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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A moção de censura

Via O País do Burro, eis o texto da moção de censura que o Bloco de Esquerda irá apresentar:

MOÇÃO DE CENSURA N.º 2/XI
MOÇÃO DE CENSURA AO XVIII GOVERNO CONSTITUCIONAL
EM DEFESA DAS GERAÇÕES SACRIFICADAS
Ao longo do ano e meio do seu mandato, o XVIIIº Governo adoptou uma política económica e social que tem atingido essencialmente os trabalhadores sem emprego e os jovens da geração mais preparada que o país já formou, que são marginalizados das suas competências para se afundarem num trabalho sem futuro. Existe hoje mais de um milhão de trabalhadores em situação totalmente precária, incluindo uma parte significativa sendo paga a troco de falso recibo verde, e promessas do Programa de Governo, como o fim dos recibos verdes no Estado, foram clamorosamente violadas. Ora, uma economia de exploração de salários mínimos é um cemitério de talentos e uma democracia amputada das melhores qualificações.
Esta Moção de Censura recusa por isso o gigantesco embuste da distribuição equilibrada dos sacrifícios e sublinha que o emprego e o salário têm sido destruídos pela cruel insensibilidade social que corrói a economia em nome da ganância financeira, e propõe uma ruptura democrática que evite a destruição implacável dos trabalhadores mais velhos pelo desemprego e dos mais novos no altar da precarização.
De facto, ao reduzir o apoio aos desempregados, o Governo deu um passo na sua estratégia agressiva quanto ao mercado de trabalho. O subsídio de desemprego passou a ser apresentado como um custo e não como um direito que decorre do próprio desconto do trabalhador, como um prejuízo e não como um acto de justiça. Agora, o Governo vai mais longe, procurando impor a redução da indemnização pelo despedimento, para o embaratecer e facilitar.
Deste modo, durante o seu mandato, apesar de ter perdido a sua maioria absoluta, o governo ignorou os sinais dos eleitores. Promoveu o agravamento da crise social com o aumento dos impostos, a queda do investimento público, a redução de salários, a degradação dos apoios sociais com a retirada do abono de família e de outras prestações a centenas de milhares de famílias, o aumento dos preços de medicamentos e outros bens essenciais e o congelamento das pensões.
Esta orientação conduz o país para o abismo da recessão. Agrava as dificuldades da economia em vez de lhes responder. Condena uma parte da população ao desemprego estrutural permanente, em números que a democracia portuguesa jamais conheceu. Reduz os rendimentos de trabalhadores e pensionistas. Esta política condena o país ao império do abuso.
A chantagem dos mercados financeiros, incluindo da finança portuguesa, que impõem juros em redor dos 7% ao refinanciamento a dez anos da dívida soberana, aprofunda as dificuldades da economia. Mas o governo respondeu a esta pressão favorecendo a finança ao agravar a transferência dos salários e dos impostos para os juros e, ainda, permitindo que os grandes bancos privados não paguem o IRC de lei. Esta situação é portanto insuportável. O país está endividado e a política orçamental precipita maiores custos de endividamento e restrições ao investimento, à produção e ao emprego.
Ora, um factor suplementar que agrava a crise actual é a forma como o governo tem desprezado os grandes combates democráticos pela qualidade dos serviços públicos do Estado Social, pela economia do emprego e contra a agiotagem financeira. Esta insensibilidade social é a causa da falta de confiança numa governação desgastada, que foge à responsabilidade, cultiva o favorecimento e provoca o apodrecimento da decisão política.
Exige-se por isso um novo caminho, com uma viragem da política económica para o combate à recessão. Exige-se a solução do défice fiscal para corrigir o défice orçamental, a solução do investimento criador de emprego e promotor de exportações e de substituição de importações, a solução da recuperação da agricultura para promover a soberania alimentar, a recuperação da procura interna com a defesa dos salários, a valorização das pensões e o combate à precariedade em nome da vida das pessoas.
O Governo, apesar de ter sido suportado por uma grande maioria parlamentar nas mais importantes decisões económicas, não responde às grandes prioridades nacionais, que são o combate ao desemprego, pobreza e precariedade, antes agrava as condições do trabalho para facilitar os despedimentos e portanto os salários baixos, seguindo a orientação do FMI que recomenda a desprotecção dos rendimentos e dos contratos dos trabalhadores. Esta resposta agrava as desigualdades na sociedade portuguesa e é por isso imperativo, em nome de uma política que se comprometa com a defesa das gerações sacrificadas, derrotar as medidas que promovem o desemprego e a precariedade e convocar a democracia para que decida as soluções para o país. Assim,
A Assembleia da República, ao abrigo do artigo 194º da Constituição da República Portuguesa, delibera censurar o XVIII Governo Constitucional.
As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Porque vou votar em Manuel Alegre

