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sexta-feira, 30 de maio de 2008

Da Capital do Império

Olá!
O mês de Maio acabou e com ele devem também acabar os artigos, palestras, análises, debates, livros, ensaios, documentários e testemunhos sobre o Maio 68. Tudo isso quanto a mim só demonstra que o maralhal que nessa época se dizia e julgava revolucionário é hoje o maralhal que domina os centros de decisão cultural – jornais, rádio, televisão, cinema. Tenho a dizer que não vejo nada de mal em que esta nova classe cultural dominante se amime de vez quando com um banho de nostalgia. O que é certo é que, caso contrário, o “Maio 68” não teria a importância que se lhe dá, principalmente tendo em conta que quando se fala em “Maio 68” se refere um período de poucas semanas em Paris e não um ano que teve também abalos noutras partes do mundo, particularmente nos países “socialistas”.
Maio de 1968 foi uma francezise, 1968 (sem o Maio) foi (talvez) importante e, em alguns casos, marcado pelo assassínio de figuras importantes (Martin Luther King e Robert Kennedy nos Estados Unidos) que resultou em actos de violência que marcaram esse ano.
Em Paris o Maio acabou como começou: com o maralhal a regressar às universidades e os trabalhadores às fábricas, trabalhadores esses (apresso-me a dizer) que pouca ou nenhuma solidariedade prática demonstraram com os estudantes e intelectuais. (Não me posso esquecer que em 1972, a trabalhar numa fábrica na Dinamarca, um ‘proleta” local me disse que em 1968 tinha ficado irritado com a estudantada “desorganizada e irresponsável”. Ainda na minha ingenuidade socialista tomei nota para me disciplinar. De imediato cortei o cabelo o que levou o tal proleta a dizer-me no dia seguinte que eu não devia ter cortado o cabelo porque “as gajas gostam de gajos com cabelo preto comprido”).
Mas voltando a 1968, parece-me que esse ano foi um tanto ou quanto esquizofrénico. Ao fim e ao cabo, e para citar creio que Milan Kundera, Maio de 68 foi em Paris uma acontecimento de “lirismo revolucionário” mas nesse mesmo ano deu-se a “Primavera de Praga” que foi “uma explosão de cepticismo pós-revolucionário”. É preciso não esquecer foi também em 68 que Fidel Castro – vestido de verde oliva à revolucionário – deu o seu aval à invasão da Checoslováquia, pondo assim fim à fantasia de uma terceira via “revolucionária” aparte dos exemplos soviético e maoísta.
O que representa 1968? Talvez, portanto, várias vertentes. Uma delas o lirismo perigoso daqueles que ainda acreditavam (acreditam) na revolução messiânica totalitária marxista -leninista e que acabaram nas franjas do Bader Meinhof, Brigadas Vermelhas, Exército Vermelho, etc., ou mais recentemente a apoiar o regime fascista/assassino de Saddam Hussein e o “sempre em pé” totalitário Fidel Castro, senão mesmo os Taliban na luta contra o “imperialismo”.
Alguns desses foram para o cemitério, outros para a cadeia, outros para o caixote do lixo da história e outros estão ainda na longa marcha para esse destino. Outra vertente será a que olha para 1968 (Paris, Checoslováquia, Portugal) e vê os acontecimentos desse ano não só um acto de revolta contra certos parâmetros da sociedade ocidental mas também (e talvez mais importante) como o princípio do fim do socialismo de bandeira vermelha, exemplificado no que se passou na Checoslováquia, nos primeiros sinais de revolta na Polónia e nas posições de Fidel Castro. Sintomaticamente, Che Guevara tinha morrido em 1967, vítima das suas próprias fantasias totalitárias de uma terceira via social-fascista, atraiçoado pelo campesinato boliviano que não alinhou nessas fantasias. Fidel mostrou ser mais realista quanto ao exercício do poder totalitário. 1968 em Paris em Maio foi talvez um episódio mais vislumbrante das eternas discussões filosóficas francesas mas foi também e acima de tudo teatro de rua com bons pecos: “as paredes têm ouvidos, os teus ouvidos têm paredes”, “sous les pavés, la plage”, “cours camarade le vieu monde est derriere toi”, "numa sociedade que aboliu a aventura a única aventura possível é abolir a sociedade”, “ quando a assembleia nacional se transforma num teatro, todos os teatros devem-se transformar em assembleias nacionais”.
No ocidente, incluindo a França, 1968 – enquanto movimento revolucionário – pouco impacto histórico teve senão paradoxalmente aquele de fortalecer o individualismo e de tornar os ditos revolucionários em – como diria Lenine – “idiotas úteis”, só que neste caso ao serviço do individualismo, uma das condições essenciais do capitalismo. O irónico será com efeito que se seguir a interpretação antitotalitária dos acontecimentos de 1968 , eles marcaram não o fim do sistema democrático ocidental (que pelo contrário se fortaleceu, cresceu e forneceu prosperidade e inovação), mas sim o triunfo do individualismo e o princípio do fim do colectivismo e da sua ideologia, não só no ocidente como também nos países “socialistas”.
A pergunta a fazer é talvez esta: que “soixante-huitard” és tu? Um/uma que segue os “diktats” dos comités partidários e/ou das ideias filosóficas “du jour” ou um/uma que segue o graffiti que afirmava: “não me libertem; eu encarrego-me disso”?

