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segunda-feira, 15 de março de 2010

Da Capital do Império

Eu sei que a memória tem a sua própria verdade. Selecciona, elimina, altera, exagera, minimiza, glorifica e claro está calunia. Há quem diga que o acabado de publicar “calhamaço” do Sérgio Vieira é bem exemplo disso.
Mas de qualquer modo acho que Pedro Pires, antigo maquisard, hoje presidente devia escrever as suas memórias. Digo isto porque outro dia, quase que despercebidamente Pires falou no seu país e abordou aquilo que em meados da década de 1970 deixou pasmado os revolucionários (entre aspas talvez?) que tinham tomado o poder no Maputo e em Luanda.
Ao fim e ao cabo o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo verde, o PAIGC, tinha-se apresentado na luta de libertação nacional como um partido seguindo uma linha política de combate e ideologia semelhante à da Frelimo em Moçambique. Contudo após a tomada do poder em Cabo Verde o PAIGC seguiu uma via que causou inquietação entre os revolucionários ( entre aspas talvez?) mas que resultou hoje tantas décadas depois em que o país saído oficialmente da lista internacional de países pobres. Um dos poucos países africanos em que na verdade se avançou
Pois Pires disse a semana passada que quando o PAIGC assumiu o poder em Cabo Verde cedo se apercebeu que o país “reunia todas as condições para que não desse certo” tanto em termos de “condições materiais, como em termos de factores objectivos e naturais”.
“Naquele momento depois da independência precisávamos para a direcção do país de homens do estado,” disse Pires para depois acrescentar:
“Há uma diferença entre o chamado revolucionário e o homem de estado.”
Recordando que ele e os outros dirigentes do PAIGC tinham “chegado pela via revolucionária” Pires descreveu depois o revolucionário como alguém “impaciente e que tem um mal de fundo”.
“É um irrealista. Não pensa nas consequências dos seus actos ou se os seus desejos mais nobres são realizáveis ou capazes de execução,” disse.
Para Pedro Pires o verdadeiro estadista é aquele que é “paciente, realista e sensato” e ainda “persistente”.
Para Pires havia pois uma diferença entre que aqueles que pensavam “ que é possível mudar o mundo de um dia para o outro” e aqueles que sabem que “é preciso construir o futuro passo a passo, degrau a degrau com desafios acrescidos todos os dias”.
Pedro Pires recordou que o PAIGC era “uma elite política” mas cedo se apercebeu que tinha que ir “buscar a parte técnico/operativa” para poder pôr o país a funcionar.
“Só havia um sítio onde a ir buscar: na administração colonial,” disse o actual presidente.
“Daí a nossa opção de guardar no país todos os funcionários públicos que quisessem cá ficar. Se não tivéssemos feito isso teríamos o estado mas não teríamos a administração do estado. São esses quadros que estão na base da construção do estado de Cabo Verde e principalmente da administração pública,” acrescentou.
Pedro Pires foi diplomata quanto aos outros PALOP.
“Cada processo é um processo. Não somos donos da verdade,” disse ele.
Para Pedro Pires a pergunta a fazer é “se descobrimos em Cabo Verde homens de estado” que conseguiram dar prioridade “aos interesses comuns”.
Boa pergunta. Que talvez se deva estender a outros PALOP. É por isso que estou desejoso de ler o “calhamaço” do Sérgio Vieira para ver o que é que ele revela a este respeito sobre si mesmo.
Abraços,

