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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Immanuel Wallerstein - China e Estados Unidos: bem além dos mitos


As relações entre a China e os Estados Unidos são uma grande preocupação dos que se preocupam com política (jornalistas, blogueiros, políticos, burocratas internacionais). A análise tradicional vê uma superpotência em declínio – os Estados Unidos – e um país que emerge rapidamente – a China. No mundo ocidental, a relação normalmente é definida como negativa, sendo a China vista como uma “ameaça”. Mas uma ameaça a quem, e em que sentido?
Alguns vêem a “emergência” da China como a retomada de uma posição central no mundo – que o país já teve e estaria retomando. Outros enxergam um processo mais recente: Beijing estaria desempenhando um novo papel nas relações geopolíticas e económicas no sistema-mundo moderno.
Desde meados do século XIX, as relações entre os dois países tem sido ambígua. Por um lado, naquele momento os Estados Unidos começaram a expandir suas rotas de comércio com a China. Enviaram missionários cristãos. Na virada do século XX, proclamaram a Política das Portas Abertas, menos dirigida para a China do que para outras potências europeias. Pouco tempo depois, participaram, com outros países ocidentais, na campanha que sufocou a rebelião Boxer, contra imperialistas estrangeiros. Dentro dos Estados Unidos, o governo (e os sindicatos) procuraram evitar a imigração de chineses.
Por outro lado, havia um certo respeito – com algumas marcas de inveja – pela civilização chinesa. O extremo leste (China e Japão) eram os locais preferidos para trabalhos de missionários, à frente da Índia e da África, com a justificativa na suposição de que a China era uma civilização “mais avançada”. Talvez a isso estivesse relacionado ao fato de nem a China, nem o Japão, terem sido directamente colonizados, na maior parte de seus territórios. Por isso, nenhuma potência colonial europeia tentou reservar os dois países para seus próprios missionários.
Depois da revolução chinesa de 1911, Sun Yat-Sen, que viveu nos Estados Unidos, tornou-se uma figura simpática no discurso estadunidense. E na época da Segunda Guerra Mundial, a China era vista como uma aliada na luta contra o Japão. De facto, foram os Estados Unidos que insistiram para que a China tivesse uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Quando o Partido Comunista Chinês conquistou a maior parte do território e estabeleceu a República Popular da China, os dois países pareciam terem-se tornado inimigos mortais. Na guerra da Coreia, estavam de lados diferentes; e foi a participação militar activa da China, ao lado da Coreia do Norte, que garantiu que a guerra terminasse num impasse.
No entanto, após um tempo relativamente curto, o presidente Richard Nixon foi a Pequim, encontrou-se com Mao Tse Tung (ou Mao Zedong) e estabeleceu uma aliança de facto contra a União Soviética. A situação geopolítica parecia dar uma reviravolta. Como parte do acordo com a República Popular da China, os Estados Unidos quebraram suas relações diplomáticas com Taiwan (apesar de continuarem garantindo que a China não a invadisse). E quando Deng Xiaoping tornou-se líder da China, o país entrou num processo de lenta abertura para operações de mercado e integração nas correntes comerciais da economia-mundial capitalista.
Embora o colapso da União Soviética tornasse irrelevante a aliança China-EUA contra a União Soviética, as relações entre os dois países não mudaram realmente. Se algo aconteceu, foi uma aproximação ainda maior. Na situação em que o mundo se encontra hoje, a China tem um superávit significativo no balanço de pagamentos com os Estados Unidos. Mas investe muito deste saldo nos próprios títulos do Tesouro norte-americano, o que permite a Washington continuar a investir grandes recursos em suas múltiplas actividades militares no mundo todo (principalmente no Oriente Médio), assim como ser um bom consumidor de exportações chinesas.
De tempos em tempos, a retórica que cada governo usa em relação ao outro é um pouco dura, mas não chega nem perto da retórica da Guerra Fria entre os Estados Unidos e União Soviética. Ainda assim, nunca é sábio prestar muita atenção à retórica. Em assuntos globais, a retórica normalmente é usada para produzir efeitos políticos dentro de cada país, e não para expressar a política realmente em relação ao país ao qual se destina.
Deve-se prestar mais atenção às acções dos dois países. Em 2001 (pouco antes do 11/09), um avião chinês colidiu com um avião estadunidense, nas vizinhanças ilha Hainan. O avião dos EUA provavelmente estava espionando a China. Alguns políticos norte-americanos pediram uma resposta militar. O presidente George W. Bush não concordou. Ele desculpou-se razoavelmente com os chineses, e o avião foi devolvido junto, com os 24 militares capturados por Beijing. Nos vários esforços feitos pelos Estados Unidos para conseguir que a ONU apoiasse suas operações, a China discordou algumas vezes. Mas nunca vetou de fato uma resolução patrocinada por Washington. A precaução dos dois lados parece ser a forma de acção preferida, apesar da retórica.
Então, onde estamos? A China, assim como todas as potências de hoje, tem uma política externa multifacetada, envolvendo-se em todas as partes do mundo. A questão é: quais são as prioridades do país? Penso que a número 1 é a relação com o Japão e com as duas Coreias. A China é forte, sim, mas seria incomensuravelmente mais forte e se fosse parte de uma confederação do nordeste asiático.
A China e o Japão precisam um do outro – primeiro, como parceiros comerciais; além disso, para assegurar que não haja confrontações militares de nenhum tipo. Apesar de surtos nacionalistas ocasionais, eles estão se movendo nessa direcção. O movimento mais recente foi a decisão conjunta de realizar as operações comerciais entre as duas partes com suas próprias moedas – eliminando o uso do dólar americano, e protegendo-se das flutuações da moeda norte-americana, cada vez mais frequentes. Além disso, o Japão começou a considerar que o guarda-chuva do exército dos Estados Unidos pode não durar para sempre; e que portanto precisa de um acordo com a China.
A Coreia do Sul enfrenta os mesmos dilemas do Japão, e ainda precisa lidar com o problema espinhoso da Coreia do Norte. Para a Coreia do Sul, a China é a força de detenção crucial sobre os norte-coreanos. E para a China, a instabilidade da Coreia do Norte colocaria uma ameaça imediata para sua própria estabilidade. A China pode desempenhar, para a Coreia do Sul, o papel que os Estados Unidos já não têm condições de exercer. E nos termos complicados da colaboração que China e Japão desejam, a Coreia do Sul (ou quem sabe uma Coreia unida) pode jogar um papel essencial de equilíbrio.
Como os Estados Unidos percebem esses desenvolvimentos, não é razoável supor que o estejam tentando fazer chegar a um acordo com esse tipo de confederação do nordeste asiático, enquanto ela se constrói? Pode-se analisar a postura militar dos Estados Unidos no Nordeste, Sudeste e e Sul asiáticos não como construção de uma posição militar – mas como uma estratégia de negociação no jogo geopolítico que está em curso e que se desenrolará na próxima década.
Os Estados Unidos e a China são rivais? Sim, até certo ponto. São inimigos? Não, eles não são inimigos. São colaboradores? Eles já são mais do que admitem, e serão muito mais no desenrolar da década.

