A mim já nada me anima. Apenas o meu Sporting, sob o efeito Costinha, me pode tirar deste ambiente depressivo em que vive o País e o meu pai. Deixemos o futebol de lado. Ponhamos também de parte a política (o Congresso do PSD, com os Três Estarolas, seria para rir não fosse a necessidade de uma Oposição com gente de bom senso). Passemos ao meu pai. Lembram-se que aqui há tempos vos contei que estava a viver uma “fairy-tale” familiar. Pois é, o sonho acabou. O meu pai apaixonou-se e saiu de casa. Acreditam que pensou em mim ou no meu irmão? Do estado em que ficou a madrasta nem vos falo. Mas graças a uma espécie de justiça divina está a pagar o seu desvario. Ainda não dorme debaixo da Ponte 25 de Abril, mas sem grande esforço lá chegará. Incompatibilizado com a paixão (bem feito), que o expulsou de casa, está a viver numa mansarda da Baixa de Lisboa. Eu, que fiquei a viver na casa da família que ele abandonou, vou de quando em vez, durante o dia, tomar um café com ele ao tasco da esquina. O meu irmão, por imperativo da regulação do poder paternal, fica com ele de 15 em 15 dias e já deve conhecer muito bem o “bas-fond” e as noites sórdidas da capital. Claro que a mãe do meu irmão se insurgiu com o actual estado das coisas e escreveu a meu pai. Acontece que burro velho não aprende línguas e a misoginia é um traço de carácter da geração que nasceu nos anos 50 do século passado. Para mim é pré-história. Meu pai respondeu-lhe de uma forma curta dizendo que era o pai que podia ser, mas que era pai. (Aqui até lhe dou razão porque me parece que além de ter sido um bom pai para mim, também o foi para o meu irmão e para ela própria, que era muito novinha quando casaram). Disse ainda que o lugar onde vivia tinha uma beleza poética, segundo a Gabriela, uma esteta amiga dele. E quase concluiu a jogada apresentando a prova dos seus dotes paternos. Tinham ido pai e filho ver o filme: Homens que Matam Cabras só com o Olhar. Por último rematou: “Infelizmente não tenho poderes paranormais”. Valha-nos o Costinha!
Josina MacAdam
Post dedicado ao Luís Filipe, ao Parcídio e ao Severo e ainda à memória do Zé Manel e do Zé Maria