sábado, 21 de junho de 2008
Mambo 45
Assim lhe sucedeu aos amores também.
Molhava o pé primeiro nas areias soltas, e na poeirada da emoção já lhe parecia aviltado o entusiasmo, e a luxúria em espuma do quase imaginado encolhia-lhe o que seria o segundo passo numa forma tão mesmo mínima, que levaria séculos para que arrastando-o, se considerasse isso andar em direcção a alguém ou a algo.
Por causa dessa atitude voluntariosa em não coincidir a vontade com o acto, ficou como sendo quem vinha a caminho numa sorridente correria, levantando as vidas já atenuadas como leves folhas sopradas à sua passagem, caso completasse a outra metade do que desejava, o que após o que nunca acontecia essas mesmas existências se transportariam de novo para sítios semelhantes onde é alcançável a maciez do que quer que seja, que é no fundo apenas um também adiado esquecimento.
Mas no seu modo, o que se tornava realidade era apenas uma esperança de revoada futura, de um dia que se gangrenara em sonho seu, revoada essa que alteraria a sua vida de tal forma que se respeitaria até à decadência do seu corpo, como sendo alguém capaz de dar mais de uma passada.
Existem começos que são apenas já o fim, no entanto.
Por causa das metades que a existirem seriam o meio, que é o que sustenta as pontas dos acontecimentos.
Com os vapores contemporâneos, ficava-se pela metade de tudo quanto pensava ser inteiro, caso continuasse.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Mambo 44
domingo, 4 de maio de 2008
Mambo 43
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Mambo 42
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Mambo 41
Sempre um se poderia tombar nele e deslizar sem horizonte fechado que apouque, nas avantajadas costas das palavras, nessas desrodas eficientes que permitem o transporte para o interior de alguém, uma vez que o destinatário não se comporte como em tempo de guerra uma estratégica fronteira que existe apinhada de enfartamentos, nem que seus pensamentos de primeira fila, queiram na vida ser a criança que louca se estreita atrás do tronco de árvore no quintal, para não ser a próxima a ter que estar cega, a contar até cem a cada minuto em que se desajeita no encontro com os demais, enquanto progride na audição de si mesma.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Mambo 40
Tenho pelo menos um amigo que pensa que pensa que primeiro pensa e depois sente, ao entregar-se ao escrever.
Atafulhada de sentires, é então quando penso nestes, sobre eles, e sobretudo com eles.
Não é muito racional talvez, andar com um carrinho de supermercado mental, cheio de coisas enviadas desde a porosa sensibilidade, mas é como penso que vivo desde que comecei por inventar sem saber após alguma reflexão de onde chegava isso precisamente, se de irreconciliáveis momentos em que o corpo é a experiência da existência, se era apenas isso um desfoco que habitava redutos próprios do descanso das ideias ou se como duas linhas férreas aquela união de antiga vizinhança se comprometia a tornar desfalecida a dúvida...
Sentimos ou pensamos primeiro? sobre o vazio que se esboroa e se rende à linguagem...
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Mambo 39
Não se sabe se tudo se vai entranhar em afundamentos na perda ou apenas revolvida a superfície, areja-se o novo caule já surgido entretanto, o que guarda a desejada imperdível flor.
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Exposição
quinta-feira, 27 de março de 2008
Mambo 38
terça-feira, 18 de março de 2008
Mambo 37
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Mambo 36
Lubango 2005/ O PátioExistia uma porta em vidro, de correr, pesada e grande para a minha verde estatura e depois, o pátio.
Brincava nele a ser nada. Só ficava ali a usar os olhos nos kissondes que passavam, tipo tanques de guerra no seu tamanho de respeito, em fila a ir a algum lado ou em confusão desperta pela minha aproximação. Podia espreitar-lhes as muchilas de pedra e as antenas encostando o rosto à terra.
Só ficava ali a engolir as cores de tudo, a seguir as formas das folhas e das flores, a enroscar-me nos cheiros vegetais como se fossem uma refeição a desoras, que é quando sabe melhor.
O pátio era também uma alcofa de raízes e tricotados verdentos, para ali iam através das lamelas, as gatas vadias expôr as suas ninhadas ao esconderijo. Depois era arranjar vidas para todos aqueles descendentes às riscas douradas, cinzentos tigrados, enfeitiçantes de olhos, felinos em miniatura no meu colo.