Esta é uma declaração de voto a contragosto. Somando erro atrás de erro, Manuel Alegre perdeu muito do capital político e de esperança que uma figura com a sua, que pertence aquela pequena parte do PS com que vale a pena fazer pontes, certamente não merecia. Hoje por hoje toda a gente já percebeu o erro crasso que foi trabalhar para o apoio envenenado do PS de Sócrates. O próprio Bloco de Esquerda, o partido em que costumo votar nas legislativas, vai pagar caro (já está a pagar com algumas dissensões) a contradição que é estar a apoiar um candidato que, nesta campanha, anda a jogar um perigoso jogo do equilibrista, procurando agradar à esquerda sem comprometer o centro. Mesmo a campanha, em si, é uma desilusão, sem chama, sem rumo (o jogo do equilíbrio), e deixando transparecer uma imagem de solidão. Posto isto: vou votar Manuel Alegre. Por duas razões, que se mantém absolutamente válidas: primeiro, porque como a direita pura e dura percebeu muito bem, mas a esquerda mais "radical" parece incapaz de compreender, o verdadeiro candidato de Sócrates não é Alegre, mas Cavaco. Ou será que todo o processo inquinado que levou a um apoio tardio e com ares de forçado, ou a ausência da máquina-PS na campanha, são meras coincidências? A previsível derrota de Alegre vai também, como a direita pura e dura igualmente percebeu, dar uma machadada na ala esquerda do PS, e acabar com veleidades "secessionistas" e de aproximação ao BE, o que interessa a Sócrates e aos seus, e a mais ninguém. Segundo, porque se não vejo grandes diferenças para Sócrates entre ter Alegre ou Cavaco na presidência, já com um possível governo Passos Coelho tudo será diferente. Passos, Cavaco e o FMI: eis a tríade para destruir de vez o estado social em Portugal, e fazer-nos ainda ter saudades dos anos negros de Sócrates.
Pelos motivos que apresentei, preparo-me para engolir um sapo e depositar o meu voto num candidato que pouco me entusiasma. Mas fá-lo-ei sem remorsos: a política é, também mas não só, a arte do possível. Evitar a reeleição de Cavaco deve ser visto como um dever de cidadania para todos os que ainda acreditam num país solidário e livre, e nas funções sociais do Estado. É com muita pena que vejo que alguns não tem noção do facto de este ser um momento paradigmático e crucial para Portugal; preparam-se hoje as condições finais para o derradeiro ataque ao que resta do 25 de Abril, e para trocarmos o estado social pela selvajaria neoliberal. E é com alguma revolta que assisto a uma certa extrema-esquerda atacar todos os dias Alegre mas nunca Cavaco, trabalhando activamente para a vitória da direita, provando mais uma vez, se preciso fosse, que o seu papel actual na história define-se em uma palavra: reaccionário.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Orçamento 2011

A receita para combater a crise é acrescentar mais crise. Sempre me espantou a lógica distorcida do capitalismo: há pouco dinheiro, emprego, a economia abranda? Corte-se nos salários, aumentem-se os impostos, faça-se haver ainda menos dinheiro, emprego, que a economia se depaupere o pouco que ainda resta. Mais ainda me espanta que estas estranhas ideias façam tanto eco em tanta gente, e apareçam por aí como receitas únicas e inevitáveis.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Correio interno


