Charlie. You are now leaving the free world. You are now entering 8 Governors in Wonderland” e depois deixar entrar todos os globalizados antiglobalização e fechar a cancela.
Nesse último dia houve um incidente que ia acabando em sangue. Uns fotógrafos bifes queriam dar porrada (ou como eles diziam “fuck up”) a cinco globalizados antiglobalização que resolveram outra vez dar um ar da sua graça bloqueando a linha de caminhos-de-ferro que ligava o local da conferência ao centro de imprensa/copos e salsichas Aconteceu que o comboio estava cheio de jornalistas todos muito apressados porque era o fim do dia e tinham ainda que ir escrever o que tinham dito os oito Governadores antes de ir para os copos.
Quando o comboio parou e fomos informados que tínhamos que esperar pela chegada da polícia uns fotógrafos bifes perguntaram: mas quanto são eles? “Five”, respondeu a germânica dos caminhos-de-ferro. Os bifes olharam uns para os outros e disseram :”Let’s fuck tem up”. A mulher dos caminhos de ferro só dizia “nein nein” e “ I call die polizei”. Ao que uns eslavos entoaram em coro: “Yes lets fuck them up”.. Mesmo uns franceses presentes com fato e gravata começaram a gritar que os globalizados antiglobalização são “des cons” e a sugerir aos ingleses fotógrafos com um ar de rufias para irem lá à frente “fuck them up”. Como vêem problemas comuns podem produzir alianças inesperadas, Só que a germânica apercebendo-se que os bifes queriam triar o emprego aos polizei fez recuar rapidamente o comboio para o local da conferência até os polizei irem “fuck them up”’
Os bifes lá se acalmaram mas acho que tinham razão. Um comboio com 300 jornalistas poderia muito bem ter “fucked up” os cinco globalizados antiglobalização sem ser preciso chamar a polícia. Mas enfim… como diz o grande filósofo inglês Mick Jagger “you can’t always get what you want”. Resultado: Fomos todos atrasados para os copos onde ao fim da noite apareceram também muitos polizei para tirar fotos e beber uns copos com o maralhal. Bacano! Eu pedi a uns três ou quatro para me darem uma T-shirt preta que eles usam com a palavra Polizei nas costas mas só levei com os pés. Uma polizei ficou ofendida perguntando-me: Você quer que eu tire a minha t shirt aqui? Fiquei sem camisola e lá pensei outra vez no filósofo Mick Jagger.
Estou agora em Copenhaga que agora tem mais mulheres com fraldas amarradas à cabeça para esconder o cabelo e mais talhos al hal mas onde tal como há 30 anos se pode passar dias e dias sem ver um policia. O que é porreiro. Significa que aos fins-de-semana os dinamarqueses continuam a apanhar bebedeiras de caixão à cova e que ninguém os chateia, Mas volto a este assunto mais tarde.

Um abraço,
Do reino da Dinamarca

Jota Esse Erre

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Da conferência dos Oito Governadores