Abraços
Da capital do Império

Jota Esse Erre

sábado, 19 de abril de 2008

Maio 68: "O vulcão não está extinto"

Sucedem-se os números e edições especiais de livros, revistas e jornais sobre os 40 anos de Maio 68. Intensa polémica circula e todos os "chiens de garde" do sistema tentam minimizar ou deturpar o valor inovador do grande acontecimento. Só comparável à Revolução Francesa e à Comuna de Paris, quase dois séculos depois. Existe uma efectiva novidade e radicalismo no Maio 68 gaulês: a revolta saltou dos anfiteatros de Nanterre e da Sorbonne para as fábricas, provocando a maior Greve Geral do séc. XX. Os exemplos norte-americano e alemão parecem "casos menores " de sociologia estudantil comparados com a "explosão" social, cultural e política causada pelo Maio francês. Só os aprendizes de feiticeiro ou os lacaios do sistema despótico podem tentar lançar cortinas de fumo inconfessáveis sobre tão radical diferença e singularidade. Isso mesmo se pode ler neste diálogo entre dois historiadores da nova vaga, hoje dada à estampa no Libération, clicar aqui.


Se Pierre Encrevé destaca o "momento inacreditável de Maio 68, um grande mês de suspense, onde tudo parece mudado, suspenso", Fréderik Keck avança com a tese sobre as mutações teóricas e políticas criadas pelo fim da Guerra da Argélia em 1962. "Maio 68 é origináriamente uma reacção de revolta contra o autoritarismo politico longamente suportado. Os estudantes que militaram contra a Guerra da Argélia não esqueceram os argelinos deitados ao rio Sena, em 1961, nem os mortos perpetrados na estação de metro Charonne, em 1962” .

O artigo fala dos bloqueios sádicos da sociedade francesa, que Maio 68 estilhaçou. E destaca o papel inovador da teoria . No final da época de ouro do Existencialismo, começam a surgir os pensadores ensinados por Canguilhem, Koyré e Bachelard. O trabalho de sapa erguido a golpes de audácia por Foucault, Lacan e Althusser ou Claude Lévi-Strauss, começa a dar frutos para a "descontrução das legitimidades dominantes". Maio 68 é um grande momento de optimismo cultural e politico, frisa Encrevé.

« La peur est un terrible frein à la pensée…

P.E. : C’est un universel largement imposé, médiatiquement transmis en permanence. Il y a une construction systématique de la peur à l’appui d’un ordre social et politique international sans fondement éthique.

F.K. :Ce qui fait que l’héritage de Mai 68 est difficile à recevoir aujourd’hui, c’est la différence entre l’insouciance des étudiants de 1968 par rapport aux problèmes de la vie matérielle et la précarité des étudiants quarante ans après. Aujourd’hui, les étudiants se demandent surtout s’ils vont avoir assez d’argent à la fin du mois ou un emploi après leurs études. Dès lors, contester la société en général et s’enthousiasmer pour des discours politiques unifiants est plus difficile.

P.E. :Il y avait probablement plus de pauvres en 1968 qu’aujourd’hui. Les salaires des employés et ouvriers étaient extrêmement bas et les bourses étudiantes aussi maigres que rares. Pourtant, Mai 68 est un grand moment d’optimisme culturel et politique. Il y a une jubilation, en dépit de moments très violents. On expérimente la fraternité dans la liberté, avec l’espoir d’avancer vers l’égalité…
Vous me rappelez une réflexion de Mark Twain : «Ils l’ont fait parce qu’ils ne savaient pas que c’était impossible»…

P.E. :Et Max Weber : «Si on ne s’était pas toujours et encore attaqué à l’impossible, on n’aurait jamais atteint le possible». Une des réalités frappantes de 68, c’est le surgissement, pour un temps bref, du rêve d’un désordre juste… En 2008, dans la société française, il est interdit de ne pas interdire, dans tous les domaines. La politique judiciaire est de plus en plus répressive. Si Foucault voyait les prisons d’aujourd’hui, il n’en reviendrait pas. Sans compter l’incompréhensible violence faite aux travailleurs sans papiers, dont l’apport à l’économie est pourtant indispensable. Aujourd’hui, le monde entier expose un désordre profondément injuste, qui joue sur la peur pour se perpétuer. Je veux penser que cet universel peut se déconstruire. Que l’exigence de justice et le désir de liberté peuvent toujours ressurgir par surprise, que le volcan n’est pas éteint.
F.K. : L’université n’est plus le lieu auquel on peut s’attaquer pour faire surgir un désordre juste. C’est même un des seuls lieux où reste un semblant d’ordre dans une société régie par le désordre injuste. L’école et l’université reprennent la fonction remplie autrefois par l’Eglise, consistant à protéger des menaces du monde extérieur. Cela ne joue sans doute pas en faveur du savoir et de la transmission.
La révolution technologique actuelle a-t-elle pu contribuer à cette peur ? En quoi transforme-t-elle la transmission des savoirs ?

F.K. : Il faut se méfier de cette révolution technologique, car elle risque de détruire l’université au profit d’un savoir entièrement virtuel. J’en prends pour indice le fait qu’en préparation à l’éventualité d’une pandémie de grippe aviaire, tous les cours ont été enregistrés pour que les étudiants puissent les suivre chez eux. C’est très bien de garantir la continuité de l’enseignement, mais il me semble que cette université virtuelle réalise un des rêves de Mai 68 : un enseignement sans maître. C’est un rêve dangereux. Mai 68 montre que la relation maître-élève est nécessaire, même si elle est potentiellement oppressive, justement parce que, en tant que relation personnelle, elle ouvre la voie à la contestation. Il est plus facile de contester l’autorité d’un maître que celle d’un ordinateur.

