Glosando o José Gil que falou de cidades inteligentes numa entrevista a propósito da sua última aula.
Será uma cidade inteligente a que cria uma fronteira entre a cidade e o rio?
Será uma cidade inteligente a que produz a amálgama humana indiferenciada nas horas de ponta ao ponto do corpo automático, da mecânica desistente, do cérebro embotado de esforço resistente?
Será uma cidade inteligente a que tem milhares de casas desabitadas e milhares de cidadãos sem habitação condigna?
Será uma cidade inteligente a que está sempre em obras e que sem obras não vive porque certamente já não se revê nem conhece?
Será uma cidade inteligente a que vê cair casas antigas como cogumelos nascendo em período de humidades férteis?
Será uma cidade inteligente a que esvazia humanamente os centros históricos, deixando a pedra bela entregue à corrosão do vazio?
Será uma cidade inteligente a que não cria uma vida cultural integrada e exposta à escolha inteligente de cada um no trajecto de vida diária dos seus afazeres e pausas?
Será uma cidade inteligente a que vive mais do marketing que a promove do que da vida que cria e confunde vida com “animação”(insuflada ginástica autárquica de flores de plástico)?
Será uma cidade inteligente a que multiplica parques de estacionamento ao ponto de caminharmos para uma cidade dos automóveis mais do que para uma cidade das pessoas?
Será uma cidade inteligente a que necessita da multiplicação dos policiamentos na rua?
Será uma cidade inteligente a que a qualquer quantidade de água responde com a multiplicação dos lagos espontâneos a fazer de nós primatas anfíbios?
Será uma cidade inteligente a que multiplica os signos de uma tradição vazia para turista ver, mais logotípica que vida própria?
Será uma cidade inteligente a que não irradia o ruído interminável da primeira ponte, ruído dos rodados sobre a conhecida grelha metálica, a multiplicar a agressão sonora constante pela bacia fora do rio que o reflecte em toda a cidade ribeira?
E onde uma cidade dos afectos expansíveis? Do prazer da polémica em longos trajectos de silêncio feitos a pé? Dos passeios sem limite que não sejam os passeios determinados como passeios numa lógica mais de zoo humano que de liberdade cívica e de passos errantes? Uma cidade em que a vida se misture com a inteligência criativa e dela se não distinga como o próprio prazer que se cria numa nova arquitectura de relações surpreendentes.
Será uma cidade inteligente a que não permite a inteligência, mas produz a irritabilidade e, por assim dizer, legitima a cólera e o atropelo constantes?
E onde há cidades inteligentes? Elas existem. Já vimos grandes metrópoles em que o espaço para respirar é um espaço real e o fluxo da vida não produz constantemente o registo agressivo e xenófobo.
Valha-nos certamente o Bristish Bar, onde o tremoço ainda faz bandeira e a polémica vital é uma postura de todas as famílias que o frequentam.
FMR
Mostrar mensagens com a etiqueta British Bar. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta British Bar. Mostrar todas as mensagens
terça-feira, 16 de março de 2010
anaCrónicas 8
Etiquetas:
anaCrónicas,
British Bar,
José Gil,
Lisboa
terça-feira, 31 de julho de 2007
Universidade de Verão
Como o tempo flui…qual Proust avec esteróides. Pois é, aí está novamente, em Setembro, a incontornável ‘Universidade de Verão’, uma iniciativa conjunta dos Viggis e do British Bar, ou, como agora se diz, uma PPP. Parceria Público Privado. NOTA: O governo de José Sócrates reconheceu utilidade pública aos Viggis e, fiquem sabendo, está na calha a constituição de uma fundação. Não se riam, outras há que começaram com menos, e a FV vai arrancar com uma forte dotação moral, algum entusiasmo e 1 (um) Euro.
Veremos. Esta edição, como é de su timbre, contém um programa mínimo, de referência, desenrola-se irregularmente, pode mesmo não se realizar- já tem acontecido. Seja como for, o segmento ‘temas livres’ ancora o evento e resguarda-o da imprevisibilidade dos participantes.
Assim, o capítulo ivre vai ser dominado constitucionalmente pela readmissão, ou não, de Gomes da Silva. Outrora, inquestionado secretário-geral, sei lá, numa fase mais leninista, GS, recordam-se, foi consensualmente expulso dos Viggis. Dá-se o caso que o seu substituto só aguentou um Concerto do Mad Dog e Los Santeros, pelo que ou se arranja outro pretendente ou recupera-se o Gomes da Silva. Veremos.
