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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Da Capital do Império

Obama reduz fundos para Combate à SIDA

A luta contra a SIDA vai nos próximos tempos deparar com enormes dificuldadades de financiamento devido a dois factores:
1) A crise económica/financeira mundial;
2) A administração de Barack Obama.
Comecemos por recordar alguns factos. O financiamento da luta contra a SIDA através do mundo e particularmente em África tem sido feito essencialmente através de duas fontes, nomeadamente A) o Fundo Presidencial para Alívio da SIDA (iniciado por George W. Bush e conhecido pelas iniciais PEPFAR) e B) o Fundo Global de Combate à SIDA, Tuberculose e Malária.
É no caso do Fundo Global que a crise financeira internacional entra em jogo. Quando criado em 2001 pela então Secretário-geral da ONU Kofi Annan o Fundo Global previa um “pote” de 7 mil milhões a 10 mil milhões de dólares.
Na prática os Estados Unidos (quem mais poderia ser?) deveriam contribuir com 50 cêntimos americanos por cada dólar doado pela comunidade internacional.
Mas as outras nações têm doado tão pouco que o govenro americano tem pago anualmente muito menos do que aquilo autorizado pelo Congresso americano. Desde a sua fundação o fundo gastou 6 mil milhões de dólares e o ano passado recebeu menos 3 mil milhões do que havia previsto forçando o fundo a reduzir as suas doações em cerca de 12%.
Para além disso o orçamento do governo americano para 2011 prevê uma redução de 50 milhões de dólares da contribuição dos Estados Unidos para o fundo.
Mas não é só para o Fundo Global que a administração Obama está a aplicar reduções. O PEPFAR de George Bush está autorizado pelo congresso a gastar entre 2008 e 2013 48 mil milhões de dólares. O seu orçamento tem sido na realidade de cerca de sete mil milhões de dólares anuais. A administraçao Obama avisou já os receptores dessa ajuda (entre os quais organizações que operam em Moçambique) que não devem esperar aumentos por pelo menos nos próximos dois anos.
Em Moçambique organizações envolvidas em actividades relacionadas com o PEPFAR vão encerrar alguns programas.
Talvez surpreedente para alguns é que a decisão da administração Obama não se deve a somente a questões económicas. Obama criou a sua propria Iniciativa Global de Saúde e as suas prioridades não são a SIDA.
E se é verdade que os activistas da luta contra a SIDA estão em fúria a verdade é também que Obama e a sua adminsitração têm razão quando afirma que mais vidas serão salvas se se concentrar fundos em doenças infatis facilmente curàveis ou preveníveis. Muito mais gente morre no mundo de doenças tratáveis ou que podem ser prevenidas como infecções respiratórias (mais de quatro milhões de mortes por ano), meningite (174.000 mortes por ano), tétano (214.000 mortes por ano), tosse convulsa (entre 200.000 e 300.000 mortes por ano), sarampo (530.000 mortes por ano), diarreia (2,2 milhões de mortes por ano), malária (entre 1 e 5 milhõe de mortes por ano).
Eu sempre fui de opinião que a razão por que se deu tanto enfâse à SIDA se deve ao facto de ser uma doença que afecta ou pode afectar também o mundo desenvolvido e para a qual não há cura. Para aquelas doenças que há cura ou que são preveniveis mas que não afectam o mundo desenvolvido pouca atenção se presta. Um milhão de mortes por malária e 530.000 de sarampo por ano deveria ser o suficiente para criar fundos mundiais de combate como foram feitos para a SIDA. Mas pouca atenção se presta a isso.
Um estudo aqui divulgado revela que para tratar um paciente da SIDA no Uganda durante toda a sua vida (desde que a doençaa é detectada até a sua morte) custa ceca de 11.500 dólares.
Com gastos de 1 a 10 dólares pode-se salvar mais vidas em prevenção e combate à diarreia, malária, sarampo e tétano com atibioticos, redes mosquiteiras, filtros de água e vacinas.
Não é simpático e talvez seja mesmo um pouco cruel falar-se em termos de custos e gastos para avaliar vidas humanas. Mas governar é ter que escolher. Na maior parte das vezes entre o mau e o pior. Essas escolhas envolvem sempre fundos limitados e em alguns casos como agora essas limitações são agravadas por uma crise.
Mas por muito que custe não é de admirar a escolha de Barack Obama. É lógica. Ao fim e ao cabo Obama é produto da Universidade de Chicago onde, segundo se diz, “as mentes são frias e analíticas quando o resto do mundo se emociona”, mentes que “seguem os factos até aos seus extremos lógicos”.

