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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Que se esconde por detrás da crise?


Solicitámos aos diferentes convidados dos debates promovidos pelo Grupo de Estudo Sobre os Países Resgatados pelo FMI ou Sob Pressão do Mercados que nos enviassem textos seus sobre a temática para podermos alargar a reflexão às pessoas que não participaram destes debates.
Que significa a propagandeada crise? Constatemos que o capital produtivo é obtido através da utilização do capital bancário. Assim parte do lucro obtido na produção é encaminhado, via pagamento de juros, para o sistema bancário. Mas, como actualmente, o capital produtivo não proporciona os lucros suficientes para tal pagamento, sobrevém uma crise, para o devedor e para o credor.
O aumento incessante da produtividade forçado pela concorrência entre capitalistas, só é  possível através do uso de meios técnicos cada vez mais   onerosos. Logo os custos derivados da criação de postos de trabalho aumentam constantemente conforme o aumento da intensidade e custo do investimento no capital utilizado.
Daí resulta que esses gigantescos custos em capital fixo não podem ser suportados através dos lucros correntes da produção Logo é obrigatório o recurso ao crédito para poder pagar tal despesa gigantesca.
O problema da dívida daí derivado estende-se depois do capital produtivo ao Estado e orçamentos privados. Assim também os gastos estatais em infra-estruturas e o consumo privado deixam de ser possíveis através das receitas   reais, o que impõe o recurso ao crédito.
Este mega endividamento representa a antecipação de lucros, salários e impostos, sobre a produção real futura.
Tal consumo suportado pelo futuro transforma-se em crise geral quando o processo é levado até um ponto excessivo, rompendo as cadeias de crédito.
Isto é aplicado a todos os intervenientes, incluindo o Estado.
Na realidade, estão a ser consumidos rendimentos futuros, que se tornam cada vez mais ilusórios para se tornar possível, com as relações organizacionais existentes, continuar a utilizar de forma capitalista os actuais recursos materiais abundantes mas para os quais paradoxalmente não há dinheiro, só crédito impossível de pagar.
Tal absurdo torna evidente a irracionalidade do sistema, em que o lucro e a acumulação de dinheiro se tornam um fim em si mesmo e o fim da economia nada tem a ver com a satisfação das necessidades.
O dinheiro não passa assim de um fetiche em representação dos recursos reais.
A crise é o resultado da tentativa desesperada de se conseguir, através do consumo com dinheiro do futuro, insuflar no circuito económico receitas que nunca irão surgir. Os mentores do sistema tentam desta forma integrar dentro dos limites do capitalismo, as forças produtivas e a sua estrutura e capacidades, que já extravasaram esses limites impostos.
Por isso, essa gente procede a todos os esforço para que vivamos pior, porque o capitalismo já consumiu o seu próprio futuro.
Em tal situação, a saída torna cada vez mais urgente que os povos aprendam a utilizar todos os recursos abandonados e inutilizados, incluindo os humanos, por este sistema de desperdício, numa lógica diferente da existente.
Perante isto os capitalistas, os políticos e seus apaniguados, utilizam a situação para combater os trabalhadores e o povo e reduzir a sua influência e capacidade reivindicativa.
Só a luta firmemente determinada em conquistar uma nova organização social, poderá acabar com tal sistema do lucro a qualquer preço.
José Luis Félix