O subtema África será, este ano, dedicado, no campo das personalidades, à eleição dos Grandes Moçambicanos- uma atenção especial a um bando significativo de frequentadores deste blogue, alguns dos quais, como se tem visto, descobriram muito recentemente que viveram numa “colónia”. Sapristi.
Em jeito de mote, aqui vão algumas sugestões: Roy (esta só o Armando atina), Zeca Russo, Gungunhana, Gigante de Manjacaze, talvez o maior, Graça Mandela, Jovem Chissano, Chissano Jovem, colectivo, o nosso favorito, Luis Filipe “Ché”, Ângela Chin, Baboori, Dillon Ginje, José Henrique Barros, Kassiamatos e Fredmatos, Nicos Burro, Mão de Galinha, Mondlane, Aquino, Eusébio, Palma Pinto, Malangatana e Rosa do Incomáti.
No campo das ideias, e dependendo da qualidade da erva, será dissecada a problemática questão dos combustíveis verdes e culturas de substituição-eu próprio tenho uma ou outra ideia sobre isto- e a muito actual dúvida: Guebuza é filho de Putin? Ou não se lhe reconhece esta progenitura?
Bom, mas esta é uma secção especializada. Nós vamos apostar no programa de referência e há para todas as sensibilidades. John Twelve para os mais cacimbados, Programa de António Costa para Lisboa, um golpe radical no anátema “Lisboa es la promesa nunca cumplida de um pasado mejor”, uma introdução a Gerald Durrell “My Family and Other Animals”e, esperamos que o FAR esteja disponível, uma panorâmica sobre Philippe Sollers. Não faltem.
JSP
Veremos. Esta edição, como é de su timbre, contém um programa mínimo, de referência, desenrola-se irregularmente, pode mesmo não se realizar- já tem acontecido. Seja como for, o segmento ‘temas livres’ ancora o evento e resguarda-o da imprevisibilidade dos participantes.
Assim, o capítulo ivre vai ser dominado constitucionalmente pela readmissão, ou não, de Gomes da Silva. Outrora, inquestionado secretário-geral, sei lá, numa fase mais leninista, GS, recordam-se, foi consensualmente expulso dos Viggis. Dá-se o caso que o seu substituto só aguentou um Concerto do Mad Dog e Los Santeros, pelo que ou se arranja outro pretendente ou recupera-se o Gomes da Silva. Veremos.
O subtema África será, este ano, dedicado, no campo das personalidades, à eleição dos Grandes Moçambicanos- uma atenção especial a um bando significativo de frequentadores deste blogue, alguns dos quais, como se tem visto, descobriram muito recentemente que viveram numa “colónia”. Sapristi.
Em jeito de mote, aqui vão algumas sugestões: Roy (esta só o Armando atina), Zeca Russo, Gungunhana, Gigante de Manjacaze, talvez o maior, Graça Mandela, Jovem Chissano, Chissano Jovem, colectivo, o nosso favorito, Luis Filipe “Ché”, Ângela Chin, Baboori, Dillon Ginje, José Henrique Barros, Kassiamatos e Fredmatos, Nicos Burro, Mão de Galinha, Mondlane, Aquino, Eusébio, Palma Pinto, Malangatana e Rosa do Incomáti.
No campo das ideias, e dependendo da qualidade da erva, será dissecada a problemática questão dos combustíveis verdes e culturas de substituição-eu próprio tenho uma ou outra ideia sobre isto- e a muito actual dúvida: Guebuza é filho de Putin? Ou não se lhe reconhece esta progenitura?
Bom, mas esta é uma secção especializada. Nós vamos apostar no programa de referência e há para todas as sensibilidades. John Twelve para os mais cacimbados, Programa de António Costa para Lisboa, um golpe radical no anátema “Lisboa es la promesa nunca cumplida de um pasado mejor”, uma introdução a Gerald Durrell “My Family and Other Animals”e, esperamos que o FAR esteja disponível, uma panorâmica sobre Philippe Sollers. Não faltem.
JSP
Etiquetas:
British Bar,
Moçambique,
Viggismo
sexta-feira, 27 de abril de 2007
Digressão interna I
Como soe dizer-se, o prometido é devido...mais os juros simplesmente vincendos. Dirijamo-nos, pois, ao local e momento em que arrancou a digressão de Mad Dog Clarence, descrito nas publicações da indústria, pouco, e no boca-a-boca, muito, como o ‘mítico bluesman do Cais do Sodré’, por terras inóspitas do Barreiro.