Havia uma torneira ao fundo, que fazia de cascata ressaltante ao bater nas duras carapaças dos cágados, sempre que lhes ia oferecer cascas de papaya, talos de alface, deliciosos desperdícios de cozinha.
Eram três e de diferentes gerações. O mais velho buscava-me ternuras. Trazia ao mundo todo o seu áspero pescoço para que lhe fizesse festas nos enrugados escamosos e na testa. Parecia-me que sorria nos seus lábios em bico.
Alegrava-me o facto de me puderem sobreviver. Não me sobretudariam de tristes lutos, como os demais seres aqui e ali e mesmo perto, dentro das casas.
Não sei nem quanto corri atrás da aflição que existia na boca do cão grande que desapareceu em seta, quando o mais velho da familia das carapaças foi raptado pelo brincalhão canino. Apenas umas rachas na casa de castanhos losângulos, no final de tudo sustos juntos, bem assomados.
No pátio, ficava só ali sem nada querer ser, enquanto tudo acontecia numa escala mais pequena tão perto da minha pequena e calada vida também a ser acontecida, no pátio.
As brincadeiras a ser outros existiam, mas não ali, só em volta da casa e na rua, mais perto do mapa das pessoas e de seus amores mais dotados de complicações que o próprio negro brilhante dos kissondes, que o compacto laranja da trepadeira, que a cor de deserto dos cágados e que as riscas amaciadas dos gatos, todos com as suas existências aparentemente simples no meu recatado assombro.
Lá fora, a montanha a começar-se e amadamente espiada desde o pátio e o grito cada vez menos raro de mundos nas pessoas e também, desejos meus ainda com som de casca que flutua, a serem voados depois.
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Mambo 35
À laia de mais um conto.
Fazer de outro mas a brincar, que de outro modo é auto-terrorismo.
Hoje sou apenas um bamboleado telhado de zinco, para que a chuva seja alguém que se espera em ternuras, de mesa posta, no melhor despido, de espaçosa vaga interior no próprio adentrado chão bem côncavo, para a celebrar em parecenças, e a resguardar de desaparecimentos.
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
Mambo 34
Bem chegada, a ventoinha num sopro quente a desgastar-se na direcção do corpo em modo lânguido, pestanejando pelo ar algumas ideias em demora por aquietados desejos, nesse aflito tanto gosto pela vida como pela morte, que se confunde em festa, como areias que resvalam irmanadas na indisposição de montanha pouco enrochada.
Só querer oferecer esse resplandecer das manhãs, que pode ser a qualquer instante, numa desatenção à civilização, num não te crês.
domingo, 16 de dezembro de 2007
Mambo 33
Sempre me intrigou a relação entre as estruturas e os seus habitantes, tanto quanto me surpreende o diálogo entre um corpo e quem o habita...
No período dos descobrimentos, já as casas parecem querer ganhar águas que as movimentem nesse sonho e por isso, têm a forma de barcos, virados ao contrário como que temporariamente recolhidos. (Madeira)
Para os lados de Montalvo, dos arrozais do Sado, existem as casas dos descendentes de escravos, que se estruturam numa sanduíche de madeiras e feno e em que a cozinha é situada ao ar livre, frente à casa, mostrando os doces hábitos africanos de ligação à terra, ao sol, à natureza, ao espaço. (Não consigo apontá-las ...)
No período da colonização dos Açores, o conceito de casa para lá transportado foi o dos habitantes para lá mudados, casas do sul, do Algarve, em que a diferença mais notória era a chaminé que ganhara a forma da chaminé de barco. Foto abaixo: Stª Bárbara/Açores; Piodão
A casa de influência árabe, revela-se sobretudo na cor branca e pelos seus terraços, onde os povos do deserto fixariam as estrelas, recolheriam água, desenvolveriam o estudo da geometria e matemática. foto abaixo: Loulé
Também existem os Palheiros da Tocha que são construções de apoio à pesca.
Casas ligadas à pesca da sardinha, onde se guardavam as alfaias e redes e que a partir de 1930, com a valorização do verão como possibilidade de praia, passaram a ser casas de praia.
foto: abaixo: Palheriro da Tocha
Junto à linha fronteiriça, na época medieval, na zona arraiana (Sortelha, Sabugal, Almeida…) aparecem as casas que se têm que moldar à geografia interior do Castelo que protegia a aldeia, em defesa dos inimigos de Castela.
