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domingo, 11 de março de 2012

Pesadelo Climatizado

 © Carlos Ferreiro*

"Um mundo novo não se constrói procurando esquecer o antigo. Um mundo novo alicerça-se num espírito novo, em novos valores. O nosso mundo poderia ter começado daquela maneira, mas hoje é sòmente uma caricatura. O nosso mundo é um mundo de coisas. É todo ele constituído por comodidades e luxos, ou então pelo desejo de os alcançar. O que mais tememos, ao alcançar o débâcle iminente, é sermos obrigados a abandonar as nossas futilidades, as nossas engenhocas, todos os pequenos objectos cómodos que nos tornaram tão desconsolados. Não há nada de admirável e de cavalheiresco, de heróico ou de magnânimo, nas nossas atitudes. Não somos almas tranquilas; somos presunçosos, tímidos, demasiado escrupulosos, enfastiados e instáveis."


"Há experiências feitas com acuidade e precisão, uma vez que os resultados são antecipadamente calculados. O cientista, por exemplo, põe sempre problemas solúveis a si mesmo. Todavia, a experiência do homem comum não é desta natureza. A solução da grande experiência está no coração; a busca, a inquirição, deve ser conduzida interiormente. Temos medo de confiar no coração. Habitamos os domínios do espírito, um labirinto em cujos sombrios recessos um monstro espreita para nos devorar. Temo-nos até hoje movido numa sequência mitológica de sonhos sem encontrarmos soluções, isto é, formulamos perguntas desacertadas. Só encontramos aquilo que procuramos, mas procuramos no lugar indevido. Temos de sair da obscuridade, de abandonar essas explorações que constituem apenas fugas originadas pelo medo. Temos de deixar de procurar às apalpadelas - de gatas. Temos de sair para os espaços abertos, erectos, completamente expostos."


Henry Miller, in PESADELO CLIMATIZADO (THE AIR-CONDITIONED NIGHTMARE), Editorial Estampa, Lda., Lisboa, 1971

* [In: Jornal das Letras, 16 a 29 de Janeiro de 2008, a ilustrar o artigo: Luiz Pacheco (1925-2008) O Guerrilheiro da Escrita ]

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Feira de Economia Solidária



"Esta á a primeira Feira, que se irá repetir quinzenalmente, aos sábados
Procuramos criar alternativas, apoiar saídas e divulgar projectos e ideias, que nos ajudem a resolvermos nós próprios os nossos problemas. Gostaria muito de contar contigo, com a tua presença. E, se pretenderes apresentar aquilo que consideres um bom contributo para esta Feira e ou para ti próprio, contacta-nos. Ainda é possível acolhermos mais gente. Agradecemos que divulgues esta iniciativa. Vale a pena. No dia 25 contamos contigo. A cooperação entre nós é necessária."
Zé Luis Felix

sábado, 18 de fevereiro de 2012

The Weight of Chains

Este é um documentário difícil de escrever, tal como o seu objecto de interesse. À primeira vista pode parecer um exercício sobre a Jugoslávia comunista, retratada com o seu sistema de saúde grátis, transportes públicos e habitações a preços razoáveis, emprego para todos, uma taxa de literacia de 91% e esperança média de vida de 72 anos, enfim… um sistema em que se produz para que todos possam desfrutar dos bens comuns. 

Mas este modelo de prosperidade em que coabitavam diferentes etnias ameaçava, das mais variadas formas, o ideal capitalista. À medida que o filme avança começamos a ver os sinais de alarme: depois de aflorados e ultrapassados os episódios da 1ª e 2ª guerras mundiais, damos connosco na Jugoslávia pós Tito e a pensar na crise, na estrutura da União Europeia, na Nato e nos Estados Unidos de Clinton e dos Bush e nos esquemas usados para arrepiar caminho por este pedaço de terra e sugar-lhe lucro. 