Porque a logística é complicada, tanto mais que, para além do staff técnico que habitualmente acompanha o artista, daquela feita pontificavam delegações do exterior (Suécia e China), o “party”, no sentido de grupo, bando, delegação, concentrou-se, pois claro, no British Bar, ao Cais do Sodré. Daí executar-se-ia a ‘transfega’ do artista e convivas para a Outra Margem, onde residem, aliás, os três elementos da banda de apoio nos concertos do Clarence: “Los Santeros”. Sigamos por narrativa simples, pesem os sacrifícios da estilística e da prosódia. Prosódicos não paródicos.
Pelos princípios da tarde de sábado, cerca das 5 horas, Mad Dog e convidados, mal refeitos, ou ainda desfeitos, da noute de sexta-feira, foram arribando à sala de reuniões do BB. Completada a guarnição, passou-se ao briefing técnico/artístico- acústica na sala do El Mareado, play-list, afinação dos instrumentos, as estafada leviandades sobre a origem dos blues, do delta aos urbanos, style, suportes de gravação, e, não há volta a dar, cachets. E outros assuntos menores, tais como a ausência de horários, consequências do desconhecimento da localização do espaço do concerto- “é ali, mais ou menos, perto do El Mareado…a malta pergunta, alguém saberá”, e, principalmente, onde estavam os Santeros?
Claro, simultaneamente, sem prejuízo da atenção prestada às explicações do Clarence, foram sendo tombados os primeiros baldes de cerveja. O Mad Dog optou pelas Cubas Libres, ao que disse, por motivos exclusivamente vocais.
Não se pense, todavia, que o nível desta etapa preliminar foi baixo, embora tivesse sido necessário recorrer a um produto orgânico- química, só mesmo a guerra- deveras estimulante. Discutiram-se, por exemplo, questões como a globalização e as fiscalidades dos países escandinavos, melhor, providência e previdência- o líder da delegação sueca concretizou como “filhos da puta da direita querem que eu pague impostos…eu, que nunca paguei”, justificando com o erro induzido por uma má percepção da utilidade marginal keynesiana “pensei que isso significa que é mais útil ficar na margem, recebendo e não pagando”-, a iminente desintegração do Bloco de Esquerda, o excelente trabalho que vem sendo feito pelo governo de José Sócrates, a castidade de Bento XVI como alegoria, o irreversível regresso à economia de subsistência no Zimbabué, o denominado, por mim próprio, ‘axioma da machamba’, a revisão do Processo Penal e a SAD do Benfica e a possibilidade de cantar um blue em crioulo cabo-verdiano. Mad Dog trazia, inclusive, uma proposta de letra; o colectivo entendeu que os públicos lusos mal-versados nas subtilezas daquele patois poderiam achar estranho um poema cujos versos terminavam todos em pichón.
Duas horas e vinte baldes mais tarde, e tendo ficado decidido que seria mais prudente ir de cacilheiro, a missão cultural formou no exterior do British Bar e Mad Dog, já ataviado para o concerto (de baixo para cima, sneakers, jeans, camisa preta, gravata castanha com motivo pornográfico pintado à mão, jacket a deux poches, de um espreitava a harmónica do outro uma bomba de asma, pala preta de pirata e chapéu castanho abado ao estilo da Suazilândia) deu voz de partida. Um, dois, três, esquerdo, direito- comunas, filhos da puta-, um, dois três, esquerdo, direito- comunas, filhos da puta-, um, dois, três, esquerdo, direito- comunas, filhos da puta.
Lá fomos, cantando e rindo, em direcção ao cacilheiro, por um atalho ribeirinho que Clarence também atribuiu à excelência da governação de José Sócrates, variando, por sugestão tautológica do líder da delegação da China, então, um tudo nada o estribilho, qual sound byte, que ficaria a marcar esta grande digressão interna de Mad Dog Clarence: filhos da puta… comunas; filhos da puta…comunas; filhos da puta…comunas. E Clarence, treinando o contraponto jazzístico ao mambo trash dos Santeros, replicava: dou-vos uma carga de porrada; dou-vos uma carga de porrada; dou-vos uma carga de porrada.
Chegados ao, chamemos-lhe, terminal fluvial, já não deu tempo para molhar o bico. Foi trepar a bordo da embarcação, cuja modernidade o Clarence também associou à excelência da governação do José Sócrates, aterrar no bar, entornar alguns baldes contra o enjoo, e ameaçar perante a indiferença geral: Barreiro, vais virar braseiro. Ah! Já me esquecia: comunas, filhos da puta; filhos da puta, comunas.