Da Capital do Império

Jota Esse Erre

domingo, 14 de março de 2010

Homens que Matam Cabras só com o Olhar

A mim já nada me anima. Apenas o meu Sporting, sob o efeito Costinha, me pode tirar deste ambiente depressivo em que vive o País e o meu pai. Deixemos o futebol de lado. Ponhamos também de parte a política (o Congresso do PSD, com os Três Estarolas, seria para rir não fosse a necessidade de uma Oposição com gente de bom senso). Passemos ao meu pai. Lembram-se que aqui há tempos vos contei que estava a viver uma “fairy-tale” familiar. Pois é, o sonho acabou. O meu pai apaixonou-se e saiu de casa. Acreditam que pensou em mim ou no meu irmão? Do estado em que ficou a madrasta nem vos falo. Mas graças a uma espécie de justiça divina está a pagar o seu desvario. Ainda não dorme debaixo da Ponte 25 de Abril, mas sem grande esforço lá chegará. Incompatibilizado com a paixão (bem feito), que o expulsou de casa, está a viver numa mansarda da Baixa de Lisboa. Eu, que fiquei a viver na casa da família que ele abandonou, vou de quando em vez, durante o dia, tomar um café com ele ao tasco da esquina. O meu irmão, por imperativo da regulação do poder paternal, fica com ele de 15 em 15 dias e já deve conhecer muito bem o “bas-fond” e as noites sórdidas da capital. Claro que a mãe do meu irmão se insurgiu com o actual estado das coisas e escreveu a meu pai. Acontece que burro velho não aprende línguas e a misoginia é um traço de carácter da geração que nasceu nos anos 50 do século passado. Para mim é pré-história. Meu pai respondeu-lhe de uma forma curta dizendo que era o pai que podia ser, mas que era pai. (Aqui até lhe dou razão porque me parece que além de ter sido um bom pai para mim, também o foi para o meu irmão e para ela própria, que era muito novinha quando casaram). Disse ainda que o lugar onde vivia tinha uma beleza poética, segundo a Gabriela, uma esteta amiga dele. E quase concluiu a jogada apresentando a prova dos seus dotes paternos. Tinham ido pai e filho ver o filme: Homens que Matam Cabras só com o Olhar. Por último rematou: “Infelizmente não tenho poderes paranormais”. Valha-nos o Costinha!

Josina MacAdam

Post dedicado ao Luís Filipe, ao Parcídio e ao Severo e ainda à memória do Zé Manel e do Zé Maria

quinta-feira, 11 de março de 2010

“Rouge”

In memoriam. José Maria Gomes aka Zeca Diabo

Memória bem guardada entre os que mais de perto privaram com o José Maria Gomes, durante a sua transitória frequência do enclave ‘português’ no Rio das Pécoras, merece jus divulgação nesta injusta inoportunidade obituária. Escrevemos memória com o intuito de desanimar os que habitualmente as treslêem como segredos mais ou menos ciosamente desguardados. Nada disso.
Memória do que deveria ser oportunamente dito sobre o Zeca Diabo. Como afectuosa e privadamente referiam os que oficinaram nos 80 meados os jornais a que deu alma e corpo. Primeiro o Correio, depois o Oriente.

Por respeito aos altos padrões de modéstia e inabalável confiança axiológica nos princípios da Igualdade e da Fraternidade a que o Zé Maria se obrigava, propomos, tão só, uma síntese e uma estória.
Por que nos falta o talento do aforismo na mesma medida em que desconhecemos o patois moderno apropriado, ficamo-nos por uma visitação nobre: gentil-homem.
Um homem bom, uma pessoa tranquila, um cidadão perenemente incomodado e inconformado com a exploração, a injustiça e todos os arbítrios. O Zé Maria era genuinamente assim, sem alardes, sem crispações. Quem se não lembra daquele jeito peculiar de discordar semisorrindo: “Nãããão”. Ou quando o disparate do interlocutor era confrangedor, um compreensivo: “Nããão sócio, não sócio”.
Jornalista escrupulosamente honesto, o Zeca Diabo sucedeu, no quadro desfavorável de responder por veículos escritos ditos pró-governamentais, em apresentar produtos tecnicamente limpos, rigorosos.
“Espírito de missão”, justificava, e por aí ficava a explicação da missão. O espírito, esse, revelava-se no sacrifício de suportar golpes baixos dos adversários, que os havia, e até se autodesignavam de oposição.
Pois a estória foi mais ou menos a seguinte. Soprado sobre uma vaga intenção governamental de ressuscitar o dossiê caminhos-de-ferro, nada mais nada menos do que o modus operandi adequado a quem quer encomendar estudos e consultorias várias- chamemos-lhe o método do raccord histórico ou do precedente auspicioso-, o Zé Maria verteu prosa investigada sobre comboios em Macau. Propósito nada fácil, uma vez que nunca houve comboios por estas bandas, pelo menos de natureza ferroviária.
O nosso Zeca não se deixou limitar por essa inconveniência e tratou de desencantar, sim, desencantar, um achado etimológico e um filão semântico, uma “Gazeta dos Caminhos de Ferro”, publicada em 1902, em Lisboa. A gazeta repescava uma ‘cacha’do Morning Leader de Londres, que anunciara a formação de um “syndicato” português para financiar e construir a linha de caminho de ferro entre Macau e Cantão.
A percepção desta possibilidade seria qb, mas o Zé Maria reforçou-a com a irrefutabilidade do material circulante: numa pequena pedreira da Ilha da Taipa era, fôra, possível observar o afã das pequenas vagonetas de cascalho, para cá e para lá, sobre carris.
Os tais adversários, acima introduzidos, não enjeitaram a oportunidade para ‘desancar’ o Zé Maria, o “Oriente”, associando o “delírio” dos comboios à deriva mental e financeira do governo. No mais duro estilo madeirense, chegaram ao ponto de insinuar que o Zé Maria teria sido visto, madrugada alta, junto à dita pedreira, com uma cavilha numa mão e uma garrafa de mao tai na outra.
Foi a gota de água. “Sócio, puta que os pariu, fechamos o jornal e vamos para o Skylight, para o Mermaid, para o Ritz, para o Kin Dô, para qualquer sítio”.