terça-feira, 12 de abril de 2011

Correio interno

André,
O galeão de Manila, desta vez desviado de Sevilha ou Cádis, para as costas portuguesas, traz prata, e riquezas mais que o chinês do Futre. É terça-feira a data de chegada. Na Portela – o Cais das Colunas do século XXI, onde as grandes figuras de Isabel II de Inglaterra ou Gungunhana aportaram – terça-feira, com idêntico fausto, no atual aeroporto substituto de Alcochete, desembarca o FMI. E desta vez vem como diretor de campanha dos Partidos. Os programas, para a combativa campanha eleitoral, que se deduz, serão escritos num hotel de luxo e em inglês. Que se traduzirão para português em sólidas promessas eleitorais: “vamos baixar as pensões e os salários”, noutro Partido prometem mais, com responsabilidade: “assim não ganhamos a confiança dos mercados! pois, nós, cortaremos o 13º e o 14º meses”, mas a responsabilidade fala mais alto ainda: “ah! ele é isso? pois nós, para além disso tudo, cortaremos um mês, passarão a receber apenas 11 meses por ano”.
E, ao terceiro desembarque em Lisboa, não só crescimento económico trará o FMI na bagagem, também consolidará as promessas eleitorais. Serão sólidas promessas porque, pela primeira vez na História, serão cumpridas. Dentro de 4 anos, no fim da legislatura, os portugueses não chorarão enganados, nem lamentarão pelos “150 mil postos de trabalho”.
Portugal, quando a crise finalmente chegar, no longínquo 2013 ou 14, não enveredará pela posição islandesa de “não pago! chamem a Polícia”, porque os nossos visionários líderes sabem que não é a Polícia que se chama nestes casos mas a Democracia. Enquanto os islandeses votarão referendo atrás de referendo até ao resultado certo, os portugueses esbofarão pela mesma miséria das monjas do Lorvão, mas com final feliz. Sobre as quais escreveu Alexandre Herculano: “entretanto, se eu falasse com eles, dar-lhes-ia um conselho, talvez o ouvissem, era de enviarem aqui sessenta soldados. Formavam as monjas do Lorvão, em linha, no adro da igreja, e mandavam-lhe três descargas cerradas. Desaparecia, a troco de poucos arráteis de pólvora, um grande escândalo e resolvia-se, afirmativamente, um grande problema ao qual eu nunca achei soluções senão negativas, que é o da utilidade da Força Armada neste país”.
Quando a crise chegar, virão sessenta peritos, que por poucos arráteis de um programa informático, remendarão a economia. Durmamos descansados que o dinheiro está salvo.
Abraços
Maturino Galvão

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mundo Cão


Nas últimas semanas mudei a minha visão do mundo. O “Quando o povo tem fome tem o direito de roubar”, do Belmiro, ajudou nisso.

Percebi também que a Grécia continua a abalar consciências. No Secundário costumava ouvir dizer que aquilo que identificava os gregos, face aos outros povos da altura, era a ausência de chefes. Obedeciam à lei e à ordem e assim combatiam. Os gregos da Antiguidade, bem entendido. Hoje anda meio mundo excitado com o cão grego libertário, que se passeia entre manifs e morde as pernas aos polícias.
Lembrei-me que as minhas cadelas podem ter nesta crise um papel. A Lex , como o nome indica, está do lado da ordem e quer filar o Belmiro. Já a Boom, mais alternativa, quer andar na boa-vai-ela atrás do Kanelos.

Nada como um banho para aclarar ideias.

Da vossa,

Josina MacAdam

quinta-feira, 20 de maio de 2010

No Arrastão

A União Nacional da Opinião, por Daniel Oliveira.

«Para a União Nacional dos comentadores e economistas do bloco central são estes os responsáveis pelo estado em que estamos: os funcionários públicos; os trabalhadores supostamente protegidos pelas nossas leis laborais; os cidadãos em geral, que vivem endividados e acima das suas possibilidades; o excesso de peso do Estado; e o excesso de impostos para a classe média-alta.

Repare o leitor que entre os responsáveis nunca está a banca, que além de nos ter enfiado nesta crise e ter sido salva pelos nossos impostos ainda paga menos ao fisco que todas as restantes empresas. Nunca está a elite económica constituída por meia dúzia de famílias que têm o Estado como refém dos seus negócios e os partidos como reféns da sua vontade. Nunca estão dos gestores mais bem pagos da Europa no País com o salário médio mais baixos da Europa.

Repare o leitor que por uma qualquer coincidência nunca estão, entre os responsáveis pelo estado em que estamos, quem realmente tem poder neste País. Não espanta. É muito radical ser “politicamente incorrecto”. Mas é preciso olhar bem para o chão que se pisa. Não consta que com a simpatia de funcionários públicos, professores, sindicalistas, desempregados, beneficiários do Rendimento Social de Inserção ou trabalhadores menos abonados se arranjem e se mantenham bons empregos. Há que dizer e escrever coisas chocantes, mas sem chocar as pessoas erradas.(...)»

