Mostrar mensagens com a etiqueta Libération. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Libération. Mostrar todas as mensagens

sábado, 24 de maio de 2008

Judith Revel e Rancière: " São as acções que criam os sonhos!"


Um balanço provisório das comemorações do 40° aniversário de Maio 68, conjugando uma perspectiva aberta, dinâmica e post-marxista, surgiu hoje no Libération, ler a integral clicando aqui. Trata-se de um texto admirável, a vários títulos, subscrito por dois filósofos de grande fôlego, Judith Revel e Jacques Rancière, e que se associa ao projecto em movimento diferencial posto em movimento também por Alain Badiou e Toni Negri, com as nuances salvaguardadas. Como sublinha Rancière, "Maio 68 mostrou que, o que importa, no movimento não é o objectivo fixado mas a criação de uma dinâmica subjectiva, que abra um espaço e um tempo onde a configuração dos possíveis se encontre transformada. Para dizer de outro modo: são as acções que criam os sonhos, e não o inverso" ".

" Maio 68 representa o fim do " curto século XX ", de que fala Hobsbawm, e o começo de outra coisa, em que nos encontramos hoje ainda a formular, que se exprime por três grupos de questões. Primeiro, o que é um movimento, o que é uma política de movimentos? Um partido ou um sindcato detêm o monopólio da organização das forças políticas, ou bem pelo contrário, outras formas de acções colectivas podem existir? E ainda: uma organização é pensável fora dos partidos e dos sindicato que estruturam os códigos e a " gramática política "?, avança Judith Revel.

Se Judith Revel assegura que " é porque a Esquerda esquece Maio 68, que perde ", Rancière aprofunda a tese e dispara: " Maio 68 foi um movimento político importante porque criou uma cena política distante, quer das instituições do Estado, quer da composição dos blocos sociais. A política é o que interrompe o jogo das identidades sociológicas. No séc 19, os operários de quem estudei os textos diziam: " Nós não somos uma classe ". Os burgueses designavam-os como uma classe perigosa. Mas para eles, a luta de classes, era a luta para sair da classe e do lugar que lhe era imposto pela classe dominante, uma luta para se afirmarem como os portadores de um projecto universalmente partilhado. Maio 68 reactivou esse intervalo entre a lógica da emancipação e as lógicas classistas ".
J. Revel : Le problème n’est pas de savoir si une utopie peut réussir ou si elle est par définition vouée à l’échec. 68 n’était pas une utopie parce qu’il s’agissait d’une expérimentation, de la construction d’une différence ou d’une discontinuité qui se voulaient immédiatement présentes. Creuser le présent d’une autre manière, chercher à inaugurer d’autres formes d’existence - non pas ailleurs, ou dans un monde meilleur, mais ici et maintenant : une ouverture d’espoir, une torsion violente du monde existant. Aujourd’hui, nous avons oublié ce désir de discontinuité qui est aussi une aspiration au bonheur. Mais l’abandon de la recherche du bonheur comme projet politique est, je crois, le prix à payer d’un certain «pragmatisme» qui cherche précisément à effacer ce que 68 nous a appris : la possibilité d’une expérimentation puissante au cœur du présent. Penser à la fois la discontinuité et le présent, la discontinuité dans le présent.
J. Rancière : On pourrait résumer 68 en un seul objectif : rendre les Sarkozy impossibles. Les jeunes défilaient dans la rue avec des slogans du genre : «Nous ne voulons pas être les exploitants de demain, nous ne voulons pas être les servants de l’exploitation.» En fait d’incarnation de 68, Sarkozy est un personnage du XIXe siècle, un jeune homme qui désire «arriver», comme le Rastignac de Balzac ou le Frédéric Moreau de l’E ducation sentimentale. Il représente la coïncidence de ce désir puéril du pouvoir pour le pouvoir avec la logique globale de ce que j’appelle police : la gestion des affaires communes comme ensemble de problèmes à remettre aux soins des gens compétents, par opposition à la politique comme exercice de la capacité commune à tous. L’esprit de 68, c’est qu’il faut être crétin pour vouloir devenir président de la République. C’est celui de la politique comme invention collective et non comme prise de pouvoir. C’est une période où on a presque oublié qu’il y avait des ministres et des députés.
J. Revel : Il m’est totalement indifférent de savoir ce que Nicolas Sarkozy pense de 68. Pour moi, 68 interroge surtout la gauche aujourd’hui. Parce qu’il a donné à voir une configuration politique inédite : la constitution de champs d’expérience, un rapport critique aux institutions existantes, une façon d’interroger ce que pourraient être des institutions de nature différente. Et surtout un autre rapport au pouvoir - qui ne veut plus prendre le pouvoir, ni même se constituer en contre-pouvoir… Quarante ans plus tard, la gauche reste prisonnière d’une «forme parti» dont la seule visée semble être la prise du pouvoir, interne ou externe. C’est parce que la gauche a oublié 68 qu’elle perd. Voilà pourquoi il faudrait aujourd’hui non pas reproduire 68 - on ne reproduit pas un événement avec quarante ans de décalage, cela n’aurait aucun sens -, mais se poser à nouveau les questions que 68 avait ouvertes : quels espaces de lutte se donner, quelles nouvelles subjectivités politiques mettre en jeu, quelles pratiques politiques et quels modes de vie inventer ? La plupart des mouvements actuels se déplacent sur ce terrain. La gauche y est, hélas, sourde.
FAR