(continua)

JSP

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Campos de reeducação: O silêncio cúmplice de Cavaco Silva

De visita a Moçambique, Cavaco Silva perdeu uma excelente oportunidade de servir para alguma coisa. Além de descomprometido com a “esquerda”, tinha ainda a vantagem de ter pela frente a pessoa certa para tratar de um assunto que há décadas ensombra a história conjunta de Moçambique e de Portugal, a tal história do “cheiro a terra molhada e a temperos exóticos” (traduza-se: cheiro a cadáver e a trampa em geral). O dito assunto (os campos de reeducação, lembram-se?) é um dossier que continua por fechar. Aliás, continua por abrir. Cavaco podia tê-lo feito agora, é só lhe ficava bem. Teria dado uma excelente lição aos seus predecessores de esquerda. Mas não. Faltaram-lhe tomates, ou interesse, ou vontade política. Sucede que houve Operação Produção. Sucede que milhares de moçambicanos foram detidos e degredados sem qualquer julgamento. Sucede que na onda foram também muitos portugueses, e que, até hoje, nunca houve um sinal de arrependimento, um pedido de desculpas, ou uma reabilitação pública, já para não falar de indemnizações mais que justificadas. Armando Guebuza, actualmente Presidente da República de Moçambique, era na altura ministro do Interior, e foi o mentor do cambódjico processo, responsável directo por milhares de detenções sem culpa formada, e, pelo menos, centenas de mortes. Quer dizer: a pessoa certa para reabrir os arquivos, e informar de uma vez por todas quantos portugueses foram na leva, quais os seus nomes, qual o destino que tiveram, e, na pior das hipóteses, onde param os seus ossos. É chato, é macabro, mas há famílias e amigos que gostariam de ver este assunto arrumado. Pela minha parte, exijo a reabilitação da memória do anti-fascista e anti-colonialista português Virgílio David da Silva Faustino, meu grande amigo e companheiro de exílio, detido e deportado sem culpa formada. Sem culpa nenhuma, aliás. Cavaco optou pelo silêncio, e quem cala consente. É pena. Os moçambicanos, afinal as principais vítimas do monstruoso “processo reeducativo”, apreciariam por certo outra atitude do PR português, já que há muito aguardam em vão pela reabilitação dos seus “reeducandos”. Guebuza tem as mãos manchadas de sangue. Nada de estranho num dirigente africano, daqueles que o Ocidente patrocina e sustenta no poleiro. Só que, neste caso, também há sangue português, e Cavaco, se pretendia ser de facto o presidente de todos os portugueses, tinha obrigação de não se calar. Mas calou-se. Se existe de facto algo em comum entre Portugal e Moçambique não é o Eusébio nem o seu marisco favorito. Se existe um passado comum, é esse, o da tirania. E se existe um futuro comum, passa pela liquidação efectiva de heranças como a Operação Produção. O resto é demagogia, paternalismo e cobardia perante a História. O resto é merda, em resumo.

