quinta-feira, 1 de maio de 2008

Mambo 42

Estaremos continuados para um outro, não apenas porque temos um corpo como um cais de onde partem intensamente mundos interiores que desejam trocar claridades pelas palavras e gestos, mas porque temos um nome que é como um caminho de regresso ao pulsar do nosso pensamento. Só compreendo o anonimato quando se pretende ficar no obscuro patamar dos bastidores, por autêntica humildade ou filosofia que inclua em si a compreensão de que o que se faz ou diz é o que poderá ser significativo e não quem foi o andaime disso, que vale; ou ainda, quando a omissão de uma identidade se relaciona com o salvar uma existência, qualquer que seja o reino a que pertença.
Mas não entendo o avanço de ideias e menos ainda se forem de carácter manipulador ou emotivo, sem assinatura.
Um nome é um rosto e quem o é, deve-lhe dar o valor dos seus próprios passos e se esses são sombra, melhor extingui-los dos caminhos comuns até que se tornem outra coisa que seja retratável, até na ciência uma teoria só é reconhecida se for passível de exposição à refutação.
Um vomitado deseja-se sem nome, por provir da maledicência dos nossos rumores físicos, mas se há algo que se deseja calorosamente transmitir? E se não há fogajem nisso, qual a razão de ser da palavra que se lança sem a mão cuja linha de carne conduz à face? Soa-me a guerra, onde a desproporção de forças gera a absoluta ilusória vitória de uma das partes, mas ainda assim os campos de batalha costumam trazer bordados a quente sangue, um nome.
Vale o que vale uma opinião e apresentando-se desconhecida, é como valendo o que vale estar além disso, decapitada.

2 comentários:

Anónimo disse...

Está tudo dito. Até apetece citar Platão...FAR

Jorge Pereira disse...

mai nada! este vai p o agavetado. bj