JSP
Porque a logística é complicada, tanto mais que, para além do staff técnico que habitualmente acompanha o artista, daquela feita pontificavam delegações do exterior (Suécia e China), o “party”, no sentido de grupo, bando, delegação, concentrou-se, pois claro, no British Bar, ao Cais do Sodré. Daí executar-se-ia a ‘transfega’ do artista e convivas para a Outra Margem, onde residem, aliás, os três elementos da banda de apoio nos concertos do Clarence: “Los Santeros”. Sigamos por narrativa simples, pesem os sacrifícios da estilística e da prosódia. Prosódicos não paródicos.
Pelos princípios da tarde de sábado, cerca das 5 horas, Mad Dog e convidados, mal refeitos, ou ainda desfeitos, da noute de sexta-feira, foram arribando à sala de reuniões do BB. Completada a guarnição, passou-se ao briefing técnico/artístico- acústica na sala do El Mareado, play-list, afinação dos instrumentos, as estafada leviandades sobre a origem dos blues, do delta aos urbanos, style, suportes de gravação, e, não há volta a dar, cachets. E outros assuntos menores, tais como a ausência de horários, consequências do desconhecimento da localização do espaço do concerto- “é ali, mais ou menos, perto do El Mareado…a malta pergunta, alguém saberá”, e, principalmente, onde estavam os Santeros?
Claro, simultaneamente, sem prejuízo da atenção prestada às explicações do Clarence, foram sendo tombados os primeiros baldes de cerveja. O Mad Dog optou pelas Cubas Libres, ao que disse, por motivos exclusivamente vocais.
Não se pense, todavia, que o nível desta etapa preliminar foi baixo, embora tivesse sido necessário recorrer a um produto orgânico- química, só mesmo a guerra- deveras estimulante. Discutiram-se, por exemplo, questões como a globalização e as fiscalidades dos países escandinavos, melhor, providência e previdência- o líder da delegação sueca concretizou como “filhos da puta da direita querem que eu pague impostos…eu, que nunca paguei”, justificando com o erro induzido por uma má percepção da utilidade marginal keynesiana “pensei que isso significa que é mais útil ficar na margem, recebendo e não pagando”-, a iminente desintegração do Bloco de Esquerda, o excelente trabalho que vem sendo feito pelo governo de José Sócrates, a castidade de Bento XVI como alegoria, o irreversível regresso à economia de subsistência no Zimbabué, o denominado, por mim próprio, ‘axioma da machamba’, a revisão do Processo Penal e a SAD do Benfica e a possibilidade de cantar um blue em crioulo cabo-verdiano. Mad Dog trazia, inclusive, uma proposta de letra; o colectivo entendeu que os públicos lusos mal-versados nas subtilezas daquele patois poderiam achar estranho um poema cujos versos terminavam todos em pichón.
Duas horas e vinte baldes mais tarde, e tendo ficado decidido que seria mais prudente ir de cacilheiro, a missão cultural formou no exterior do British Bar e Mad Dog, já ataviado para o concerto (de baixo para cima, sneakers, jeans, camisa preta, gravata castanha com motivo pornográfico pintado à mão, jacket a deux poches, de um espreitava a harmónica do outro uma bomba de asma, pala preta de pirata e chapéu castanho abado ao estilo da Suazilândia) deu voz de partida. Um, dois, três, esquerdo, direito- comunas, filhos da puta-, um, dois três, esquerdo, direito- comunas, filhos da puta-, um, dois, três, esquerdo, direito- comunas, filhos da puta.
Lá fomos, cantando e rindo, em direcção ao cacilheiro, por um atalho ribeirinho que Clarence também atribuiu à excelência da governação de José Sócrates, variando, por sugestão tautológica do líder da delegação da China, então, um tudo nada o estribilho, qual sound byte, que ficaria a marcar esta grande digressão interna de Mad Dog Clarence: filhos da puta… comunas; filhos da puta…comunas; filhos da puta…comunas. E Clarence, treinando o contraponto jazzístico ao mambo trash dos Santeros, replicava: dou-vos uma carga de porrada; dou-vos uma carga de porrada; dou-vos uma carga de porrada.
Chegados ao, chamemos-lhe, terminal fluvial, já não deu tempo para molhar o bico. Foi trepar a bordo da embarcação, cuja modernidade o Clarence também associou à excelência da governação do José Sócrates, aterrar no bar, entornar alguns baldes contra o enjoo, e ameaçar perante a indiferença geral: Barreiro, vais virar braseiro. Ah! Já me esquecia: comunas, filhos da puta; filhos da puta, comunas.
JSP
Etiquetas:
Barreiro,
Blues,
British Bar,
China,
Los Santeros,
Mad Dog,
Suécia,
Viggismo
Subscrever:
Comentários (Atom)