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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A Escola Móvel

O Ministério da Educação decidiu fechar a Escola Móvel, criada para filhos de profissionais itinerantes, como feirantes e artistas de circo. O desvario "pedagógico" em Portugal chega a este ponto, o de acabar com as poucas coisas boas que se fizeram. A razão, já se sabe, é que custa muito dinheiro. Desta vez não se pode justificar os encerramentos e agrupamentos para poupar, com ridículos motivos "pedagógicos"; neste caso, não dava mesmo para justificar.

sábado, 3 de novembro de 2007

As mentiras do ranking

A secretária é um local perigoso para se observar o mundo. John Le Carré

Iniciou-se na sociedade portuguesa o debate acerca do ensino público e privado, a propósito dos rankings dos exames. Na mesma linha de implementação do RJIES e da liberalização de todos os valores que o Tratado de Lisboa abriu, começou a campanha de destruição do ensino público.
Vem aí a escola - empresa. Aprender é muito lindo, tudo bem, mas o mundo não está para estas bizarrias e é muito mais lindo se for lucrativo. Tudo pode ser rentável. E se não for, não somos livres. É a liberdade dos liberais. Se não lhes deixarmos por um preço na educação (quanto custa educar os nossos irmãos, filhos e amigos?) estamos a cortar-lhes a "liberdade" (confundir liberdade com liberalização é como confundir germano com género humano).
Sabemos então pelo Público (sem link, lamento) que 17 das 20 primeiras posições no rdos exames das escolas secundárias são de escolas privadas.
Os "liberais", ora inocentes ora mentirosos, atiram-nos com certeza perturbadora: o privado é melhor que o público. Quantas mentiras há nesta frase?
O que se está a sugerir quando se diz que o privado é melhor que o público é que se puséssemos os meninos e meninas lusos em escolas privadas estes tornar-se-iam, como por magia, alunos fantásticos. Portugal desbravaria caminho, o choque tecnológico não seria necessário, o sucesso é já ali.
Há um pequeno pormaior: leio também n`"O Público" que o colégio melhor classificado foi o Externato As Descobertas (não faço ideia se também aqui se mantêm a mroal e os bons costumes e se separam os meninos e as meninas, porque o que precisamos na universidade é de mais virgens ressabiados e insurgentes) que tem uma mensalidade de 355 euros. Penso que para um país com 2 milhões de pobres, talvez seja apertada a entrada, mas estou certo que os liberais pensaram numa solução qualquer para um agregado familiar com o rendimento mínimo e um só filho possa viver com 200 euros por mês. Longe de mim pensar que a sua cegueira chegaria ao ponto de afastar alguma parte da população portuguesa dos ditos colégios. Ora, mesmo engolindo a mentira que esta escola é melhor independentemente dos alunos que lá pusessem, a solução é bastante simples: só temos de ter todos os portugueses ricos e pronto. Têm todos dinheiro para pagar ao colégio e aí vamos nós para o progresso. O que os "liberais" não dizem é que tal é impossível, porque o sagrado mercado que tanto defendem não o permite e obriga a que haja uma maioria de pobres para sustentar uma minoria que possa por os filhos (cheios de mérito por nascerem em boas famílias) em boas escolas.
Desmentindo agora o óbvio (porque para argumentos simplistas, contra argumentos simples): é óbvio que a interpretação destes rankings não pode ser feita à secretária, descontextualizada. Le Carré bem o diz que tal é perigoso. As escolas com melhores notas são escolas com meninos com condições em casa, sem problemas sociais ou até num estatuto tal que nem sabem o que são problemas sociais. Toda a vida tive boas notas e não foi por estar no privado, nem por a minha escola ser espectacular ou eu um génio como Cunhal. O que se passou é que sou filho de pais de classe média alta que sempre tiveram dinheiro para eu ter condições em casa, poder ter livros e viagens para me cultivar.
Não querer ver esta associação primária é próprio da idiotice direitosa de quem de tanto usar a lógica da batata ficou com a inteligência de uma batata.
Comparar resultados das escolas públicas e privadas descontextualizando é um absurdo e uma mentira de uma desonestidade intelectual fantástica. Comparar colégios com alunos de classes sociais altas, onde os que tiram más notas são convidados a sair, com escolas públicas onde há um retrato de um país arrasado pelo centrão dominante desde o 25 de Abril e pelos neo - liberais é de uma estupidez formidável.
Mais: a mercantilização da escola é um passo fulgurante para uma sociedade cada vez mais desumanizada, vendida ao mercado e ao capital, emaranhada na sua esquizofrenia burguesa e nas suas bestas sábias (expressão de Garcia Lorca para designar os técnicos altamente competentes sem a mínima noção da vida e das pessoas que o rodeiam. O mesmo Lorca que foi assassinado pelos fascistas pela sua ideologia.). A escola como produto, sujeita às leis do mercado é absurda. E a explicação é o próprio absurdo da lei do mercado. Os privados só entram num negócio com um objectivo: lucro. Tudo o resto é secundário. Não há interesses da população a defender se não derem lucro. E há quem nos queira convencer que uma escola virada para o lucro e para os interesses dos accionistas e empresários é melhor que uma escola que tem como primeiro interesse a formação profissional e humana dos estudantes. Melhor para quem? Para os accionistas?
Será mesmo preciso dizer o óbvio? Num ensino cada vez mais privatizado, haverá uma maioria de pessoas que deixará de ter acesso à educação para (ainda maior) benefício de uma minoria de privilegiados?
No dia em que essa maioria perceber que está a ser enganada, cá estará ela para pedir contas a estes que a enganam com a liberdade da liberalização. E aí, espero que sejam tão impiedosos como a lei do mercado.