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terça-feira, 27 de setembro de 2011

(Mais) correio interno


André,

            “Há 20% de pessoas que votam nos anarquistas que são mesmo anarquistas. Não são como os nossos.  Temos esses esquerdóides, coitados, a gente dá-lhes um copo e eles ficam contentes. Não! Os anarquistas gregos são me’mo anarquistas”, nesta rasante, até ao miolo, diferenciação entre portugueses e gregos, o gabaritado economista, João César das Neves, delineou o mapa cor-de-rosa do comportamento contestatário dos próximos anos. Algumas manifestações – esses gigantescos divãs de psicanalista, onde o povo transfere, para a atmosfera, os nós da sua alma e vai dormir, quase curado –, porque são festas populares que queimam muita energia e dinamizam o envolvente comércio da mini e das sandes, e do refrigerante para as senhoras. Greves, poucas, pois prejudicam a economia e, além disso, os funcionários públicos serão cada vez menos e poucos restarão para fazer greves. De um maneira geral, os portugueses têm a noção de que nada conseguirão com manifestações e greves. Fazem-se por tradição. E porque há partidos mantenedores essa tradição e, mesmo fora desse circuito, em sectores da sociedade mais updated – os célebres utilizadores de redes sociais – usam-nas, para convocar a… manifestação: festa, cartazes, irreverência, bejecas, garrafas de whisky, ganzas, e descarregamento (download) de energia, e carregamento (upload) de História para contar aos netos através de fotos no Flickr.
            As redes sociais serão mais úteis na informação do que na manifestação. Quando o cidadão está a ser atacado pelo Estado, que lhe reclama cada vez mais parte de leão do seu rendimento, justificando-se numa enorme dívida para pagar, a questão principal é mesmo o vil metal. E o cidadão – reduzido a contribuinte – tem que exigir informação sobre dinheiros. Querem privatizar a RTP? Tudo bem! Então qual é o bolo da taxa de tv cobrada e como é ela fatiada pelos vários canais e rádios da empresa? Quanto ganham dirigentes e funcionários? Quantos são? E por que razão subirá a taxa depois de privatizado um canal? E a exigência fundamental de toda a informação sobre os felizardos que comprarão o canal. Dívida da Madeira? Tudo bem! Então que seja explicado euro a euro o seu montante, não basta atirar números, isso é atirar poeira no buraco, “buraquinho”, segundo Alberto João, não diz nada. E as empresas envolvidas? Nome dos gestores, vencimentos, relações familiares e filiação partidária, etc.
              As redes sociais têm essa utilidade: de permitir colocar as perguntas certas aos gestores do Estado. A boa gestão das sociedades atuais já não é uma questão de políticos, mas de povo organizado, isto é, informado, como contribuinte, eleitor, consumidor e todos os outros papéis que lhe permitam representar. No entanto, as redes sociais têm um grande inconveniente. Termina o anonimato. Nas manifestações, ainda se pode encobrir a cara e, talvez, talvez, não haja reconhecimento. Na Internet, o IP é a cara do utilizador. O cidadão terá que se responsabilizar pelos seus atos. Se for para o Facebook de Cavaco clicar “curtir” à parva ou comentar sem decoro, poderá receber uma visita das secretas.

            Um abraço,
            Maturino Galvão

terça-feira, 16 de março de 2010

sábado, 6 de março de 2010

anaCrónicas 2

Os pais desavindos com a primeira palavra a ensinar depois do leite militante entraram em ciclotimia de afectos. Quase nem se falavam. Ela queria mamã talvez – segundo uma fonte mais ou menos credível – e ele queria papá – segundo outra fonte mais ou menos credível. Tudo um pouco primário mas perfazendo o pleno das emoções, essa sensação de estar vivo, equivalente, pela negativa, à do bandulho cheio, essa sensação de ser jibóia. Recorreram portanto ao tribunal familiar. Mas tudo ficou sem saída, já que as partes se dividiam por fronteiras sanguíneas e por afectos politicamente correctos, resultando tudo numa igualdade de braços no ar – a família era da esquerda arcaica, enraizada em terra de sequeiro lá para os lados onde o horizonte não é coxo. De regresso ao lar e para não lhes acontecer o mesmo que aos outros que se esqueceram de alimentar o bebé, que morreu, enquanto jogavam online o jogo da filha virtual a tempo inteiro, resolveram dar o biberão à criança, o que o pai fez pois era a sua vez, sendo que ela tinha optado pela fralda que viesse. E a vida continuou desavinda, amuos, olhares carregados, dores de cabeça, náuseas inexplicadas e mesmo longas desistências mergulhadas na banheira em osmose de amores com a água quente pelas bordas do topo.
Andaram assim meses até que no mesmo sonho – era um casal muito unido no sono e com a crise, que a todos vem tocando, sonhavam mais barato sonhando o mesmo sonho – uma voz silenciosa, subliminar lhes derramou para o ouvido interno a palavra do desejado consenso: e porque não ensinar à criança a palavra défice? E os dias rosa do leite mamado em directo voltaram.