Da Capital do Império,

Jota Esse Erre

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Como engordar os obesos

A obesidade financeira passa por não ser doença. Bem vistas as coisas talvez seja, porque também ela se constrói por toxicidade acumulada. Como a original, hambúrguer/ketechupe e pipocas, viabiliza uma meteórica ascensão ao porcino triunfo. Diversa, a Ob. do tipo financeiro, é completamente SPA: banho turco com esguicho escocês pela frente e nas costas altas.
Entretanto a OBFIN (léxico dos paraísos fiscais) é identicamente mórbida como a Ob. proteica. Não da morbidez da toxicidade específica do dinheiro, mas daquela da finta ao fisco e outras magias tácticas, próprias da toxicidade específica dos processos de adquiri-lo, e também daquela, mais específica ainda, que é a do dinheiro falso que, como se sabe, é de dois tipos: o contrafeito a gosto e o dos outros que é nosso, jogado no Casino global em sede de virtude própria. Quem pode dizer agora que Dona Branca não era de imaculada seriedade gestora?
A gestão – sempre se soube que a dos proventos e suor alheios faz as fortunas -, é a via mais frequente do sucesso e acontece aos falsos magros. Por exemplo, o muito a pulso Dr. Oliveira e Costa é um falso magro, de tal modo que a sua receita para a obesidade financeira atraiu muitos outros também falsos magros, como o insuspeito Dr. Loureiro que todos os santos protegem, mesmo os laicos.
É também óbvio que os falsos magros da Opus deles, banqueiros e peregrinadores a Rolls-Royce – não as do pecado para arrependimento catártico, o recurso a São Viagra remete a traição para a intangibilidade da química –, também são obesos financeiros, mas neste caso, fazem mais facilmente o papel de criaturas morais porque, vá-se lá a saber como, são eles que ditam a lei da moralidade que baseia o tal poder independente da justiça idêntico ao poder dependente da justiça. E dependente de quem? Da hidra, de rosto multiforme e sucessivo poder global com delegados locais, cabecitas anãs da serpente.
Como se sabe juiz em causa própria é hoje a regra e receita. Para tal vende-se a mentira mantida fresca na rede de frio espectacular enquanto o facto novo necessitar de se impor (reputações de seriedade, por exemplo) até à saturação – aí já ninguém lhe resiste. Os ecrãs privados públicos e públicos privados cumprem as ordens de quem, de cima, não necessita de as exibir. Não há aliás mecanismo de exposição crua da verdade que sobreviva às camadas de publicidade ideológica cuja potência de branqueamento do ilícito jogado são a regra, o que estrutura o sistema, dos bancos ao governo, das empresas ao governo, das empresas aos bancos, do publico ao privado e das polícias à própria lei e parlamentos. A rede tece as suas malhas de modo multipolar e não necessita de um centro. Os centros são plurais, plutocratas e igualmente mafio-democráticos. Todos nós conhecemos o modo como os gangs geram e gerem os seus territórios lucrativos. O ponto a que chegámos torna indistinta a fronteira entre os verdadeiros e os supostamente virtuosos. De acordo com a lei de facto, a do poder no presente e do presente, obviamente que todos os que mexem com dinheiro ungido por um qualquer baptismo legal são virtuosos, tanto os do tráfico da cocaína, como os do tráfico do dinheiro especulado. A virtude compra-se como qualquer outro produto e compra-se obviamente nas lojas do Estado – o Estado, é a especialidade dos tribunais e das polícias, vende virtude(s) a preços obviamente proibitivos para as pessoas comuns, há cauções que são quase Pibes –, nessas que ainda jogam algum poder. Alguma dúvida? De Porto Rico ao Iraque só não vê quem não tira a cabeça da areia por amor do ilógico e do breu.
Em síntese: tudo como a fruta calibrada, custa mais que a outra e é legal. Mas de facto é feita de ração para maçã e é muito mais bela do que a verdadeira. Quem não lhe corre atrás? Os obesos financeiros - falsos magros, são como estas maçãs, cheios de virtude por fora e fedem por dentro, não do bicho mas da química de casta.
A fim e ao cabo coitados, de tão obesos, aos falsos magros há que engordar. É o que faz quem manda seguindo o alto espírito laico da caridade igualitária. E secretamente, a alma do negócio, com o ruído necessário à diversão táctica em fundo, mesmo na face.


