O novo ensaio sobre a vida e obra de Guy Debord desfaz muitos mitos e narra, estruturalmente, a forma de ser/pensar e a vida real do heróico panfletário de " A Sociedade do Espectáculo", corrigida e aumentada pelo célebre prefácio à edição italiana de 1979. Stéphane Zagdanski, no recentíssimo volume hagiográfico sobre o criador da Internacional-Situacionista- " Debord ou La diffraction du temps", ontem lançado neste Blogue, debruça-se sobre a revolução do 25 de Abril 74 em Portugal,e alerta para os contactos e convites que G.Debord recebeu para " ajudar " a radicalizar o movimento em Lisboa, com a pressa e a pressão desalmada dos seus coriféus lusitanos.
Como sublinhava Debord, " se a totalidade dos sentidos possíveis é a sua única verdade ",que carambola com a tónica de Heidegger," tudo se move em conjunto ", foi Maio 68 que acabou com a IS: " O tempo é nosso amigo e nosso inimigo " parodiava numa carta a um seu cúmplice italiano , um ano depois do fracasso " da última verdadeira revolução do séc.XX ".No caso do 25 de Abril lusitano , sublinha Zagdanski, " toda a vanguarda, os meios revolucionários em geral, encerram um misto de nevrose, de ignorância, de incapacidade( e além disso hoje todos os outros espaços da sociedade ainda são piores, a esse respeito)". Por isso, urge disseminar uma perspectiva radical e global, o que ele exortava aos seus camaradas lusos. E foi o que aconteceu.
" Jamais se contentar em denunciar localmente uma ´democratização `de floristas, antes questionar o modelo em que se inspira, preso a um bric-à-brac capitalista hodierno como o que triunfou na Europa do Oeste ", aponta Debord para acrescentar mais fundo ainda: " O único método consiste, sem concessões ou ilusões, na denúncia precisa, informada, critica e implacável de cada discurso, de cada acção e de todas as proposições e reformas adoptadas pelo novo governo de união estalino-social-liberal que sucedeu em 1974 ao despotismo estreito de Salazar ".
E Zagdanski relembra este fragmento divino da análise de Debord sobre a situação portuguesa post imediato 25/4-74: " Portugal conhece melhor do que qualquer outro país o segredo de Estado. Ele observou-o durante 48 anos em estado puro. É preciso, portanto, ultrapassar o Estado pela democracia operária em armas( ultrapassar o estado burocrático eleitoralista e sindical que se revela alegremente; e que , sem dúvida, só se manifesta porque o vai acabar por perder, mais cedo ou mais tarde)".
Stéphane Zagdanski, " Debord ou La diffraction du temps "