Mostrar mensagens com a etiqueta Família. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Família. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 31 de março de 2010

anaCrónicas 11

Ele há dois tipos de cinemas: aqueles em que se comem pipocas e aqueles em que se batem punhetas. O primeiro tipo de salas, o das pipocas, é o espaço acústico em que os pipoqueiros produzem um som do tipo herbívoro que busca a unanimidade de um movimento maxilar compassado para construir uma banda comum, e é também o espaço em que os mesmos pipoqueiros interiorizam o som que produzem para fora, pois o interior do corpo é também um espaço acústico que recebe dentro o que se faz para fora, o que os ouvidos, entradas de som, provam à evidência, pois quando não ouvem para fora estão absolutamente ocupados para dentro nessa função de sondar as músicas interiores – acontece muito.
Infelizmente nem todos os comedores de pipocas estão suficientemente adestrados para o fazerem ao mesmo tempo no mesmo lugar como a sublime experiência da unanimidade referida – chegados aí, os poucos que o sabem fazer, os iniciados, entram no céu da comunhão maxilar, só comparável ao êxtase inexplicável do milagre em directo – só os da católica valem, os outros são falsos. Claro que a pipoca, tendo a dupla condição de criar som externo e interno, vai mais longe: o movimento estético-mandibular pode fundir-se com o gesto criador numa espécie de big bang da invenção da partícula estética. A cavidade bucal funciona, na trituração, como um verdadeiro acelerador de partículas do universo sensível.
Já a punheta pede um cinema específico em matéria fílmica e em característica de sala. Neste tipo de sala convém usar guarda-chuva porque esta cinefilia praticante funciona como actividade sexual de tipo aberto, cujo limite é apenas orgânico e a fantasia só comparável com a poética amorosa dos símios.
Entretanto, a diferença radical entre o punheteiro cinéfilo e o pipoqueiro está em que tendo ambos uma intervenção clara no curso da acção fílmica, o primeiro exprime-se para o exterior, produzindo opinião clara sob a forma de uma secreção húmida e identitária e o segundo só o faz para dentro, numa atitude mais moderada e sensata. O que normalmente se traduz, para o pipoqueiro na preferência pelo filme familiar, divórcio mais casamento, mais filhos, mais divórcio e casamento, continuando por aí, e para o punheteiro num tipo de cinema mais próximo da dança do varão, essa expressão superior da dança contemporânea que agora é muito comum nos workshops para mães de família e que se generalizou depois do conhecido caso “as mães de Bragança”.

FMR

quarta-feira, 10 de março de 2010

Os putos são porreiros


Os putos são porreiros, disse a mãe sem olhar para a amiga. Com a ganza na mão esquerda e o isqueiro na direita, deixou a chama tocar ao de leve na bolinha esverdeada. Ao de leve, para não a queimar. Ya, disse a amiga. Não sei como há pessoas que não curtem crianças. A mãe esfarelou a pedra e misturou-o ao tabaco com a ponta dos dedos. Os adultos são materialistas, ‘tás a topar? E a outra: Ya, não entendem a inocência dos putos. O aroma do haxe chegou até ao quarto, até ao miúdo sentado à secretária. Tinha à frente um caderno, e copiava as frases escritas na ficha. O gato pediu um saco ao seu novo amo. Lá fora a tarde ia radiosa, o sol entrava pela janela, batia em cheio na folha branca. A luz era tão forte que feria os olhos. Uma mosca esvoaçava às cegas de encontro ao vidro, a zunir. O gato foi à floresta apanhar uma lebre. A mãe enrolou o charuto, acendeu-o e passou-o à amiga. Depois estendeu a mão para a aparelhagem e subiu o volume. O miúdo conhecia bem aquela música, a mãe punha-a sempre que tinha visitas. Curtes este som? A amiga fez que sim com a cabeça mas não disse nada. Inspirava fundo, fechando os olhos para sentir a pedrada. Uma, duas, três vezes. Devolveu o charro e recostou-se nas almofadas indianas. Pela porta entreaberta, o rapazinho espreitou para a sala. A mãe tinha os olhos fechados e acompanhava o compasso da música com um balanço repetido do tronco. A amiga também tinha os olhos fechados, mas erguera os joelhos à altura do queixo, num movimento que lhe expunha as coxas. Pela fresta, o puto ficou de olhos postos no triângulo branco das cuecas, marcado pelo sulco da racha. A mãe disse qualquer coisa, mas a música estava alto e o miúdo não ouviu. A amiga ouviu, e respondeu. E ao responder moveu-se e baixou os joelhos. A atenção do puto voltou-se para a mosca pousada na vidraça. Amolecida pelo calor, não teve tempo de levantar voo. Num gesto súbito, o rapazinho aprisionou-a no punho cerrado, mas sem apertar, para não a esmagar. Com mil cautelas, não fosse ela fugir, segurou-a entre os dedos da outra mão e ficou um instante a observá-la. Depois, com gestos minuciosos, arrancou-lhe as asas, uma após outra, e pousou-a na folha do caderno. O bicho, na agonia, contorcia-se e rodopiava em arabescos loucos, deixando um rasto sanguinolento no branco do papel. O puto ficou-se a vê-la durante um bocado, até que a música acabou e a voz da mãe chegou da sala. Querido, já acabaste os trabalhos? Está quase, mamã. Num gesto seco, abateu a palma da mão sobre o insecto e esborrachou-o. Então acaba, e depois vem lanchar. O miúdo limpou a mão aos calções e ouviu a mãe a perguntar à amiga: Não queres um chá? Chá preto? Não, chá preto nunca bebo. Excita muito. Este é de flor de tília, lúpulo e lavanda. Bué de relaxante.