A ler na íntegra aqui.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Da Capital do Império

Obama reduz fundos para Combate à SIDA

A luta contra a SIDA vai nos próximos tempos deparar com enormes dificuldadades de financiamento devido a dois factores:
1) A crise económica/financeira mundial;
2) A administração de Barack Obama.
Comecemos por recordar alguns factos. O financiamento da luta contra a SIDA através do mundo e particularmente em África tem sido feito essencialmente através de duas fontes, nomeadamente A) o Fundo Presidencial para Alívio da SIDA (iniciado por George W. Bush e conhecido pelas iniciais PEPFAR) e B) o Fundo Global de Combate à SIDA, Tuberculose e Malária.
É no caso do Fundo Global que a crise financeira internacional entra em jogo. Quando criado em 2001 pela então Secretário-geral da ONU Kofi Annan o Fundo Global previa um “pote” de 7 mil milhões a 10 mil milhões de dólares.
Na prática os Estados Unidos (quem mais poderia ser?) deveriam contribuir com 50 cêntimos americanos por cada dólar doado pela comunidade internacional.
Mas as outras nações têm doado tão pouco que o govenro americano tem pago anualmente muito menos do que aquilo autorizado pelo Congresso americano. Desde a sua fundação o fundo gastou 6 mil milhões de dólares e o ano passado recebeu menos 3 mil milhões do que havia previsto forçando o fundo a reduzir as suas doações em cerca de 12%.
Para além disso o orçamento do governo americano para 2011 prevê uma redução de 50 milhões de dólares da contribuição dos Estados Unidos para o fundo.
Mas não é só para o Fundo Global que a administração Obama está a aplicar reduções. O PEPFAR de George Bush está autorizado pelo congresso a gastar entre 2008 e 2013 48 mil milhões de dólares. O seu orçamento tem sido na realidade de cerca de sete mil milhões de dólares anuais. A administraçao Obama avisou já os receptores dessa ajuda (entre os quais organizações que operam em Moçambique) que não devem esperar aumentos por pelo menos nos próximos dois anos.
Em Moçambique organizações envolvidas em actividades relacionadas com o PEPFAR vão encerrar alguns programas.
Talvez surpreedente para alguns é que a decisão da administração Obama não se deve a somente a questões económicas. Obama criou a sua propria Iniciativa Global de Saúde e as suas prioridades não são a SIDA.
E se é verdade que os activistas da luta contra a SIDA estão em fúria a verdade é também que Obama e a sua adminsitração têm razão quando afirma que mais vidas serão salvas se se concentrar fundos em doenças infatis facilmente curàveis ou preveníveis. Muito mais gente morre no mundo de doenças tratáveis ou que podem ser prevenidas como infecções respiratórias (mais de quatro milhões de mortes por ano), meningite (174.000 mortes por ano), tétano (214.000 mortes por ano), tosse convulsa (entre 200.000 e 300.000 mortes por ano), sarampo (530.000 mortes por ano), diarreia (2,2 milhões de mortes por ano), malária (entre 1 e 5 milhõe de mortes por ano).
Eu sempre fui de opinião que a razão por que se deu tanto enfâse à SIDA se deve ao facto de ser uma doença que afecta ou pode afectar também o mundo desenvolvido e para a qual não há cura. Para aquelas doenças que há cura ou que são preveniveis mas que não afectam o mundo desenvolvido pouca atenção se presta. Um milhão de mortes por malária e 530.000 de sarampo por ano deveria ser o suficiente para criar fundos mundiais de combate como foram feitos para a SIDA. Mas pouca atenção se presta a isso.
Um estudo aqui divulgado revela que para tratar um paciente da SIDA no Uganda durante toda a sua vida (desde que a doençaa é detectada até a sua morte) custa ceca de 11.500 dólares.
Com gastos de 1 a 10 dólares pode-se salvar mais vidas em prevenção e combate à diarreia, malária, sarampo e tétano com atibioticos, redes mosquiteiras, filtros de água e vacinas.
Não é simpático e talvez seja mesmo um pouco cruel falar-se em termos de custos e gastos para avaliar vidas humanas. Mas governar é ter que escolher. Na maior parte das vezes entre o mau e o pior. Essas escolhas envolvem sempre fundos limitados e em alguns casos como agora essas limitações são agravadas por uma crise.
Mas por muito que custe não é de admirar a escolha de Barack Obama. É lógica. Ao fim e ao cabo Obama é produto da Universidade de Chicago onde, segundo se diz, “as mentes são frias e analíticas quando o resto do mundo se emociona”, mentes que “seguem os factos até aos seus extremos lógicos”.