Daí em diante este documentário torna-se nauseante, dados os factos, os indícios e o que o subtexto diz sobre a estrutura humana e a natureza do mal. O que acrescenta sobre a resistência à guerra civil acrescenta também em relação à propaganda hardcore a incitar ao ódio entre etnias (atenção antes e depois dos 00:30 há sketches publicitários imperdíveis) Não há povo mais mártir do que aquele que ignora o direito à liberdade. Faltam palavras para ilustrar a viagem que se faz nestas 2 horas, mas parece-me importante que a façam, apesar do tom discutível do narrador e da sombra apocalíptica que paira sobre o documentário. 

O que fica é, sobretudo, a ideia de que somos uma colónia e que estamos a ser empurrados para a guerra. Não o saber, agora, pode ser bom, um sinal de que estamos a viver o momento presente (que é a única coisa que vale a pena viver), mas fica no ar que de futuro, quando aqui quisermos recuar veremos com clareza o caminho que estamos a percorrer às cegas. 


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Para o amante de fotografia que possa estar na dúvida...

© Jeff Wall, after "Invisible Man" by Ralph Ellison, the Prologue 1999–200

...se ir a Santiago de Compostela ver a exposição do Jeff Wall vale ou não a viagem, espero com isto dar um último empurrão no sentido de IR. A exposição "Jeff Wall: the Crooked Path" fica por mais duas semanas no Centro Galego de Arte Contemporânea. 

Ver meia dúzia das suas imagens icónicas seria suficiente para justificar a viagem, mas há mais:

Para quem nunca presenciou um Jeff Wall, o momento é especial. As histórias inacabadas ganham vida e as personagens dão mais indicações. O tamanho e as caixas de luz permitem-nos olhar para todo e qualquer pormenor, confirmando que por detrás do acto obsessivo dessa realidade ficcionada está um autor que exige o domínio de toda a mise-en-scène, assim controlando toda a estrutura narrativa e libertando-se a ele próprio no acto da leitura, de receber as imagens, de as completar, as compreender. Não há erros, não parecem haver desfoques acidentais e só nas últimas impressões a jacto de tinta pode haver algum desconforto, ainda que a ruptura seja puramente técnica. 

Para quem já viu Jeff Wall, o discurso expositivo oferece muito mais. Não só porque o percurso do autor é ornamentado e preenchido pelas obras dos seus pares, permitindo, indicando e em muito poucos casos forçando associações, mas também porque esses autores seus contemporâneas são eles mesmos pedras basilares da História contemporânea, desde a literatura à fotografia, passando pelo cinema, a pintura, a escultura, a performance e a instalação. Temos Thomas Ruff, Thomas Struth e Bustamante, Otto Schulze e Winogrand, uma prova única de Horsfield e os únicos Gursky que até hoje desfrutei de ver. Há referências a André Breton, Bergman, Duchamp e a lista de argumentos segue. 

Já a caminhar para o fim da exposição uma dupla de naturezas-mortas de Christopher Williams que nos deixam a salivar. De uma forma bem mais desajeitada, espero ter aberto o apetite. 


© Christopher Williams Bergische Bauernscheune, Junkersholz, Leichlingen 2009

Em caso de fiscalização...

Para aqueles que aderiram ou vão aderir ao boicote ao pagamento dos transportes públicos, aqui fica alguma informação útil sobre procedimentos a ter caso se deparem com um fiscal.
Informação sobre os direitos estabelecidos na lei ajudam pelo menos a fundamentar uma estratégia de acção, ainda que a própria estrutura dessa e/ou outras leis possa não ser merecedora de muito respeito.

A multa não deve ser paga!

  Os passageiros que adiram ao boicote devem ao máximo evitar a fiscalização. Aconselha-se a vigilância constante tanto nas estações como dentro do transporte para evitar os fiscais.                               

No entanto, em caso de confrontação com um fiscal :
» Não agredir verbal ou fisicamente pois o protesto é contra o governo e não contra os trabalhadores.
» Fornecer  BI e cooperar com o fiscal
» Aconselha-se o fornecimento de uma MORADA ERRADA(apenas para baralhar o sistema e dificultar ao máximo o trabalho da entidade que regula as contra-ordenações que é o IMTT)
» Os fiscais não obrigam o utente a pagar no local.

    »
A Direcção-Geral dos Transportes Terrestres e Fluviais(IMTT) é a entidade competente para a instauração e instrução dos processos de contra-ordenação.
      Esta entidade não tem autoridade para instaurar processos judiciais, nem para prender 
nem penhorar o utente.                            .