André,

Aqui vão mais uns [desenhos]. Os políticos voltaram de férias mais parvos ainda, matéria para laracha não faltará.
Pensava eu, que o orçamento de 2011 não seria aprovado, mas as eleições presidenciais estragam este cenário. Cavaco já chiou para que não lhe estraguem o arranjinho de Belém. Quedas de Governo podem influenciar a sua reeleição logo à primeira. Por outro lado, PP Coelho, se for inteligente, espera que o PS reduza o défice, ou ver se o défice baixa; governar com um défice elevado é suicídio político, e lá se ia a bela aura de láparo sabedor e salvador. Assim, sempre manda umas bocas, achega-se como pessoa equilibrada, com soluções, não as põe em prática, e dá matéria intelectual para o povo falar nas tascas (ou no seu moderno equivalente: os blogs). Por que ele sabe perfeitamente o significado preciso de “reduzir despesa”: com certeza que não é despedir juízes, médicos, polícias etc., cantoneiros, jardineiros, contínuos etc., talvez; reduzir a despesa significa apenas baixar o valor das pensões. Tem sido tentado nas futuras, mas não chega, têm de baixar as actuais. Não sei se PP Coelho está numa dessas. Possivelmente não seria reeleito, ou talvez sim, o povo português também é parvo, como os seus políticos.  

Um abraço
Maturino Galvão

sexta-feira, 9 de julho de 2010

No Arrastão

João Rodrigues, como sempre certeiro:
"Alguns dirigentes do PS disseram qualquer coisa de esquerda, mas sem tradução no campo das políticas públicas concretas. Os ideólogos do consenso neoliberal começaram logo com a conversa da “viragem ideológica” deste partido. As loucuras constitucionais de Passos Coelho, que fazem o sonho destes editorialistas, são um bom pretexto para o esforço de demarcação por parte de um PS que converge com o PSD na austeridade realmente existente e que assim reforça o plano inclinado do aprofundamento da neoliberalização da sociedade portuguesa."
Não deixe de ler na íntegra, no Arrastão

terça-feira, 1 de junho de 2010

O que fazer com 29 de Maio?


Se eram 300.000 ou 200.000, não importa. Nunca me vi dentro de multidão tão imensa, estive mais de hora e meia a ver gente passar e nem assim foi o fim da manifestação.
Pouco adianta agora a análise sobre se o governo PS tem ou não alternativa dentro do sistema às medidas que tem tomado. Seja como for, as pessoas protestam porque é justo protestar, não são parvas, e sabem muito bem ver a diferença entre a "austeridade" pedida a muitos e as vidas de alguns. Se o sistema vigente não consegue responder a isto, mude-se! Não há qualquer justificação moral para a defesa de uma ordem social imoral e injusta.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