Da Capital do Império,

Jota Esse Erre

terça-feira, 11 de maio de 2010

Baile dos Bombeiros

Aí está ela, a auspiciosa conjunção astral que configura uma nova Era Luxitana. Na retícula ibérica habitada pelo Povo Eleito já soam os cantos da boa-aventurança: Pur-Tu-Gal, Pur-Tu-Gal, Pur-Tu-Gal.
Devidamente alinhados e conjugados, os planetas Fátima, Futebol e Fado vão demonstrar, mais uma vez, o excepcionalismo dos Lusitanos. Citius, Altius, Fortis. Estão abertas as Olimpíadas da Razão e, obviamente, os atletas são todos Portugueses.

Mas vejamos porque os Deuses dedicaram os seus melhores planetas a Portugal, elevando os seus habitantes e fazendo da sua História o Olimpo dos outros bípedes. Sim, que nisto de Deuses, todos eles respondem a outros Deuses, ad infinitum. À excepção, claro, de um supranumerário que convenceu o ruminante Abraão- as misteriosas ervas que mastigou a caminho de Ur foram retiradas do mercado- da sua...excepcionalidade.

O planeta Fátima, como se sabe, é consagrado no Altar do Mundo. Aí acorrem regularmente, não tanto como gostariam, os devotos trinitários. Quando foi necessário avivar a centelha da humanidade que fenecia na Grande Guerra e na bancarrota financeira, assegurando que os ismos que aí vinham seriam suplantados pela oração, a escolha recaiu sobre a Zona Centro. O umbigo de Portugal... visto de perfil.
Hoje, uma vez mais, em plena catástrofe financeira, bem como as aflitivas crises associadas e dependentes, Portugal recebe o mais alto dignitário da sua religião. E já se diz que a presença física de Benedito, e a significância espiritual, ajuda os crentes a suportar a(s) crise(s). O real significado da coisa, da crise, as suas amplitude e latitude, foi, é de dizer, capturado pela banalização e pela conspiração. Krisis? What krisis? Ruminavam nas trevas pré-digitais os jurássicos embora premonitórios...SUPERTRAMP.

Declaração de interesses: Estas linhas só involuntariamente ofenderão alguém. Temos o maior respeito pelas religiões do Livro e por todas as outras e não nos escudamos nas catacumbas da psiquiatria ou nas zonas de conforto da Literatura. Fica a nota sobre o excelente “2666” de Roberto Bolaño, onde se descreve uma ‘funny condition’, a fobia aos símbolos religiosos, e circula secundariamente uma personagem penitente, que se dá a conhecer por mijar em todas as igrejas de Sonora e Sinaloa. Iconoclasta e incontinente. Gostaria, a propósito, que não continuassem a desrespeitar a minha condição de ateu.

O planeta Fado, o mais pequeno dos três, é muito complexo. Transversal e subterrâneo.
Conta a lenda que o fado cresceu afidalgado e plebeu, marialva e covarde, ébrio e virtuoso, catártico e depressivo. Esta ambiguidade negou-lhe os galões da urbanidade. Erudita acima, mas cheira rural. Pisca modernidade, mas sonha com o integralismo lusitano.
A descontinuidade de Abril desferiu-lhe severas e bem merecidas pauladas, mas o vírus resistiu e, como a psoríase totalitária, deita a cabeça de fora sempre que pode. Ele é uma alma redescoberta, ele é identidade profunda, ele é teatrinhos e musicais La Féria, ele é cantantes e cantandeiras nas boas assessorias culturais. Ajoelhai. Ele é o Senhor Fado.
Só falta convencer os Portugueses que se devem comportar como numa qualquer produção de Bollywood. De cinco em cinco minutos, esteja-se onde estiver, fazendo o que quer seja, canta-se o Fado. Isto não é ser conformista, isto é estar conformado. Se a tristeza aperta... canta-se o Fado e trocam-se as vogais.
Por exemplo, o cidadão dirige-se a um banco, pode ser o BPP que já não existe, e pede um empréstimo para comprar pão, para tratar a avozinha entrevada, pagar a renda, ou mesmo para despesas sumptuárias. Água, Luz, estudos dos filhos. O balconista dá nega. Acto contínuo, o cidadão, que é fadista e crente, em vez de protestar deve entoar: Nããããão häháháhá dinheeeeeeeeeiro.

