Mostrar mensagens com a etiqueta Quénia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Quénia. Mostrar todas as mensagens

sábado, 8 de março de 2008

Telegramas

Quénia: Reformas globais para reforçar coligação - Os beligerantes quenianos encontraram os caminhos da paz civil, sob a batuta de Kofi Annan, o antigo secretário-geral da ONU, e de fortes pressões do Governo de GW Bush. O espectro de uma situação social e económica, à la Zimbabué, de aterradora configuração, culminou com a realização de um governo de Coligação, entre os dois partidos maiores do país, o Movimento Democrático Laranja, detido por Raila Odinga, e o União Nacional Africana do Quénia, de M. Kibaki, o polémico PR reeleito.

Numa entrevista ao F. Times, ontem, o indigitado PM e líder da Oposição, Raila Odinga, sublinhou reiteradamente, que a “coligação está assente, de facto, numa indesmentível plataforma para realizar reformas. Primeiro, reformas na Constituição e, numa segunda fase, reforma agrária. A sobrevivência deste acordo dependerá do sucesso da implementação destas medidas de base”. Isto quer dizer, nada mais, nada menos, que o Quénia vive sentado sobre um barril de pólvora. E as duas primeiras semanas, até 22 deste mês, serão cruciais na revelação das hipóteses políticas estabilizadoras que passam pela discussão no Parlamento das alterações constitucionais.

“Não se deve esquecer o passado, mas deve-se perdoar”, acentuou o indigitado PM, chefe de fila do segundo maior partido e líder populista do Quénia. Apesar dos “riscos” de um falhanço politico, de consequências imprevisíveis, Odinga aponta para as necessidades de investimento na reconstrução de largas zonas do país. Uma nova reforma agrária, que combata a desigualdade e diminua a tensão racial entre as diferentes etnias, bem como o combate à corrupção constituem outras das medidas essenciais do PM, que se assume como “executivo”, e censura os que só sabem fazer reformas no papel…

Síria/Arábia Saudita: braço-de-ferro na reunião da Liga Árabe, em Damasco? - É mais um episódio das paradoxais e temíveis interacções laico-religiosas entre as comunidades de países sunitas (waabbhistas, inclusas) e as Xiitas (lideradas pela dupla Irão/ Síria), o que estamos assistir para tentar salvar do falhanço a próxima reunião/ cimeira da Liga Árabe, aprazada para este mês, com data incerta. O rei Abbdulah, da Arábia Saudita, protector do antigo PM libanês, de ascendência saudita, Rafic Hariri, vítima de atentado mortal há cerca de três anos, envida todos os esforços para conter os ímpetos militaristas sírios e as suas ligações com o Irão, de estrutural causalidade recíproca.

O futuro do mundo árabe preocupa muito as dinastias proto-despóticas que controlam os Estados mais poderosos da zona. O inverosímil desenvolvimento do Xiismo ortodoxo mais radical, que se está a acentuar no Irão, onde as Legislativas dentro de uma semana, poderão revelar um novo endurecimento do regime político-religioso dos Guardas da Revolução em conluio com o clérigo, sob o alto patrocínio de um Guia Supremo, Khamenei, que desiludiu tudo e todos, ao tomar partido pelas medidas e ambições de Ahmid-Nejhad, tem vindo a dar força ao ambíguo PR sírio, Bashar-El-Assad, para ridicularizar a presença naval e militar dos EUA no Golfo, e tentar perpetuar o controlo politico do Líbano, ad eternum.

Dois politólogos especialistas nas questões do Médio Oriente, das Uni. de Princeton e Oklahoma, disseram ao NY Times, hoje, que o rei saudita jamais perdoará as ofensas que o PR sírio lhe fez, aquando da guerra relâmpago do Hezbollah contra Israel no Líbano, por um lado. Por outro, os sírios querem obrigar os sauditas a financiar tudo, esperando exaurir , a longo prazo, o bom estado de saúde das finanças sauditas, acabando por os vencer no terreno dos jogos de influência, o que parece ser uma miragem sem sentido nem consistência dos conselheiros do PR sírio.