José Pinto de Sá

sábado, 6 de março de 2010

anaCrónicas 2

Os pais desavindos com a primeira palavra a ensinar depois do leite militante entraram em ciclotimia de afectos. Quase nem se falavam. Ela queria mamã talvez – segundo uma fonte mais ou menos credível – e ele queria papá – segundo outra fonte mais ou menos credível. Tudo um pouco primário mas perfazendo o pleno das emoções, essa sensação de estar vivo, equivalente, pela negativa, à do bandulho cheio, essa sensação de ser jibóia. Recorreram portanto ao tribunal familiar. Mas tudo ficou sem saída, já que as partes se dividiam por fronteiras sanguíneas e por afectos politicamente correctos, resultando tudo numa igualdade de braços no ar – a família era da esquerda arcaica, enraizada em terra de sequeiro lá para os lados onde o horizonte não é coxo. De regresso ao lar e para não lhes acontecer o mesmo que aos outros que se esqueceram de alimentar o bebé, que morreu, enquanto jogavam online o jogo da filha virtual a tempo inteiro, resolveram dar o biberão à criança, o que o pai fez pois era a sua vez, sendo que ela tinha optado pela fralda que viesse. E a vida continuou desavinda, amuos, olhares carregados, dores de cabeça, náuseas inexplicadas e mesmo longas desistências mergulhadas na banheira em osmose de amores com a água quente pelas bordas do topo.
Andaram assim meses até que no mesmo sonho – era um casal muito unido no sono e com a crise, que a todos vem tocando, sonhavam mais barato sonhando o mesmo sonho – uma voz silenciosa, subliminar lhes derramou para o ouvido interno a palavra do desejado consenso: e porque não ensinar à criança a palavra défice? E os dias rosa do leite mamado em directo voltaram.