Declaração de interesses:

O fado, embora musicalmente muito limitado, deve ser desfrutado em local próprio, mal iluminado, bem regado, e com par de bandarilhas na mão.


Por fim, o planeta Futebol. Que na langue de bois deve escrever-se planeta Benfica.
Com a conquista do trigésimo-segundo campeonato, e coincidindo com a visita de Benedito, e a retoma do Fado, podemos dizer que está de regresso o futebol de regime. Semi-totalitário, quase unânime, orgulhoso, glorioso, seis milhões de irmãos e quatro milhões de bastardos, primos, estrangeirados, liberais.
Atentemos nos emblemas (cartazes, faixas, slogans) e cruzemo-los nas órbitas dos planetas Fátima e Fado:
“Graças a Deus Sou do Benfica” e “Obrigado Pai”. Entrámos numa década prodigiosa, anunciada pela Águia Vitória e apoiada pelo movimento anti-taxidermia dos No Name Boys.

Declaração de interesses:

Não somos simpatizantes do SLB. Felicitamos o clube da roda de bicicleta pela vitória no nacional 2009/2010. A despeito de o Benfica, como notou Domigos Paciência, ter feito um terço do campeonato contra dez jogadores, e, explicou Rui Oliveira e Costa, dos exercícios de contabilidade criativa, ao nível de um Goldman Sachs. Jogadas entre o Benfica Clube e o Benfica SAD que fizeram golo no défice swap.

Bom, toda esta lenga-lenga para alertar, mercê da conjugação planetária favorável, para o surto de criatividade lusitana que aí vem. As possibilidades são todas, mas, convém saber, estender-se-ão preferencialmente, Presidente Silva dixit, para o Mar e para o Artesanato. Mais tarde, corrigiu-se a cousa do artesanato para ‘indústrias criativas’. Solte-se a vontade que o talento e a imaginação sobejam. Milhões de portugueses- leia-se, benfiquistas- acelerando as suas motas-de-água (caravelas) Atlântico dentro, com os Açores na bússola e o sonho na Patagónia. Ou a vibrante indústria criativa das Caldas da Rainha.
Pur-to-Gal, Pur-To-Gal, Pur-To-Gal.
Muito estranhamos, por tudo isto, os desentendimentos que por aqui grassam a pretexto de uma personagem que desconheço: Agostinho Lopes. Lamento.
Poderemos contribuir, nestes tempos de verbas longas do FMI, recordando o exemplo de Vasco Gonçalves quando, na iminência do colapso das contas públicas, apresentava a solução: “Não precisamos de empréstimos (FMI), precisamos de fregueses”.
Portanto, o freguês webmaster Armando Rocheteau que não dê importância à canalha totalitária. Lembre-se, caro Armando, que estas gentes defrontam-se com sérias dificuldades no relacionamento com a Verdade, com a Realidade e com a Liberdade.
Deixo-lhe um conforto axiomático: o socialismo real não é verdadeiro; e o paradoxo do filho da puta: como sei que sou livre?
Avé.

JSP

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Da Capital do Império

O fim da UEtopia?