P.E. :Quand j’étais étudiant, seul le professeur avait accès aux textes qui permettaient de fonder une parole magistrale. Il était difficile d’entrer dans la bibliothèque de la Sorbonne et interdit aux simples étudiants d’aller dans les rayons. A Paris, jusqu’à Vincennes, il n’y avait pas de bibliothèque universitaire en accès libre. Mais cette question est radicalement transformée par Internet, qui intervient désormais massivement dans la distribution des ressources qui fondent le savoir. S’instaure une vraie démocratisation de l’accès aux sources, mais sans la transmission personnelle typique du système d’enseignement, inséparable de l’autonomisation du sujet.

F.K.: L’autonomie, qui est un des buts de 68, n’est pas donnée, elle suppose des conditions sociales qui doivent être construites et soutenues.
P.E.: Mai 68, dans sa vivacité non repérable, résonne toujours comme un appel à ne pas renoncer à devenir sujet de son histoire, individuellement et collectivement. Mais le mode d’emploi est sans cesse à réinventer.»
Libération

FAR

sábado, 29 de março de 2008

Diálogo Touraine/Marcela Iacub: “Maio 68, liberdade sem fim…”

Esta longa entrevista publicada hoje no Libération, dá sequência ao exponencial de textos que surgem para comemorar/perspectivar Maio 68. Trata-se de um diálogo entre o venerando sociólogo Alain Touraine e a historiadora Marcela Iacub. Touraine, que hoje navega nas águas de um Michel Rocard, revela alguns lances da sua convivência com Cohn-Bendit, em Nanterre, onde tudo começou em 22 de Março de 1968. Ler o texto na íntegra, aqui.
Touraine desenvolve mais alguns lances da sua dinâmica reflexão sobre a importância dos movimentos sociais e da representação política. “Hoje, não se acredita na acção. Apoiar a acção era acreditar na acção política contra os monarcas e,sobretudo, apoiar o movimento operário”. E tudo porquê? Ele tenta explicar: “Creio que, com o fim do movimento operário, a extinção da União Soviética e a supremacia dos EUA, a cena social francesa esvaziou-se”.

Maio 68 é qualquer coisa de extremamente novo, que o sistema politico e cultural não estavam preparados para receber. Se se fala, hoje, tanto dele, é por que esse acontecimento singular recomeça a fazer sentido. O periodo liberal posto em prática em 1970/75 na Europa, começa a dar sinais de esvaziamento. Não se pode viver sem um grande projecto. E o projecto consiste em reconstruirmos o que foi desfeito e desfigurado”, sublinha.

Marcela Iacub perspectiva mais a libertação dos sentimentos, desde o início da Revolução Francesa. Touraine destaca o facto de, ao contrário da Inglaterra, o direito de voto para as mulheres em França, ter sido só reconhecido em 1945. “Os estudantes exprimiram um sentimento de grande ruptura e in-ovação. Entrámos, de repente,num mundo que se desconhecia. A França acabava de sair de uma série de acontecimentos maiores: as guerras mundiais, depois a reconstrução e depois as guerras coloniais”, aponta o autor de “Crítica da Modernidade”.

Touraine vai ainda mais longe e afirma: “Maio 68, liberdade sem fim. Tradicionalmente, os que são liberais em economia, são repressivos culturalmente. A partir de 1975, entramos num periodo liberal. É o início de um periodo repressivo que, actualmente, tomou formas gigantescas. Entre meados dos anos 70 e hoje, assistimos a uma regressão enorme. O que se discute sobre a prisão perpétua para os delinquentes sexuais susceptíveis de reincidirem, era impensável há trinta anos atrás".

FAR

sexta-feira, 28 de março de 2008

Toni Negri ao “Le Monde”: Maio 68 corre-nos nas veias para sempre!

Os 40 anos da efeméride exaltante de Maio 68 prometem um dilúvio de teses e de cerimónias evocativas. O Le Monde, o jornal de centro-esquerda francês mais conhecido no Mundo, resolveu dar à estampa um número Especial sobre o tema. Sob a batuta do sociólogo Jean Birnbaum, optou por entrevistar António Negri, um dos mais conhecidos filósofos e altermundialistas da mouvance italiana.
Negri anuncia na sua residência de Veneza, que quer compor uma Autobiografia para ser publicada até ao final do ano.

O “maestro cattivo”, o cúmplice de Deleuze e Guattari, traça as diferenças essenciais entre o Maio 68 francês e o italiano. A experiência italiana começou nas fábricas e repercutiu-se nas Universidades. A insurreição tricolor começou em Nanterre-Universidade, se bem que Debord e os seus muxaxos tenham andado a espevitar a coisa uns anos antes por Estrasburgo, Lille e Toulouse.

“Sim, Maio 68, foi o fim do velho movimento operário. A reconstrução terminou e assiste-se a uma formidável mutação dos assalariados. Em Maio 68 nasce um movimento que procura reinventar o comunismo de outra forma. Depois disso, o capitalismo soube-se organizar. Helàs, ao contrário do movimento operário”, afirma Negri.

Birnbaum questiona-o se o conceito de “multitude”- massa, classe e outras coisas mais - nasceu em Maio 68. Negri atira: “ O operário indistinto cede o seu lugar ao trabalhador social. Na linguagem marxista, fala-se de produção para as mercadorias e de reprodução para a vida. Melhor seria realizar o inverso: dizer produção quando se fala da vida e reprodução quando diz respeito às mercadorias. É esta mutação que é fundamental em Maio 68“.