Uma sugestão do Paulo Ferreira, retirado daqui.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Da Capital do Império

Uma história da China

A acreditar no que se apregoa por toda a parte a China irá nas próximas décadas assumir o controlo do mundo. Só que isso não vai acontecer. É um mito, tal como na década de 1960 e 1970 havia o mito de que era o Japão que ia ultrapassar os EUA e tornar-se na grande potência mundial.
Em primeiro lugar há que dizer que o “milagre económico” da China não deve ser negado. É uma das verdadeiras provas dos benefícios da globalização e do realismo económico. Mas o sucesso da China está agora rodeado de mitos.
Exemplos:
1) Investimento estrangeiro. É verdade que a China se tornou num dos grandes pólos de atracção de Investimento Directo Estrangeiro. Mas em comparação com os Estados Unidos é uma ninharia. Em 2008 o Investimento Directo Estrangeiro nos Estados Unidos foi de 325.300 milhões de dólares. Uma subida de 37% em relação a 2007. Na China foi de 27.514 milhões uma queda de pouco mais de 27% em relação ao ano anterior. Mais preocupante para as autoridades chinesas é que o investimento directo estrangeiro está em queda desde 2005.
2) A economia da China está prestes a ultrapassar a dos Estados Unidos. Longe disso. Este ano é possível (não uma certeza) que a economia da China ultrapasse a do Japão. O que a acontecer a tornará na segunda maior economia do mundoou seja ... um pouco acima de um terço da economia americana.
Para além disso a economia americana também cresce. Quando a economia americana cresce 3% ao ano, a China só para não perder terreno tem que crescer 8%. Sendo a economia chinesa baseada nas exportações um estudo do Banco Mundial afirma que para manter o seu actual nivel de crescimento acima dos 8 por cento a China terá que duplicar a sua fatia das exportações mundiais nos próximos 10 anos. Isso não vai acontecer. “A dependência da China num crescimento baseado nas exportações é insustentável,” disse recentemente o Presidente do Banco Mundial Robert Zoelick.
Habituados que estamos em vêr as “lojas do china” em todo mundo a venderem relógios, sapatos, televisões esquecemo-nos que na verdade é só isso que a China produz e exporta: produtos de consumo de baixo valor ou produtos electrónicos para consumo em massa.. Em termos de valor dos produtos exportados (como por exemplo aviões, produtos de alta tecnologia) os Estados Unidos produzem 20 por cento da manufacturação global desses produtos ou seja o dobro da China
Os problemas da China avolumam-se porque os países desenvolvidos (Europa, Estados Unidos) estão agora cientes de que parte do problema financeiro que ia destruindo as suas economias se deve à grande acumulação de reservas na China que facilitou a manutenção de crédito barato criando “bolhas” que irónicamente se estendem agora à própria China. As pressões para a China valorizar a sua moeda só tendem a aumentar
Para além de isso comparar números do PIB é totalmente irrealista. A população da China é 1.300 milhões; a dos Estados Unidos é de pouco acima dos 300 milhões. O PIB per capita da China é actualmente 1/7 do PIB per capita dos Estados Unidos. O seu rendimento per capita é neste momento acim da Ucrânia mas abaixo da ... Namíbia
Para além disso cerca de um terço de todo a investigação e desenvolvimento (research and development) do mundo ocorre nos Estados Unidos (veja-se a “limpeza” anual nos Nobel) onde em parte devido a isso a produtividade do trabalhador americano é quase 10 vezes mais do que a produtividade do trabalhador chinês. Esta diferença não vai desaparecer na proxima geração.
A economia chinesa está também cheia de “buracos” que existem e se multiplicam no actual sistema repressivo de controlo de informação. Um exemplo: um estudo a circular entre especialiststas na economia chinesa estima que dívidas não listadas de companhias de investimento chinesas podem ascender a 34% do PIB da China, um número que talvez seja um indicativo do porquê da queda sistemática nos ultimos anos dos investimentos estrangeiros na China.
Um dos grandes problemas a que a China faz face é a questão demográfica. Um recente estudo do Pentágono referiu se a isso como o problema “4-2-1”. Não se trata de uma táctica de futebol. Quatros avós têm dois filhos e um neto, resultado da política da “uma criança por familia” o que significa que se está a assistir a um fenómeno único no mundo: A China está envelhecer antes de enriquecer. O número de trabalhadores entre os 15 e os 24 anos de idade deverá cair um terço nos próximos 12 anos. Com trabalhadores jovens mais raros os salarios vão ter que subir e isso começa já a sentir-se. O mês passado na provincia de Guangdong (o principal centro de exportações da China) o salário minimo foi aumentado 20%.
Sei que nada no mundo segue uma via linear. Tudo pode correr bem na China e mal no ocidente. Para além disso um aspecto da realidade chinesa que me continua a impressionar é o realismo da liderança chinesa. Por isso muitos destes problemas ( e outros como os problemas étnicos no seu vasto país que resultam violência esporádica ou os propblemas politicos) poderão ser resolvidos com sucesso.
Ao fim e ao cabo foi uma declaração do primeiro-ministro Wen Jiabao quem me levou a investigar os factos para esta crónica.
“O grande problema da economica chinesa é que o seu crescimento é instável, desiquilibrado, descordenado e insustentável”. Foi Wen quem disse isso. Em 2007 e tinha toda a razão. Seria bom que deixassemos de ter uma exuberância irracional quando falamos da China. Wen não a tem.

Da capital do Império,

Jota Esse Erre

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Baile dos Bombeiros





Embora falhando por uns dias a saison pascal, não queríamos deixar de a assinalar com uma parábola e alguns conselhos úteis. É sabida a importância da refeição comunal entre os bípedes, e ao que parece a cousa começou por ser um assunto de fraternidade virtual: acantonando os iguais melhor se redistribui a desigualdade e se consolida a hierarquia, o poder, se quisermos. Isto é, temos de convencer os amesedados que enquanto um come carne o outro manja raspas de corno, e ambos os fregueses ficam igualmente satisfeitos. Blurp.
Cumprida esta homenagem à antropologia das barracas, tomemos o exemplo da ceia fundadora. Conduto austero e esfaimante, vinho martelado e pouco, ambiente crispado e convivas com um olho na conversa e outro no garrafão. Soi disant, uma típica janta de pescadores desempregados na Galileia.
A imagem ‘pegou’ e vêmo-la glosada, por exemplo, no exemplar banquete de Viridiana ou, em registo estático, o painel dos Sopranos fixado por Annie Leibovitz. Anarquia versus Totalitarismo?
Bom, teremos de nos inclinar para a visão subversiva de Bunuel, esse aragonês monogâmico, se bem que Tony Soprano revele elevadas potencialidades na política prática.
Serve isto, afinal, para denunciar a forma repulsiva como se constrangem os cidadãos que têm de acorrer às ‘sopas dos pobres’. Saudados, afagados, compreendidos, encaminhados para o salão de dar ao dente ou sorver a sopinha. Lá está a refeição comunal da ceia fundadora. Pior, filmados, entrevistados, despudorados. Foda-se, deixem os homens comer em paz.

E vamos aos conselhos úteis. Através das fotos, ter-se-á um vislumbre da morte do surrealismo...também já morreu tanta coisa. O Charme Discreto da Burguesia foi trocado pela chama indiscreta da iconoclastia.
Trocadilho da treta, pois, mas, em Taipé, há outras modalidades interessantes, para além deste “Modern Toilet”.
Um bistrot temático sobre dinossauros, onde tudo, tudo, imita ossos, mandíbulas, ovos, pegadas, fósseis, banda sonora imaginária arrepiante- não há nada como ser atendido por um T Rex de metro e meio e cortesia oriental-, um, digamos, japanese coffee shop dedicado a Marilyn Monroe, sob o genérico “Wherever you are, how cold you may be, we love you Marylin”, e ainda o “Tacones Lejanos”, uma casa de, digamos, diversões.

E votos de que os amigos do “2+2=5” tenham passado uma Santa Páscoa. Uma quadra onde não é próprio revisitar a Via Láctea, pois, do amigo Bunuel.

JSP

PS: Estejamos atentos que estão tentando transformar a morte de Eugene Terre’Blanche, militante fascista, Huguenote antisemita e rabicho, num caso político e desportivo. Deve considerar-se a possibilidade de se tratar de um simples caso de ensarilhamento burocrático ou delonga na execução das penas.






sexta-feira, 19 de março de 2010

Baile dos Bombeiros.2

Música de Mad Dog Clarence e letra do colectivo Viggis; variações sobre a “Negra Tava Mamando”