A casa romana, no período neolítico, já traduz o surgimento da agricultura e a posse da terra, significa a sua divisão entre os homens, passando a ser rectângular a forma de distribuição dos terrenos e das próprias casas. A forma da mulher na arquitectura deixa de ser eloquente, num tempo patriarcal. casas foto abaixo: Piodão; Sortelha
Já as casas em redor das cidades, por exemplo em Mafra, sofrem influências orientais japonesas e chinesas, configurando os seus telhados em forma da cobertura dos pagodes, onde parece que existem no seu desenho, asas a aconchegarem-se no ninho.foto abaixo: Mafra
Por exemplo, explica-me Justino Brito, a casa Celta (Briteiro), circular, primitiva e pertencente ainda a um período de matriarcado, onde a forma da mulher grávida era o símbolo de fertilidade, tem o seu telhado em forma de seio e na sua fachada dois braços de pedra que serão os braços acolhedores com que a mãe estreita o seu filho ao amamentá-lo. Este tipo de casa primitiva era um ponto de apoio à maternidade. foto abaixo: Soajo; Briteiros; Tourém
Num enorme vertical e linear mapa, lá estavam aplicadas nas suas três dimensões, as diferenças na arquitectura popular portuguesa, reproduzidas por hábeis mãos e rigorosa e curiosa mente conjunta.
De admirar, que este casal português que desde 1980 trabalha estes temas, Justino Brito e Teresa Taveira, não sejam amplamente apoiados e convidados para as escolas e com contrapartidas (claro!!!) para palestrar sobre o seu saber, investigação, produção; seria belíssimo para os alunos à disciplina de História, Filosofia, Psicologia, História de Arte e Desenho, no mínimo, matutava eu enquanto gulosamente sorvia aquelas histórias todas, que amavelmente me iam chovendo, encharcando-me dos encantamentos... da Península e dos seus perfumes de viagens, ancorados na casa Portugal.meia.cana@oniduo.pt
Exposição na Galeria Municipal de Quarteira em Abril de 2008.
domingo, 9 de dezembro de 2007
Mambo 32 (1) - Cimeira África /Europa
1. Por questões de alfabeto, parece-me que fica melhor ser África/Europa e não Europa/África.2. Por hospitalidade genuína, parece-me que as visitas estão em primeiro lugar, nas listas, à mesa, nos começos... Mas isto não seria caso de nota, se os acordos da APE, fossem justos para os povos africanos, que sendo vossos/nossos iguais, vivem realidades completamente diferentes, que não podem permitir o doce egocêntrico sonho europeu da liberalização de mercado, sem que não fiquem ofendidas/fendidas as suas ainda frágeis economias africanas.
As vossas/nossas visitas regressam à tão mágica casa África, parece-me, que Algo descontentes ...
Que página foi dobrada, esperando ser virada? O tempo, a des-sorrirá?
domingo, 25 de novembro de 2007
Mambo 30
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Mambo 29
Quereria alongar e alargar um dedo, de forma a que este pudesse ser por ti calcorreado como sendo estrada, quando, com ele aponto sobre o que para mim é o fervor da vida.
Para um jovem filho
sábado, 3 de novembro de 2007
Mambo 28
Quando o que suporta a varanda, desde onde é unicamente visível o nada, são os outros em amáveis pilares.
O meu quintal é o mundo.
domingo, 14 de outubro de 2007
Mambo 27
E o que foi uma politizada geografia comum é agora também montanha e vale num olhar e uma sensação de espanto e uma vontade completa de baralhar as línguas e os seus idiomas.
De repente podem estar frente a frente como dois elementos de estado, sabiamente envenenados por ancestrais culturas, numa rapidez que avança porque parte do estalido de uma estranha e ritmada compreensão.
O que poderá ser um cubano muy macho e nada romântico ao lado de uma sentida angolana?
Dedicado a Cuba e a Angola
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Mambo 26
Mais acima, espreitam de lá uns tons que parecem enxutos mundos mas restam só lá demolhados nos círculos da cara, como sentados que estão para sempre numa inclinação única.
Não sabem des-sabores porque tudo tem um cheiro de todos, de um buraco universal que não se pode atapetar por cima.
As suas solidões são esses vapores subidos, que não encontram susto.
P.S-Eles nunca lerão este blogue, eles, os outros, os que não são eu nem tu, os Sem-Abrigo das cidades belas... como Lisboa, como...