“Afirmar que a produção é cada vez mais “ imaterial”, é sublinhar que em realidade ela se torna cada vez mais vital, e que o elemento corporal se revela decisivo. 68, é a revolução dos corpos, uma reivindicação de libertinagem que passa pela libertação do desejo“, reitera.

Negri elabora um terrível requisitório contra a Esquerda tradicional: “O socialismo real é incapaz de compreender isso: não é mais possível organizar a produção e as pessoas de maneira vertical e hierarquizada. Passámos da hierarquia às redes! Em Maio 68, isso foi claro, nós tínhamos assimilado essa mutação, de um ponto de vista teórico. Mas perdemos sobre o terreno político."

“Como diz a anedota, os verdadeiros marxistas estão em Wall Street. A esquerda não conseguiu compreender esta mutação. Ela abordou-a, tão-só, sob o aspecto negativo, da forma: o comunismo acabou. Existe uma grande crise da Esquerda, hoje. Não é somente devido ao facto de não ter compreendido a nova base material da nossa sociedade. Mas também isso se prende com o facto de não ter sabido mudar, de não ter conseguido reorganizar-se, acabar com a velha forma do partido bolchevique, um modo de funcionamento que não se adaptará nunca mais ao processo de trabalho actual, isto é, intelectual e baseado em redes “. E conclui: “ Mas o pior erro da esquerda, é de não compreender a fraqueza do capitalismo, que é agora obrigado a apoiar-se num tipo de pessoas como Bush, Berlusconi ou Sarkozy. O sistema está terrivelmente fragilizado, porque o capitalismo financeiro é uma forma absurda de dominação: eis, o que a Esquerda não percebeu“.

FAR

Slogans de Maio de 68

* Il est interdit d'interdire.
(It is forbidden to forbid.)

* Soyez réaliste, demandez l'impossible.
(Be realistic, demand the impossible.)

* Ne travaillez jamais.
(Never work.)

* Je prends mes désirs pour des réalités car je crois en la realité de mes desirs.
(I treat my desires as realities because I believe in the reality of my desires.)

* L'ennui est contre-révolutionnaire.
(Boredom is a counter-revolutionary act.)

* Nous ne voulons pas d'un monde où la certitude de ne pas mourir de faim s'échange contre le risque de mourir d'ennui.
(We don't want a world where freedom from dying from hunger comes at the risk of dying of boredom.)

* Le patron a besoin de toi, tu n'as pas besoin de lui.
(The boss needs you. You don't need him.)

* Travailleur: tu as 25 ans mais ton syndicat est de l'autre siècle.
(Worker: you are 25 years old but your trades union belongs to another century.)

* On achète ton bonheur. Vole-le.
(They are buying your happiness. Steal it back.)

* Sous les pavés, la plage.
(Under the cobble-stones, the beach.)

* La barricade ferme la rue mais ouvre la voie.
(Barricades shut down the street but open the way.)

* Le réveil sonne: première humiliation de la journée.
(The alarm clock rings: first humiliation of the day.)

* Imagine: c'est la guerre et personne n'y va!
(Imagine: there was a war and no one turned up!)

* Cours camarade, le vieux monde est derrière toi.
(Run comrade, the old world is behind you.)

* Elections, piège à cons.
(Elections, traps for idiots.)

* Dieu, je vous soupçonne d'être un intellectuel de gauche.
(God, I suspect you of being a left-wing intellectual.)

* Les murs ont des oreilles. Vos oreilles ont des murs.
(Walls have ears. Your ears have walls.)

* Ne vous emmerdez plus! Emmerdez les autres!
(Don't screw yourself up any more! Screw up other people!)

* Vous finirez tous par crever du confort.
(You will all finish up by dying from comfort.)

* La forêt précède l'homme, le désert le suit.
(Forests came before man, the desert comes afterwards.)

* Je suis marxiste, tendance Groucho.
(I am a marxist, Groucho tendency.)

* A bas le réalisme socialiste. Vive le surréalisme.
(Down with socialist realism. Long live surrealism.)

Compiled by John Lichfield
Friday, 22 February 2008
The Independent

Via Bicho Carpinteiro

segunda-feira, 24 de março de 2008

Maio de 68 - Colóquio Internacional - 11 e 12 de Abril em Lisboa

RESUMO DAS COMUNICAÇÕES

Teses sobre a geração dos anos 60 em Portugal e a questão da hegemonia
Fernando Rosas
Pretende-se discutir o papel que o "Maio de 68" em Portugal, ou seja, a contestação estudantil de 1969, desempenhou na radicalização da luta política em geral e na alteração das relações de hegemonia em favor das mundivisões marxizantes e revolucionárias na sociedade portuguesa da época.
Fernando Rosas, Historiador, Professor catedrático da FCSH da Universidade Nova de Lisboa. Autor de bibliografia sobre a História do séc. XX em geral e a História do Estado Novo português em particular.

Um conto de duas Europas
Gerd-Rainer Horn
Em quase todo o lado o meio estudantil universitário serviu de catalisador para "1968", e isto será exemplificado com um breve olhar sobre as origens do 1968 Belga. Contudo, podemos distinguir dois padrões bem distintos na Europa Ocidental e nos Estados Unidos em 1968. Na "Europa do Norte" e nos Estados Unidos, 1968 representou sobretudo uma série de movimentos sociais de base estudantil. Na "Europa do Sul", 1968 foi muito mais transclassista, com a classe operária a assumir um papel proeminente.
Gerd Rainer Horn ensina no departamento de Hiatória da Universidade de Warwick e escreveu The Spirit of '68.