FMR

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A família Guebuza

Guebuza family has finger in every pie
After he became President at the beginning of 2005 Armando Guebuza, did not stop developing his portfolio of investments. Better still, he and his family have since then expanded their business network via various companies in which they own stakes. The firm Moçambique Gestores (MG), of which the President is one of the shareholders, is present in the Maputo Port Development Company (MPDC) which runs the capital's port. Meanwhile Guebuza's family
company Focus 21 owns a stake in the navigation company Navique, is a partner in the South African energy company Sasol and is involved in the bank BMI. Furthermore, the President is also a shareholder in the mobile telephone company Vodacom via his stake in Intelec Holdings. He can also be found in Moçambique Capitais, a firm which has just launched the Moza Banco in
partnership with Geocapital owned by the Macao magnate Stanley Ho.
Guebuza's new partners. Intelec Holdings, the company chaired by the head of the Confederaçao das Associaçoes Economicas (CTA, employers' association), Salimo Amad Abdula, is to go into exploring for chalk and other ore with the aim of opening a cement works. To this end, it is participating in the creation at the beginning of May in Elephant Cement Moçambique Lda (ECM) with a 15% stake. The leading shareholder in ECM, with 85%, is Shree Cement Ltd, an Indian cement manufacturer represented in this transaction by its financial director, Ashok Bhandari. Intelec Holdings has at the same time launched into another project. Represented by its general manager Tomas Arone Monjane, it has founded a consulting and expertise company called Intelec Business Advisory & Consulting Lda (Intelec B.A.C) jointly with a Mozambican resident in Cape Town (South Africa), Tania Romana Matsinhe (the company's CEO, with a 35% stake), Catarina Mario Dimande from Maputo (12.5%) and Armando Ndambi Guebuza (12.5%).
The latter is none other than one of President Geubuza's sons who has studied in South Africa. Intelec BAC will carry out market studies and reports on the business environment for its clients. All the family is involved. Ndambi Guebuza is already a shareholder, as are his brother, his two sisters and his parents, in the family firm Focus 21. His sister Valentina Guebuza owns a small minority (2.5%) in Beira Grain Terminal SA, a company created at the beginning of 2007 to operate the cereals terminal at the port of Beira (ION 1209), while the Mozambican President's eldest daughter, Norah Armando Guebuza, has joined forces with Zimbabweans and
Mozambicans to launch the firm MBT Construçoes Lda, specialised in construction and public works, at the beginning of the year. She is married to the Mozambican Tendai Mavhunga, who for his part is in partnership with Miguel Nhaca Guebuza, one of the Mozambican President's brothers, in a construction industry consulting company Englob-Consultores Lda (ION 1200). This is the same Miguel Guebuza who has just been appointed to the board of the new firm
Mozambique Power Industries, which will manufacture and market electricity transformers. This company's shareholders are Wilhelm François Jacobs, Munir Abdul Sacoor, Marilia Americo Munguambe and Christoffel Cornelius Koch. For her part, Ana Maria Dai, the twin sister of Mozambican First Lady Maria da Luz Dai Guebuza, is a shareholder in Macequece Lda alongside another member of her family, José Eduardo Dai. Her brother, Tobias Dai, is a former Defence
Minister. Last year, Macequece created the mining company Mozambique Natural Resources Corp in partnership with International Minerva Resources BV.
Discreet withdrawal. Nevertheless, President Guebuza has just sold his stakes in two companies. In mid-April he withdrew from Mavimbi Lda (fishing) whose ownership is now split between Moises Rafael Massinga (38%) and a consortium whose members have not been revealed. Similarly, Mozambique Gestores and the former Minister Teodato Hunguana have sold their stakes in Sociedade de Aguas de Moçambique Lda to Joao Manuel Prezado Francisco and Totem Investments whose shareholders are not known since this company was created before the law obliging their disclosure. The time has come for Guebuza to become more discreet in business!
INDIAN OCEAN NEWSLETTER - 31.05.2008
José Pinto de Sá

domingo, 29 de junho de 2008

Champix? Fónix!

Aqui há tempos falei-vos de um Outono de sonho. Vivi uma fairy-tale. Madrasta nova que passou nos exigentes testes cá da casa dos MacAdams. “O sonho acabou quem não dormiu nos sleeping bags nem sequer sonhou”, perdoem-me a citação, mas foi só para ilustrar o choque. Sinto-me Gilberto Gil em Londres, a abortar, com saudades do Brasil. Também não é para menos. Chegou o Verão. E, começo pelo fim. Os talheres, herança da minha avó, que viajaram de Cabo Verde para a metrópole, com estadia em Moçambique, desapareceram. Já tinham sido substituídos. Agora comemos com os de plástico, das minhas festas de miúda. Estou perturbada, deixem-me voltar à história. A fada virou bruxa, não roubou os pobres enganos e os vinte anos do mais velho, nem sequer lhe deixou mudo o violão. O cabrão tem resistido, mas agora de novo divorciado, ficou sem talheres. Continuando, decidiram, muito in love, deixar de fumar. Tomaram champix. Já leram na bula as contra-indicações? O daddy é um case-study. Mal acabe o curso vamos viver, com os processos que vamos ganhar, à pala das farmacêuticas. Contarei brevemente mais pormenores. Até lá há uma música que não me sai da cabeça. “Fónix champix vamos lá charrar como dantes”, na tradução possível, nesta hora de desespero, dum blues muito sentido que o meu pai está a tocar.

Josina MacAdam

sábado, 14 de junho de 2008

quarta-feira, 25 de julho de 2007