*Dedicado à Diva da Liberdade Josina MacAdam

Em anterior ‘posta’ propusemo-nos, e para isso nos servimos da farsa psicotrópica que foi à cena em Mafra, contribuir para o combate da ‘malaise’ lusitana. Uma ‘condição’ que afecta em termos gerais a autoestima e, particulamente, a visão, impedindo o paciente colectivo de tomar consciência da grandeza de Portugal. Ver ‘Antropologia da Felicidade’, capítulo sobre a ‘Miopia”. A verdade é que os portugueses continuam a dar lições ao Mundo e o Mundo vai, mais uma vez, lá onde o Mundo se reúne este ano, na EXPO de Xangai, ter oportunidade de se prostrar, loar e prestar tributo ao espírito lusitano. O pavilhão de Portugal pode ser recatado na dimensão, mas é enorme, mais, genial, na concepção: todo vestido e revestido a cortiça, simplesmente cortiça. Ah! La vie en cork. De acordo com a equipa de sábios que coordena a participação de Portugal, a cortiça é um “material nacional, reciclável e ecológico”, o que constitui, em nossa opinião, uma boa base de sustentação teórica da opção escolhida para espantar o Mundo. “Trata-se de em exemplo de inovação e de boas práticas ambientais que potenciam a imagem de Portugal”, como também se pode ler no sítio dos sábios. Não é difícil imaginarmos que depois de Xangai (1 de Maio a 31 de Outubro) o Mundo não será o mesmo. E Portugal também não.
Onde hoje ainda estão uns campos de trigo, hortas, florestas, fábricas, estradas, aldeias, vilas e algumas cidades, hospitais, escolas e prisões, teatros e oficinas e, claro, cemitérios, ficará um esplendor de sobreiros. Uma imenso chaparral nacional para fornecer o Mundo de ouro castanho pago a dez medidas do amarelo. Pela única autoestrada que sobreviverá à sobreirização do Rectângulo circularão os nossos TIR, movidos a bolota, exportando para os nossos fregueses (na terminologia inolvidável de Vasco Gonçalves) a unidade de conta do futuro. Cortiça, cortiça, cortiça.
E imaginem como ficarão os nossos amigos de Xangai quando, encerrada a Expo, pelas portas de cortiça do Pavilhão de Portugal se esgueirarem um, dois, três, dez milhões de lusitanos, argonautas do nosso tempo na demanda do Cortição de Ouro.

Bom, temos de interromper aqui que a cousa vai longa e está na hora de tomar os remédios.

JSP

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Landim Desconhecido

Tomando como pretexto um muito anterior post sobre os grandes moçambicanos, também este a pretexto daquela futilidade televisiva designada por Maior Português de Sempre, apresento-vos um verdadeiro herói Landim. Um Landim desconhecido.

Dizem que...a quintissecular presença portuguesa no Sul da China, a partir do século XVI, foi de todo pacífica, consentida e cordial- um diagnóstico sustentado na ausência de confronto militar directo. Todavia, o governo de Lisboa manteve até 1976 uma presença significativa de tropa regular... acredita-se que como símbolo de soberania e tranquilidade. Mas como sabemos estes símbolos custam algum e já então a distância entre Lisboa e o Delta do Rio das Pérolas marcava quase duas dezenas de milhar de km.
Eureka! Terá babado um dos nossos políticos de excepção, antropólogo social, cosmopolita e distinto colonial. Assessorado por uma bússola, um compasso e uma régua, o nosso visionário atinou: vamos recrutar um destacamento de negros provenientes da melhor distância entre Macau e a Contracosta.
E foi assim que se formou a denominada Companhia de Landins, mancebos voluntariamente arrancados às suas ocupações e destinos tradicionais, e esta rumou, no século XIX, para as remotas casernas de um mundo ainda mais estranho. Imagine-se a estranheza dos locais.
Ora, no dia 22 de Agosto de 1849, um grupo de “sicários chineses”, na expressão pacificadora e reaccionária do mais conhecido historiador de Macau, Monsenhor Teixeira, cortava a cabeça ao Governador Ferreira do Amaral, reputado herói das guerras sul-americanas. Conta Teixeira que Amaral, então guarda-marinha, tomou parte no assalto a Itaparica, no Brasil. Ferido com muita gravidade, não houve remédio que não cortar-lhe o braço, a frio sem anestesias e segundas opiniões.
“Quando viu cair o braço, levantou-se da cadeira, lançou-o ao ar e exclamou Viva Portugal”. Compreensivelmente, desconhe-se qualquer declaração ou exclamação na circunstância da emboscada que resultou na decapitação, ali na zona das Portas do Cerco, do incontornável herói dos rios da Prata e Pérolas.

Após o dramático assassínio de Amaral, cerca de dois milhares de soldados chineses, acantonados no Forte de Pac-Sá- Lan- vertido para português como Passaleão- desataram a ‘abonar’ (jargão de infantaria ou tropa macaca) o outro lado das Portas do Cerco. Recorrendo de novo a Teixeira, e à justificação politicamente correcta da tese da cordialidade mútua, a tropa portuguesa “manteve-se inactiva”.
Indiferente a todas a variantes da covardia institucional, o Tenente Vicente Nicolau de Mesquita avançou com 32 efectivos contra o dito Forte do Passaleão, “desbarantando a guarnição” e erguendo o pavilhão lusitano. Segundo o relato de Teixeira.
Não foi bem assim. Neste recontro ou confrontação, em que não se registaram baixas nem danos colaterais, o primeiro a saltar o muro do forte foi um anónimo soldado Landim. A guarnição chinesa ao ver o incorporado negro desatou a gritar Hac Kuai! Hac Kuai! Hac Kuai! E a fugir.
Hac Kuai quer dizer Diabo Preto, o que não sendo um cumprimento tem o mérito da não-exclusividade, pois os brancos, europeus, são ainda hoje denominados de Kuai Lo, Diabo Branco. Leia-se Gweilo.
Mesquita regressou em glória ao enclave de Macau e teve direito a todas as homenagens e a estátua paga por subscrição pública. Em honra do maior herói macaense.
Quanto ao nosso Landim, permanece anónimo, sem medalha ou pedra, provavalmente vagueando pelas noites escuras e sussurando : 2+2=5, 2+2=5, 2+2=5.

JSP

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Wen Jiabao relê Marco Aurélio

De acordo com o diário de Hong Kong “South China Morning Post”, citando a imprensa do Continente, o livro de cabeceira do PM chinês Wen Jiabao é nada mais nada menos do que o conjunto de pensamentos do estóico Marco Aurélio. Wen revelou que já leu as “Meditações” do imperador-filósofo “mais de uma centena de vezes”.
Este Primeiro-Ministro goza de elevados índices de empatia junto do little people, que o considera como o rosto humano de um regime...obstinado. Pois, o “2+2=5” não recomenda. É muito deprimente, embora a passos IV possamos ler, mais ou menos exactamente, ‘The Universe is Transformation: Life is Opinion”. Daí a forma popular... até parece que está vivo. Lá está, uma opinião, nada mais do que isso. Também poderíamos dizer, até parece que está morto.
Como não pretendemos acirrar ânimos, estimular acrimónias, sugerimos, a jeito de pausa na transformação da realidade e na construção de uma sociedade sem classe, um tema cómico: as peripécias do suicídio atribulado de Séneca. Assim como que um encontro entre a "Madame Bovary", o seriado de Alex Cross, "O Inquilino" de Polansky, o Pierre Richard de "L’Emmerdeur", o inestimável contributo filosófico de Chuck Norris - recomendo vivamente a leitura da última postagem no Táxi Pluvioso - e a estética do primeiro Hugh Hefner. Se não estiverem para ler estas merdas, há sempre a colecção encadernada da revista Gina e a jouissance de soi-même.
Infelizmente, este ano não nos foi possível comparecer na tradicional Universidade de Verão do British Bar, razão porque faltámos com o contributo para as eleições nos EUA. Fica para outra oportunidade, mas sempre se sublinha que, muito excepcionalmente, gostaríamos de ver o democrata Obama na Casa Branca e o republicano McCain na Sanzala. Valerá pena recordar o paradoxo que suporta o bipartidarismo (Burro vs Elefante) do sistema USA: nem todos os democratas são burros, mas está provado que todos os burros são democratas. Pois se soubermos que a escolha do Burro e do Elefante como símbolos, respectivamente, não enganar, dos Democratas e dos Republicanos, se deve ao cartonista político Thomas Nast, não nos deixaremos perturbar com a sujeira das campanhas. Nasty. Justificando o pluralismo que anima este blogue, incansavelmente resguardado pelo webmaster Rocheteau, aqui deixamos a defesa do GOP, o GOP de William Buckley, e a promessa de não revelar os motivos de esta excepcional transferência para o eleitorado simbólico de BHO. Palavra de Mugabe. Valeu?