Maio de '68 como revolução cultural
Manuel Villaverde Cabral
Testemunho pessoal sobre o momento mais alto de um movimento social internacional que não queria o poder, mas que nem por isso – ou talvez por isso – deixou de mudar o mundo.
Manuel Villaverde Cabral nasceu em 1940. Fugiu à PIDE em 1963, indo para Paris onde trabalhou e estudou. Voltou a Portugal em 1974, ingressou na carreira docente no ISCTE, entrou para o antigo Gabinete de Investigações Sociais em 1975, passando para a carreira de investigação quando foi criado o Instituto de Ciências Sociais na Universidade de Lisboa em 1982. Foi Director da Biblioteca Nacional entre 1985 e 1990.

Maio de 68: do «assalto ao céu» ao capitalismo em rede. O papel dos situacionistas
Anselm Jappe
Começaremos por abordar a questão de saber qual foi a «influência» dos situacionistas em Maio de 68 bem como na sua preparação, opondo a outros movimento políticos e intelectuais mais visíveis da época a sua própria agitação subterrânea. Sublinharemos de seguida que Maio de 68 constituiu simultaneamente um esforço de emancipação mas também o início da passagem para uma nova forma mais subtil de dominação capitalista. Neste contexto, recorreremos às ideias de Guy Debord para compreender esta evolução tirando daí algumas consequências.
Anselm Jappe ensina estética na Escola de Belas Artes de Frosinone (Itália). É autor de Guy Debord (edíção portuguesa da Antígona prevista para 2008) e As aventuras da mercadoria. Para uma nova crítica do valor.

Lançamento do livro Guy Debord, pela Editora Antígona
12 de Abril 21h30
Fábrica de Braço de Prata
Apresentação por Ricardo Noronha


«Como é possível pensar que se possa quebrar o ciclo vicioso [da dominação]?»Daniel Bensaïd
Era esta a questão colocada, logo em 1964, por Herbert Marcuse, em L'homme unidimensionnel, e que assolava a sua época. A exuberância dos acontecimentos de Maio terá significado um princípio de resposta à questão ou confirmado, pelo contrário, o fecho daquele ciclo vicioso, como parece indicar a evolução posterior da obra de Debord ou de Baudrillard: depois do espectáculo, estado supremo do fetichismo da mercadoria, o simulacro, estado supremo do espectáculo?
Daniel Bensaïd é Professor de Filosofia na Universidade de Paris VIII (Vincennes) e dirigente da Ligue Communiste Révolutionnaire (IV Internacional). Participante no movimento estudantil em Maio de 1968, é autor, entre outras, das seguintes obras: Mai 1968: Une répétition générale (1968), Walter Benjamin sentinelle messianique (1990), Marx l'intempestif : Grandeurs et misres d'une aventure critique (1996).

1968: o fim do intelectual sartriano
Judith Revel
1968 não constitui apenas o levantamento de uma geração que não quer mais viver de forma semelhante à dos seus pais, alimentando-se da mesma memória – de Vichy, das guerras coloniais – e reconhecendo-lhe os valores. Constitui também uma outra forma de conceber a tomada da palavra e a acção colectiva, os modos de intervenção política e os processos de subjectivação. Nesta grande transição de uma época à outra, a própria função dos intelectuais vê-se profundamente redefinida: o modelo sartriano de envolvimento político cede pouco a pouco o lugar a uma outra figura que, por seu turno, implica já uma análise diferente das relações de poder e do papel do conhecimento, da função das lutas e dos usos colectivos da palavra. De Sartre a Foucault, trata-se pois de uma passagem de testemunho em forma de ruptura – que quarenta anos depois não deixa de suscitar mal-entendidos.
Judith Revel, filósofa, italianista e tradutora, docente (maître de conférences) na Universidade de Paris-I Sorbonne. Especialista em pensamento contemporâneo, particularmente no de Michel Foucault, a quem consagrou numerosos livros e artigos, trabalha actualmente sobre as categorias políticas anteriores e posteriores a 1968. Integra a redacção das revistas Posse (em Itália) e Multitudes (em França), e o gabinete científico do Centre Michel Foucault. Membro da equipa de investigação ANR «La bibliothéque foucaldienne. Michel Foucault au travail" (CNRS-ENS-EHESS).

Participação, encontro, memória: os imigrantes e o Maio de 68
Maud Bracker
Esta comunicação debruça-se sobre alguns dos modos pelos quais os principais grupos que encabeçaram o Maio de 68 em França – estudantes, intelectuais, sindicalistas – tentaram compreender a emergência do mundo pós-colonial, e integraram essa passagem ao pós-colonialismo na sua oposição ao capitalismo. Contudo, as teorias e a acção em solidariedade com os trabalhadores imigrantes que se desenvolveram durante e após 1968 herdaram das formas mais antigas do anti-imperialismo marxista europeu alguns dilemas não-resolvidos.
Maud Bracke dá aulas de História Moderna Europeia na Universidade de Glasgow. É autora de Which socialism, whose détente? West European communism and the Czechoslovak crisis of 1968.

