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sábado, 18 de fevereiro de 2012

The Weight of Chains

Este é um documentário difícil de escrever, tal como o seu objecto de interesse. À primeira vista pode parecer um exercício sobre a Jugoslávia comunista, retratada com o seu sistema de saúde grátis, transportes públicos e habitações a preços razoáveis, emprego para todos, uma taxa de literacia de 91% e esperança média de vida de 72 anos, enfim… um sistema em que se produz para que todos possam desfrutar dos bens comuns. 

Mas este modelo de prosperidade em que coabitavam diferentes etnias ameaçava, das mais variadas formas, o ideal capitalista. À medida que o filme avança começamos a ver os sinais de alarme: depois de aflorados e ultrapassados os episódios da 1ª e 2ª guerras mundiais, damos connosco na Jugoslávia pós Tito e a pensar na crise, na estrutura da União Europeia, na Nato e nos Estados Unidos de Clinton e dos Bush e nos esquemas usados para arrepiar caminho por este pedaço de terra e sugar-lhe lucro. 

Daí em diante este documentário torna-se nauseante, dados os factos, os indícios e o que o subtexto diz sobre a estrutura humana e a natureza do mal. O que acrescenta sobre a resistência à guerra civil acrescenta também em relação à propaganda hardcore a incitar ao ódio entre etnias (atenção antes e depois dos 00:30 há sketches publicitários imperdíveis) Não há povo mais mártir do que aquele que ignora o direito à liberdade. Faltam palavras para ilustrar a viagem que se faz nestas 2 horas, mas parece-me importante que a façam, apesar do tom discutível do narrador e da sombra apocalíptica que paira sobre o documentário. 

O que fica é, sobretudo, a ideia de que somos uma colónia e que estamos a ser empurrados para a guerra. Não o saber, agora, pode ser bom, um sinal de que estamos a viver o momento presente (que é a única coisa que vale a pena viver), mas fica no ar que de futuro, quando aqui quisermos recuar veremos com clareza o caminho que estamos a percorrer às cegas. 


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Fuck you, Motherland"


O Ai Weiwei, outra vez? Sim, já sei, parece repetitivo, mas há aspectos em que é preciso insistir até que estes sejam compreendidos na sua totalidade ou, pelo menos, expo-los a isso. 

Há muito que Ai Weiwei deixou de ser só um artista e activista para passar a ser, como o próprio reconhece, uma marca pela singularidade, uma voz revigorante sempre que a paralisia toma conta de uma classe que teima em não querer apontar o dedo para não ter de se levantar. 

Ainda que no processo que conduz um artista a este tipo de exposição muito seja comprometido, este não será o caso a fazer as delícias de quem prefere olhar para um objecto pela sua forma, sem perceber o plano, que ainda não estando, o enquadra. Outros artistas há a pôr-se a jeito a isso, como o gigante Marina Abramovic que, radicado nos EUA, assume querer ser uma marca como a Coca-Cola. O papel de um e de outro, enquanto figuras de proa de autonomia emocional e intelectual, tem muitos paralelos, mas a obra sobreviver-lhes-á de modo muito diferente e será talvez aí que a questão da autenticidade presente em Ai Weiwei e ausente na Marina enquanto performer se fará valer. 

O documentário "Ai Weiwei: Never Sorry", realizado por Alison Klayman e galardoado em Sundance 2012 com o prémio especial de júri "Spirit of Defiance", acompanha-o desde 2008. Com isto, não só lhe amplifica a voz como acentua uma série de questões transversais, como a influência conseguida com a difusão na internet, a responsabilidade de um artista de ser uma voz atenta, crítica, disposta às metásteses da inquietação.

para quem mais não pode, que assista 
um vídeo para abrir o apetite aqui