Mostrar mensagens com a etiqueta NATO. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta NATO. Mostrar todas as mensagens

sábado, 20 de novembro de 2010

Amanhã, a NATO e a manif

Foi uma semana complicada. Primeiro, a ressacar do Barreiro Rocks, depois os problemas no acesso à net, e eis que o momentum para se escrever sobre a cimeira da NATO, e os protestos contra a mesma, de algum modo se esfumou. Ou será que não? Ter-me-ia apetecido, certamente, abordar dois ângulos: o primeiro, o da nojenta campanha lançada pelas autoridades e patrocinada pelos media (desculpem-me os ofendidos, mas cada vez concordo mais com o post do Luiz mais abaixo), destinada a lançar o medo e confundir os protestos contra a cimeira com acções perpetradas por criminosos, ou a envolver a desobediência civil e mesmo a resistência violenta nessa capa estúpida mas conveniente, o "terrorismo". Hoje, já em cima da hora, todos já sabemos que: não vem, nem nunca planeou vir a Portugal, ninguém do "Black Bloc", ou do que o valha; e que se preparam coisas feias contra os mesmos de sempre (a meia dúzia de anarcas portugueses, e desta vez as outras dúzias de anarcas de outros países que cá estarão). O que me leva exactamente ao segundo ângulo, já que temo que a porrada seja aplicada com a indiferença, e mesmo com o aplauso, de outras "organizações de esquerda" que pretendem monopolizar o protesto na sua agenda, e ao serviço não da luta contra a NATO, o militarismo ou mesmo o capitalismo, mas dos interesses de um partido político, o do costume. A este respeito, exemplar, exemplar, é a troca de argumentos nos comentários a este post do Cinco Dias (138 comentários ao momento!). Leiam, e descubram, se ainda não conhecem, não só o sectarismo e a desunião da Esquerda no seu esplendor, como ilustradas as razões pelas quais eu quero que o PCP se extinga. Nada há de mais sectário e controlador que o PCP, e a união da Esquerda, mesmo que por causas pontuais, só será conseguida à custa do enfraquecimento desse partido. Não acreditam? Pois vejam como pretendem controlar a "sua" manifestação, e mesmo impedir os outros de  o fazer como pretendem. O argumentário utilizado é todo um programa: "os outros que vão fazer A SUA manifestação para outro lado, esta é a NOSSA manifestação", and so on (há ali até um ponto em que a coisa chega ao delírio, quando defendem que uma lei se superioriza à constituição, ou quando utilizam em seu benefício pareceres do MAI - a fidelidade ao partido exige todos os desmandos).
Aqui neste blogue somos sectários à vontade, pelo que colocamos o cartaz da organização menos sectária, 
a tal que foi mandada fazer "a sua" manifestação para outro lado.

domingo, 7 de março de 2010

Da Capital do Império

Com a Europa irritada com a recusa de Barack Obama em participar na cimeira anual EU/EUA dando preferência a uma deslocação à Ásia, importa dizer que aqui em Washington o impensável começa a ser mencionado: desligar os Estados Unidos da NATO.
Não que isto seja moeda corrente ou que vá acontecer já no próximo ano, mas o facto de essa possibilidade ser agora mencionada por analistas credíveis e de passado militar reflecte um crescente mal-estar, senão mesmo irritação de Washington com a falta de vontade dos países europeus de assumirem na generalidade maiores gastos com a defesa e em particular um maior papel na guerra no Afeganistão.
“Os dirigentes da Europa precisam de dizer a si próprios – e aos seus eleitores – a verdade. A guerra no Afeganistão não envolve apenas a segurança da América. É também uma questão de negar santuários à Al Qaeda que também já levou a cabo ataques mortíferos na Europa”, em editorial do Washington Post no passado dia 25 de Fevereiro.
Deste lado do Atlântico reconhece-se agora que a “desmilitarização” ou “pacificação” da Europa é uma realidade que para alguns vai inevitavelmente resultar na “finlandização” da Europa., uma entidade que em palavras se assume como parte da Aliança Atlântica mas que na prática e por diversas razões é incapaz de assumir posições que a possam levar a assumir riscos e gastos militares.
“A desmilitarização da Europa – com grandes sectores do público em geral e da classe política contrários ao conceito de força militar e aos riscos que isso inclui -- transformou-se de uma bênção no século 20 para um impedimento em se alcançar uma segurança real e uma paz duradoira no século XXI,” disse no final do mês passado aqui em Washington o Secretário de Defesa Robert Gates.
Gates – um homem que continua a acreditar no futuro da NATO -- fez notar que muitos dos países da NATO não estão dispostos a cumprir os seus deveres quanto à aquisição de aviões de transporte, de reabastecimento, helicópteros e mesmo na aquisição de “intelligence”.
A NATO, disse ele, tem que fundamentalmente mudar o meio como “estabelece as suas prioridades e o uso de recursos” para poder continuar “relevante” numa nova situação estratégica.
“A NATO precisa de reformas imediatas, sérias, de grande alcance para fazer face uma crise que é um produto de vários anos,” acrescentou.
Mas Andrew Bacevich, um antigo oficial de alta patente do exército Americano, e actual professor universitário em Boston disse já este mês de Março que na sua opinião “a pacificação da Europa deverá provar ser irreversível”, algo que contudo ele vê como “uma oportunidade extraordinária”.
Para Bacevich os Estados Unidos querem transformar a NATO num “instrumento de projecção de poder” e o Afeganistão é o “indicador mais importante” das tentativas de Washington de transformar a NATO.
O analista militar considera que a expansão da NATO criou uma falta de coesão agravada pelo facto de apenas quatro países europeus respeitarem o acordo de gastarem pelo menos dois por cento dos PIB em gastos militares. O comandante geral da NATO, disse ele, “tem agora tanta importância como o presidente de uma universidade de tamanho decente”.
Para Bacevich a NATO só poderá ter um futuro se voltar às suas origens, nomeadamente “garantir a segurança das democracias europeias”.
Para isso “os Estados Unidos devem atrever-se a fazer o impensável: permitir à Nato voltar a ser uma organização europeia dirigida por europeus para servir interesses europeus, garantir a segurança e bem-estar de uma Europa unida e livre”.
O problema com esta análise, dizem outros especialistas, é que países europeus como a Polónia, Republica Checa e Lituânia não têm qualquer confiança na França e Alemanha como garantes das suas liberdades preferindo garantir a sua segurança numa NATO ancorada nos EUA e na Grã-Bretanha.
Lembram esses analistas que aquando a guerra nos Balcãs (Bósnia e Kosovo) houve quem em Bruxelas tivesse declarado que isso era “um problema europeu a ser resolvido pelos europeus”. Acabou por ser a força aerea dos Estados Unidos que levou Slobodan Milosvic à rendição face à incapacidade militar dos países europeus de lidarem com a situação de modo efectivo.
A NATO está actualmente a elaborar um novo Conceito Estratégico para definir o seu futuro, mas aqui todos se recordam que aquando do 50 aniversário da NATO isso foi também discutido em grande detalhe
Caso o novo Conceito Estratégico não aprove mudanças operacionais e institucionais concretas não vai valer o preço do papel onde fôr escrito. Quem o diz não sou eu. É Robert Gates.

Da Capital do Império,

Jota Esse Erre