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terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Schizos e paranos (1)

Vamos tentar expôr algumas chaves para “matar” o real, segundo Félix Guattari. Tentar constituir uma tábua anárquica para transformar a “prisão” de um real e de uma realidade, cada vez mais insuportáveis. Uma certa dose de provocação acompanha esta tentativa de fixação de um núcleo de conceitos revolucionários


“O desenvolvimento das forças produtivas nas sociedades industriais (e é verdade tanto para o capitalismo como para o socialismo burocrático), implica uma libertação crescente da energia do desejo; o sistema capitalista não funciona - só ou unicamente – pondo a trabalhar o fluxo de escravos. Ele precisa de modelar os indivíduos às suas conveniências e, para isso, de propôr, impôr os modelos de desejo: põe a circular modelos de criança, de pai , de mãe, de amante…Lança esses modelos, como a indústria automóvel lança as suas novas séries."

“O importante é que permaneçam sempre compatíveis com a axiomática do capital: o objecto de amor deverá sempre ser um objecto exclusivo participando do sistema da propriedade privada; a equação fundamental, é: ter gozo= possuir. O indivíduo é talhado para se adaptar, como uma engrenagem, à máquina capitalista; no coração do seu desejo, e no exercício do seu prazer, deve encontrar a propriedade privada, deve investir o ideal: da produção pela produção, não deve desejar senão os objectos que a produção mercantil lhe propõe; não deve unicamente baixar-se à hierarquia, mas deve adorá-la enquanto entidade”.

“A máquina do poder familiar, rectificada pela psicanálise, funciona a partir de duas peças essenciais: o falo simbólico e a castração”. (continua)

FAR

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Pavé sobre a filosofia do devir

Uma "Biographie Croisé" de Deleuze/ Guattari, assinada por François Dosse, acaba de sair na editora La Découverte, em Paris.
Uma perca do primeiro original obrigou-nos a adquirir, em Estrasburgo, de novo, o colossal livro de cerca de 650 páginas. Trata-se com efeito, de um dos grandes acontecimentos do ano. A dupla inconfundível beneficia de um crescendo de reconhecimento nos EUA, Japão, Itália e Inglaterra. Memorável o seminário de três dias com Foucault/Deleuze e Guattari na Columbia University, em Nova Iorque, já em 1975. Para lá de ter induzido a posteriori a constituição de um Centro Internacional de Filosofia na École Normale Supérieure de la Rue dŽUlm.
De incaboudora de Sartre, Althusser, Derrida, a ENS dŽ Ulm é, hoje, a ágora de um conjunto de novos filósofos que defendem com unhas e dentes o legado de Deleuze e Guattári. Élie During,Thomas Bénatouil e Isabelle Stengers, são hoje nomes incontornáveis do novo espaço filosófico francês, entre outros.

Dosse ouviu toda a gente que lidou de perto com Deleuze e Guattari, ao longo dos anos. Traça todas as implicações da sua estratégia, os seus desenvolvimentos, choques e rupturas. Realiza uma maravilhosa e pedagógica maratona conceptual. O perfil da amizade entre a famosa dupla é objecto de uma sucessiva e pormenorizada investigação. Do mesmo modo, analisa com profundidade e sem emoções perdedoras, o encontro de Foucault com Deleuze; e o estreitamento dos laços de inaugural camaradagem entre Deleuze, Chatelêt e Tournier, desde os bancos da Sorbonne.

A génese e desenvolvimento dos conceitos principais dos dois grandes livros escritos pela dupla - O Anti-Édipo e Os Mil Tabuleiros - merece uma exaustiva análise.
"Os primeiros desses princípios são constituídos em torno da conexão e a heterogeneidade. Um outro princípio, o da multiplicidade, com origem em Riemann, adquire uma maior importância do que o de microfísica", diz Deleuze citado pelo biógrafo.

Joaquim Vital, o grande editor português de Paris, que imprimiu o livro de Deleuze sobre Francis Bacon, em 1981, A lógica da sensação, Editions La Différence, revelou a Dosse a história de um jantar falhado entre Deleuze e Bacon. " O jantar foi infecto - tão infecto como o diálogo entre os dois criadores", revela Vital.
Apesar de tudo, Bacon dizia para quem o queria ouvir: " Parece que ele, Deleuze, estava atrás de mim quando eu pintava". Belíssimas histórias as que se prendem com a revelação de uma amizade fantástica entre Deleuze/ Guattari e os seus tradutores italianos e japoneses. Hidenobu Suzuki, membro da extrema-esquerda de Tóquio, chega a Paris para estudar a Língua. Como era admirador de Kafka, descobre Deleuze e os seus livros. Desde 1974 até hoje, Suzuki continua a decifrar a nova filosofia francesa. O mesmo se passa com Giorgio Passerone, vindo de Génova, que traduziu os Mil tabuleiros. Dosse revela-nos que Deleuze deixou um livro inédito - Ensembles et Multiplicités- e Raymond Bellour tem uma entrevista também inédita de centenas de páginas com a dupla, conforme confessou ao biógrafo.

FAR

sábado, 27 de outubro de 2007

Félix Guattari: "Je suis à la fois hyper pessimiste et hyperoptimiste"

"Nous sommes engagés dans une fuite en avant éperdue: on ne peut plus se retourner, revenir à um état de nature, à de bons sentiments, à de bonnes petites productions artisanales. Les processus de production, de plus en plus intégrés mondialement, autorisent- et je crois que c´est là une intuition marxiste qui demeure valable - un épanouissement de la liberté et des désirs. De nouveaux moyens nous sont donnés de sortir d´un Moyen Âge, voire d´un néolithisme des rapports humains."

"Le capitalisme ne peut impulser de motivation productive - à l´échelle personnelle, locale, régionale, mondiale - qu´en faisant appel à des techniques ségrégatives d´une incroyable cruauté. Il ne sélectionne et valorise économiquement que ce qui entre dans ses créneaux spécifiques ; tout le reste est dévalué, pollué, massacré. À cet égard, il faut bien dire, que le socialisme du goulag est devenu la forme suprême du capitalisme. Il nous a toutefois légué une chose essentielle: la compréhension de ce qu´aucun socialisme, aucune libération sociale ne saurait uniquement reposer sur des remaniements économiques"

In "Les années d´Hiver", par Félix Guattari, Edit. Bernard Barrault. Paris

FAR

sábado, 22 de setembro de 2007

Biografia gigante de Deleuze e Guattari

Acaba de sair em Paris, Éditions La Découverte, a primeira Biografia Cruzada sobre os dois pensadores-farol de Maio 68. François Dosse elaborou um trabalho piramidal e de rara profundidade. Não esconde nenhuma realidade política e intelectual dos dois sátiros de alta voltagem do establishment parisiense, Muitas histórias e sobretudo uma fabulosa arqueologia do pensamento radical. Sabe-se como Deleuze se fascinou pelo agir de Sartre como filósofo, e também da paixão pela filosofia deEspinosa, Nietzsche, etc. E como veio a defender a Al Fath, ou o Gip de Foucault e Mauriac Filho... Guattari veio da mouvance comunista e ultrapassou a Psicanálise institucional por contágio radical com Laing, Cooper e os esquerdistas "normaliens" que acreditaram na nova leitura de Freud realizada por Lacan e seus colaboradores. Dosse "mergulha" e revela-nos em espiral a "maceração" dos conceitos. E como se sabe, um conceito é uma arma contra a laracha e a obscena anedota trabalhada pela ideologia dominante. Tudo leva a crer, convenhamos, que se trata de um dos grandes acontecimentos literários da rentrée francesa deste ano.


FAR