Em tempo de crise eu fiquei à espera que o presidente da Europa tivesse vindo a público tentar acalmar os seus cidadãos quanto à crise dos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha). Tive sempre uma réstea de esperança emocional que estivesse enganado e que o Tratado de Lisboa que os Bien Pensants de Bruxelas meteram à força pela garganta abaixo dos seus cidadãos fosse como diziam a unificação da Europa e não apenas uma UEtopia como me dizia o meu cérebro.
Sei também que a Bélgica é uma invenção histórica para irritar os franceses e que ninguém toma a sério os belgas, mas mesmo assim tive uma esperança vaga que alguém se lembrasse de dizer ao presidente belga da Europa (alguém ainda se lembra do seu nome?) que uma das funções presidenciais é aparecer na televisão em tempo de crise e não aguardar pelo funeral.
Nem nada. O que assistismos foi a a presidentes e primeiros-ministros a trocarem acusações entre si. O que me fez lembrar o Charles de Gaulle que afirmou certa vez que “on peut sauter sur la chaise comme un cabri en disant: ‘L’Europe! L’Europe! L’Europe!’ mas celá n’aboutit à rien e celá ne signifie rien”. Pois não. O que não é bom sinal para o que vem por aí e que poderá resultar no desmoronar do Euro e nos sonhos da tal Europa unida.
Há no entanto que começar por pôr a Grécia em perspectiva. A Grécia não é em termos económicos a Lehman Brothers. Longe disso. A falência da Lehman Brothers teve mais implicações à escala global do que a falência da Grécia ou de Portugal poderá ter. Nenhum desses países tem o peso económico ou as ligações e tentáculos à escala internacional que tinha a Lehman Brothers.
Mas a crise nos PIGS traz ao de cima aquilo que a introdução do Euro foi: colocar a carroça à frente dos bois.
Uma moeda tem que ter vários atributos e um desses atributos é um governo central. Que não há e que não haverá pois um governo central não são burocratas em Bruxelas a discutirem o tamanho dos pepinos ou como é que se deve ou não fabricar queijos num qualquer canto da França. Foi por isso que os governos locais dos PIGS puderam agir irresponsavelmente para alegria dos seus cidadãos que viram o seu nivel de cima aumentar consideravelmente graças ao Euro. Euro forte significou dívidas baratas para esses paises fracos. Todos violaram o acordo sobre os défices orçamentais e nada aconteceu porque nada podia acontecer. Mas agora o Euro transformou-se numa armadilha.
No tempo do Escudo e do Drachma os governos saíam de crises deste género aumentando a sua competitividade através da desvalorização da sua moeda e de um aumento da inflação. Mas Frau Merkel e Monsieeur Sarkozy não vão permitir isso. O que singifica que para a Grécia e Portugal só há duas possiveis saídas: Cortes drásticos de despesa o que provoca uma deflação. O que significa que teoricamente vai ser uma tarefa muito árdua equilibrar as contas nestes países que pouca possibilidade têm de competir a nivel internacional. (Um estudo aqui publicado afirma que no minimo demorará até 2017 para a Grécia regressar ao nível que estava em 2008).
Daí que na semana passada na televisão eu tenha visto um analista financeiro americano a afirmar que “se vocês acreditam que a Grécia vai sair desta crise deste modo então vocês acreditam que os porcos (os tais PIGS) podem voar”.
O que leva a uma segunda alternativa: mais ajuda da Alemnha e da França o que a julgar pela reacção a este primeiro pacote será muito dificil. A Grécia pode então dizer “não temos dinheiro para pagar os juros das nossas dívidas”. O que terá consequências desastrosas para os bancos alemães e franceses. Ou então a Grécia abandona o Euro com consequências desastrosas para o projecto monetário europeu.
Impossivel de acontecer? Para a Argetnina também era impensável abandonar a ligacão da sua moeda ao dólar. Foi o que tiveram que fazer limitando depois o acesso ao dinheiro nos bancos para se evitar uma “corrida” aos depósitos.
Mais preocupante ainda é que mesmo se a a UE decidir salvar a Grécia (o que este pacote não promete) não há garantias que esteja tudo resolvido. Ao fim e ao cabo o governo federal americano salvou a Bear Sterns mas teve que deixar caír a Lehman Brothers.