Olá,

Vocês desculpem-me lá mas ontem à noite estava totalmente cansado e não tive pachorra para escrever. O Sarko deu uma seca ao pessoal à velha e à francesa e o Presidente Barolo deu outra conferência de imprensa em que repetiu as mesmas coisas do dia anterior. Só que desta vez tudo era um sucesso em vez de ser um desejo porque aparentemente houve um acordo sobre o aquecimento global. A malta acordou que afinal não acordou em nada e isso aparentemente e segundo o Barolo foi um sucesso.
Para ser honesto o Sarko não nos fez esperar tanto tempo como o Jacques Chirac fez há dois anos na Escócia quando chegou uma hora e meio atrasado à conferência de imprensa. O Sarko só nos fez esperar 45 minutos. Por essa altura eu já estava farto e fui dar uma volta e descobri que os tempos mudaram.
Falei com um dos comandantes “de terreno” da polícia de choque. Um tipo aí de uns 50 anos, cabelo rapado à careca, barba de dois dias, magro como o caniço, só nervo nem um grama de gordura e …. um brinco na orelha esquerda. Ena pai, se não fosse a farda eu pensaria que o gajo era um freak dos velhos tempos só que sem cabelo.
Mas a melhor cena foi quando ali perto de Heiligendam antes de mais uma cena de porrada entre os globalizados antiglobalização e a polícia, um dos manifestantes sacou de um trompete e tocou impecavelmente e com muito soul e feeling a…. Internacional. O tipo tocava bem embora eu tenha pensado na altura que foi um pouco de mau gosto tocar a internacional num local que pertenceu à antiga Alemanha de Leste. Alias ninguém aplaudiu mas lá que foi bem tocado isso foi. Passados uns minutos e não sei por que razão a polícia decidiu dar chuvarada ao pessoal com dois carros com duas mangueiras uma das quais estava sempre a pingar grandes quantidades de água mesmo quando não estava a ser usada. Começou tudo aos empurrões e a polícia apanhou também uma chuvarada. Houve um gajo que atirou com uma garrafa de cerveja meio cheia que inexplicavelmente não se partiu quando um polícia a aparou com o seu escudo. Tenho que aprender a técnica. Depois a coisa começou a aquecer e eu fui-me embora.
Tenho a dizer-vos que já estou um pouco farto de tudo isto. Ontem aliás fui à praia para passar tempo, praia que é aqui mesmo em frente do centro de imprensa. Quando voltei duas horas depois estava toda a malta na galhofa em frente a um écran gigante a ver o George e o Vlad (é assim que os amigos tratam o Putin) a dizerem que se amam. Não sei lá por que razão a malta em frente ao écran achou uma piada enorme quando o Bush disse que a “Rússia é um grande país e os Estados Unidos também são um grande país e o mundo fica nervoso quando começamos a argumentar”. Risada geral! Deve ter sido pela profundidade filosófica da declaração, mas o Vlad gostou e deu a mão ao George para a foto. Tão romântico! E malta toda na galhofa com um jornalista espanhol a dizer que pareciam “maricons”
Vocês devem ter notado que eu disse que a malta estava em frente a um écran. Isto em grande parte funciona assim. A malta no centro de imprensa vê as notícias no écran da televisão (como vocês) e depois escreve as notícias sobre as coisas que vocês já viram em directo. É porreiro! Se isto durasse mais três dias ninguém mais iria a Heiligendam porque o maralhal da informação prefere ficar aqui no centro de imprensa onde a comida e a bebida é melhor. Os alemães ontem numa tentativa de animar o pessoal abriram um campo de voleibol na praia. Infelizmente só uns gajos barrigudos é que foram jogar e depois um deles começou aos berros quando a bola bateu directamente na câmara de televisão estacionada a uns metros de distância. Esse barrigudo foi-se embora com um ar preocupadíssimo sentando-se depois num banco a limpar a câmara e a gritar insultos (creio eu!) numa língua que eu não percebia.
Ah! Já me esquecia que ontem fui a uma conferência de imprensa de activistas de causas africanas. Fiquei a saber que o aquecimento global é que causa cheias em Moçambique. Segundo um dos gajos que falou na conferência de imprensa (um nigeriano com uma impecável pronúncia britânica) os países da brancalhada deveriam pagar aos países africanos pelo aquecimento global. “E isso para além do dinheiro já prometido,” disse ele. Ninguém se riu o que eu achei estranho. A brancalhada continuou toda a escrever nos cadernos de notas, todos muito sérios. Eu estava à espera que o nigeriano dissesse: "estava só a gozar", mas não. Aparentemente estava a falar a sério. Quando eu lhe disse que cheias em Moçambique acontecem desde o tempo do antes da Outra Senhora, ele disse-me que agora ocorrem com mais frequência e afectam mais pessoas. Ninguém se riu, vejam lá!
A sala desta conferência não tinha ar condicionado ou janelas e a malta começou toda a sentir o efeito de estufa. Fui-me embora quando um outro activista disse que a brancalhada deveria pagar a África porque uma percentagem enorme dos seus médicos e enfermeiros vão trabalhar para esses países. Ninguém se riu e ninguém perguntou porque é que os médicos e enfermeiros não querem ficar em África. Eu já estava a transpirar e fui beber uma cervejinha alemã com uma salsicha. Depois fiquei com azia. Não sei se foi da salsicha ou das conferências de imprensa.
Hoje isto termina. O Thabo Mbeki está ali neste momento falar com o Tony Blá Blá e com a Angie. Tenho que me ir embora porque pode ser que alguns deles tenha alguma coisa a dizer. O que duvido.

