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terça-feira, 21 de outubro de 2008

Democracia Económica

Ladislau Dowbor é brasileiro, doutorado em Ciências Económicas, em Varsóvia, professor titular da PUC de S. Paulo. Não vou aqui escrever todo o seu curriculum, até porque nem virá completo na contracapa de uma obra sua admirável. Não se pode dizer isto, mas apetece fazê-lo: ESTÁ LÁ TUDO. Trata-se de Democracia Económica. Alternativas de Gestão Social e a edição que conheço e da qual vou transcrever um pequeno excerto, é da Editora Vozes, de 2008.
Declaração de interesses: adoro o Brasil, só conheço quatro estados, gostava de conhecer melhor esse “mundo” do qual temos andado muito, infelizmente, arredados, conheço e tenho bons amigos em S. Paulo, mas ninguém, sequer um empregado, da Editora Vozes eu conheço.

Difícil a escolha, mas aí vai a minha:

“Continua a ser muito actual nesta área (1) o livro de Joel Kurtzman, A morte do dinheiro. Como o dinheiro passou a ser uma notação electrónica, que viaja na velocidade da luz nas ondas da virtualidade, o mundo se tornou um casino global. Mais importante para nós, o lucro e o poder gerados pela especulação financeira fizeram com que a ciência económica se concentrasse de maneira obsessiva nessa área. A lista dos prémios Nobel de economia constitui essencialmente, com raríssimas excepções como Amartya Sen, uma lista de especialistas em comportamento do mercado financeiro. A situação é agravada pelo fato do Nobel de economia não ser realmente um Prémio Nobel, mas um prémio do Banco da Suécia. Peter Nobel, neto de Alfred Nobel que instituiu o prémio, explicita a confusão voluntariamente criada por um segmento particular de economistas:
Nunca na correspondência de Alfred Nobel houve qualquer menção referente a um Prémio Nobel de economia. O Banco Real da Suécia depositou o seu ovo no ninho de um pássaro, muito respeitável, e infringe assim a “marca registada” Nobel. Dois terços dos prémios do Banco da Suécia foram entregues a economista americanos da escola de Chicago, cujos modelos matemáticos servem para especular nos mercados de acções – no sentido oposto às intenções de Alfred Nobel, que entendia melhorar a condição humana.”

(1) financeirização da ciência económica.


Almerinda Teixeira
Cacilhas, 20 de Outubro de 2008

Se livro existe, e que seja um dos da minha vida, é este.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Nobel da Literatura: a globalização derrotou controlo ideológico

O actual secretário da Academia sueca, Horace Engdahl, é um reputado tradutor de Derrida e Blanchot

A poucos dias da revelação do galardoado com o Nobel 2007 da Literatura, a revista Lire (Outubro) publicou um revelador dossier sobre o mecanismo da selecção e escolha definitiva do laureado. A Academia Sueca tem já mais de um século de actividade. Tudo começou em 1901 e Emilio Zola, o candidato favorito para a primeira edição do Nobel, foi seca e definitivamente afastado da derradeira prova selectiva por a sua prosa"ter falta de espiritualismo". No computo global os premiados de origem francesa e norte-americana totalizam, ombro a ombro, os mais numerosos. O que nos remete para as grandes influências ideológicas: membros proeminentes da família real escandinava, marechais do exército sueco e os famigerados jurados do Pen Clube International acabaram por ditar muitas vezes a sorte do vencedor. As vicissitudes dramáticas do período entre as duas Guerras Mundiais e a Guerra Fria subsequente amordaçaram muitas escolhas: Sartre recusou receber o prémio e Malraux nunca foi distinguido; enquanto Hemingway o recebeu tarde e às más horas e Dag Hammarskjöld, o futuro secretário geral da ONU, tudo fazia para os seus pares distinguirem o diplomata Saint.John Perse, a par de Boris Pasternak e Beckett, o que veio a acontecer...
A cena de Malraux é caricata e de mau presságio: mesmo Camus afirmou que o prémio devia ter-lhe sido atribuído a ele, um pouco como Saramago o disse sobre Aquilino Ribeiro...A dupla vida política do autor da Condição Humana como que o afastou do pódio mais célebre da distinção literária, pois, a Guerra de Espanha e mais tarde o "penchant" pela ideologia gaullista eram coisas sacrílegas para os jurados de Estocolmo. Agora, cinquenta anos após a distinção controversa de Albert Camus - que mesmo assim demorou a vencer quatro designações frustradas de 1952 a 56- a Academia Sueca revelou pela voz do seu secretário-geral alguns dos mecanismos de tão exotéricos processos de escolha. De acordo com Horace Engdahl, um francófilo dos quatro costados, a nova geração de jurados acabou por aceitar os diktats da globalização, do multiculturalismo e da diversidade ideológica. Com uma rede de instituições de cooperação de mais de 400 Universidades e Academias de todo o Mundo, os jurados suecos solicitam pareceres e listas de possíveis candidatos, tudo a partir de Janeiro do ano posterior à ultima selecção vencedora. Seguem-se dois a três meses de triagem para em Abril, realizarem uma lista de 20 nomes de onde saíram, 60 dias depois, um conjunto definitivo de cinco propostas de autores. Uma regra intangível de 1938 faz com que, para se ser seleccionado e vencer, o nome e obra do vencedor já devia ter sido mencionado pelo menos uma vez na short list...

Horace Engdahl afirma que os critérios da nova geração são hoje mais dilatados."Creio que hoje não se pode reduzir a Literatura à Poesia ou ficção. Existe o que apelido de literatura de testemunho muito importante. Que vai da narrativa de viagens aos testemunhos sobre a Shoa, os escritos de Lévi-Strauss e a certos ensaios literários, e uma certa forma, a via foi aberta por Churchill (laureado de 1953), Bertard Russell (1950) e Soljenitzyne (1970)". Está tudo dito. Nós lusitanos, perdemos a hipótese de ver eleitos Aquilino e Jorge de Sena, mas temos o trunfo grande de Lobo Antunes. Haverá algum professor de Yale ou Nova York que o tenha proposto? Terá ele feito parte das listas antigas dos cinco candidatos finais? Vamos esperar uns dias.

FAR