Fernando Mora Ramos

domingo, 4 de janeiro de 2009

"A grande explicação desse emaranhado"

O estrangeiro, um empresário ocidental, sentou-se ao meu lado durante um almoço da Asia Society em Hong Kong e me fez uma pergunta que, digo honestamente, jamais tinha sido feita até então: “Até que ponto a América está corrompida?” A pergunta veio a propósito da prisão do gestor de recursos e investidor Bernard Madoff, acusado de dirigir um chamado esquema Ponzi que lesou investidores em bilhões de dólares, mas não foi só por isso.

É toda essa maldita confusão que se verificou em Wall Street - o centro financeiro que os financistas de Hong Kong sempre admiraram. E eles se perguntam como nomes de marca do porte de um Bear Stearns, Lehman Brothers e AIG puderam acabar com os pés na lama? Onde, eles perguntam, estava a nossa Comissão de Valores Mobiliários e os rígidos padrões que nós pregamos para eles durante todos estes anos? Um dos mais respeitados banqueiros de Hong Kong, que pediu para não ser identificado, disse-me que a empresa de investimento americana onde trabalha fez fortuna na última década colocando ordem em bancos asiáticos enfermos. E isso foi feito importando as melhores práticas americanas, particularmente o princípio do “conheça o seu cliente” e os rígidos controles de risco. Mas agora, ele perguntou, para onde olhar em busca de uma liderança exemplar? “Antes havia os EUA”, disse ele. Supunha-se que os investidores americanos tinham um conhecimento melhor e agora o próprio país está em dificuldades. Para quem vão vender seus bancos? É difícil para a América adotar os próprios remédios prescritos com sucesso para outros. Já não há mais médicos. O próprio médico está doente.

Não simpatizo com Madoff. Mas o fato é que o seu alegado esquema Ponzi foi apenas ligeiramente mais vergonhoso do que o esquema “legal” que Wall Street conduziu, alimentado pelo crédito barato, parâmetros medíocres e uma enorme ganância. Que nome dar para o fato de se dar a um trabalhador que ganha US$14 mil por ano uma hipoteca sem entrada e sem prestação por dois anos, para comprar uma casa de US$750 mil e depois transformar essa hipoteca em bônus - que a Mooddy’ s ou a Standard & Poors classificam como títulos AAA - vendendo-os depois para bancos e fundos de pensão pelo mundo todo? Era isso o que o nosso setor financeiro estava fazendo. Se não se trata de um esquema de pirâmide, então o que é? Longe de estar fundamentado nas melhores práticas, este esquema Ponzi legal teve por base os corretores hipotecários, pacotes de bônus, as agências de classificação, os vendedores de títulos e os proprietários de imóveis, todos trabalhando segundo o princípio IBG (“I’ll be gone” - já terei partido) quando os pagamentos vencerem ou a hipoteca tiver de ser renegociada.