FMR

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Da democratização da informática


O Magalhães

Vinda de onde vem — políticos com sensibilidade às novas tecnologias, jornalistas, bloggers da direita, etc.; e nem todos são tontos — a campanha contra o computador Magalhães roça o irracional. O governo faz propaganda? É evidente que sim. Que outro governo não faria? A introdução do Magalhães na rede de ensino é uma medida de indiscutível alcance? É evidente que sim. O busílis está em que Sócrates se lembrou, e eles não. Tão simples como isto. Saber se o computador é 100% português (e já agora gostava que me indicassem um computador 100% americano, japonês, inglês, coreano, alemão, indiano ou chinês) ou resultado de parcerias, não lhe retira eficácia. O tour dos ministros era dispensável? Eu acho que sim, mas eu não faço política. O PSD teria feito exactamente o mesmo se, sendo governo, os seus ideólogos tivessem força (não teriam) para impor a distribuição de computadores nos termos actuais. O clamor da oposição é directamente proporcional à mudança de paradigma. Portugal não se resume aos meninos da alta classe média cujos papás podem pagar tecnologia de ponta. Porque os da média-média têm sérias dificuldades. E os outros simplesmente não podem (nunca puderam). O que é espantoso é que a democratização da informática, hoje, provoque sobressalto idêntico ao que teria provocado, há cem anos, uma campanha de alfabetização em massa. O resto é cantiga.


Com a devida vénia ao Eduardo Pitta

quinta-feira, 13 de março de 2008

Explicação do silêncio (2)

Armando,


PS (1)
Recebi um mail da SAPO informando-me que o sinal ADSL é muito sensível, como uma delicada flor ou um hímen, qualquer perturbação o perfura ou avaria. Os tipos continuam no gozo comigo e vão despachando conversa de Relações Públicas. (Os testes que me pedem para aferir o sistema já foram feitos logo no primeiro telefonema). Estou convicto que ainda não fizeram nada para resolver a situação. Pela minha parte recebem o e-mail nosso de cada dia (como o pão está caro). Não adianta nada, mas obriga a mandar a minuta que têm no computador para estes casos.
Não tendo conhecimentos técnicos, mas como quero ajudar, vou sugerir-lhes que talvez uma cegonha tenha poisado na linha.

PS (2)
Sou capaz de ficar isolado. Meu sobrinho, de quem uso a linha para estas comunicações rápidas, deve também desistir da Internet, e, nesse caso, ficarei sem hipóteses de mandar e-mails. Se isso suceder, perto do dia 8, telefono-te, para marcar um encontro e comemorar a chegada do Severo ao país dos tolos.

Um abraço,

Maturino Galvão

quarta-feira, 12 de março de 2008

Explicação do silêncio

Armando,


Não creio que o problema da Net seja resolvido. Estou há nove dias consecutivos sem sinal ADSL. Já mandei uma carta registada, com aviso de recepção, para a administração, mas não tenho grandes esperanças. E, apesar de ser sábado, ou seja, dia de descanso, vou-lhes mandar o mail diário. Não adianta nada, mas vou-lhes contando os dias que estou sem Net.

Quando escrevo sobre o reino dos tolos sei de que estou a falar. Conheço-os há muito tempo. E não me coloco em cima de um pedestal (como fazem os críticos do país) e digo, “olhem como eu sou esperto”, “só eu tenho a verdade” e “os outros são todos burros e estúpidos”. Escrevo sobre tolos porque eu sou também tolo e estúpido. Eu não queria contratar serviço algum de uma empresa portuguesa (ou a operar em Portugal que é a mesma coisa) ou comprar seja o que for. Tinha a ideia de viver apenas com o que me coubesse nos bolsos, porque já sabia que consumir em terras lusas, é uma lotaria do caraças.

O único culpado desta situação sou eu. Já tenho idade para ter juízo e não esperar nada do engenho luso. Basta ver os melhores cérebros: Saramago, Marcelo Rebelo de Sousa, Miguel Sousa Tavares, José Sócrates, Mário Soares, Luís Filipe Menezes etc. etc. etc. etc. um rol de iniquidades, mas é aquilo que temos, e que devemos acarinhar e amar como nosso. Foi o Salazar que lançou esta visão de que somos pequenos mas capazes de grandes coisas, e usar uma máquina de propaganda (hoje chama-se publicidade) para sustentar essa ideia, e todos convencer de que é verdade. Por isso, o orgulho pátrio é insuflado por vitórias de lusitanos em todas as partes do mundo (milhões de Cristianos Ronaldos fazem mirabolantes coisas).