Até breve
Do local da conferência dos oito governadores

Jota Esse Erre

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Do encontro dos Oito Governadores

Olá!

Hoje tenho a dizer-vos que estou bem lixado com os globalizados antiglobalização. Cortaram a linha de caminhos-de-ferro que liga Kuhulungsborn a Heiligendam e eu gastei cinco horas para percorrer 16 quilómetros para falar com o grande timoneiro Durão a que alguém insistiu em chamar de “Presidente Barolo”.
Mas já lá vamos.
O que aconteceu é que para ir ao local onde os 8 Governadores se reúnem (e “penduras” como o “president Barolo”) os 5.000 mil jornalistas que aqui se encontram para rescrever “press releases” e comer e beber do bom e à borla precisam apanhar o comboio a vapor antigo, relíquia da ditadura do proletariado mas que é bem giro e que portanto merecia uma viagem.
Foi por isso que decidi ir à conferência de imprensa do “Presidente Barolo”. Lixei-me. Os globalizados antiglobalização interromperam a linha de caminhos-de-ferro o que lançou a burocracia da segurança da Bundesrepublik em paranóia total. Primeira reacção foi a do costume: ninguém mais vai ao local onde estão os 8 Governadores. O Barolo deve ter protestado porque depois lá concordaram em permitir que a malta fosse a Heiligensdam. Mas primeiro tivemos que preencher uma lista com os nossos nomes, que depois foi lida por uma gajo da segurança com bigodes grandes e que só falava alemão e que parecia um actor de um filme cómico a ter que ler os nomes da malta. Fartei-me de rir! Principalmente quando ele tentou ler o meu primeiro nome escrito com a minha letra!!! O porquê de termos que preencher uma lista de nomes que depois foi lida por um gajo de bigodes em uniforme escapa-me. Um brasileiro da Folha de São Paulo disse que isso é prova da decadência da Bundesrepublik: "Isto é organização de índio selvagem”, disse ele. “Em Moçambique está bem, mas aqui?” Fiquei calado. Deve ser vocabulário de progressistas!
Lá fomos depois de passados a pente fino pela segurança que incluía uma gaja com um cabelo loiro e uns pulmões de lhes tirar chapéu e depois fomos transportados por vedetas da marinha da Bundesrepublick até Heiligensdam. Porreiro. Um passeio de barco pelo mar báltico protegidos por gajos em barcos de borracha todos vestido de preto estilo carnaval dos Ninjas e que de vez em quando davam umas aceleradelas para impressionar os marinheiros das nossas vedetas que iam a passo de tartaruga (do mar).
Bem lá chegámos a Heiligensdam. Só que ninguém estava à nossa espera e uns gajos da segurança vestidos de fatos muito largos com chumaços debaixo do casaco estavam verdadeiramente em pânico porque não nos esperavam. Fiquei com a impressão que teríamos sido todos passados a fogo de metralhadoras se não estivéssemos sob a protecção da marinha da Bundesrepublick e dos “ninjas”. Os “ninjas” estavam lixados a gritar aos gajos dos casacos com chumaços.
Enfim! Tivemos que esperar na doca enquanto os gajos de fato e chumaços trocavam informações através de microfones escondidos nas mangas dos casacos. Nunca percebi porque é que os gajos da segurança escondem os microfones nas mangas do casaco. Um puto camera man disse-me há tempos atrás que é porque “it looks cool”. Deve ser.