terça-feira, 5 de agosto de 2008

quarta-feira, 19 de março de 2008

Augusto Santos Silva



"Como a Jane Birkin atirou o ministro para o trotskismo

O ministro dos Assuntos Parlamentares partilha os apelidos com o banqueiro fundador do BPI mas não há qualquer laço de família a uni-los, apesar de ambos serem do Porto,Augusto, o ministro, é Santos da mãe e Silva do pai, um casal humilde de enfermeiros do Hospital Santo António.Artur, o banqueiro, pertence a uma família que há quatro gerações tem membros que dão o nome a ruas do Porto: o bisavô foi um dos líderes do 31 de Janeiro, o avô ministro da Educação da I República e o pai um advogado do reviralho que desafiou Delgado a candidatar-se à presidência.Apesar da ausência de tradições na família, o jovem Augusto forjou precocemente uma sólida consciência política. Em 1970, pediu à mãe que lhe oferecesse a Obra Poética de Fernando Pessoa em papel bíblia como prenda pelo seu 14.º aniversário. Os 70 escudos que custava o livro não foram suficientes para fazer a mãe desistir de lhe fazer a vontade.Intermináveis tardes de discussões sobre existencialismo na sala de bilhares do Rumo, na Rua N. Sª de Fátima, à Boavista, foram decisivas na sua formação, mas foi a improvável Jane Birkin que atirou Augusto para os braços do trotskismo.Uma bela tarde foi ver o "Blow Up" ao cinema Estúdio, em Costa Cabral, onde o porteiro era permissivo e deixava menores de 17 anos entrar em fitas classificadas. Ficou com a respiração suspensa quando Jane Birkin e as amigas entraram no quarto do fotógrafo e se começaram a despir. Mas o fotograma seguinte mostrava a cantora de "Je t'aime, moi non plus" a abotoar-se.Esta censura foi a gota de água que transbordou o copo. Tornou-se anti-fascista. No liceu, no ocaso do marcelismo, a rebeldia juvenil era disputada por duas tribos de maoístas e um pequeno núcleo trotskista. Optou por este. "Se a Birkin me obrigava à acção, o trotskismo descansava-me: a acção bem podia continuar a ser ler uns livros e revistas, agora um bocadinho menos convencionais".Membro do semiclandestino Comité de Acção Liceal do D. Manuel II, seguiu à risca o programa de formação base - Iniciação à Teoria Económica Marxista, de Ernest Mandel, um ensaio sobre o Estado de Lenine e o Combate Sexual da Juventude de Wilhelm Reich - e deu o seu "supermicrocontributo" (a palavra é dele) ao derrube da ditadura. Uma greve política de solidariedade com a proclamação pelo PAIGC da independência da Guiné e a recusa em participar no concurso Taco a Taco que punha em competição na RTP os melhores alunos dos liceus (o D, Manuel venceu, apesar de alinhar com as reservas por causa do boicote político dos titulares) foram as duas acções mais vistosas em que esteve envolvido, para além da participação em reuniões clandestinas, na encosta da ponte da Arrábida, e em manifestações relâmpago à saída das fábricas onde distribuíam panfletos contra a guerra colonial.O 25 de Abril apanhou-o como militante clandestino da UOR (União Operária Revolucionária), um grupúsculo trotskista, que posteriormente se viria a integrar na LCI (Liga Comunista Internacionalista), onde começava a despontar a estrela de Louçã. Ele, porém, não chegou a integrar-se.Se a aproximação ao trotskismo foi cinematográfica, a ruptura foi livresca. Saltou fora depois de ter lido um livro onde se detalhava o papel de Trotsky, como comandante do Exército Vermelho, no esmagamento sangrento dos marinheiros em Cronstdt.Atravessou o Verão Quente como militante desalinhado da esquerda revolucionária. Na Faculdade de Letras, era ele quem mandava, contratando professores e desenhava os currículos. Cá fora, desenvolvia um trabalho de base, de animação cultural e social nos bairros pobres, de que uma das coroas de glória foi a construção de um infantário em Campanhã. Começou em 1976, na candidatura presidencial de Otelo a longa marcha que havia de o levar até à entrada para o PS, em 1990. Em 1980, está com Eanes na candidatura presidencial. Em 1985 está com Pintasilgo na primeira volta. Na segunda, junta-se à campanha de Soares integrando um grupo de ex-MES que iria aderir em pacote ao PS. No momento em que o seu passado político o atinge como um "boomerang", depois de ter reagido com críticas a Cunhal aos insultos sofridos em Chaves, Augusto Santos Silva garante que vota no PS desde 79 e que nunca votou no PCP. E confessa que em 1974, quando tinha 18 anos, ele estava do lado errado e Mário Soares é que tinha razão.
"
JORGE FIEL, Diário de Notícias, 19/03/2008

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Manifestar-se faz o professor (2)