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Grande Salto em Frente

Foi assim, num ‘fósforo’ o “2+2=5” cumpre três anos prodigiosos. Com a mesma idade já Koba, José Estaline, se preferirem, exercitava no kindergarten os dotes que fizeram dele uma referência incontornável da imbecilidade. Ver Martin Amis.
Bom, a verdade é que, a convite do webmaster Armando Rocheteau, devo contribuir com um textito...mas não sei bem como celebrar esta efeméride. Matutei, matutei, e com a preciosa ajuda do oráculo que assina Táxi Pluvioso e o contributo involuntário- não, não é pioneiro- de uma experiência ficcional ensaiada pelo FAR- Heine encontra Sade-, decidi-me pelo desencontro entre Sacher Masoch e Mao Zedong.
O primeiro, despacha-se com o suplício de assistir, do princípio ao fim, a uma ópera chinesa. Pode ser “Red Lantern”, pode ser “Sha Jia Bang”, mas recomenda-se a mais penosa “Taking Tiger Mountain by Stratagem”.

Quanto ao segundo, deixaria, ao jeito de parábola, uma nota sobre a Grande Fome de 1959-1961, na China de Mao Zedong. Yang Jisheng, um veterano de 35 anos de Xinhua, publicou, em Hong Kong, aquele que parece ser o relato definitivo sobre as consequências do Grande Salto em Frente de 1958, preparado pela grande Campanha Anti-Direitista do ano anterior.
Sob o título de Mubei, tombstone na lingua franca- atrevendo-me a uma versão portuguesa, na certeza que serei impiedosamente corrigido, proporia ‘lápide’ ou por razões comerciais ‘o comunismo jaz aqui’-, Yang alinha os números, as estatísticas, província a província, cidade a cidade, de uma fome que ceifou entre 30 e 35 milhões. Três vezes mais do que o número de vítimas da Grande Guerra de 14-18. Cá está o três, o do aniversário do “2+2=5”.
Ora, como se sabe, o GSF compreende a colectivização da agricultura e a duplicação da produção de aço, sacrificando tudo o que é derretível, inclusive, alfaias agrícolas, e, ao mesmo tempo, assegurando a produção de cereais. Resultado, aço da têmpera de dejectos secos, que não servia para nada, e colheitas administrativas de cereais.
Yang Jisheng relata que, e foi para isso que serviu a campanha de 57, os delegados locais do PCC comprometiam-se com uma determinada quota ogrigatoriamente exagerada de produção, x para consumo próprio e y para o governo central e não podiam nem rectificá-la e muitomenos deixar de entregar a parte do Estado. Resultado...a China foi um net exporter de cereais, no período em causa, à custa do que os camponeses deixavam de comer. Antecipando os princípios científicos da sofisticação do quem não tem cão caça com gato, os camponeses, confirma este Mubei, amanhavam-se com ratos, pardais, cães, relva e casca de árvore. Mas não é exactamente sobre esta catástrofe humanitária que pretendo reflectir na casa grande do “2+2=5”. Esta parábola e sobre a verdade, a verosimilhança, a validação.

Yu Dehong, secretário do partido na circunscrição de Xinyang, entre 59 e 60, conta que, indo de aldeia em aldeia, contabilizava 100 cadáveres expostos na via pública, outros tantos na aldeia seguinte. Ninguém parecia incomodar-se. Interpelou, por isso, o comissário que, receando vir a ser acusado de qualquer crime contra a salubridade ou a saúde pública, respondeu: os cães comem os cadáveres.
Verdade? Claramente, mentira. Os cães já tinham sido comidos.

Este tabu já leva quase meio século. A Grande Fome não pode ser discutida publicamente, seja em livros, revistas, rádio, televisão, e está proscrita de quaisquer curricula universitários. Mas a vida continua.
Atão, o que aprendemos? Que a cultura da reconciliação é totalmente estranha ao Império do Meio e que, para os mesmo efeitos, investe-se na cultura da amnésia.

Este blogue tem andado em políticas de reconciliação....não levam a nada. Optemos por trivialidades, reticências e conceitos de ansiedade. Será que hoje vem aí mais disparate daqueles...? Será que não vem?

Mas em dia de efeméride temos de ser positivos, tolerantes e humildes. Aprende-se sempre qualquer coisa. Por exemplo, fiquei a saber que há literatura francesa contemporânea e que aquelas pancadas de Molière não pretendem ser o último aviso para um gajo se por a andar. Hoje estou certo que a psicanálise encontrou a sua Arca da Aliança e que aquele léxico vibrante das Internacionais ainda vai dar seriado na Globo.

Olha, vou almoçar. E viva o PS.


JSP

terça-feira, 10 de junho de 2008

China: Missão eco-cultural francesa mostra-se confiante

Uma missão de historiadores e economistas de alto nível francesa visitou a China, sobretudo a do interior, há umas semanas. Fazem um balanço muito positivo, conforme se assinala neste artigo hoje publicado no Le Monde. Apesar de ter uma economia socialista de Mercado, a China ultrapassou o escalão do Sub-Desenvolvimento e detém 25 por cento das reservas mundiais de moeda estrangeira.
LE MONDE 10.06.08 14h01

L'actualité se chasse d'elle-même ; épinglée sur la question du Tibet, la Chine est saluée par la presse internationale pour la rapidité, l'efficacité et la transparence de l'intervention des autorités face à la catastrophe provoquée par le tremblement de terre du Sichuan.
Déjà, New York fait pâle figure comparée à l'incroyable Shanghaï, où les gratte-ciel poussent comme des champignons de toutes les couleurs en se lançant des défis de beauté architecturale. De la dictature communiste, il reste l'autorité centrale qui impose et organise l'économie socialiste (ou plutôt impériale) de marché. Elle permet en effet de raser d'un coup des quartiers insalubres, mais pour les remplacer par des immeubles en hauteur de bonne facture avec tout le confort moderne, à commencer par la climatisation.

Même dans la Chine profonde, les magasins regorgent de produits de base et de superflu, et les policiers rencontrés, comme partout ailleurs dans le monde, y sont plutôt rares et généralement équipés seulement d'un téléphone portable. C'est dire qu'il convient de réviser nombre de nos clichés sur la Chine.

Tout d'abord, ce n'est plus un pays sous-développé. Les standards internationaux montrent que la Chine avait, en 2006, un PIB par habitant de 7 500 dollars (soit dix fois plus en réel qu'en 1980), c'est-à-dire le niveau de la France à la fin des années 1950 ou du Portugal en 1970. Notre niveau de vie serait aujourd'hui quatre fois supérieur à celui de la Chine. Mais, si l'on fait des calculs comme les aimait Jean Fourastié, en ramenant le salaire moyen d'un employé à la valeur locale de certains produits communs à la France et à la Chine, l'écart de niveau de vie se situe plutôt entre deux et trois. C'est dire que le taux de change d'un à dix entre le yuan et l'euro est largement sous-évalué pour le yuan, mais c'est ce qui a notamment permis à la Chine de dégager d'énormes excédents extérieurs, au point qu'elle détient aujourd'hui le quart des réserves mondiales de change.

Au rythme actuel (7 % à 8 % par an de croissance du PIB par habitant, contre 1 % à 2 % chez nous), les Chinois nous auront rattrapés avant 2030. Ils nous devancent déjà en ce qui concerne les deux-roues : à Shanghaï et ailleurs, les vélos et les scooters sont silencieux car électriques.
La Chine s'enrichit, et le monde ne peut que s'en réjouir. Elle investit dans l'éducation de sa jeunesse et dans des infrastructures modernes ; mais cela ne suffira pas car, avec 1,75 enfant par femme, la relève des générations n'est pas assurée, et il lui faut donc avancer à pas de géant avant d'affronter les conséquences de son inéluctable vieillissement.

Ce formidable effort d'investissement dans les infrastructures et les équipements collectifs a été rendu possible grâce à une épargne équivalente à 40 % du PIB et entièrement canalisée par le système bancaire d'Etat. Une fois passés les Jeux olympiques de cet été et l'Exposition universelle de Shanghaï en 2010, la Chine trouvera un formidable relais de croissance dans la satisfaction d'une demande intérieure jusqu'ici volontairement bridée.