É revelador e deprimente observar a nossa crise bancária a partir da China. É difícil evitar a conclusão de que Estados Unidos e China estão se tornando dois países e um único sistema.

Como assim? Fácil: diante do enorme pacote de ajuda aos bancos, pode-se agora olhar para os dois e dizer: “Bem, a China tem um enorme setor bancário estatal ao lado de um privado e os EUA hoje têm um enorme setor bancário estatal ao lado de um privado. A China tem grandes setores estatais, juntamente com setores privados e, tão logo Washington preste sua ajuda financeira a Detroit, os EUA terão um enorme setor estatal ao lado de setores privados.

Pode parecer exagero, mas a verdade é que as diferenças começam a ficar menos claras. Por duas décadas, autoridades americanas desfilaram por Pequim, pregando sobre a necessidade de a China privatizar bancos, disse Qu Hongbin, economista chefe do HSBC na China. “Assim, lentamente nós assim o fizemos, e agora, repentinamente, vemos todo mundo nacionalizando os seus bancos”.

É deprimente porque a China, sob vários aspectos, sente-se mais estável do que os EUA hoje, com uma estratégia mais clara para superar a crise. E embora os dois países pareçam mais semelhantes, também parecem estar em trajetórias muito diferentes. Enquanto o capitalismo salvou a China, o fim do comunismo parece ter perturbado os EUA que perdeu os dois maiores concorrentes ideológicos : Pequim e Moscou. Quando o capitalismo americano não precisou mais se preocupar com o comunismo, parece ter enlouquecido.

Os bancos de investimento e os fundos de hedge se endividaram em níveis insanos, pagando para si mesmos salários absurdos e inventando instrumentos financeiros que desconectaram os credores dos tomadores de empréstimos, sem nenhum responsável. É por isso que não precisamos de um pacote de ajuda financeira; precisamos de uma ajuda ética, restabelecer o equilíbrio básico entre nossos mercados.

Thomas Friedman, THE NEW YORK TIMES

Com a devida vénia ao Ladrões de Bicicletas

sábado, 20 de dezembro de 2008

sábado, 22 de novembro de 2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Da Capital do Império

Olá!