Ainda sobre a polémica dos SMS: este sábado, milhares de professores manifestaram-se sem aviso prévio, em convocatórias através de blogues e, sobretudo, SMS. Desta vez já custou mais ao Sócrates considerar que "não eram professores mas militantes de outros partidos". O que é curioso nestes processos de intenções contra quem se manifesta, é que quando são os sindicatos a organizar, acusa-se-lhes, e muitas vezes com razão, de estarem ao serviço de agendas partidárias. Mas quando se dispensa os sindicatos (de um modo que estes não deixam, inclusivé, de temer), então culpa-se a mão invisível que escreve os SMS. Como sempre, o que nunca é valorizado é a capacidade de cada um pensar pela sua cabeça, e livremente decidir se quer ou não aderir a esta ou aquela manifestação, convocada desta ou daquela forma.
Mas o que é incontestável, por muito que custe a alguns, é que estas manifestações que escapam ao controlo dos sindicatos são ainda mais perigosas para o Governo. Elas revelam que o mal-estar e o descontentamento dos professores vai muito para além de lógicas sindicais e partidárias, e é um sintoma do desastre da sua política educativa, que conseguiu alienar das ditas "reformas" os agentes mais importantes na Educação. Se algum ministro supõe que consegue fazer uma "reforma" com sucesso (no sentido em que o objectivo da reforma seja melhorar a Educação, o que é muito discutível) colocando contra si a quase unanimidade dos professores, arrasando com a sua motivação, minando a sua autoridade, então temos mesmo de dar crédito às alegações de certos opinion makers: este Governo vive fechado numa redoma de tecnocratas, que independendentemente dos objectivos ideológicos que persigam, nem sequer são capazes de entender a realidade.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Manifestar-se faz o professor


Daqui podemos pelo menos deduzir que: o "professor" que o Tomás Vasques imagina (e que o nosso Armando Rocheteau cauciona) não pensa, nem quer saber quem é, o remetente. Ele apenas se quer manifestar. O "professor" do Tomás e do Armando que quer, apenas e só, "manifestar-se", tal incauto desprevenido, assim como desta vez foi apanhado nas malditas correntes de SMS da CGTP, do PC, do BE, do PCTP, do POUS, ou do que mais se dedique a enviar SMS por razão alguma, pode, um destes dias, ser capturado pelas tramas terríveis dos SMS da extrema-direita: do PNR, da Juve Leo, do Grupo 1143. Pois este "professor", não sabendo bem porquê, sabe que se quer "manifestar". "Manifestar" é algo que faz o "professor". De algum modo constitui-se como "professor", ou seja, um ente contaminado pela espúria e pecaminosa presença do "aluno": um "contestatário"; um "manifestante". É a partir desta sabedoria que, avisadamente, a Ministra, o Tomás e o Armando nos previnem para a ilusão das "manifestações" de professores: umas atitudes vâs, tristes e manipuladas de gente convocada pelo primeiro SMS que lhes surja no telemóvel, a seguir ao que diz "maria, keres vir a festa d ze, rsponde p msg". Gente que não faz a mais pálida ideia do que se passa nos seus locais de trabalho. Aliás, como todos sabemos, as pessoas que trabalham não tem opiniões ponderadas sobre o que se passa nos seus locais de trabalho (porque estão enviesadas pelos seus interesses pessoais), nem entendem bem quais são os seus interesses (porque não percebem o que se passa nos seus locais de trabalho). É por isso que existem os especialistas, e a Democracia deve viver com os especialistas, dos especialistas, e para os especialistas. E mesmo que a realidade desminta os especialistas, o erro não é deles (pois são seres que analisam racionalmente a realidade), mas daqueles que, infelizmente, agem sobre ela, e assim estragam todos os modelos matematicamente estudados. E ainda quer esta gente pôr-se a protestar e a fazer "manifestações" convocadas por SMS... Um dia destes ainda os veremos a querer pensar o que só deve ser pensado pelos especialistas, e esse dia será o princípio da barbárie anti-democrática.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Allegro giocoso


Caro Armando, Webmaster Flash:

Perdoa este incursão confessional, mas é que...estou ficando preocupado com o Manel A. Não sei muito bem porquê, é mais aquela sensação de desconforto, um je ne sais quoi, uma suspeita mal-alimentada de que este ‘puto ainda vai fazer merda’. Sabes como é a juventude? Inconsequente, irrelevante, disposable. Pior, muito pior, como diz o venerável Táxi Pluvioso, são aqueles abencerragens remoçados a botox e delusion que acreditam transportar uma herança histórica autorizada no ADN... os jovens de espírito.
Enclausurados no Espaço, sim, que a imobilidade e a inacção têm álibi, mas quasi-homens livres do Tempo. Isto é, dizem hoje os mesmos dislates que disseram ontem, mas sem sair do mesmo lugar. Numa forma mais popular, são disparatados e preguiçosos.
Pois que estou muito entristecido com a desmesurada atenção que têm merecido as farroncas genuinamente lusitanas do Alegria. Agarrem-me que eu mato-o! Não me desafiem! E outros exemplos da cartilha pusilânime. Quer então dizer o Alegria que se não o desafiarem lá fica tudo como está e já nem é preciso botar mais socialismo no aqueduto. Ó rapaz, se tens algo a dizer, avança, enche o peito e trova, trova, trova. Olha, sei lá, vai a votos.

Sei que se devem respeitar os mais velhos, por exemplo, uma palmada nas costas, mais uma almofada, uma mantinha para os joelhos, ouvir pela uncentésima vez as crónicas do tempo passado. Mas, sujeito de privilégio, o Manel teve direito a ainda mais, muito mais. O PS proporcionou-lhe bom pré, bom conduto, combustível para a alma, e, pai esmerado, até lhe cuidou da reputação. Para não chocar os enteados da sorte, aqueles que têm de andar a chafurdar para encher o bandulho, nomeou-o reserva moral vitalícia e perpétua, papel que tem desempenhado sacrificada e ininterruptamente nestes longos 34 anos que já leva de sabático. E lá de quando em vez, quando o ennui aperta, lá é dado à estampa mais um livrito de rimas. E, coração grande, a rapaziada do Largo do Rato organiza mais uma homenagem ao grande letrista, perdão, estro da nação.

Manel, deixa o Primeiro-Ministro trabalhar. Olha, faz como o Louçã, ameaça que vais partir para uma Volta a Portugal do desemprego, vais à primeira etapa, constatas que não percebes nada do assunto, desistes, e, como ele fez, vai estudar economia. É a poesia, estúpido!


JSP

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O PS visto por Baptista-Bastos

Goste-se, ou não dele, Baptista-Bastos formula neste texto algumas questões importantes e que merecem análise detalhada. Ousemos falar aberta e claramente. Aquilo a que B-B chama “misticismo barroco” que resultados tem produzido para o País ensaiado por esta "gente de manejos burocráticos e de cerviz dobrada ante o Príncipe?Nada. Pior: tem cometido o mais condenável de todos os crimes: o socialicídio”. “O PS é uma desgraça e o Governo“socialista” uma miséria”…Não se sabe de que partido é o B-B., helàs…Vamos discutir em voz alta? Manuel Alegre tinha sido muito cauteloso na entrevista ao “Público”.

"OS SOCIALICIDAS
Vai por aí algum alvoroço com as declarações de Manuel Alegre sobre as derivas do PS. O PS já nasceu com derivas: basta atentar nos seus fundadores. Provinham, quase todos, do antifascismo, mas ética e ideologicamente eram diferentes. De católicos "progressistas" a ex-comunistas, até republicanos de traça jacobina, o PS foi, quase, um trâmite freudiano de adolescentes contra os pais. O que os impediu de compreender as mitologias da social-democracia, esta mesma diversamente interpretada e opostamente aplicada nos países escandinavos. Provinham de uma leitura catequista do marxismo, caldeada na experiência da República de Weimar.

Quando, no PREC, se gritava: "Partido Socialista, partido marxista!" - a exclamação estava a mais. A interrogação seria mais apropriada. O estribilho ficou mudo, quando Willy Brandt mandou dizer que as estentóricas frases eram estranhas à teologia do "socialismo democrático". Por essa época, Manuel Alegre, numa entrevista que lhe fiz, disse, dramático, que "a social-democracia era a grande gestora do capitalismo". Goste-se ou não dele, a verdade é que nunca foi ambidextro na forma de protestar.