    Ou seja, caso o IMTT quisesse recorrer à justiça para cobrar a multa, teria de apresentar queixa 
contra o utente multado no tribunal. Meter acções em tribunais é extremamente dispendioso em termos 
de dinheiro e recursos Humanos.Por outro lado, os tribunais operam muito lentamente                .

    O IMTT arrisca-se a perder mais dinheiro do que o valor da multa se  abrir um processo no tribunal.                             .
    Por outro lado, imagine que fosse aberto um processo judicial; o processo prescreveria no prazo de 1 ano devido ao seu pequeno valor (ver artigo 27 DL n.º 433/82, de 27 de Outubro)

    Estão excluídas as hipóteses de penhoras ou prisão porque a multa não é crime.          
 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Che vuoi?

Surpreende que haja quem dê provas de lucidez, de autonomia e liberdade de pensamento. 
Com as marcas hereditárias da repressão e abuso de autoridade entranhadas na história de família de cada português (quer o individuo tenha ou não arriscado tomar consciência disso mesmo), de esperar seria que uma gestão violenta e emocionalmente caótica tivesse há muito tomado conta deste país. 
Surpreende que isso não aconteça; eu cá não posso prometer lucidez...

Fica o relato de alguém cuja liberdade está também a ser comprometida pela raiva, no contexto do movimento Occupy, em Oakland. 
Confio que esse processo tenha uma catarse e que depois da destruição necessária nos seja dada a oportunidade de olhar, apreender e compreender, sem que essa autonomia tenha por origem um conflito.

Power always represents itself as adult, rationale and in control. The socially sanctioned definition of what it is to be adult includes the ability to be compliant with the self-repression required of an obedient and productive member of society. Since those of us in opposition have no desire to be obedient and less to be productive cogs in the machine, it’s no wonder we fall into the role of defiant children.
It may be inevitable that in the confrontation between radical movements and the systems they oppose there are echoes of the conflict between child and adult. We who march in the streets in defiance of the orders of the police have legitimate reason to rage against the system. It in no way negates the legitimacy of that rage to say that it may also have an “infantile” component.

This black block of anarchist youth tends to identify with insurrectionist anarchism. They are our militants who will be the first to challenge the police, and who proudly proclaim their disrespect for property rights. I imagine that for them the rest of us appear as somewhat compromised and a bit timid, for we are unwilling to go as far as they in our commitment to the revolution. Here something of the dynamic between child and adult reemerges as a political division within the movement. We who do not come to demonstrations dressed in black become the model of a not quite legitimate “maturity;” the purest revolutionary energies are represented by those who reject this maturity, as a fraud — the heroic kids.  

Jean Quan’s [Okland's mayor] insinuates that we act like children. I say “we”, because the black bloc is part of us; we cannot disown them. Infuriating as her charge may be, I think it contains something worth looking at. Her version of being grown-up is compromised. If to be a grownup means to live forever within the confines of the system, let us all be Peter Pans. But in our righteous rejection of her version of adulthood there lies a danger. The danger is that without being aware of it, we are unable truly to imagine winning; that we remain heroic “kids,” endlessly reenacting a drama in which we are abused by the authorities. (It might be worthwhile looking at whether we get a masochistic pleasure in being fucked over by them. 

O relato intimista de Osha Neumann "Occupy Oakland: Are We Being Childish?". Texto na integra aqui.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O pessimismo de Antoni Negri

© Laura Cruch, Madrid, 2006

"A procura de segurança é uma necessidade que encontra campo nas pessoas perante uma insegurança crescente. Uma ordem mantida pelo medo. E há ainda o problema do homem representado, representado de que forma? Chegamos aos absurdos mais inimagináveis: a corte suprema americana deu a autorização de serem anónimos aos que contribuem com fundos para as campanhas dos candidatos. Significa que a riqueza enquanto tal assume o papel fundamental na escolha da classe dirigente. Entramos no reino da pura loucura."