Son développement rapide profite surtout à la Chine du littoral (qui, avec 14 % de l'espace, concentre 43 % de la population, 62 % du PIB, 76 % des investissements étrangers et 93 % des exportations). Il est vrai que la Chine de l'intérieur est moins bien lotie, et que celle de l'ouest, où ne vivent que 11 % des Chinois, est en retard, avec 7 % du PIB. Mais, bonne nouvelle, les Chinois pourront se lancer bientôt à la conquête de leur Far West, qui représente 56 % de leur territoire.
Mais est-elle différente de celle que les instituteurs de la IIIe République ont imposée sans ménagement aux enfants qui s'avisaient de parler breton dans les cours de récréation ? Il y a sans doute des émeutes et des répressions choquantes pour un Occidental éclairé du XXIe siècle. Mais la remise au pas sanglante de la Vendée royaliste sous la Révolution devrait nous rendre plus modestes dans la critique d'un empire où les Hans comptent pour 92 % de la population, mais reconnaissent les coutumes et les droits des 55 minorités qui représentent seulement 100 millions d'habitants sur un total de 1,3 milliard.

Bref, nous sommes optimistes sur le genre humain quand nous voyons l'exemple de la Chine, qui réussit à se moderniser en s'appuyant sur son passé, sa culture et des valeurs ancestrales portées sur le travail. Parions que l'Empire du milieu saura continuer à se libéraliser (les Chinois peuvent voyager à leur guise et se mettre en ménage comme bon leur semble), tout en restant suffisamment autoritaire pour traiter de manière efficace les graves problèmes de pollution, de congestion urbaine, de corruption et de conditions sociales qui, là comme ailleurs, font la "une" des journaux.
FAR

quinta-feira, 1 de maio de 2008

CIA revela que Mugabe usa bigode à Hitler e que a sua fantasia sexual é imaginar-se de olhos em bico, pila pequenina e amarela, a sodomizar Tony Blair

Assinalou-se no dia 18 o 28º aniversário da independência do Zimbabwe, mas apesar do país estar na berra, ninguém deu por isso. É natural. Se o 5 de Outubro não fosse feriado também ninguém dava por ele.
Só me apercebi porque nesse dia li isso algures, em letra miudinha. E tive o pensamento da praxe, sentimental q.b.: Como o tempo passa! Vinte e seis anos antes, e parece ontem, celebrava o acontecimento em casa do Gastão, em Maputo. Foi com genuína emoção que ouvimos o discurso de Mugabe, transmitido pela Rádio Moçambique. Sentíamos a sua vitória como nossa, achávamo-nos uma gota numa imensa vaga revolucionária mundial prestes a libertar os povos oprimidos. “Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o resto”. Tínhamos lido Reinaldo Ferreira, e estávamos orgulhosos de nossa elementar realidade. Estávamos felizes e queríamos festejar, numa época em que os rigores do Poder Popular não deixavam grande margem a festejos.
A tarde estendeu-se pela noite dentro, e foi aparecendo gente. Se a memória não me trai, o Lico, o Pacas Branquinho, o Pip, o Nini e a Belinha (nomes de guerra, é claro) … Esses já morreram todos. Confesso que não tenho a certeza se lá estavam mesmo nesse dia, ou se são os seus fantasmas que se vão imiscuindo nas minhas recordações, com o passar dos anos. Porque se não estavam, deviam estar. Quem quiser saber mais, ainda pode perguntar à Xica, à Fernanda “Pato” ou à Teresa “Maluca” (nomes de guerra, é claro). Também estavam na festa, com certeza, a menos que estivessem noutra das muitas que houve em Maputo no dia 18 de Abril de 1980.
A nossa alegria justificava-se. A queda do regime racista de Smith era de importância capital para Moçambique. A Rodésia tinha criado a Renamo, e constituía uma retaguarda indispensável para aquela tropa fandanga. Além disso, com o fim da Rodésia fechava-se o cerco à África do Sul, e constituía-se uma retaguarda imensa e muito mais forte para a guerrilha anti-apartheid do ANC.
Desde a independência de Moçambique, em 1975, Samora Machel vinha apoiando activamente a luta contra Smith no território vizinho. Apadrinhou a união entre os dois principais movimentos nacionalistas (ZANU de Mugabe e ZAPU de Joshua Nkomo), e acabou mesmo por enviar tropas para combater ao lado da guerrilha zimbabweana.
Usando essa influência, visou sempre colocar à frente do futuro país um homem da sua confiança, e apostou forte em Robert Mugabe, que viveu durante anos um discreto exílio em Moçambique, como professor de inlgês numa cidade de província. É verdade que o líder da guerrilha tinha sido Tongogara, e não Mugabe. Era nele que muita gente via o líder natural para o futuro país, mas acontece que Tongogara morreu na praia. Maneira de dizer, porque de facto terá morrido num acidente de viação, pouco antes da independência. Pelo menos foi o que anunciou a direcção da ZANU, isto é, Mugabe himself. Mas a explicação deixou dúvidas a muita gente.
Também é verdade que Mugabe nunca teve o carisma de um Machel, mas nesse tempo a popularidade deste entre os zimbabweanos compensava a obscuridade daquele. Mugabe suplantou o histórico Nkomo, e foi-se afirmando como o líder do nacionalismo zimbabweano. Nessa época lia pela cartilha ideológica de Machel, mais “pro-chinesa” do que “pro-soviética”, para usar os chavões jornalísticos.
Isso, é claro, não desagradava aos Estados Unidos. Do mal, o menos. A República Popular de Moçambique terá sido o único país comunista (das dezenas que então havia), a não constar da “lista negra” norte-americana. Washington manteve sempre boas relações com Maputo (e depois com Harare), ao contrário do que sucedeu, por exemplo, com a “pro-soviética” Luanda. Era no tempo do flirt com a China iniciado por Nixon, para enfrentar o inimigo comum soviético.
Mas entretanto a Cortina de Ferro ruiu, a Rússia patinha na podridão absoluta, e a China emerge com pujantes ambições imperialistas, sobretudo em África. A conversa é outra. Agora, para Washington o imperioso é travar a China, e toca a depor os seus aliados. Desde logo Mugabe, velho amigo dos chineses. Não foi preciso inventar armas de destruição massiva. O sujeito era incompetente; em pouco tempo o Zimbabwe deixara de exportar cereais e passara a importá-los. Era despótico; a sua presidência fora marcada por constantes exacções: perseguições a opositores e a homossexuais, deslocações de população, ocupações de terras…
Enquanto foram terras de pretos, ninguém se importou muito. São pretos, que se entendam. Quando passou às terras dos brancos, outro galo cantou. Ao ocupar as herdades dos zimbaboers para as entregar aos oficiais do exército, Mugabe pôs-se a jeito. Mas não tinha outra saída, se queria preservar a lealdade dos militares, seu principal suporte.
As coisas precipitam-se. Tony Blair dirige a ofensiva euro-americana contra Mugabe. O movimento de massas, que está longe de ser todo MDC, não para de crescer. A “comunidade internacional” exige eleições, Mugabe é obrigado a ceder. Fazem-se as eleições, os resultados nunca mais aparecem…
Os governos da região dão uma no cravo e outra na ferradura. Por um lado invocam a “unidade regional” contra as pressões “neocoloniais”, e por outro querem parecer “politicamente correctos” aos olhos da Europa e dos EUA. Entre a China e os EUA, jogam com um pau de dois bicos, porque sabem que, em última análise, tudo isto não passa de um episódio preliminar num inevitável confronto de outra dimensão entre as duas potências.