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Ségolène ultrapassa ilusão-Bayrou nas sondagens

A candidata da Esquerda oficial realizou um final de campanha notável. Sarko lidera intenções de voto da primeira volta e Bayrou ensaia o canto da"mula" para captar indecisos persistentes. Não houve tema dominante na campanha e a questão do futuro da Europa foi pouco ventilada...

O declínio económico francês e as lutas fratricidas entre os dirigentes das duas grandes formações políticas - UMP e PS - acabaram por desorientar as aspirações de voto da parte nuclear do eleitorado. A dois dias da primeira volta das Presidenciais Francesas, persistem sérias dúvidas sobre a " cristalização " das intenções dos votantes, sobretudo no espectro de centro-esquerda. Num texto de hoje publicado no Libé, os dois magos das Sondagens analisam, clicar aqui, o conteúdo fulcral desta indecisão política maior.

"Inquietação passageira ou grave doença ?´ Um número elevado de pessoas disseram-nos que ainda não tinham escolhido. No nomento em que as escolhas se deviam cristalizar, é porventura a indecisão que se cristaliza", constata Emmanuel Rivière, da Sofres. E ele acrescenta: ´Há uma indecisão no centro da oferta`. Para Jerôme Sainte-Marie, do instituto BVA, "a posição do candidato centrista é frágil: 47 por cento dos eleitores que podem escolher Bayrou declaram poder mudar de ideias, contra só 20 por cento entre os potenciais eleitores de Sarkozy, Royal ou Le Pen", frisa o texto referenciado.

E vai mais longe esta análise de opinião abalizada e muito trabalhada: "As incertezas mergulham também no posicionamento respectivo de François Bayrou e Ségolène Royal. Os dois candidatos pertencem a campos opostos, mas nenhum deles se limita a entoar os cânticos do seu reduto político. Sego não teme agitar a bandeira nacional e entoar o hino pátrio, de apelar para uma grande firmeza contra a delinquência e interrogar-se sobre os resultados das 35 horas. François Bayrou, por seu turno, multiplica-se para dizer o melhor que sonha dos dirigentes dos Sindicatos da Educação Nacional. Acabou mesmo por achar Olivier Besancenot (LCR, trotskista) " simpático ", ao mesmo tempo que apela para a apresentação de uma moratória sobre os OGM, como o repetiu ontem ".

As grandes diferenças entre os programas de Sego e de Bayrou situam-se no campo das opções económicas, clicar aqui. De acordo com Christian Saint-Etienne, expert universitário e membro do Conselho de Análise Económica junto do PM, as grandes diferenças entre os programas de Sego e Bayrou situam-se ao nível da resolução das disparidades entre a oferta e a procura, por causa da perda de competitividade da economia francesa e dos balanços da Mundialização.

"Para Bayrou, o país está confrontado com uma crise de oferta. A França é cada vez mais incapaz de fornecer produtos e serviços competitivos. O antecessor de Villepin explicava amiúde que, quando ia em viagem oficial à China, tentava oferecer os Airbus e o TGV e ao fim de 20 produtos já não tinha mais nada para vender. Enquanto que o seu homólogo alemão, à época Gerhard Schröder, ia para lá com uma lista de 200 produtos made in Germany. Sego e os socialistas avaliam que a crise se manifesta tanto na oferta como na procura", indica.




Num suplemento excepcional do Le Monde sobre as Eleições Francesas, clicar aqui, alguns dos grandes sociólogos mundiais, como Axel Honneth, o sucessor de Habermas no Instituto de Pesquisa Social de Francfort, Pierre Rosanvallon e o norte-americano Lawrence Kritzman ; justamente o grande teórico rocardiano e Prof. agora no Collège de France, Rosanvallon , chama a atenção para o " nível extremamente baixo de elaboração teórica interna nos partidos políticos e nos estados-maiores dos candidatos ", frisando, por conseguinte, que se vive o fim dos "conselheiros do príncipe" e que a sociedade mediática " suplantou a campanha de ideias".
Tudo a juntar aos dossiers daquele quarteto de pavés onde a revista Marianne, o Charlie Hebdo e o Canard Enchainé se coligam com a fortíssima operação comandada por Laurent Joffrin no Libération quotidiano.



FAR