Excerto da entrevista conduzida por Nuno Ramos de Almeida. Embora insípida, pode ser lida aqui

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Fuck you, Motherland"


O Ai Weiwei, outra vez? Sim, já sei, parece repetitivo, mas há aspectos em que é preciso insistir até que estes sejam compreendidos na sua totalidade ou, pelo menos, expo-los a isso. 

Há muito que Ai Weiwei deixou de ser só um artista e activista para passar a ser, como o próprio reconhece, uma marca pela singularidade, uma voz revigorante sempre que a paralisia toma conta de uma classe que teima em não querer apontar o dedo para não ter de se levantar. 

Ainda que no processo que conduz um artista a este tipo de exposição muito seja comprometido, este não será o caso a fazer as delícias de quem prefere olhar para um objecto pela sua forma, sem perceber o plano, que ainda não estando, o enquadra. Outros artistas há a pôr-se a jeito a isso, como o gigante Marina Abramovic que, radicado nos EUA, assume querer ser uma marca como a Coca-Cola. O papel de um e de outro, enquanto figuras de proa de autonomia emocional e intelectual, tem muitos paralelos, mas a obra sobreviver-lhes-á de modo muito diferente e será talvez aí que a questão da autenticidade presente em Ai Weiwei e ausente na Marina enquanto performer se fará valer. 

O documentário "Ai Weiwei: Never Sorry", realizado por Alison Klayman e galardoado em Sundance 2012 com o prémio especial de júri "Spirit of Defiance", acompanha-o desde 2008. Com isto, não só lhe amplifica a voz como acentua uma série de questões transversais, como a influência conseguida com a difusão na internet, a responsabilidade de um artista de ser uma voz atenta, crítica, disposta às metásteses da inquietação.

para quem mais não pode, que assista 
um vídeo para abrir o apetite aqui

domingo, 29 de janeiro de 2012

m31 - dia internacional da luta contra o capitalismo

Mais informação aqui
"Do pessimists have an ethics? If they do, do they always expect the worst, even in the face of well intentioned actions? For that matter, wouldn’t the true pessimist be unethical, precisely in the sense that they would be incapable of action? 

The problem is that pessimists still do things, even if all they do is complain. This is the double bind of a pessimist ethics – decision without efficacy, acting without believing, the abiding sense that, ultimately, everything will turn out for the worst, all will be for naught."

in  "Philosophical Doomcore", by Eugene Thacker

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Theo Angelopoulos...

morreu hoje, aos 76 anos. Por ironia sórdida, atropelado por um polícia, de moto, enquanto rodava o seu último filme.
O "Olhar de Ulisses" foi um filme que me ensinou e me obrigou a ver tantas coisas de uma rajada só que não saberia que palavras escolher para agradecer tamanha partilha.
Que o tempo, do outro lado, corra ao mesmo vagar que este seu olhar.



terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A consciência, a plenitude, o estado de alerta e, claro, o inconsciente

Parte de uma série que tenho acompanhado e onde se assiste a uma discussão sobre a mente, a massa, o cérebro, suas capacidades mas também, e sobretudo, sobre um conjunto de eventos que aparentemente constituem as fragilidades do ser humano e que aqui são muitas vezes tratados como marca de identidade. 
Porque as discussões tendem a juntar artistas, filósofos e cientistas, o objecto de estudo sai mais rico. Na rigidez do corpo é moldado um duplo corpo que desafia as regras e sobre ele assenta o problema de o próprio estar aqui ou sempre de fugida.
Um dos mais recentes episódios desta "Brain series", sendo que os outros podem ser encontrados aqui.

 dada a dificuldade em fazer upload do vídeo, fica o link na imagem.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A arte de sofrer

THE ART OF SUFFERING, by Pascal Bruckner, from Perpetual Euphoria: On the Duty to Be Happy, 
published by Princeton University Press Translated from the French by Steven Rendall. 