O Severo disse-me que vinha no dia 6 de Abril. Já mudou outra vez? Vê se arranjas um sítio mais perto para o jantar. A Parede fica muito longe. São mais de 50€ de distância. Estou cá com a ideia de esta porcaria da Net ainda me vai fazer gastar bom dinheiro e tenho de poupar. Não sei o que será, mas conhecendo os lusos como conheço, é a dedução lógica.

Um abraço.

Maturino Galvão

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Da Capital do Império

Olá,
Como muitos de vocês sabem o meu amigo Armando comprou um GPS. O que significa que agora o Armando já não tem que perguntar a ninguém sobre como é que se vai de sua casa à estação ou de ponto X para ponto Y. Ganhou autonomia.
O Armando claro está não é o único. O táxi que apanhei do aeroporto para a pensão ao pé do Marquês de Pombal também tinha GPS mas disse-me que só o usava quando alguém lhe dizia “quero ir para o pé do café Benfica em Alvalade ou outra coisa estranha do género”.
Aparentemente o GPS pode encontrar esse tal café o que acaba com aquelas discussões tipicamente portuguesas em que dois ou três indivíduos discutem se o melhor meio de chegar ao ponto Y é virar à direita depois da praça ou ir para a esquerda e depois ao pé do café do Melo virar à direita evitando-se a praça que é uma “ganda confusão”. Isto depois de uma grande discussão para saber “qual dos três cafés Benfica” é que se pretende.
Eu tenho a dizer que até há alguns meses atrás não acreditava no GPS. Pensava que era uma daquelas americanices que não funciona. Os americanos como vocês sabem adoram inventar americanices, principalmente a malta da tropa que foi aliás quem inventou o GPS para evitar que as bombas espertas bombardeassem os seus próprios tanques e para o malharal não se perder a caminho de Bagdad e ir parar a Teerão o que só serviria para irritar a malta que governa com pneus de lambreta na cabeça.
Eu não acreditava no GPS. Acreditava isso sim em mapas ou então em pedir direcções e escrevê-las num pedaço de papel tipo “primeira à esquerda, segunda à direita, passas o shopping viras à esquerda” etc.
Mas quando fui à Alemanha para a cimeira do G8 apanhei uma boleia de uma gaja com GPS e o raio da máquina nunca se enganou. E era bilingue!!! E nunca se chateou quando a gaja se enganou uma ou duas vezes. Em vez de se pôr a gritar “porra que te estás sempre a enganar, cum carago”, não. Continuou como se nada tivesse acontecido dando de novo direcções sem alterar a voz. O que é porreiro. Mas que é também prova que no mundo da informatização ganhamos autonomia à custa do contacto humano. Não se pára, não se pergunta, não se fala, ninguém se chateia em público.
O que reflecte de certo modo o paradoxo da Internet que tantas portas abre mas que fecha outras tantas. Na verdade a Internet está de certo modo a tornar-se numa câmara de eco, um local onde se desenvolve uma espécie de narcisismo digital. Isto é: Nós hoje vamos à internet buscar a companhia daqueles que pensam como nós. Alimentamo-nos nos nossos próprios preconceitos, reforçados por outros que com pequenas variações têm os mesmos preconceitos que nós. É a tal câmara de eco. Que é perigosa porque como repete os mesmos preconceitos faz aumentar as pressões sobre a honestidade intelectual. Daí a necessidade de estar sempre na oposição.
Aliás esta compartimentação do mundo levou recentemente alguém a queixar-se num jornal americano que hoje em dia já não há grandes bandas de música como Rolling Stones e outros porque hoje o mercado está subdividido em segmentos em que cada grupo busca o que gosta. O que é bom mas que acaba com as grandes bandas que causavam debates através das fronteiras musicais. Hoje vai-se por segmentos. Há hit parades para todas as espécies de música.
Mas claro está que estou a exagerar. Um GPS é apenas isso: um GPS …
Mas como já estou embalado não posso deixar de notar que outra coisa que eu noto que está a desaparecer é o sindroma “tenho isso aqui mesmo debaixo da língua” ou “porra que eu sei isso, daqui a bocado já me lembro”. Agora vai-se ao Google ou à Wikipedia e está lá tudo. Já não é preciso ter memória de elefante ou então ter que perguntar a várias pessoas se se tiver que saber quando é que morreu o Álvaro Cunhal. Escreve-se o nome no Google e … voilà: Álvaro Barreirinha Cunhal died on June 13 2005. O que prova que já não preciso de memória. O que é bom porque isto surge na altura em que eu estou a começar a perdê-la.
Hoje graças ao Google sabemos tudo … mas será que compreendemos alguma coisa?

Abraços,
Da Capital do Império

Jota Esse Erre

PS – Estou a pensar comprar um GPS. Mas antes disso e para não ter que andar às voltas pelas lojas vou fazer uma busca na internet para saber preços e onde é mais barato.