Depois lá fomos a pé através de uma vila onde ao contrário do que acontece em Kuhulunsborg ainda não há recuperação da ditadura do proletariado. Velhas mansões sem pintura, com um aspecto da abandonado ao lado de algumas mansões já recuperadas para o que vai ser um local de turismo dos super ricos. Porreiro!. Fiquei a pensar que os gajos da ditadura do proletariado não deviam gostar de casas grandes. Todas a cair de podre. Atravessámos uma pequena floresta e fiquei alarmado quando um gajo da segurança nos disse : “não saiam do carreiro”. Só espero que não se esqueçam de levantar as minas quando acabar a conferência dos 8 Governadores. Mais tarde perguntei ao gajo da segurança se tinham posto minas na floresta e ele riu-se.
Lá chegamos ao local da conferência de imprensa do Durão e foi aí que um jornalista, creio que da Bulgária, começou a falar do Presidente Barolo. Ena Pai! Um camara man alemão ia caindo, da plataforma onde estava a filmar o acontecimento, de riso.
Depois da conferência ninguém estava interessado no que o Durão tinha dito. Toda a malta queria era falar do Presidente Barolo (que como vocês sabem é um vinho distinto italiano) pelo que eu acrescentei a minha parte à bazofia: “Red Barolo”. O camara man alemão foi o único que compreendeu. Horas depois já em Kuhulungsborg ia eu a sair do mictório quando dei de caras com ele. “Red Barolo”, disse o camera man para depois rebentar a rir.
Na conferência de imprensa eu fiquei lixado porque o Durão passou 95% do tempo a falar do aquecimento do global. Eu fiquei lixado porque já que na sexta feira os 8 Governadores vão reunir-se com os súbditos africanos eu pensava que os problemas da malária, da doença e da pobreza eram mais importantes. Aquecimento global é problema da brancalhada, porra. Por isso eu queria perguntar ao “presidente Barolo”: “Você acha que é possível combater a pobreza sem emitir gases que causam o efeito de estufa?”
Eu acho que é uma pergunta legítima já que os países que causam menos poluição no mundo são em África e são todos os mais pobres do mundo. Pode ser que África seja o futuro, sei lá!
Bem pus a mão no ar mas o “handler” que dirigia a conferência de imprensa não me dava a palavra e o Barolo acabou por só falar do aquecimento global o que me pôs a ferver.
Depois lá voltámos nas vedetas da Bundesrepulibk acompanhados pelos Ninjas. Cinco horas gastei eu nesta palhaçada em que o melhor da festa foi a referência ao Presidente Barolo. Quando cheguei a Kuhulunsburg fui logo beber uma “Rostock” que uma morena alemã de olhos verdes me tinha recomendado na noite anterior. Bem boa!(ambas).
Hoje quinta-feira tenho que ir encontrar-me com o Sarko. Ao princípio da noite. Espero que os globalizados antiglobalização já tenham deixado de tirar mau sino com o comboio. Não estou para outra viagem com Ninjas e marinheiros da Bundesrepublik. Senão se calhar vou é beber uma Rostock com a morena alemã de olhos verdes que graças aos milagres da globalização não fala uma única palavra de inglês, francês, dinamarquês ou mesmo português.

Um abraço
Aqui de Khulungsborg perto do local da conferência dos 8 Governadores

Jota Esse Erre

quarta-feira, 6 de junho de 2007

O álibi da Mundialização

Só a timidez inacreditável do nosso PR, Cavaco Silva, explica o facto de ter balbuciado algumas frases sobre o processo da Mundialização, caixa de surpresas e venenos que agita o Mundo...E que só por regulação democrática evitará o caos.