José Pinto de Sá

quinta-feira, 6 de março de 2008

Jonathan Littell: "Existiram nazis de esquerda e de direita"

O autor do grande romance do ano passado, de fama mundial, J. Littell, “As Benevolentes”, encontrou-se com Daniel Cohn-Bendit, figura carismática da mouvance de esquerda dos dois lados do Reno, e falaram do livro, que acaba de ser traduzido em alemão, resultando num pave de cerca de 1400 páginas. O diálogo é muito vivo e subtil. Com incursões filosóficas. A ler aqui, clicar, Le Figaro.


«Daniel COHN-BENDIT. Vous dites souvent qu'un livre, qu'une œuvre vit sa vie. Ce livre-ci a été écrit et publié, ce n'est plus le vôtre. Il renaît en Allemagne, où il a suscité un choc prénatal très dur. Est-ce que cela vous étonne ?
Jonathan LITTELL. Je ne sais pas si cela m'étonne ou non. Je suis curieux de voir comment le livre sera reçu en Allemagne, car les lignes de fracture ne sont pas les mêmes qu'en France.

D. C.-B. Vous saviez que l'Allemagne est un pays où le débat intellectuel sur la période qui nous intéresse a été très virulent. Les Allemands ne voient pas nécessairement d'un bon œil qu'un intrus franco-américain vienne leur raconter des histoires qu'ils connaissent mieux que lui.
J. L. Je ne pense pas que ce soit le fond du problème… Le fond du problème, c'est le travail de mémoire, qui est en évolution constante. On l'a vu avec Grass l'année dernière, et avec Der Untergang l'année d'avant.

D. C.-B. Voyons comment on en est arrivé à ce livre. Vous avez une idée, d'accord. Puis vous vous retrouvez en Bosnie, en Tchétchénie, où vous êtes confronté à quelque chose que vous allez raconter plus tard, la guerre, que vous avez vécue à une autre époque. Comment cela vous a-t-il marqué ?
J. L. La guerre, c'est la guerre. On passe dans un autre mode de relation au temps. Je n'étais pas, sur place en Bosnie, par exemple, dans la position des types qui se battent, ce qui est quand même assez différent. C'est une position d'observateur. C'est vrai qu'on fréquente beaucoup de gens pas sympathiques du tout. À force de les fréquenter, on apprend un peu mieux comment ils fonctionnent.

D. C.-B. Pourquoi l'humanitaire vous a-t-il tenté ?
J. L. Cela m'a intéressé de travailler dans ce type d'environnement. Mais j'étais à Sarajevo, où on buvait des coups, on fumait des cigares et on draguait des filles, et de temps en temps il y a un obus qui tombe, et puis voilà. Pas le même ordre de grandeur que Stalingrad ou la bataille de Koursk.

D. C.-B. Maintenant, vous livrez Les Bienveillantes aux Allemands après les avoir données aux Français. Vous nous racontez deux histoires. Celle, avec un grand H, de l'armée allemande de 1941 entrant en Ukraine jusqu'en 1945 à Berlin. Vous racontez aussi l'histoire de Max Aue, un intellectuel très cultivé et homosexuel.
J. L. Vous êtes sûr… ?

D. C.-B. Un-zéro pour vous, d'accord. Disons qu'il a de temps en temps des velléités d'homosexuel. Vous situez son histoire dans le cycle de l'Orestie, l'inceste en plus. Il y a la structure de l'Orestie, mais il y en a une seconde, la musique. C'est une suite de Bach. Les titres de chapitre sont d'ailleurs « toccata » ou « allemande », etc. Pour un roman comme ça, on est d'abord surpris.
J. L. Au moins ça permet d'éviter Wagner, c'est déjà bien. Je ne l'aime pas. Et ce n'est pas parce que eux (les national-socialistes, NDLR) aimaient ça que je suis obligé de faire la même chose. Bach, c'est bien. C'est plus construit.