Da Capital do Império,

Jota Esse Erre

Sinais


Desenho Maturino Galvão

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Segundo esboço de uma teoria da crise

Sentado ao sofá com o laptop nas pernas, bebo uma garrafa de Loureiro. Olha que isto da “crise”, visto assim, ate parece coisa pouca. Dou por mim pensando: crise? Qual crise? Tudo é questão de perspectiva, as usual. Quem é que está em crise? Olha, eu não estou, que agora ganho bem e trabalho no que gosto. Também os tipos do Burkina Faso não estão em crise. Ou os tipos da Mongólia, ou o o meu amigo Ian que vive em Repulse Bay, no Ártico canadiano – ainda ontem me mandou um mail, a dar conta que por lá, as focas não estão em crise, parece que voltaram a aparecer, como fazem ano após ano – embora menos ano após ano, mas isso não se enquadra na categoria da “crise”. Uma “crise” pressupõe um corte abrupto na normalidade. Mas que corte na normalidade se vê por aí? Assim como assim, só estou a ver o dos gregos que vão ter de viver sem 13º mês e subsídio de férias. Subsídio? Para subsídio já bastam as férias pagas, diz o Vasco Pulido Valente. Não há crise para o Vasco Pulido Valente. Férias? Privilégios de burguês. Abaixo a burguesia, viva o proletariado. Todos consumimos mais do que produzimos, vivemos acima das nossas posses, endividados, penhorados, amaldiçoados na nossa condição de burgueses-a-ser. Quem é que quis ser burguês? Aguenta-te filho. O Vasco Pulido Valente não vive acima das suas posses, que ele vende os artigos ao preço do mercado – foi a tí que o mercado resolveu enganar, não a ele, que tem sorte, e para mais tem apelido Valente. Eu vendo o meu produto ao preço do mercado – aulas de xadrez, dez euros à hora. Tenho sorte, o mercado não me vai enganando, há por aí ainda muito pai a querer que os putos aprendam xadrez, o xadrez agora já é visto como útil para a aprendizagem intelectual dos burgueses-a-ser do futuro, em grande parte graças à União Soviética, embora não caia bem dizer isto. Qual crise? Passa jazz no Mezzo, a garrafa de Loureiro está no fim, o meu laptop ainda sobrevive às agruras do quotidiano. Foda-se, acabou-se o vinho. Estou em crise!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

De como um editorial do DN passa do óbvio e consensual à mais despudorada defesa de uma política de direita

De como um editorial do DN passa do óbvio e consensual (O acordo grego é central para Portugal) à mais despudorada defesa de uma política de direita, com o exemplo de Rudolph Giuliani e tudo

Puni-los como criminosos

Sendo verdade que já não são crianças, a verdade é que ainda não são adultos. E o que é mais surpreendente nos números revelados pela edição de hoje do DN (pág. 16) é a taxa de reincidência em jovens até aos 21 anos no que à criminalidade violenta diz respeito.
De acordo com os dados agora conhecidos, há 153 reclusos com idades dos 16 aos 21 anos nas cadeias portuguesas, condenados a prisão efectiva pela prática de crimes graves. As autoridades asseguram que, na sua maioria, estes jovens são reincidentes. Assusta, só de pensar, a ideia de que, apesar da pouca idade, estes jovens já traficaram droga, agrediram, roubaram, violaram ou até mataram.
(…)
Mas a questão é muito simples: a taxa de reincidência destes jovens só acontece porque, quando "julgados" pela prática de crimes menos graves, acabam libertados, seja pela falta de antecedentes criminais seja, na maioria das vezes, devido exactamente à sua "tenra idade". Perante isto, consideram--se inimputáveis, acham que o sistema não funciona e que, por mais atrocidades que cometam, nunca vão ser apanhados.
É verdade que o tema está gasto e a tese bastante glosada. Mas, quando uma estratégia é boa vale, sempre a pena recuperá-la e repeti-la. O antigo mayor de Nova Iorque Rudolph Giuliani decidiu criar a teoria das "janelas partidas", isto é, punir, por mais jovem que seja o delinquente, e por mais pequeno que seja um delito. Para que aquele que parte um vidro hoje em adulto não se torne um assassino. É o que é preciso ter a coragem de fazer por cá. Sem demagogias ou falsos paternalismos.

Diário de Notícias, 3/04/2010

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Os aldeões e os saqueadores

«Quando o bando de saqueadores passa pela aldeia os aldeões entregam-lhe o que têm. Fazem por manter a compostura e a humildade para lhes agradar. Talvez assim partam mais depressa e escolham outra vítima do saque. Assim se comportam os Estados perante os salteadores da modernidade.»

Grande, grande post do Daniel Oliveira, no Arrastão, a ler na íntegra aqui.