Como vocês sabem o Grupo dos 20 Gajos (G-20) esteve aqui recentemente para um boa jantarada em que um dos vinhos ( Shafer Cabernet Hillside Reserve 2003)) custa a retalho entre 350 e 400 dólares a garrafa. Nada mau!
Mas o que me chateou não foi isso. Eu acho que um bom vinho deve ser bebido sempre em boa companhia e mesmo em má companhia porque após o terceiro ou quarto copo a companhia começa a já não interessar muito, principalmente quando o pretexto para os copos é resolver os problemas financeiros do mundo.
O que me chateou um pouco foi ver que o Nicolas Czarkozi já foi ligeiramente infectado pela doença infantil da UEtupia que é o anti americanismo primário. É uma doença perigosa porque resulta de imediato na incapacidade de analisar friamente factos ou mesmo em certos casos na paralisação total do cérebro cada vez que a palavra “América” é mencionada. Em alguns casos leva mesmo demência total quando a palavra “Bush” é ouvida.
Digo isto porque o Czarkozi mostrando a tal infecção veio juntar a sua voz ao coro daqueles que nos últimos meses têm vindo a pregar o fim do estatuto dos Estados Unidos como superpotência mundial. Vêm aí os chineses! os indianos! e agora vejam lá até os brasucas vêm aí acabar com o estatuto de superpotência de Washington.
“Os Estados Unidos continuam a ser a maior potência mas já não são a única potencia,” disse o Czarkozi um pouco à La Palisse. Deve ter andado a estudar aqueles analistas que proclamam que os Estados Unidos “não podem já ditar e esperar que os outros sigam”. Pois claro que não. Não são nem nunca foram a única potencia nem nunca puderam ditar à espera que os outros seguissem. Foi por isso que houve guerras na Coreia, no Vietname, no Iraque. Sempre houve outras potências e sempre as haverá. Sempre houve e sempre haverá quem não obedeça a “sugestões” de grandes e superpotências. Ser superpotência nunca significou ser-se única potência ou omnipotência. Significa apenas isso: ser-se Numero Uno e por isso ter-se mais influencia, mais capacidade de acção, mais poder.
E aí nada mudou. Vejamos:
O rebentar da bolha financeira acabou logo à partida com o mito de uma economia mundial desligada da economia americana como se apregoava. Os Estados Unidos constiparam-se o mundo apanhou uma gripe. O que só pode espantar aqueles que ao início não podiam esconder o seu regozijo perante a crise americana demonstrando ou uma total ignorância da realidade ou um caso óbvio de doença infantil da UEtupia. Senão vejamos: O ano passado os Estados Unidos constituíram 21 por cento da economia mundial. Em 1980 eram 22 por cento. Tendo em conta o advento da China, Índia e brasucas a perda de um por cento da produção económica mundial em 27 anos não me parece um sinal de descalabro económico. E ou muito me engano quando a poeira assentar essa percentagem terá aumentado
Vejamos os números da crise: O Congresso aprovou um pacote de 700 mil milhões de dólares. Isso é 5 (cinco) por cento do Produto Interno Bruto americano. A Alemanha (a maior economia europeia) aprovou um pacote de entre 400 mil milhões e 536 mil milhões de dólares. Isso é entre 12 e 16 por cento do seu Produto Interno Bruto. O pacote aprovado pelos ‘bifes” é de 835 mil milhões ou seja 30 (trinta) por cento do seu PIB.
Essas percentagens não são de admirara Em termos de PIB a economia americana é quase tão grande como a dos outros seis países do G 7
Dividas americanas? São tantos zeros que já não sei se devo dizer triliões ou milhões de milhões. Mas qualquer que seja a palavra certa a percentagem da dívida do governo americano em relação ao PIB é de 62%. Muito? Talvez. Na zona do Euro é de 75 por cento. No Japão 180%.
E não vou entrar aqui em “research and development” ou investimentos na educação terciária. Não é preciso números. Basta ir dar uma passeata por uma universidade americana onde as bibliotecas estão abertas até ás 23 e 24 horas com malta a “marrar” e onde há computadores que sobram. Depois atravessar o lago e dar se uma passeata por uma universidade desse lado do charco e está tudo dito. Defesa? Os Estados Unidos gastam mais em defesa do que os seguintes 14 países em conjunto. E isso é apenas 4,1 por cento do PIB, mais baixo do que durante a Guerra-fria. Iraque, Afeganistão? Menos de um por cento do PIB. (Sim eu sei que o poder militar não é necessariamente sinal de força. Sei que é consequência.)
O Czarkozi deveria feito uma leitura fria dos números. Não o fez e depois meteu outra vez a pata na poça quando afirmou que “o dólar já não é moeda de reserva” do mundo. Aí eu desatei a rir às gargalhadas. Lembrei-me daquilo que o “garganta funda” disse aos jornalistas do Washington Post quando estavam a investigar o escândalo Watergate: “ If you want to know the truth follow the money”.
Ora bem: Vocês devem lembrar-se que o Euro atingiu 1,60 dólares por volta de Abril, altura em que a Libra esterlina valia pouco mais de dois dólares. Tenho a dizer que eu ficava cheio de inveja a ver os “europas” e “bifes” a virem a este lado do charco encher as malas de compras. Depois rebentou a bolha financeira e o Euro e a Libra Esterlina pareciam mergulhadores a saltar da prancha dos dez metros nos jogos olímpicos. A última vez que olhei para os câmbios o Euro estava a 1,26 e a Libra esterlina a 1,50 dólares. Nunca tão poucos caíram tanto em tão pouco tempo.
Então porquê? Porque em tempo de crise verdadeira, como aquela que se faz sentir agora através do mundo o princípio é muito simples. Segurança só há uma: no dólar e mais nenhuma. Só em Setembro (mês em que a bolha estoirou) a China comprou 43 mil e 600 milhões de dólares de títulos do tesouro americano.
A procura de dólares foi tão grande que a 29 de Outubro o banco central americano, o Federal Reserve assinou um acordo de “troca de liquidez” com os bancos centrais do Brasil, México, Coreia (do sul) e Singapura. Cada um vai receber dos States 30 mil milhões de dólares para “mitigar o alastramento das dificuldades …. em economias que são fundamentalmente boas e bem administradas”.
Enterrado no fim do comunicado dizia–se que o Federal Reserve tinha autorizado acordos semelhantes com a Austrália, Canada, Dinamarca, Inglaterra, Banco Central Europeu, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Suécia e Suíça.
A julgar pelo que disse o Czarkozi eu pensava que deveria ter sido ao contrário. Obviamente o Czarkozi não leu o comunicado do FED. Pior do que isso: He did not follow the money. Só veio aqui beber um vinho caro …americano.
Abraços,
Da Capital do Império,