EUA: revista Rolling Stone apoia Obama - O último número de R. Stone-revue, uma das mais fascinantes experiências do New Journalism mundial, apoia sem subterfúgios Barack Hussein Obama como candidato democrata à Presidência dos EUA. Em termos laudatórios e surpreendentes, a jornalistagem traça mesmo uma iconografia da “maquinaria da esperança” que deve ter a ver com os célebres conceitos de Deleuze/ Guattari sobre máquinas desejantes e corpos sem orgãos, o que não é despiciendo… “Graça, extraordinária honestidade emocional e intelectual, inteligência, juventude e magnetismo”, é o cortejo de elogios dispensados pelo famoso magazine. Que para fazer ainda mais engagé, como diria o outro, cita uma fonte anónima do staff de GW. Bush, da banda dele, que invoca com entusiasmo que Obama está a “implementar uma máquina de esperança e marcha”…Das últimas novidades da equipa Obama, há a reter uma série de demissões no organigrama dos conselheiros, ao que parece insatisfeitos com o fraco peso étnico dos afro-americanos nas instâncias programáticas nucleares do candidato. Tudo se decidirá na Pensilvânia, com efeito!

FAR

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Quénia: o clash das oligarquias

A mediação de Kofi Annan no Quénia deve tentar o impossível: impedir o alastramento da guerra civil num dos países mais prósperos e estáveis da África Oriental. O poder das kalachk´s e as despudoradas ambições dos herdeiros de Jomo Kennyatta desvastaram a parte oriental do estado, onde agentes profissionais “acenderam” uma guerra tribal sem eira nem beira. Jean-Pierre Campagne assinou dois textos decisivos sobre a questão,, no Libé, clicar aqui, ultrapassando os relatos assimétricos de intelectuais quenianos dados à estampa pelo NY Times, nas duas últimas semanas.

J-P- Campagne, como no mesmo jornal o salientou Gérard Prunier, clicar aqui, apesar de sinalizar que existem cerca de 40 tribos no Quénia, o espaço politico da revolta tem claras motivações de tentativa de conquista do poder. Houve instrumentalização das rivalidades étnicas, “em casos pontuais”, releva. A marcha para a democracia pluralista data de 1992, pois, anteriormente, o fundador Jomo Kennyatta e o seu successor Daniel Moi, sendo de etnias diferentes e com falanjes desiguais tenderam a governar e a cumprir, via ditadura e oferta de privilégios inter-étnicos, sem limite para o oportunismo, claro.

Os actuais rivais, Mwai Kibaki (etnia kikuyus) e Raila Odinga (etnia Luos), associaram-se, numa coligação Arco-Iris, para derrotar Moi, em 2002. Conseguiram-no. Passados cinco anos, novas Presidenciais cavam a ruptura entre os dois líderes. Foi a ruptura na ruptura de uma prática política camuflada pela corrupção, o nepotismo e o abuso do poder. Prunier assinala e caracteriza essa situação,de facto: “(…) o Quénia é um desses países do Terceiro Mundo onde as „ elites “ políticas, tão ferozes como corruptas, adoptam superficialmente os slogans dao Banco Mundial para melhor praticarem as formas de exploração que o próprio Marx teria dificuldade em imaginar: uma mistura de acumulação capitalista primitiva, de saque burocrático, de neo-feudalismo rural e de roubo vergonhoso da ajuda internacional”.

Campagne, no referido texto, analisa o pulsar politico de alguns países vizinhos do Quénia. A Somália, que vive em estado de guerra larvar há mais de 25 anos, tem uma só etnia unificada pela mesma lingua e religião. Segundo a sua tese, “são clichés racistas que exploram as guerras tribais” - a Etiópia e a Eritreia, que se digladiam na Somália, são dirigidas por dois elementos da mesma confissão religiosa; e que estiveram aliados, em 1991, para afastar Megistu, antes de se iniciaram um processo de afrontamento por razões económicas e de hegemonia regional. O caso de Omar Bongo, do Gabão, é outro exemplo da fraca importância das raízes étnicas: está no poder há 40 anos, originário de uma tribo ultra-minoritária, que usa e abusa das novas formas de cooptação e sedução política corrompendo tudo o que se lhe oponha. No Senegal, na Costa do Marfim e, de há uns anos a esta parte, em Angola e Moçambique, as elites que controlam o poder estão em vias de se adaptar a melíflua e sediciosa forma de corromper…a democracia.