O stop and go da economia mundial e os encantos ilusórios de uma desvairada Mundialização, abertura de fronteiras e reclassificação tecnológica pela deslocalização de parte substancial do aparelho produtivo de baixa qualidade para a China e a Índia, criam embaraços a toda a gente, sobretudo em países como Portugal que abandonaram um projecto nacional de qualificação industrial. Ora, hoje a inovação afasta os países fracos e dependentes e acentua as desigualdades sociais e interterritoriais - mesmo em países enquadrados num conjunto supranacional de impacto como o é a União Europeia. Na Feira Nacional da Agricultura, Cavaco Silva frisou, no encadeamento de declarações caladas de imediato por auto-reflexo, que a Mundialização vai continuar a criar oportunidades... com vencidos e vencedores. Ele bem queria dizer isto, mas o bom senso e a responsabilidade da função ocasionaram o não dito. Quem é que ficou sossegado: ninguém, claro está; sobretudo os que se batem com os problemas da economia real: li no Público que um telefone ainda demora 6 a 7 semanas a ser instalado para unidades comerciais e industriais.

Justamente, a 24 de Maio último, o Wall Street Journal, a bíblia do capitalismo da Quarta Vaga, publicou em duas páginas um artigo/ reportagem enorme, intitulado "Resultados inesperados: a Mundialização aumentou e fez disparar as desigualdades de rendimentos "Caiu o Carmo e a Trindade e os cronistas do NY Times saíram a terreiro para se congratularem por este acesso de realismo demonstrado pelo firme defensor dos capitalistas, o WSJ. O que se passa? Será mais uma operação diabólica da famigerada dupla Bush/ Cheney e acólitos? Trata-se de atirar poeira para os olhos dos incautos e "estimular " o aceleramento da economia mundial? Adam Smith e David Ricardo foram ressuscitados para afastar a "maldade" dos bajuladores da economia de mercado sem fronteiras?

O que se passa e sabe é bem mais prosaico, claro. E os economistas do WSJ apontam: "Os pobres trabalhadores do Terceiro Mundo não são favorecidos pela mundialização. Porquê? O trabalho para que são aliciados, sem seguros e com preços irrisórios, é, num período mais ou menos breve, deslocalizado, de novo, para outros países ainda menos desenvolvidos ". E vai mais longe a análise do WSJ: "O argumento da globalização que move os seus entusiastas não colhe: a deslocalização iria forçar a mão-de-obra despojada a tentar nova formação. Isso não passa de um álibi. Custa a reconhecer que a Mundialização desencadeia um processo em que os trabalhadores com formação, os directores e os gestores de topo (isto já acontece) acabam por certificar-se que, também eles, podem ser trocados por outros ". O NY Times refere um colóquio realizado em Veneza, no passado fim-de-semana, com o intuito de incentivar a restauração dos contrapoderes e da justiça social, por forma, frisa William Pfaff, que sejam colocadas " paragens num processo que constitui a mais desestabilizadora força do Mundo desde a Segunda Guerra Mundial".


FAR

terça-feira, 5 de junho de 2007

Da Conferência dos 8 Governadores

Olá!