José Pinto de Sá

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Os grandes compromissos políticos do Império mediático R.Murdoch

Não há volta que se lhe dê. Somos muito aquilo sobre o que falamos, escrevemos ou seleccionamos. Hoje para variar seleccionamos este fabuloso artigo do The Guardian sobre as aventuras do mais aguerrido e cruel dos tycoons pluri-mediáticos do Universo, Rupert Murdoch, na China, o el-dourado da indústria e comércio da actualidade. Para ler na íntegra o artigo, clicar aqui.
George Monbiot analisa a longa marcha, com os volte-faces prodigiosos e o apoio tácito de Tony Blair, do big boss da cadeia de TV e Jornais mais poderosa do Mundo. Socorrendo-se do livro magistral sobre " As Aventuras de Murdoch na China ", de Bruce Dover, publicado há dois meses atràs, Monbiot narra com minúcia os passos em falso, e a lenta recuperação, realizada por Murdoch, onde é posta a nú a vontade férrea e ditatorial da numenclatura chinesa pelo controlo dos Média.
Murdoch fez uma entrada de leão, em Setembro de 1993, com a compra de um satélite multimédia ancorado em Hong-Kong. As autoridades chinesas não gostaram do seu discurso prospectivo sobre as suas ambições " liberais " para a China, e eliminaram todas as ligações com o emissor. Não desarmando, Murdoch vai mostrar-se servil e untuoso, de uma forma superlativa, com o regime despótico chinês, nos cinco anos seguintes…
Multiplica fretes politicos, dá a entender que irá fazer tudo ao contrário do que tinha dito. Em 1999,depois de ter participado activamente numa das campanhas periódicas da China contra o Dalai-Lama-" Esse velho monge que reviravolteia calçado em sapatos Gucci( sic) -", participa no lançamento hiper-controlado e censurado do Website do Diário do Povo. Ao mesmo tempo, com o apoio de Blair, assume a ligação oficial das suas hiperpotentes cadeias de TV- Fox e Sky News- ao monopólio estatal chinês, CCTV-9.
FAR

The Most Potent Weapon Wielded by the Empires of Murdoch and China By George Monbiot The Guardian UK
Tuesday 22 April 2008
A riveting account of two of the world's most powerful forces has been ignored - blame anticipatory compliance.
If you want to know how powerful Rupert Murdoch is, read the reviews of Bruce Dover's book, Rupert's Adventures in China. Well, go on, read them. You can't find any? I rest my case. Dover was Murdoch's vice-president in China, and took his orders directly from the boss. His book, which was published in February, is a fascinating study of power, and of a man who could not bring himself to believe that anyone would stand in his way. So why aren't we reading about it?
Murdoch, Dover shows, began his assault on China with two strategic mistakes. The first was to pay a staggering price - $525m - for a majority stake in Star TV, a failing satellite broadcaster based in Hong Kong. The second was to make a speech in September 1993, a few months after he had bought the business, which he had neither written nor read very carefully. New telecommunications, he said, "have proved an unambiguous threat to totalitarian regimes everywhere ... satellite broadcasting makes it possible for information-hungry residents of many closed societies to bypass state-controlled television channels".
The Chinese leaders were furious. The prime minister, Li Peng, issued a decree banning satellite dishes from China. Murdoch spent the next 10 years grovelling. In the interests of business the great capitalist became the communist government's most powerful supporter.
Within six months of Li Peng's ban, Murdoch dropped the BBC from Star's China signal. His publishing company, HarperCollins, paid a fortune for a tedious biography of the paramount leader, Deng Xiaoping, written by Deng's daughter. He built a website for the regime's propaganda sheet, the People's Daily. In 1997 he made another speech in which he tried to undo the damage he had caused four years before. "China," he said, "is a distinctive market with distinctive social and moral values that western companies must learn to abide by." His minions ensured, Dover reveals, that "every relevant Chinese government official received a copy".
But the satellite dishes remained banned, so he grovelled even more. He described the Dalai Lama as "a very political old monk shuffling around in Gucci shoes". His son James claimed that the western media were "painting a falsely negative portrayal of China through their focus on controversial issues such as human rights". Rupert employed his unsalaried gopher Tony Blair to give him special access: in 1999 Blair placed him next to then Chinese president, Jiang Zemin, at a Downing Street lunch. To secure some limited cable rights in southern China, News Corporation agreed to carry a Chinese government channel - CCTV-9 - on Fox and Sky. Murdoch promised to "further strengthen cooperative ties with the Chinese media, and explore new areas with an even more positive attitude".
Most notoriously, he instructed HarperCollins not to publish the book that it had bought from the former governor of Hong Kong, Chris Patten. Dover reveals that Murdoch was forced to intervene directly (he instructed the publishers to "kill the fucking book") because his usual system of control had broken down. "Murdoch very rarely issued directives or instructions to his senior executives or editors." Instead he expected "a sort of 'anticipatory compliance'. One didn't need to be instructed about what to do, one simply knew what was in one's long-term interests." In this case HarperCollins executives had failed to understand that when the boss objected to Patten's views on China, it meant that the book was dead.
Anticipatory compliance also describes Murdoch's approach to Beijing. Dover shows that the Chinese leadership never asked for Chris Patten's book to be banned: they didn't even know it existed. But when Murdoch killed it, "our Beijing minders were impressed and the Patten incident marked a distinct warming in the relationship".
The strategy failed. Murdoch was astonished that he couldn't replicate "the cosy relationship he enjoyed with Britain's political establishment". For the first time in his later career, he had encountered an organisation more powerful and more determined than he was. He has now retreated from China after losing at least $1bn.
This is a riveting story about two of the world's most powerful forces. Dover's British publisher told me: "I thought this was a natural for serialisation. We had the author primed and prepared to come over here. But we had to cancel as we could not raise enough interest. We've hit brick walls and we don't understand why." The book has been reviewed in the Economist and the Financial Times, but neither other British newspapers nor broadcasters have touched it.
As far as I can discover, the book has been reviewed by only one Murdoch publication anywhere on earth - the Australian Literary Review - and that was an article of such snivelling sycophancy that you wonder why they bothered. The editor of another News Corporation title, the Far Eastern Economic Review, commissioned a review, then admitted to contracting "cold feet" and spiked it.
But what of the other papers? Why should they appease Murdoch? "When you see the reaction of the British media to the book," Dover tells me, "one can better understand why in some respects the Chinese so admired Murdoch - an emperor who inspires fear in his followers need not raise a hand against them." He might be right, but I think there is also a general bias against relevance in the review sections. When I worked in faraway countries, my books about the tribulations of obscure peoples were comprehensively reviewed. When I came home and wrote Captive State: The Corporate Takeover of Britain, it was ignored. There appears to be an inverse relationship between how hard a book hits and how well it is covered.
Oddly for a publication that inspires such fear, Dover's story sometimes steps back from the brink. He observes that News Corporation never promised the Chinese government favourable coverage; Murdoch undertook only to be "fair", "balanced" and "objective". Dover takes these terms at face value, though it is obvious from his account that they were being used as code for sympathetic treatment. His book does not contain News Corporation's most direct admission: the statement by Murdoch's spokesman Wang Yukui that "we won't do programmes that are offensive in China ... If you call this self-censorship then of course we're doing a kind of self-censorship". He is wrong to suggest that "Murdoch very rarely issued directives or instructions". As the testimony by Andrew Neil (a former editor of the Sunday Times) before the House of Lords communications committee shows, the paramount leader micromanages the editorial content of the newspapers he owns that swing the greatest political weight.
But I am sure it is true that anticipatory compliance is Murdoch's most powerful weapon. I doubt he needed to tell all 247 of his editors to support the invasion of Iraq, but they did. He might not even have had to lean on Tony Blair to ensure - as Blair's former spin doctor Lance Price reveals - that no British minister said "anything positive about the euro". Power is sustained not by force but by fear, as everyone seeks to interpret the wishes of his master and to meet them even before he asks.

terça-feira, 8 de abril de 2008

domingo, 6 de abril de 2008

Pierre Hassner: O que está em jogo na Chechénia, no Kosovo e no Tibete

Temos que passar a uma velocidade superior de análise e combatividade. Por isso, no xadrez cerrado da geopolítica mundial urge perceber o longo braço-de-ferro que os USA, a Nato e os países chave da UE jogam em diversos tabuleiros com a Rússia e a China, principalmente. Os objectivos políticos são incontornáveis a que se junta agora depois da Queda do Mundo de Berlim e da Guerra no Iraque, uma desenfreada corrida ao controlo e posse das matérias-primas essenciais. Sobre tudo isso damos a ler um texto recente do grande historiador e politólogo francês Pierre Hassner, porventura o mais americano dos intelectuais franceses e muito marcado pelo estilo e moderação do mestre Raymond Aron. Ler aqui na íntegra, clicar.
Pierre Hassner caracteriza com bisturi a força e nuance dos casos políticos onde se joga a libertação de um povo, uma cultura e uma identidade histórica. "Os países ocidentais são, cada vez mais, chamados a tomar partido sobre crises e conflitos entre uma nação, imperial ou post-imperial, dominante e um povo dominado. Toda a gente é unânime sobre três pontos que são outros tantos dilemas. De início, proclamam-se ligados aos Direitos do Homem e, ao mesmo tempo, à soberania dos Estados e à estabilidade das fronteiras. Em seguida, devem gerir, ao nível da acção, uma tensão, entre os princípios universais, morais ou jurídicos que defendem, e os interesses, as alianças e os envolvimentos dos seus próprios estados".