FAR

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Telegramas

Krugman revela-se pessimista sobre o ano 2008, em especial para a Economia USA - Das fanfarronices ao medo, é o título de uma desassombrada análise de política económica de Paul Krugman, inserta no NY Times. E o que nos diz ele de relevante? O desemprego aumenta…porque os efeitos do colapso do imobiliário residencial parecem “incontroláveis”, desvirtuando a miragem agitada pela cassete dos refrães do ano transacto. “The levees have been breached, and the repercussions of the housing crisis are spreading across the economy as a whole”, justifica. Para indicar que, não se podendo ainda falar de uma “formal recessão”, o que “parece claro é que 2008 será um ano muito agitado para a economia americana”. Tudo por causa, pontua, “da fraca prestação global da economia dos anos GWBush: dois anos e meio de desemprego, três anos e meio de bom mas não suficiente crescimento, e mais dois anos de renovado abrandamento económico”. Os candidatos presidenciais que apostam na mudança, Hillary Clinton e Barack Obama, podem ter chances num contexto depressivo como este, reflecte. Mas, pondera, os candidatos do establishment – Republicanos - podem fazer aparecer o dispositivo maior de contra-ataque quando as coisas giram mal - o pivô da banha-da-cobra transferido para o medo. “You see, for 30 years American politics has been dominated by a political Robin.Hood inreverse, giving unto those that hath while taking from those who don´t. And one secret of that long domination has been a remarkable flexibility in economic debate. The policies never change- but the arguments for these policies turn on a dime”. Os democratas querem voltar ao nível de impostos da era Clinton, de forma a atenuarem o grave deficit da Segurança Social, um dos maiores flagelos do liberalismo bushista sem rodeios…

Quénia: elites apostam no tribalismo, a ferro e fogo - A política da terra queimada ensanguenta a África de maior potencial. Depois do genocídio inumano praticado pelos warlords na Serra Leoa e na Libéria, a “vitrina” democrática da África do Oeste, a Costa do Marfim, quase um protectorado francês por causa da riqueza agrícola insofismável, há mais de dois anos, assiste impávida ao desenrolar de um processo político auto-destruidor de proporções alarmantes. Os franceses têm estacionado um volumoso contingente de tropas de intervenção. E organizaram o exército do “socialista”, Laurent Gbagbo, cuja família tentacular se meteu a gerir negócios muito rentáveis. O caso do Quénia, na Costa Oriental, com um processo democrático quasi-regular desde 2002, outro dos “celeiros de África” e com um potencial turístico enorme, degenerou por causa da ambição de um dos filhos mais exemplares dos independentistas do país, Raila Odinga. Os erros cometidos por corrupção e nepotismo pelo PR mal reeleito, Mwai Kibaki, deram o lamiré para uma purga étnico-tribal impensável nos dias de hoje. Os EUA e sobretudo a África do Sul tentam salvar os móveis, tentando sentar à mesa das negociações, o PR, membro da etnia dos Kikuyu, e o líder contestatário e multimilionário, pertencente à etnia dos Kalengin, R. Odinga, ele que já tinha apoiado o agora contestado presidente contra o ditador Moi, nos anos 90. Será que existem conexões entre os grandes “barões” envolvidos nos negócios entre a África do Sul e o Quénia, dispostos a ganharem quotas de mercado para as suas especulações económicas, nem sempre muito curiais e cristalinas?

Irão: Ahmadinejad perde apoios do Líder Supremo - O líder religioso, ayatollah Ali Khamenei, está muito descontente com os resultados da política económica apurados pelo PR , Mahmoud Ahmadinejad. Segundo a correspondente em Teerão do NY Times, Nazila Fathi, Khamenei num contexto mais desanuviado pelo fim das ameaças temporárias de ataque dos EUA, recuperou muitas das críticas ao populismo e primitivismo demagógico da política económica do governo presidido por Ahmadinejad. A inflação ronda os 20 por cento, o desemprego os 16 e não se vislumbra um esboço mínimo de estratégia económica sustentável. Entretanto, Khamenei nomeou um líder radical para comandante de uma das mais importantes milícias do país, que tinha sido demitido por Ahmadinejad. E enviou como emissário especial ao Cairo, Ali Laranjani, da ala moderada do antigo ayatollah Khatami, factos que deixaram por terra o PR desorientado e a perder força cada dia que passa. Entretanto, as eleições Legislativas na próxima Primavera podem acentuar o fm de um período de grande desequilíbrio político e crise económica multissectorial.


FAR