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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Baile dos Bombeiros





Embora falhando por uns dias a saison pascal, não queríamos deixar de a assinalar com uma parábola e alguns conselhos úteis. É sabida a importância da refeição comunal entre os bípedes, e ao que parece a cousa começou por ser um assunto de fraternidade virtual: acantonando os iguais melhor se redistribui a desigualdade e se consolida a hierarquia, o poder, se quisermos. Isto é, temos de convencer os amesedados que enquanto um come carne o outro manja raspas de corno, e ambos os fregueses ficam igualmente satisfeitos. Blurp.
Cumprida esta homenagem à antropologia das barracas, tomemos o exemplo da ceia fundadora. Conduto austero e esfaimante, vinho martelado e pouco, ambiente crispado e convivas com um olho na conversa e outro no garrafão. Soi disant, uma típica janta de pescadores desempregados na Galileia.
A imagem ‘pegou’ e vêmo-la glosada, por exemplo, no exemplar banquete de Viridiana ou, em registo estático, o painel dos Sopranos fixado por Annie Leibovitz. Anarquia versus Totalitarismo?
Bom, teremos de nos inclinar para a visão subversiva de Bunuel, esse aragonês monogâmico, se bem que Tony Soprano revele elevadas potencialidades na política prática.
Serve isto, afinal, para denunciar a forma repulsiva como se constrangem os cidadãos que têm de acorrer às ‘sopas dos pobres’. Saudados, afagados, compreendidos, encaminhados para o salão de dar ao dente ou sorver a sopinha. Lá está a refeição comunal da ceia fundadora. Pior, filmados, entrevistados, despudorados. Foda-se, deixem os homens comer em paz.

E vamos aos conselhos úteis. Através das fotos, ter-se-á um vislumbre da morte do surrealismo...também já morreu tanta coisa. O Charme Discreto da Burguesia foi trocado pela chama indiscreta da iconoclastia.
Trocadilho da treta, pois, mas, em Taipé, há outras modalidades interessantes, para além deste “Modern Toilet”.
Um bistrot temático sobre dinossauros, onde tudo, tudo, imita ossos, mandíbulas, ovos, pegadas, fósseis, banda sonora imaginária arrepiante- não há nada como ser atendido por um T Rex de metro e meio e cortesia oriental-, um, digamos, japanese coffee shop dedicado a Marilyn Monroe, sob o genérico “Wherever you are, how cold you may be, we love you Marylin”, e ainda o “Tacones Lejanos”, uma casa de, digamos, diversões.

E votos de que os amigos do “2+2=5” tenham passado uma Santa Páscoa. Uma quadra onde não é próprio revisitar a Via Láctea, pois, do amigo Bunuel.

JSP

PS: Estejamos atentos que estão tentando transformar a morte de Eugene Terre’Blanche, militante fascista, Huguenote antisemita e rabicho, num caso político e desportivo. Deve considerar-se a possibilidade de se tratar de um simples caso de ensarilhamento burocrático ou delonga na execução das penas.






sábado, 22 de março de 2008

Na Páscoa lembro-me do fim do Verão

O Verão a acabar. Agora vem aí o Outono. Bela estação para se começar o ano escolar. A queda das folhas faz-me lembrar a depressão do meu pai. O homem ficou preso aos tiques e às convicções de “Grande Timoneiro”. Uma mistura, caseira, do Henrique Monteiro, do Expresso, com o José Manuel Fernandes, do Público, e ainda com os maneirismos do Espada, de Oxford. Só que o meu pai, coitado, propôs-se objectivos mais modestos. Tentou educar a família. Família alargada, entenda-se. E, num Verão como este que está no fim, passámos a ser menos. Foi as últimas férias que passámos juntos. Quase juntos. A minha madrasta, acabada a Universidade, estava a estagiar e a lutar pelo primeiro emprego. O meu pai tratava de nós e da casa. Parecia a “Música no Coração” sem governanta. Isto é, o meu pai fazia também de governanta. Acordávamos e deitávamo-nos com hora marcada. Aliás tínhamos hora para tudo. Para as refeições, para a praia, para os jogos, para as lições. E, quão divertidas as aulas que tínhamos! Português, Matemática e Música. As de música então eram um espanto. Sobretudo os últimos 30 minutos. O meu pai convocava a especial atenção do meu irmão, na altura, com três anos, trazia o xirico e o canário do Härz, punha o James Brown a cantar o “sex machine” e tudo solava. O timoneiro gostava do multiculturalismo. Na primeira quinzena de Julho e durante o mês de Agosto foi assim, todos os dias, à mesma hora. Não sei se estas rotinas eram por amor a Phileas Fog ou a Kant. Sei como tudo acabou. Faz, por esta altura, anos. Já em Setembro, o xirico e o canário apanharam-se com a gaiola aberta e fugiram. Quem a abriu? Penso que um foi para Norte e o outro para Sul. A minha madrasta feito o estágio entrou para os quadros da empresa e mandou o meu pai ir pregar para outra freguesia. Ao meu pai caiu-lhe um muro, maior do que o de Berlim, em cima. Deixou-se de querer educar. Mas, nem sabe o êxito que teve. Um dia, no Outono, ou noutra estação qualquer, eu e o meu irmão, cada um por si, sairá a cantar por aí o “I’m a sex machine” , esvoaçando para Norte ou para Sul.

Josina MacAdam

Com muitos ovos para quem nos visita de novo e ainda mais para os da casa. Estamos na Páscoa e tenho obrigações familiares. Peço desculpa pela republicação.