D. C.-B. La structure de l'Orestie pose quand même un certain problème. La mythologie grecque, c'est le destin, donc il n'y a pas de responsabilité. Les gens se sentent mal à l'aise, ils disent que déjà dans sa structure l'auteur déresponsabilise les acteurs de son histoire, et surtout le narrateur, qui écrit à la première personne.
J. L. C'est une lecture assez simplificatrice de la tragédie grecque. Il n'y a pas que le destin. Il y a l'humain, qui agit avec sa volonté, et il y a les dieux. Et les deux sont constamment frottés. C'est très complexe. Par rapport au sujet spécifiquement allemand, tous les romantiques allemands ont plongé jusqu'à la moelle dans la tragédie grecque, Kleist, Hölderlin, Schiller… Et je pense très fortement que le nazisme est une dérivée, perverse, mais quand même une dérivée, du romantisme allemand. Ce n'est pas un hasard si le plus nazi des philosophes allemands, Heidegger, s'est complètement trempé dans la philosophie grecque.

D. C.-B. Revenons-en à Max Aue. C'est un intellectuel, c'est ce qui surprend dans ce livre. De plus, c'est un intello franco-allemand, ce qui surprend évidemment en Allemagne. Il a une culture qui n'est pas simplement allemande. Quand il est à Paris, il va discuter avec tous les grands pontes du fascisme français. Il est tout à fait chez lui. L'intello, et l'intello je ne dirais pas européen, c'est un peu rapide, mais en tout cas franco-allemand, c'est quand même une bombe dans la conception du nazisme.
J. L. Très pragmatiquement, comme je ne suis pas allemand, je ne parle pas allemand, il est un peu difficile pour moi d'avoir des paramètres 100 % allemands. Ça m'aide un peu pour tricher, on va dire. Ça, c'est le côté pratique. En revanche, de façon beaucoup plus délibérée, je vois le nazisme purement allemand, mais il y a tout un phénomène européen. L'idée de l'Europe moderne, elle est née là. On lit tous les discours d'extrême droite français des années trente, tous les Brasillach et compagnie, ils ne parlent que d'Europe, et jusqu'à la fin de la guerre. Max s'insère là-dedans.

D. C.-B. Max Aue, cet intellectuel juriste, il est observateur lucide et en même temps bourreau. Il raconte tout ce qu'il voit, sauf ce qu'il fait. Dans la partie de sa vie familiale privée, il ne se rappelle pas comment et où il a tué, s'il a tué ou pas. C'est un mystère. Il est un peu le poisson pilote pour l'histoire. Cette construction littéraire donne la possibilité de jouer sur tous les tableaux.
J. L. Je ne dirais pas poisson pilote. Mais Max Aue grille d'observation, oui. Je voulais un narrateur qui puisse être lucide, donc détaché, donc distancié par rapport à tous les autres. Une partie du travail qui a été pour moi extrêmement importante, c'est justement les autres. Les lecteurs se focalisent beaucoup sur Max, mais pour moi tous les autres, tous ceux que Max décrit, étaient aussi importants. Que ce soit Eichmann, que ce soit Rebatet, que ce soit les gens que j'ai inventés, j'ai essayé de montrer toute la gamme des nazis qu'il pouvait y avoir. Du petit nazi de base jusqu'à Himmler. Et Max comme figure me servait à ça. Lui, il pouvait observer. Maintenant, par rapport à sa propre position… J'ai lu l'article d'un historien français qui a émis l'idée très intéressante que Max mentait. Moi, je n'avais jamais pensé à ça. Un nazi qui n'est pas antisémite, qui ne lit pas Rosenberg et qui préfère Flaubert est-il crédible ? Il n'y a aucune raison de croire ce type sur parole. Peut-être qu'il ment, peut-être qu'il était complètement antisémite, qu'il lisait Rosenberg, Hitler, Streicher. C'est une possibilité du texte, et tout à fait valable, je trouve.