Estudantes ou trabalhadores?
João Bernardo
Será paradoxal que os participantes num movimento que jornalistas e historiadores insistem em classificar como estudantil colocassem principalmente problemas políticos e sociais relativos à classe trabalhadora? O desenvolvimento do capitalismo, com as pressões ao aumento da produtividade e com a necessidade de qualificar a força de trabalho, converteu universidades de elite em universidades de massa e transformou a maioria dos estudantes universitários em futuros trabalhadores.
João Bernardo é doutor pela Unicamp (Brasil). Em 1965 foi expulso por oito anos de todas as universidades portuguesas. Desde 1984 tem leccionado como professor convidado em universidades públicas brasileiras. É autor de numerosos artigos e livros.

1968 e a génese do Cognitariado
Franco Berardi (Bifo)O movimento de 1968 representa o efeito da escolarização de massas e a primeira manifestação política da emergência do cognitariado, classe do trabalho cognitivo, composição social que se tornou predominante no final do século, com a difusão da rede.
Rádios piratas, cibercultura, net-art, são as manifestações sucessivas do trabalho cognitivo em busca da sua própria autonomia. Só reencontrando o fio (actualmente submerso) da revolta de sessenta e oito poderá o trabalho cognitivo empreender um processo de recomposição e autonomia.
Franco Berardi (Bifo), militante do Potere Operaio nos anos 60, redactor da Radio Alice em 1976 e fundador da revista A/traverso. Autor de Contro il lavoro, Mutazione Ciberpunk e Felix. Colabora actualmente com a revista on-line www.Rekombinant.org, ensina em Bologna numa escola para trabalhadores emigrantes e em Milão na Accademia di Belle Arti.

As greves operárias em França em 1968
Xavier Vigna
O movimento de Maio e Junho de 1968 em França constitui o mais importante fenómeno grevista de toda a história do país. Alarga-se a todo o território e mobiliza também operários de que até então não se falava: os jovens, as mulheres, os imigrantes. Retoma um vigoroso repertório de acções e levanta questões que não encontraram ainda resposta quando finalmente se retoma o trabalho em Junho de 1968. Nessa medida, o movimento grevista de Maio-Junho de 1968 constitui um evento que inaugura um período de dez anos de insubordinação operária: a década de 68.
Xavier Vigna, docente (maître de conférences) em história contemporânea na Universidade de Bourgogne, trabalha sobre a conflituosidade social e política na segunda metade do século XX. Publicou recentemente L'insubordination ouvrière dans les années 68. Essai d'histoire politique des usines.

Maio de 68, herança por reclamar na divisão de perdidos e achados da História
Yann Moulier Boutang
Começou por ser grande o interesse na recuperação de Maio de 68, depois na sua liquidação. Abordaremos aqui um ponto de vista radicalmente diferente relativamente ao qual trataremos dois aspectos: 1) Que foi realmente Maio de 68? Canto do cisne do movimento operário, outro movimento operário, proclamação oculta do verdadeiro sujeito da renovação radical do capitalismo? 2) Qual o legado não reclamado mas efectivo de Maio de 1968? Concluímos que o evento foi e continua a ser critério de demarcação entre duas fases, embora não necessariamente do modo condensado pelas diferentes cristalizações fantasmáticas que gerou e continua a produzir.
Director da Redacção da revista Multitudes. Professor universitário de ciências económicas (Universidade de Tecnologia de Compiègne e Escolas de Arte e Design de Saint Etienne).

1968 e a Crise do Trabalho Abstracto
John Holloway
1968 tornou evidente que a crise do trabalho é a crise do capital, que a luta contra o trabalho é a chave da luta contra o capital. Em 1968, o fazer fendeu o trabalho e transbordou. Falar hoje de 1968 não é falar de um legado histórico, mas sim das reverberações causadas por essa fissão.
John Holloway é professor na Universidade Benemérita de Puebla, no México. É autor de vários livros, publicados em vários países, o mais recente dos quais, Mudar o Mundo sem Tomar o Poder.

A revolução da vergonha
Bruno Bosteels
Partindo do famoso poema de Octavio Paz, publicado pouco depois do massacre de Tlatelolco no México em 2 de Outubro de 1968, poema inspirado nas cartas de Karl Marx ao seu amigo Arnold Ruge, discutirei o destino da esquerda no período posterior a 1968 em termos de vergonha e de melancolia, de coragem e de justiça. Não é apenas Sarkozy e os seus acólitos pseudo-intelectuais que pretendem acabar com o legado de 1968; na realidade, semelhante legado vê-se igualmente corroído a partir do seu interior por uma forte tendência de negação, a favor de um certo recuo do político, que se proclama mais radical que qualquer noção de revolucionarização da vergonha.
Bruno Bosteels é Professor Associado de estudos românicos na Universidade de Cornell. É autor dos livros Alain Badiou o el recomienzo del materialismo dialéctico e Badiou and Politics.

Os embalsamadores e os coveiros
François Cusset
No quadro da vastíssima bibliografia que 'explica' ou 'comemora' Maio de 68, a interpretação de esquerda, que lhe imputa o liberalismo da década de 1980, e a interpretação de direita, que o acusa de ter minado a autoridade e os valores, partilham entre si uma vontade intransigente de liquidar o movimento de Maio, denegando-lhe a dimensão de acontecimento, a sua actualidade intacta, em proveito de uma causalidade de carácter retrospectivo muito contestável. Embalsamadores de esquerda e coveiros de direita do Maio de 68 trabalham assim ombro a ombro para substituir a irrupção possível do comum pela impotência colectiva.
François Cusset, que ensina história intelectual em Sciences-Po-Paris e na Universidade de Columbia em França, é autor de Queer Critics, Frenche Theory e La Décennie. Em Maio de 2008 publica na editora Actes Sud um panfleto contras as mentiras históricas sobre 68, L'avenir d'une irruption.