Já cheguei a Kuhulunsgborg, ao lado de Heiligendam onde os 8 Governadores, conhecidos por G 8 se vão reunir.
Khuhulungsborg está à beira do mar Báltico mas está a chover e o condutor de um autocarro alemão que transporta à borla os jornalistas dentro desta pequena cidade disse-me que vai chover todo o tempo. “Para molhar os atira pedras”, disse-me ele num inglês a fazer lembrar o Schwarzenegger.
No aeroporto de Munique o alemão que me atendeu para alugar um carro também não se mostrou muito simpático com os “atira pedras”. Disse-me que agora os manifestantes vão de um país para outro “só para atirar pedras”.
“Na Inglaterra os alemães, os italianos, os franceses atiram pedras. Na Alemanha os italianos, os ingleses e os franceses. Só gostam de atirar pedras e viajam de um lado para outro por causa disso”, disse-me para tentar justificar a pancadaria em Rostock.
Eu tive que imediatamente lhe dar uma lição sobre os benefícios da globalização, entre as quais se conta a de se ter manifestantes antiglobalização totalmente globalizados.
Os manifestantes estão hoje bem organizados. Telefone celular, comboios chartered, sites na internet. E depois ainda se queixam contra a globalização. A sua organização é de admirar. Não tem nada que ver com os tempos em que a malta saía à rua para gritar palavras de ordem contra os americanos e andar à porrada com a polícia. Agora a malta sai à rua para andar à porrada com a polícia, gritar palavras de ordem contra os americanos mas prepara tudo bem preparadinho. Logo à minha chegada ao centro de imprensa foi-me posto na mão um livrinho de 18 páginas em inglês outras tantas em alemão e mais duas com mapas com o programa da manifestações! Posso-vos já dizer que quarta-feira é o dia do “bloquear o G8”. Para tal vão tentar bloquear estradas de acesso a Heiligendam e Kuhulunsborg e levar a cabo manifestações. Vai dar porrada de certeza.
A caminho aqui de Kuhulungsborg vi muitos manifestantes a pé com um ar de perdidos no meio das zonas rurais. Um das coisas boas das cimeiras dos Oito Governadores é que são em sítios isolados pelo que são de uma beleza pouco vista. Estradas pequenas, vilas com gajos em camisola interior no jardim onde ninguém fala inglês. Porreiro.
Kuhbulugsborg é porreiro. Cheio de restaurantes, pensões e pequenos hotéis. O centro de imprensa está à beira mar. Cerveja à borla, comida à borla, telefone à borla para qualquer parte do mundo.
Como sempre está cheio também de organizações missionárias (as chamadas Organizações não governamentais). Estou aqui há quatro horas e já fui abordado por quatro delas a convencerem-me a fazer entrevista. Para os afugentar digo que só faço entrevistas em português. Houve uma pessoa de uma organização chamada CAFOD (verdade!) que disse que arranjava alguém que fala espanhol. Fingi-me ofendido. (CAFOD significa Catholic Agency for Overseas Develoment e não é verdade que tenha uma subsidiária chamada LAFOD)
Tenho que me ir embora porque tenho que ir fazer a cobertura de um bar onde estão a servir champanhe à malta de imprensa. À borla. Deve ser para celebrar o facto de que dos dois mil jornalistas muito poucos vão ver os Oito governadores.
Eu para quarta-feira já arranjei uma tour à “histórica Wismar”. Não sei o que é mas prometeram um almoço à borla. Lá vou cantando e rindo.