D. C.-B. Ce qui m'a fasciné, c'est que tout à coup j'ai commencé à comprendre que nazi, cela ne voulait rien dire. Qu'il y avait une multitude de possibilités d'être nazi à cette époque. Ça ne veut pas dire qu'on l'était plus ou moins, mais d'une manière différente.
J. L. Absolument. C'est quelque chose que j'ai compris assez tardivement, au cours de recherches. Effectivement, le nazisme fonctionne comme la chrétienté au Moyen Âge. C'est un langage commun de société. Et, à l'intérieur de ce langage commun, comme le communisme en URSS, chacun se positionne. Donc il y a des courants politiques, il y a des nazis de gauche et des nazis de droite, des déviationnistes et des économistes pointus.

(...)
»
Le Figaro


FAR

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Boris Cyrulnik: Dois grandes perigos ameaçam a memória do Holocausto

O omnisciente Pr. francês, Sarkozy, em queda vertiginosa nas sondagens, resolveu, à sua maneira, manipular a memória do Holocausto, tentando incutir o estudo das vítimas adolescentes nas classes de jovens alunos das Escolas francesas, a partir dos 10 anos. Uma ensurdecedora polémica rebentou, de que este artigo do filósofo e neuropsiquiatra nos dá conta, clicar aqui. Fundamentalmente, Cyrulnik com antepassados judeus massacrados, insiste: “Dois grandes perigos ameaçam a memória do Holocausto. O primeiro é o de não se falar acerca desse acontecimento; o segundo, é o de se falar erradamente sobre isso".

« Beaucoup de petits ne réagiront pas de cette manière. Si leurs parents soupirent d'un air excédé "encore la Shoah", comme beaucoup de gens l'ont fait dès la fin de la guerre, les écoliers réciteront la mort du disparu comme une corvée ennuyeuse, une punition peut-être ? La banalisation de la Shoah leur mettra en mémoire que l'assassinat de sept adultes sur dix et de neuf enfants sur dix n'est qu'un détail de l'histoire. Beau cadeau pour les négationnistes. Dans certains groupes religieux qui composent notre société, on réagira avec colère : "Il n'y en a que pour les juifs, nous aussi on a souffert", diront certains immigrés. Ils nous expliqueront que dans leurs pays d'origine on a tué beaucoup moins de juifs. "La persécution des juifs d'Europe ne fait pas partie de notre histoire", diront-ils, exaspérés. D'autres déclareront, et ce sera justice, que les Arméniens aussi ont le droit de se plaindre et les Cambodgiens et les Rwandais et pas seulement le lobby juif. (Tiens, il y aurait donc un droit de se plaindre ?) J'en prévois même qui seront heureux d'ajouter que la mémoire des petits Palestiniens tués devra, elle aussi, être citée dans les écoles.
Enfin, les survivants de la Shoah, qui aujourd'hui atteignent un âge certain, entendront en une seule sentence disqualifier les efforts de toute leur existence. Ils se sont tus pendant quarante ans parce que la Shoah était difficile à dire et impossible à entendre. Ils croyaient même que leur silence protégerait ceux qu'ils aimaient. C'est difficile de se poser en victime, vous savez, c'est indécent même, tant ça gêne les autres. Tout le monde est complice du déni qui fait taire les survivants. Pour sortir de leur agonie psychique, ils n'avaient qu'une seule idée en tête : redevenir comme les autres, réintégrer la condition humaine, reprendre leur dignité. Et voilà qu'en une seule phrase on les remet à leur place de victime ! On les repousse dans le destin qu'ils avaient réussi à combattre. On leur impose la carrière de victime qu'ils avaient évitée et que désormais on pourra à nouveau leur reprocher.
Et puis surtout, surtout, monsieur le président, avec votre projet vous demandez aux enseignants d'entraîner les enfants d'aujourd'hui dans le malheur des enfants juifs du passé. Bien sûr, il faut parler de la Shoah, mais pas n'importe comment. Il faut donner la parole à Anne Frank, à Primo Levi, aux historiens, aux philosophes, aux témoins, à ceux que le malheur a embarqués dans la rage de comprendre. Notre dignité, c'est de faire quelque chose de la blessure passée, ne pas nous y soumettre et surtout ne pas entraîner d'autres enfants dans la souffrance.
»
Boris Cyrulnik, Le Monde (Article paru dans l'édition du 20.02.08.)

FAR