MAIO' 68



POLÍTICA|TEORIA|HISTÓRIA

Colóquio Internacional
Lisboa, 11 e 12 de Abril de 2008
Instituto Franco-Português
Av. Luís Bívar, 91 | METRO: São Sebastião - Campo Pequeno.

Tradução Simultânea
Entrada Livre
Mais informações: lisboa1968@gmail.com | (+351) 213111468


Organização
Instituto Franco-Português
Instituto de História Contemporânea
Le monde diplomatique – edição portuguesa

Apoios: FCT | Fábrica de Braço de Prata | Goethe Institut | Antígona


Maio de 1968. Em Paris anuncia-se o início de uma luta prolongada. Quatro décadas depois, este colóquio internacional reúne um conjunto de reputados intelectuais cujas investigações permitiram voltar a olhar para 1968 nas suas mais variadas dimensões. Levando o debate mais além das repetidas alusões ao cariz geracional e estudantil da revolta, mapeando 1968 para lá das fronteiras da França, o colóquio confronta a importância de 1968 na emergência de novas subjectividades políticas, analisa a dimensão de luta de classes que atravessa o período e discute a persistência de Maio'68 nos conflitos políticos contemporâneos.


Os coordenadores,
Bruno Peixe (NÚMENA)
Luís Trindade (IHC-UNL/U.Birkbeck)
José Neves (ICS-UL)
Ricardo Noronha (IHC-UNL)

PROGRAMA
11 DE ABRIL


9h30
Sessão de Abertura


10h | Maio no Mundo

Fernando Rosas
Teses sobre a geração dos anos 60 em Portugal e a questão da hegemonia

Gerd-Rainer Horn
Um conto das duas europas

Manuel Villaverde Cabral
Maio de '68 como revolução cultural

14h30 | Ideias de Maio

Anselm Jappe
Maio de 68, do «assalto aos céus» ao capitalismo em rede. O papel dos situacionistas

Daniel Bensaid
Como será possível pensar poder quebrar o ciclo vicioso (da dominação)

Judith Revel
1968, o fim do intelectual sartriano

12 DE ABRIL
10h | Maio em Movimento


Maud Bracker
Participação, encontro, memória: os imigrantes e o Maio de 68

João Bernardo
Estudantes ou trabalhadores?

Franco Berardi (Bifo)
68 e a génese do cognitariado

14h30 | O Outro Movimento Operário

Xavier Vigna
As greves operárias em França em 1968

Yann Moulier Boutang
Maio de 68, herança por reclamar na divisão de perdidos e achados da História

John Holloway
1968 e a crise do trabalho abstracto

18h | 1968 - 2008

Bruno Bosteels
A revolução da vergonha

François Cusset
Os embalsamadores e os coveiros

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Maio 68: O Libé abre as anti-memórias

Neste texto de Éric Aeschimann, clicar aqui, é aberta a saison das anti-memórias de Maio 68. O facto de Sarkozy chefiar com mão pesada (e perigosa) a democracia (ainda) pluripartidária francesa, por um lado; e, por outro, o facto incandescente aventado em querer liquidar a ideia de Maio-68 pelo actual PR francês, em discurso da campanha proferido no estádio Charlety, de tão grata evocação para os amotinados de há 4o anos, fundamenta, de modo imperativo e assertivo, a vontade do grande jornal da Oposição extra-parlamentar a fazer luz agora, e já, sobre a Revolução Indeterminada, conforme a cataloga Claude Lefort.

E o grande teórico da ultra-esquerda, C. Lefort, que tem um livro traduzido por A.J.Massano sobre “Maio-68: A brecha”, publicado meses depois, em Portugal, o que é obra, vai avisando que “a singularidade do acontecimento arrisca-se a ficar dissolvida no correntio da análise”, o que, mais adiante, o leva a inquirir: “não terá sido Maio 68 um revelador, não deu expressão a uma alteração tão profunda e dissimulada na sociedade democrática”.

Passemos ao modus de articulação do texto de Aeschimann. Inúmera os grandes comentadores, detem-se em B-H. Lévy e Badiou. E revela um texto de Michel Onfray, em nome da esquerda radical que faz a ponte entre elementos do PC e da mouvance intellectual afim. E segue-se o anúncio dos primeiros livros desta colheita sobre Maio 68. E realce, por fim, para a reedição em breve de um livro da historiadora Americana, Kristin Ross, sobre Maio 68 e as suas etapes ulteriores, que ganha impacto por causa da filiação caústica bushista do novo PR. Francês.