Abraços
Da cimeira dos Oito Governadores

Jota Esse Erre

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Da Capital do Império

Olá!
Sei que esta carta vos vai apanhar um pouco de surpresa mas estou de volta mais rapidamente do que o costume para vos dar uma excelente notícia: vou à reunião na Alemanha dos 8 Governadores, a que eu chamo também reunião dos 8 Gajos e que todo o mundo conhece por G 8.
Vou tentar mandar-vos de lá crónicas diárias sobre este importante acontecimento anual em que milhares de jornalistas comem e bebem à borla durante dias, milhares de beneficiários da globalização congregam-se para protestar contra a globalização e os 8 Governadores recebem tributo de dirigentes dos PPD (Países Perpetuamente em Desenvolvimento), prometendo depois mais ajuda que nunca é suficiente para o cada vez maior número de ordens missionárias, hoje conhecidas pelo nome de Organizações Não Governamentais. É bacano! Este ano disseram-me que vai lá estar também um representante do novo PEF (País Eternamente do Futuro) que agora, como vocês sabem, é a China. O anterior PEF se vocês bem se recordam era o Brasil que foi substituído pela China porque a malta das favelas chateou-se de esperar pelo futuro e está gradualmente a transformar toda a nação em EPEF (Este País É Foda).
Os que eu gosto mais nas reuniões dos 8 Governadores são os missionários e os manifestantes globalizados antiglobalização. Um tipo detecta-os logo no avião a caminho do local onde os 8 Gajos se reúnem. Os globalizados antiglobalização viajam de avião que é agora barato e comum graças à globalização, estão geralmente armados com celulares, computadores, casaco estilo militar preferivelmente verde-escuro e muitos deles, principalmente as gajas, gostam de usar à volta do pescoço aquelas toalhas de mesa encarnadas e brancas que os palestinianos usam à cabeça. É um toque “trés gauchiste” da moda bem parisiense do cachecol ao pescoço. Tenho a dizer-vos que no que diz respeito aos cachecóis os franceses globalizados antiglobalização têm o mesmo “panache” que o resto dos parisienses. Ninguém no mundo consegue pôr um cachecol à volto do pescoço como os parisienses. Tem um “je ne sais quoi” que me faz inveja porque quando eu tento pôr um cachecol parece-se sempre a corda de um gajo prestes a ser enforcado.
Tenho no entanto a assegurar-vos que eu não vou usar toalha de mesa palestiniana à volta do pescoço. Não porque não goste das toalhas de mesas dos palestinianos. Mas, não sei lá porquê cada vez que passo num aeroporto alemão sou sempre escolhido para vistoria especial. Uma vez em Frankfurt já depois de ter sido levado para um quarto especial onde só não me meteram o dedo no tal local porque – penso eu – os policias não acordaram em quem o deveria fazer, fui depois parado quando ia a pé de um terminal para outro por dois Polizei. Uma com uma metralhadora e outro com uma pistola e um lobo da Alsácia. Quiseram ver os meus “papir” e depois vistoriaram-me a mala de mão enquanto um deles falava para o microfone preso ao ombro. Eu não percebi patavina do que diziam e estava cada vez mais apreensivo à espera de ser levado ao Oberstrumfurher (ou lá como é que se diz sargento em alemão) por causa dos meus “papir” quando um dos Polizei detectou os meus travelers cheques e disse: “Ah! Kapitaliste”. Foi o degelo e ainda hoje agradeço à American Express. A Polizei que falava ao microfone repetiu qualquer coisa como “Americanshe travelers cheques” com um ar aliviado. Isto apesar do lobo de Alsácia não ter ficado convencido pois continuou sempre a olhar-me nos olhos e a puxar pela trela como que a dizer “agarrem-me ou eu rebento com este gajo”. Um amigo meu sugeriu que corte a barba afirmando que “porra com essa barba pareces um imã árabe”. Eu dei lhe uma lição sobre como nem todos os muçulmanos e/ou árabes são terroristas embora tenha que concordar que quase todos os terroristas são muçulmanos e/ou árabes.