Jota Esse Erre

quarta-feira, 23 de abril de 2008

quinta-feira, 3 de abril de 2008

SF: A era da turbulência gera a moral do imprevisto

Sem tirar nem pôr. Criar vagas psicadélicas e fazer fé no mercado auto-regulado. Bancarrota à vista? Hipotecar títulos do tesouro no estrangeiro e enfraquecer o dólar. Tudo no segredo? Sem dar nas vistas? Como nos livros/filmes de Ficção Científica, é evidente! Vamos ver a loucura - a palavra mágica - que incendiou as primeiras páginas dos grandes diários económicos mundiais, via Fórum dos Economistas do Financial Times. E é só um " cheirinho"…

No auge da crise do mercado financeiro anglo-saxão, Alan Greenspan escreveu um artigo surrealista no FT, onde dizia preto no branco que jamais se conseguem evitar os riscos na economia de mercado; e que ele, o mercado, se constrói e avança por si. Alice Rivlin, economista próxima dos Clinton, ataca: o pecado não reside nos modelos imperfeitos - de controlo de gestão dos empréstimos- mas, isso sim, sublinha, não sendo necessários modelos extremistas, urge perceber o que acontece quando" o preço das casas cai e o seguro dos empréstimos desaparece" na volatilidade complexa da economia, dando surgimento ao ciclo recessivo e à destruição do mercado de trabalho e da competitividade industrial.

"O colapso nos mercados de crédito não constitui nenhuma surpresa para os estudantes de gestão e de crédito bancário. Ele deriva da errância dos incentivos e de um paupérrimo estilo gestionário", assevera por seu lado Mary Schranz, economista do Citigroup, que ante visiona para o consumidor norte-americano tempos difíceis: "A inflação vai ser bastante alta, o valor da moeda tenderá a ser fraco e o fundo dos problemas financeiros acabará por permanecer inalterável ",ante visiona sem pestanejar. E no resto do Mundo?

Martin Wolf, o economista-editor-em-chefe do FT, entra na discussão. "Existe uma grande quebra na regulação". E " os riscos geram má gestão " em cadeia dos agentes e entidades da concessão do crédito, incluindo as agências, os bancos e sociedades de investimento "E esta farpa directa a Greenspan: "Não poderemos ignorar por mais tempo as acções de cruzeiro (Hedge Funds). Temos que observar cautelosamente todos os incentivos em acção no interior do sistema financeiro- um assunto que Mr Greenspan evita. Isso não é só ignorância. Constitui, isso sim, uma obstinada e tendenciosa ignorância". A era da turbulência gera a moral do imprevisto, com efeito.

FAR