Quer a Chechénia, quer o Kosovo ou o Tibete são vítimas de um jogo multipolar muito cerrado e compacto entre as superpotências. Hassner sublinha, por isso, que estes três casos politico-civilizacionais "têm um estatuto jurídico incerto e flutuante, com uma identidade cultural, histórica e uma vontade política muito vincadas, perante o desejo de conquista e a opressão de regimes nacionalistas, comunistas ou post-comunistas".

Sobre a Chechénia, Hassner avança com a tese de que a antiga URSS " deportou a população no tempo de Estaline ", depois de de a ter conquistador duramente no séc. XIX". A propósito do Kosovo, o historiador faz sintética análise notável: "O Kosovo, depois de ter conhecido sucessivamente a dominação dos búlgaros, dos imperadores bizantinos, dos Sérvios e dos Otomanos, sucessivamente; foi conquistada pelos Sérvios com brutalidade extrema, de novo, em 1912, arrancado à Albânia, tornado independente por uma negociação entre as grandes potências; e finalmente, incorporado no reino jugoslavo, depois na Federação Jugoslava de Tito, com um duplo estatuto de autonomia no interior da Sérvia e a nível federal ".

Sobre a revolta no Tibete, Hassner mostra-se muito pessimista. "O Tibete, herdeiro de um império considerável, possui ligações religiosas e, por vezes, protectorados antigos com a China; e conheceu através dos séculos inúmeras invasões, pontuadas por fugas e regressos de sucessivos dalai-lamas, não sendo incorporado na Chia senão por Mao Tsé-Toung em 1950. Viveu uma grande revolta popular em 1959, reprimida violentamente pelos chineses". O politólogo aponta que "Pequim optou pela via repressiva e da assimilação forçada que, muito provavelmente, irão gerar outras revoltas e mais repressão até à exaustão da religião tibetana".

FAR

sábado, 12 de janeiro de 2008

Henning Mankell: China coloniza África

"China coloniza África e, claro, Moçambique !!!
- diz o escritor Henning Mankell
País cheio de pobres, a China exporta-os para África.
Aqui, os Chineses comportam-se como autênticos colonizadores, como os Portugueses, uma forma terrível de colonização, os Africanos são mal tratados por eles.
Podemos fazer aos pobres não importa o quê.
Se África se enche de Chineses, é claro que Moçambique também.
E chegando, levam as matérias-primas.
Ora, os dirigentes de Moçambique tiram proveito financeiro desta política - eis o que diz, entre outras coisas, o escritor sueco Henning Mankell, um dos romancistas mais lidos no mundo, que vive há mais de 20 anos com um pé em Moçambique e outro na Suécia, ele, que é genro do grande cineasta Ingmar Bergman e que se prepara para publicar um livro que se vai chamar "O chinês" (com base do trabalho de pesquisa feito na China e em África).
Leia aqui, em francês, uma entrevista exclusiva, com o título "O que me revolta", que deu ao Nouvel Observateur."
Com a devida vénia ao Diário de um Sociólogo e ao Ponte


(foto Sérgio Santimano)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Sumbana deslumbrado


(foto tirada de www.unitedworld-usa.com)

O ministro do Turismo de Moçambique, Fernando Sumbana Júnior, ficou deslumbrado com a “Las Vegas do Oriente”. Sumbana, que se deslocou a Macau para participar num seminário sobre oportunidades de investimento, uma iniciativa estimulada pelo órgão de contacto comercial entre a China e os Palop, desafiou os operadores de casinos a investirem nos três espaços de jogo de Moçambique. Maputo (Polana), Namaacha (Sol Libombos) e Cabo Delgado. Ficou, contudo, a ideia de que a oferta não se resume a estas três ‘licenças’... tão grande é o país e tantos são os grupos que, em conjunto, fizeram com que o pequeno Macau ultrapassasse, em chiffre d’affaires e outros, a mítica Las Vegas, ou Sin City. Como por lá se brinca.

Convite extensivo, presume-se, aos locais, SJM (Stanley Ho) e Galaxy (Hong Kong), aos americanos (Las Vegas Sands, Wynn e MGM; com o Harrah’s à espreita) até à PBL da Austrália.

Subscrevemos sem reservas esta visão do ministro Sumbana. As pobres gaming joints de Moçambique não podem, de facto, concorrer com Sun City- uma criação de Sol Kerzner, o mesmo das Bahamas, e que, por acaso, foi um dos perdedores na abertura do Jogo em Macau. Para disputar o terreno a Sun City é necessário partir para outro patamar, com o conforto, inclusive, de saber que a indústria do jogo nas imediações é muito rudimentar. Tanto na Maurícia, como nas Comores, nas Seychelles, no Lesotho ou mesmo no Hilton de Antananarivo, os casinos são meros complementos, amenities, e não um negócio em si. No modelo desenvolvido desta indústria a lógica é precisamente a inversa. O core business é o jogo.

É verdade que em Moçambique sobejam problemas e poderá parecer ofensivo apostar em Jogos de Fortuna ou Azar- aquele que é o seu descritivo técnico. Mas não é menos verdade que há muito os governos jogam com a paciência e as legítimas expectativas da população. Diria melhor, a parte Azar está amplamente saciada. Eis a Fortuna fácil. De moral duvidosa?

Pois, estava Cristo pregado na cruz e os soldados romanos como matavam o turno de guarda? Jogavam aos dados.

Além disso, este sector de actividade consome grandes contingentes de trabalhadores, notadamente, na segurança e vigilância. Uma óptima oportunidade para bufos desempregados, ex-quadros da SNASP e filhos da puta de diversa proveniência.

Portanto, é preciso aproveitar em todas as latitudes estas pequenas oportunidades, enquanto as alterações climáticas não lixam o grande recurso da Pérola do Índico. Um dia destes os frangos começam a nascer assados, então, sim, será tempo para alarme e para o senhor Al Gore.


JSP

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Estratego de fama mundial: "Não resulta fazer frente à China!"

O consultor-estratego residente em Silicon Valley, Jean-Louis Gassée, jura a pé juntos que é inglório o esforço de fazer frente à China: eles têm os computadores mais potentes, os melhores cérebros e o maior investimento.

Com um Curriculum invejável de sucesso planetário, tendo passado pela Hewlett-Packard, a Mobil-Exxon e a Apple, Jean-Louis Gassée, consultor de Strauss-Khan, Fillon, etc, oriundo das "Grands Écoles" de Tecnologia de Paris, fundou uma empresa multimédia em Silicon Valley que vendeu aos japoneses da Acess Technologie e , presentemente, gere uma "incubadora" de génios para fazer avançar as performances do High-Tech. É uma verdadeira odisseia de grande intensidade e poder, realizada quase a solo mas em Silicon Valley, ao lado de Stanford e não muito distante de Berkeley, no sul de S. Francisco da Califórnia; portanto com os pareceres de dezenas de Prémios Nobel a poucas milhas de distância, para o que der e vier, como soe dizer-se...

Numa grande entrevista ao Charlie Hebdo, Gassée assegura que, "uma tecnologia, não é necessariamente só uma patente, pode ser também uma ideia". "Ajardino e cultivo os neurónios. O suor, fica para os chineses. Que são muito fortes para o meu gosto. Construo sem batalhões de trabalhadores, camarada. Recuso a fixação regressiva sobre os objectos parciais", diz, com luxo e subtileza, telescopando com o vocabulário de Lacan, claro.

E vai mais longe para nos fazer sonhar acordados: "Silicon Valley, é como o Sentier (quartier de Paris onde há pequenos ateliers de alta tecnologia). Toda a gente se conhece. O que dizer dos problemas em torno da Emigração em França? Isso faz-nos rir docemente. Aqui, não existem senão emigrantes, com 55 % de asiáticos (chineses e indianos, na sua maioria)". Sublinha, no entanto, que o modelo de Silicon Valley "não se pode exportar"...