«(…)
1978, 1988, 1998… Aussi vieille que l’événement lui-même, la discussion sur 68 connaît rituellement des accès de fièvre à l’approche de ses célébrations décennales (lire page 4). «Chaque fois, on se demande si Mai 68 fut une révolution culturelle qui a réussi ou une révolte politique qui a échoué», résume le jeune philosophe Vincent Cespedes (2). La vérité est probablement que ce fut les deux à la fois, mais qu’importe : 2008 ne dérogera pas à la règle et, une nouvelle fois, à travers les deux thèses, les deux courants rivaux de la gauche française - la gauche de gouvernement, soucieuse de «morale», et la gauche radicale, se voulant «sociale» - trouveront de quoi se regarder en chien de faïence. La première, surtout dans sa variante «gauche morale», plaidera le scénario de la révolution culturelle. A commencer par sa tête d’affiche médiatique, Daniel Cohn-Bendit, qui, d’anniversaires en anniversaires, s’en va répétant que Mai 68 fut d’abord une prise de pouvoir générationnelle, le passage d’une France archaïque à une France décomplexée. En face, dopée par ses succès électoraux, la gauche radicale a d’ores et déjà ouvert la bataille, en lançant une pétition intitulée : «Mai 68, ce n’est pas qu’un début : c’est une actualité urgente». Le texte a déjà reçu les signatures du philosophe Michel Onfray, du cinéaste Ken Loach, des élus communistes Clémentine Autain et Patrick Braouezec - ce qui ne manque pas de saveur quand on se souvient de l’hostilité du PCF et de la CGT aux manifestants de Mai.
Deux gauches, deux Mai, donc, et le fossé entre eux a trouvé une illustration à l’automne avec les livres de deux intellectuels incarnant les deux extrémités de la gauche française : Un grand cadavre à la renverse, de Bernard-Henri Lévy (3), désormais proche de Ségolène Royal ; et De quoi Sarkozy est-il le nom ? d’Alain Badiou, la nouvelle idole de l’ultragauche. Tous deux ont éprouvé le besoin de répondre à la diatribe de Nicolas Sarkozy, mais dans une optique totalement divergente. BHL y vante Mai 68 comme mise à bas de l’autoritarisme de droite et du stalinisme de gauche - «Jamais plus police ne passera à travers nos âmes», écrit-il. Badiou, lui, affirme que «Mai 68, et plus encore les cinq années qui suivirent», ont inauguré une «nouvelle séquence de l’hypothèse communiste véritable». Plaidoyers sincères, sûrement, mais qui, en accaparant l’événement, vise surtout à en priver le rival.
Ce qui permet à Michel Onfray de les renvoyer dos à dos : «Ils sont tous les deux dans une stratégie d’occupation.» On pourrait lui retourner le compliment si, sur ce point précis, le philosophe, connu pour son athéisme militant, se faisait étonnamment agnostique : «J’avais 9 ans à l’époque, je n’ai pas eu les moyens de m’engager. A côté de chez moi, la laiterie s’est arrêtée et, pour la première fois, on a dit non à Monsieur Paul, on a remis en cause l’autorité de droit divin. 68, il y a eu le meilleur, car ce fut une révolution métaphysique. Mais il y eut aussi le pire. En matière de pédagogie, par exemple, on a fait tout et n’importe quoi. C’était une phase de destruction, utile, mais qu’il faut faire suivre d’autre chose. A l’école, il faut repenser à l’apprentissage de la mémoire, les exercices, le par cœur, etc. Il faut entraîner la mémoire comme on entraîne n’importe quel organe. Mais surtout pas revenir à l’apprentissage pervers d’avant 68.» En somme, «un droit d’inventaire, mais pas une restauration»
(…).
»
Libération


FAR

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Por uma Nova Esquerda: Bruckner tenta "lift" de Sarko e outras histórias

O Libé e o Le Figaro continuam a terçar armas na guerra ideológica...
O politólogo Jacques Genereux, associado ao PS como Olivier Duhamel, por exemplo, considera que a derrota de Ségolène é muito " perturbadora". Pois, admite e sublinha, a direita tinha vindo a ser sancionada nos dois últimos anos. "A direita deveria ver-lhe assacado um balanço aflitivo em todos os tabuleiros. A candidata socialista tinha portanto a vantagem de ser a alternativa que podia incarnar a mudança e a rejeição de uma política de quebra-conquistas sociais amplamente contestada por todos os movimentos sociais", frisa, num texto que pode ler clicando aqui.
"Nicolas Sarkozy conseguiu manipular o sentimento de dignidade que confere aos humildes o sentimento de serem mais meritórios que os assistidos. Mas a sua grande força foi de combinar a ideologia (neo-liberal) com um discurso respondendo exactamente às expectativas dos trabalhadores exasperados pelos excessos e as insuficiências do capitalismo liberal: mostrou-se o defensor do poder de compra, e como o único líder ousando falar de novo de proteccionismo, e como o promotor de um Estado eficaz ao serviço do público ", adianta para retratar a campanha de Ségo deste modo: "Longe de reivindicar uma ideologia de esquerda tão determinada como a de Sarkozy, ela mostrou-se a reboque do seu rival não falando senão de ordem, do valor trabalho e da recusa da assistência parasitária ".
Pascal Bruckner, o genial ensaísta da Nova Desordem Amorosa, apoiou Sarkozy. Como o seu amigo Glucksman e o enfant-terrible mediático do mitterrandismo, Georges Marc-Benamou, o criador da famosa revista Globe dos tempos áureos do consulado do deus socialista super-vencedor. Ele tenta o impossível para recuperar Sarkozy, neste texto delirante que pode ler clicando aqui. E diz, entre muitas coisas siderantes, isto: "A sua vida privada de pai de família refeito, as suas desavenças conjugais e a sua relação descomplexada com o dinheiro são tiques tipicamente soixante-huitards. Enfim, sem a influência de Maio 68 e o seu espírito generoso, jamais os franceses teriam eleito um filho de emigrante, judeu e húngaro"... "Ao PS francês a coragem de saber se quer morrer, para melhor ressuscitar como a maioria das esquerdas europeias, ou afundar-se no culto dos pensamentos rígidos e mortos: nada de mais narcísico que a utopia quando ela prefere a secura da ideia à riqueza da realidade". Um bom debate, a ler todo...

FAR