Na realidade, há muitíssimo poucos socialistas no PS; no Governo, parece-me que nenhum. Observo aquelas figuras, marcadas por uma espécie de misticismo barroco, e pergunto-me: que tem feito pelo País esta gente de manejos burocráticos e de cerviz dobrada ante o Príncipe? Nada. Pior: tem cometido o mais condenável de todos os crimes - o socialicídio.

Não é de agora, o delito. Com José Sócrates, socialista de ocasião, propagandeou-se a "esquerda moderna" como justificação de todas as malfeitorias ideológicas, sociais, morais e éticas. Mas ele resulta de uma génese política malformada. As "tendências" no PS, desenvolvem-se, exclusivamente, com palavras e frases protocolares. E os poucos que pertencem a uma genealogia oposta são marginalizados ou tidos como anacronismos.

Há, nesta gente, falta de garra, de honra, de competência, de credibilidade, de integridade, de vergonha. Trabalhadores precários: 1 700 000. População empregada: 5,2 milhões de pessoas. Desempregada: cerca de meio milhão. Dois milhões de portugueses na faixa da pobreza. São conhecidos os vencimentos escandalosos, as mordomias, as pensões de reforma não apenas no "privado" como no "público". O regabofe na sociedade portuguesa é mais do que revoltante. O PS é uma desgraça. O Governo "socialista" uma miséria. E ambos têm de saciar imensos e sôfregos apetites.

Manuel Alegre repetiu o que se sabe - e que só o não sabe quem o não quer saber. Afinal, pouco se ambiciona do PS: apenas um bocadinho de socialismo."
Baptista-Bastos, Diário de Notícias de 13/02/2008

FAR

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Dupond e Dupont


O mais curioso nos debates parlamentares desde o final do guterrismo é o facto de o principal, talvez até o único argumento que PS e PSD utilizam é o de "o nosso governo estar a fazer o que o governo anterior não foi capaz de fazer". Este argumento é a confissão pública de que o programa dos dois partidos é exactamente o mesmo, e o que os distinguirá é a "competência técnica". Mas se são partidos gémeos, verdadeiros Dupond e Dupont, para que servirá existirem dois, em vez de apenas um? Ah, já me esquecia: é a alternância democrática...

domingo, 8 de julho de 2007

Marques Mendes

“(...)De facto, o líder do maior partido da oposição, intervindo com frequência na campanha (o que só lhe fica bem), não sai de um registo reviralhista e nacional, como se não reconhecesse os problemas de Lisboa. É claro que ele pretende ser alternativa ao primeiro-ministro, e não ao candidato do PS à Câmara de Lisboa. Mas o seu discurso é tão centrado nos apelos à "punição" do Governo que dá aos lisboetas a ideia de que os seus problemas não são tidos em conta, antes são instrumentalizados por uma lógica de legislativas.

Isto num cenário, pelo menos plausível, de derrota, é muito arriscado. Primeiro, por permitir ao adversário vir a reivindicar, para os resultados, um alcance maior do que o verdadeiro e legítimo, que é o municipal. Segundo, porque a lógica nacional da campanha transfere, do candidato para ele próprio, a usura da derrota.

Ora Marques Mendes traz consigo uma vida de militância partidária. Não é um novato. Sabe tudo isto muito bem. E, assim sendo, esta sua escolha só pode ser um "perdido por cem, perdido por mil". Uma dramatização de um mau resultado em Lisboa, que ele já não crê poder contrariar, a servir de justificação política para umas "directas" partidárias antes do congresso que a oposição interna pretende convocar. Mau agoiro para o PS, que decerto gostaria de o ter pela frente em 2009.”

Nuno Brederode Santos, Diário de Notícias 08/07/2007

segunda-feira, 21 de maio de 2007