“There is a terrible blindness in happiness. Just as trash, in the consumerist universe, ends up invading every space and reminding us of its existence in countless nauseating ways, so suffering, unable to express itself, has begun to proliferate, increasing our awareness of our vulnerability. The West’s error, in the second half of the twentieth century, was to give its people the mad hope that an end would soon be put to all calamities; famines, poverty, disease, and old age were supposed to disappear within a decade or two, and a humanity cleansed of its immemorial ailments would appear at the gateway to the third millennium having proudly eliminated the last traces of hell. Europe was supposed to become, as Susan Sontag put it, the sole place where tragedies would no longer occur. 
(...)
Democracy is ambivalent about suffering; because it rejects suffering, suffering is made the basis of rights that are always being newly discovered. Democracy’s great issues are first of all negative: reducing poverty, putting an end to inequality, fighting disease. A contradiction inheres in the designation of the problems we are trying to do away with: if all suffering gives someone a claim to a right and provides a foundation for the latter, physical and psychological pain gradually becomes the measure of all things. What was previously seen as a matter of course is now seen as unjust, arbitrary.” 

sábado, 31 de dezembro de 2011

Levar o passado para o futuro?

Não é bem isso, é mais ver se não se repete!
Votos de um bom 2012, em especial para a trupe deste blog.

 
© Arquivo de Família, Sofia Silva

a imagem lê "Jody: como vês, aqui também há pretos, e eu até aproveito para lhes dar beijinhos! Que tal, também queres?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Alain Robbe-Grillet, o primor da mise-en-scène




Talvez mais facilmente reconhecido como o guinista do "L'année dernière à Marienbad" (1961), realizado por Alain Resnais, Alain Robbe-Grillet é a excelência da mise-en-scène.

"L'éden et après" (1970) é um filme mas também uma experiência da ordem psicanalítica (como era a estrutura do espaço em Marienbad). Nesse sentido, queira o espectador entregar-se ao momento e pode dar-se a uns segundos de catarse. 

Passado no universo do faz-de-conta e das possibilidades, aqui e ali tende a escalar para o lugar dos sonhos, dos desejos mortais, assim confrontando-nos com a autenticidade dos nossos impulsos.

Como quase sempre, corporiza o medo e erotiza o desejo, envolvendo-os com a mestria da forma. Em "Léden et après" o mundo pertence à arte, desde a arquitetura às performativas, percorrendo uma série de movimentos dentro das belas-artes. Pela pluralidade e acutilância do discurso, este é um filme que todos deveriam ter a oportunidade de ver.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Reabilitação moral para punks?

Não é fácil de encontrar a linha que separa o respeito ao outro do respeito a nós próprios ou então a ideia da liberdade era só isso mesmo e isso tudo: uma Ideia.
Dar-se-á o momento em que não conseguimos fazer valer a nossa presença aqui e ainda assim, aqui estar, neste país?

Não surpreende o acontecimento retratado na notícia que se segue, mas confronta-me mais uma vez com a desilusão de ver que um grupo de jovens não só caracterizado pela rebelião, mas por ela identificado também, ali continue a estar, naquele lugar, naquela situação, à espera que um ataque se aproxime. Custa acreditar que não houvesse alternativa. Custa acreditar que não consigamos ver quando deixou de haver alternativa.

 Police officers shave the heads of punks Photograph: Hotli Simanjuntak/EPA

Police in Indonesia's most conservative province have stripped away body piercings and shaved off mohicans from 65 youths detained at a punk-rock concert because of their perceived threat to Islamic values.

The teens and young men were also stripped of dog-collar necklaces and chains and then thrown in pools of water for "spiritual" cleansing, the local police chief, Iskandar Hasan, said on Wednesday.

After replacing their "disgusting" clothes, he handed each a toothbrush and barked: "Use it."

It was the latest effort by authorities to promote strict moral values in Aceh, the only province in this secular but predominantly Muslim nation of 240 million people to have imposed Islamic laws.

Here, adultery is punishable by stoning to death, gay people have been thrown in jail or lashed in public with rattan canes, and women must wear headscarves.

Punk rockers have complained for months about harassment, but Saturday's roundup at a concert attended by more than 100 people was by far the most dramatic.

Baton-wielding police broke up the concert, scattering young music lovers, many of whom had travelled from other parts of the sprawling archipelagic nation.

Dozens were loaded into vans and brought to a police detention centre in the hills, 30 miles (60km) from the provincial capital, Banda Aceh, for rehabilitation, training in military-style discipline and religious classes, including Qur'an recitation.

parte 2  aqui