FAR

domingo, 30 de setembro de 2007

Leituras de Outono. Diplomacia, Doce e Amarga (1)


Quando cheguei a Macau comemorava-se não sei que data festiva e, no estilo dos países comunistas, assisti a um longo desfile cívico, em que se exibiram enormes retratos das grandes figuras do mundo comunista. Com espanto, vi desfilar, diante dos meus olhos, um retrato gigantesco de Karl Marx, seguido das efígies de Lenine. Staline, Mao Tse Tung e, para terminar ... Salazar!”
José Calvet de Magalhães


Aproveito e junto mais um.
Era também dançarino.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

sábado, 8 de setembro de 2007

Irão: Guardas da Revolução conservam hard-liners

Hashemi Rafsanjani alcançou liderança no Conselho de Sábios mas Ayatollah Khamenei mantém grande apoio ao Pr., Ahmadinejad, apesar de sinais inquietantes de crise económica e política.

Ninguém sabe como se irá processar a sucessão misteriosa do actual líder supremo e, no curto prazo, de que modo se irão constituir as listas para as eleições legislativas. Agora que os dados surgem ainda mais contraditórios e amalgamados pela eleição espectacular do principal adversário do número dois da hierarquia iraniana, o liberal Rafsanjani. E onde a única coisa certa é o poder discricionário do actual Pr. continuar a ter a caução dos Guardas da Revolução e dos bandos paramilitares Basij. E do líder Supremo. Ahmadinejad tem mesmo explorado o radicalismo militarista dos seus apoiantes e multiplicado purgas e razias contra os meios da oposição iraniana no interior., numa prova abusiva de força.

O descontrolo da economia é um dado adquirido: a resignação do Governador do Banco Central e dos ministros do Petróleo e da Indústria agravam os sinais de crise. A inflação parece incontrolável e os investidores preferem jogar pelo seguro e arriscar especulativamente no imobiliário. 60 biliões de dólares foram gastos pelo Estado iraniano em compras de bens essenciais ao estrangeiro, nos últimos dois anos.

Rafsanjani lidera a face visível da alternativa liberal do poder iraniano contra a deriva militarista e populista incarnada por Ahmadinejad. Dirige o Conselho de Intendência Geral também. Os seus críticos acusam-no de ter enriquecido no Import-Export, juntamente com os seus filhos. Tem visto os seus aliados serem presos e marginalizados: o último foi o antigo negociador político com a AIEA, o corajoso Hossein Mousavian, acusado de espionagem ao serviço de uma potência estrangeira. Segundo indica o enviado especial do NY Times a Teerão, Rafsanjani só pode contar com os seus mais directos apoiantes e Khamenei não parece querer " mexer uma palha por ele", pois teme-o e considera-o um " concorrente ". Por conseguinte, Ahmadinejad só pode perder se a crise económica se agravar de forma caótica.

No cerrado puzzle de grandes manobras geopolíticas em acto no Médio Oriente e no Golfo Pérsico destaca-se o papel cada vez maior exercido pela China e pela Rússia, com objectivos opostos em grande parte. De qualquer das formas, Putin pensa no cartel dos hidrocarbonetos reforçado com as reservas irano-iraquianas, apesar de todas as impossibilidades e dos erros catastróficos já cometidos pelos USA ; Hian Jitao sonha com a instalação de refinarias e terminais no Irão em troca da cedência de mísseis com capacidade nuclear no médio prazo, ainda que Israel e Japão tenham avisado que se opunham frontalmente a tal transacção.

FAR

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Telegramas

Relações irano-americanas legítimas são solução para guerras no Iraque e Afeganistão - É um refrão que se escuta há meses. E para a qual as cadeias diplomáticas da União Europeia e da ONU têm aplicado o esforço das meninges. A coisa é complexa. Os EUA nunca reconheceram diplomaticamente a República Islâmica iraniana e a administração Bush-II multiplica as " jogadas" no terreno de equipas de espionagem e sedição. Por seu turno, o Irão envolveu-se amplamente em todos os conflitos regionais do Médio Oriente, dispensando treino e material de guerra sofisticado às milícias chiitas, em maioria geográfica incontornável naquelas latitudes. Num artigo de Selig Harrison, expert do Centro de Política Internacional de Washington, que se deslocou a Teerão, e publicado no F.Times, vislumbra-se um começo de paz e sensatez. Harrison diz que o chefe espiritual Ayatollah Kamenei e o Conselho de Segurança Nacional estão dispostos a discutir plenamente com os EUA, e aliados, as questões do processo nuclear e da intervenção político-militar iraniana no Iraque e no Afeganistão. Sem subterfúgios nem ratoeiras. Pedem em troca, para desarmar eventuais críticas dos adeptos do hardliner PR, Ahmadi-Nejad, que os EUA reconheçam a República Islâmica e ponham cobro às acções secretas contra o poder constituído no Irão. Trata-se de uma proposição muito consistente e , frisa o analista, " mesmo com a ajuda iraniana, o futuro quer em Bagdad quer em Cabul, será sempre tempestuoso "; mas, finaliza," a cooperação entre Washington e Bagdad representa a melhor esperança para limitar os estragos ".

Zimbabué: inflação ronda os 1000 por cento ao mês - Ninguém sabe o que poderá acontecer ao poder e ao povo do Zimbabué. O que se sabe, segundo o Washington Post, é que Robert Mugabe adiou para Julho a segunda volta das negociações com os partidos da Oposição, que sob os auspícios da África do Sul decorreram recentemente em Joanesburgo. Fontes governamentais sul-africanas revelaram que todos os experts de economia " sentem " quase como inevitável o colapso económico do antigo " celeiro de África ". Mugabe será assim obrigado a ceder o poder, de força. De acordo com a mesma fonte, os experts calculam em 1000 por cento a infernal taxa de inflação mensal do Zimbabué. Os dois partidos da Oposição, com fortes querelas tácticas, solicitam a nomeação de um colégio eleitoral idóneo que possa realizar as Presidenciais em Março, do mesmo modo que reclamam o fim da polícia-de-choque e o voto livre para os emigrantes (3 milhões) que vivem no estrangeiro.

China: quem manda nas Forças Armadas? - Os países circunvizinhos estão cada vez mais inquietos com a falta de transparência - quem manda e orienta? - que envolve o inacreditável desenvolvimento e modernização do Exército Popular da China. Especialistas militares de Taiwan colocam em xeque a hipótese oficial de que o Presidente da República, Hu Jintao, tenha conseguido domar o apetite das altas chefias do exército, que querem conservar a sua visão sobre o xadrez geoestratégico dos possíveis adversários da RP da China, de acordo com uma extensa análise desenvolvida no NY Times recentemente. Sem se conhecer a real capacidade e orientação estratégica das forças armadas chinesas os seus vizinhos, diz o artigo assinado por David Lague, fica-se sem saber o que é que a China deseja e prepara militarmente no contrabalanço do equilíbrio de poderes na Ásia. A questão da utilização da arma nuclear numa hipotética invasão de Taiwan, inquieta tanto os EUA como os outros estados independentes da zona. Ainda não foi esquecido, e o seu autor não foi castigado, general Zhu Chenghu, director da Academia Militar, que há dois anos brandiu a arma nuclear como opção contra os EUA, caso Washington defenda Taiwan de um ataque surpresa da RP da China.

Espanha: economia com pés de barro - Martin Wolf, do Financial Times, alerta para o fim do espectacular e contra-cílco boom de "nuestros hermanos". A "bolha" do sector da Construção Civil / Imobiliário vai acentuar a queda do crescimento económico, com a competitividade e a produtividade a atingirem valores muito preocupantes. Tudo porque a Espanha valorizou um sector tradicional em detrimento do reforço e da inovação tecnológica. A competitividade sofre com a alta geral dos salários e, sobretudo, com a crescente e forte concorrência dos industriais do Leste europeu. O deficit da balança de pagamentos é o segundo maior do Mundo depois do americano, cifrando-se em cerca de 107 biliões de dólares. Uma política de ajustamento técnico-económico de grande impacto para a próxima década, e tirando partido da estabilidade macroeconómica prodigalizada pela União Europeia, é uma das hipóteses mais ventiladas pelos experts da OCDE , em especial. Que impacto é que esta situação pode ter sobre a economia portuguesa, tão imbricada com a sua congénere ibérica, parece ser uma questão a não iludir.

FAR