Mas isso são outras histórias. O que eu gosto nestas conferências dos 8 Gajos é ir às conferências de imprensa das organizações missionárias e fazer perguntas estúpidas. Os Oito Gajos geralmente nunca aparecem ou se o fazem é só no fim pelo que até ao fim da conferência a malta diverte-se a rescrever “press releases”, a passear e a ir a conferências de imprensa das organizações missionárias que têm sempre montes de criticas a fazer aos chefes da brancalhada. De vez em quando eu gosto de ir ver a porrada entre os globalizados antiglobalização e a policia. Há uns anos atrás encontrei um policia com humor que estava a fumigar com “pepper spray” uns gajos com toalhas de mesa palestinianas a tapar a cara. “Pepper Spray” como vocês sabem é uma excelente invenção da humanidade pois pode ser espalhada a curta distancia estilo insecticida, directamente na cara de um globalizado antiglobalização. É uma espécie de gás lacrimogéneo mas que é feito com gás de pimenta. Quando eu perguntei o nome ao polícia que usava o spray ele respondeu-me: “Sargeant Pepper” e depois apontando para o resto dos policias acrescentou: “and that is the Lonely Hearts Club Band”. Valeu a viagem! Isto porque ao mesmo tempo um globalizado antiglobalização resolveu tirar as calças, baixar-se, virar o rabo para os polícias e gritar “Spray here, you pig”. Um policia num carro com uma mangueira deu-lhe uma chuveirada no dito cujo perante o gáudio da malta da imprensa. Depois a coisa descambou em porrada e eu fui-me embora
Mas, voltando às conferencias de imprensa. Na Escócia há dois anos atrás uma senegalesa de uma dessas organizações ia-me linchando e um dos outros missionários acusou-me de fazer “perguntas do George Bush”. Isto depois de eu ter perguntado porque é que os 8 Gajos deveriam dar mais ajuda a África se desde 1964 já foram dados 500 mil milhões de dólares. Ena pai! A missionária começou a dar-me lições sobre os males da brancalhada para o mundo e depois ia atirando-me com o microfone quando ela mencionou 50 mil milhões de dólares de ajuda e eu interrompi para dizer 500 mil milhões. “Don’t interrupt me” disse ela furiosa por eu fazer questão em sublinhar um erro de um zero. A coisa ia descambando totalmente quando eu lhe disse que não estava a interromper mas somente a corrigir. Ao fim e ao cabo 100 mil milhões aqui e cem mil milhões ali, estamos a falar de dinheiro a sério! Ena Pai! Não gostou a senegalesa. Fui acusado não só de fazer “as perguntas do George Bush” mas também de ser arrogante. Não me chamaram de racista mas ficou a pairar no ar. Mais tarde uma outra missionária mais calma informou-me em privado que as “mulheres senegalesas são um terror” e “não gostam de receber ordens de homens” e que “quem manda no Senegal são as mulheres”. Não sabia mas fiquei a saber. Não sei se terei coragem para perguntar isso ao “Inevitável Wade”, o presidente do Senegal que não perde uma oportunidade para estar em todas as grandes conferências e daí o seu primeiro nome: Inevitável. Vai lá prestar tributo aos 8 Gajos. Penso que vai lá também pedir massa. O que é que vocês acham?
Não creio que terei paciência para aturar o Wade mas espero que os missionários da Action Aid dêem uma conferência de imprensa este ano. Estive a ler o relatório deles em que afirmam que os 8 Gajos “devem” a África uma porrada de massa (!!) porque não cumpriram promessas de ajuda feitas na Escócia há dois anos atrás. Eu quero perguntar-lhe se os 8 Gajos podem – talvez na próxima reunião – pedir o perdão dessa dívida a África ou então pelo menos reescaloná-la com juros porreiros.
No lado calmo da questão estou desejoso de saber o que é que os alemães vão dar à malta da imprensa. Eh pá na Escócia o governo do Tony Bla Bla tratou-nos como reis e rainhas. (É por isso que eu cada vez mais sou mais monárquico). Comida à borla, bebida à borla e no final da conferência uma garrafa de whisky single malt do mais caro a cada jornalista. Deu confusão total porque houve malta que foi para a bicha duas e três vezes. A capacidade criativa das massas nunca deixou de me impressionar!! Quando chegou a minha vez já tinham iniciado um plano de acção para impedir a fraude carimbando a credencial de imprensa. Porra!
Livrou-me o facto de ter conhecido uma jornalista tunisina que por razões de Maomé não bebe. Meti-a na fila com a promessa de lhe pagar uma laranjada no fim. Alguém da Lusitânia acusou-me de fazer um “negócio da China” e isso fez me sentir todo orgulhoso porque como já vos disse a China é agora o novo pais do futuro o que mostra que eu estou na jogada.
Logo que lá chegar digo-vos qualquer coisa sobre o que é a Ângela nos tem para oferecer.

Abraços
Da Capital do Império

Jota Esse Erre

quinta-feira, 17 de maio de 2007