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sábado, 24 de abril de 2010

Karl Valentin nas Caldas



29 e 30 de Abril e 01 de Maio | 21h30
6 e 7 de Maio | 19h30
8 de Maio | 12h00
Stand Florescar
Rua Heróis da Grande Guerra
Caldas da Rainha

TEATRO DA RAINHA

anaCrónicas 17

Karl Valentin, um humorista nas Caldas

É uma relação de todo improvável, mas a contemporaneidade tem destas coisas: quando um autor “menor” é rebuscado do baú das preciosidades, ou das antiguidades vivificáveis, pode de facto ressurgir em qualquer parte do globo, mesmo numa pequena cidade de um Oeste que não tem a ínfima parte da fama do outro e que, culturalmente, é uma semi-pasmaceira auto complacente.
Karl Valentin é nomeado como clown metafísico por Brecht. É na opinião de alguns teóricos a referência física do teatro épico, essa invenção de B.B.
Brecht disse que Valentin não conta blagues, ele é a própria blague. Num país em que o humor se identifica com as expressões do requentado mais óbvio, Valentin é uma intrusão, um cómico burlesco inesperado, um autor que não conta piadas garantidas mas que espalha um tipo de humor nos alicerces dos rituais e estruturas de conservação como um antídoto rebelde para o conformismo.
A Ida ao teatro, A Primeira Comunhão, O Projector avariado, o Teatro obrigatório, são pequenas peças, sketches – e a forma breve tem essa eficácia do resultado imediato e da mobilidade extrema, na montagem e na fama partilhável, história fácil de contar, como fogo em palha – em que o mundo às direitas é metido às avessas pelos caminhos da lógica contestada e nessas avessas se percebe, mostrada, dada e baralhada de novo, a convencionalidade bacoca do mundo às direitas. Assim é escanhoada aos limites do masoquismo evidente a relação conjugal do casal de a Ida ao teatro e a sua visão pequeno burguesa, os seus limites de entendimento das liberdades e da liberdade do outro e a sua sujeição absoluta à sedução mundana meio parvónia, assim se vê na primeira comunhão o modo como a educação progride por etapas simbólicas ritualizadas e sem conteúdo real e a infantilização absurda de quem um dia virá a ser adulto, mas que ali, no gag revelador, se encerra numa adolescência prolongada infantilmente até à senilidade.
E o génio de Valentin é duplo: é um especialista da graça verbal, da piada literal levada ao absurdo, de uma profundidade lida na tacanhez do desejo das personagens retratadas, na ambivalente superfície das palavras, mas é também o criador da sua figura e da parceira, Liesl Karlstadt, ambos dedicados ao mundo do cómico, opção de vida e porventura de coincidência entre vocação humana para se ser livre e condição do próprio ser. E essas figuras, Valentin e Liesl, como Chaplin e Keaton, são personagens físicos: o corpo é desde logo uma marca do que são, o corpo é sujeito, ele liberta-se de uma total sujeição ao figurino e também de uma dependência da palavra como se fosse a sua ilustração. Não, o corpo é sujeito e funde-se com a palavra. Este tipo de clown e o seu jogo é já um resultado da modernidade e explora a confrontação entre uma humanidade ainda artesanal, ainda dependente da operacionalidade da mão e das virtudes do polegar oponível e as convenções e maquinismos da sociedade burguesa industrial em ascensão. Estamos na Europa dos anos vinte.
Quando Brecht diz que Valentin é a própria blague é porque dele se solta essa liberdade de quem não vive para contar graças a metro, cada piada cada dólar, mas de quem vive livremente a inadaptação, naquele modo fora de tom que Pirandello descreve no Humorismo, um modo que é ingenuamente acusador das verdades oficiais, do mundo das falsas aparências em que os analfabetos fazem de doutores e em que os poderes são reverenciados e o oportunismo uma regra. Valentin tem essa capacidade que a infância ainda não aculturada e regrada tem, aquela que diz “o rei vai nu” e que fustiga o preconceito, como o nosso Cervantes tão bem estigmatiza no seu Retábulo das maravilhas, um sketch do seu Século de ouro em que faz uma análise “científica” do preconceito como um verdadeiro mecanismo de ilusão colectiva convencionado entre poderes e aparências, o que nunca foi tão actual como hoje, em que domina a chamada sociedade do espectáculo.
Realizar este espectáculo no âmbito de uma parceria com a câmara e num projecto apoiado por programas da Mais Centro (CCRC) é mais que um dever, é um prazer. No coração das Caldas esta Ida ao teatro obrigatório é uma lança no coração do sistema urbano, uma lança para ferir imobilidades rasteiras e conformismos, assim como falsas inovações e pseudo vanguardismos analfabetos.
E agora senhores e senhoras, no Cabaret da Rainha, os actores: a Isabel Lopes, o Victor Santos e o Carlos Borges. Podem crer, é um privilégio. A partir de 29 em cena.

FMR

sábado, 3 de abril de 2010

Dodô - no rasto do pássaro do sono


Um rapaz embarca numa aventura, em busca do pássaro do sono, o Dodô. Dizem-lhe que desapareceu da face da terra, recusando-se a acreditar, e não resistindo ao apelo do desafio de encontrar nem que seja o último, voa para a ilha de Reunião de onde dizem ser nativo o Dodô.Em terra tudo se chama Dodô, finalmente descobre que o Dodô se extinguiu pelas mãos dos Homens. Mas ele não desiste, continua a acreditar firmemente na sobrevivência do Dodô. Essa procura, que é também a aventura do conhecer-se, poderá ser um sonho sonhado ou um sonho desejado. Mas também pode ser, e será certamente, a realidade, nem que seja aquela que faz parte da imaginação de uma criança.

Estreia a 8 de Abril de 2010 | 21h30
Antiga Lavandaria do Centro Hospitalar Oeste Norte. Caldas da Rainha

Em cena nos dias 9 e 10 de Abril | 21h30. De 13 a 30 de Abril (2ª a 6ª às 11h00 e às 15h00 para o público escolar)

Maiores de 6 anos. Duração [1:20m]


Teatro da Rainha

sábado, 13 de março de 2010

O Soldado Vigilante


Start Time: Thursday, March 25, 2010 at 9:30pm
End Time: Friday, March 26, 2010 at 12:30am
Location: Beco do Forno
O espectáculo continua em cena no dia 26 de Março, às 21h30 e apresentar-se-á no dia 27 de Março, Dia Mundial do Teatro, às 12h00 e 21h30, e conta com a colaboração do Restaurante Pachá, que promoverá terá no dia 27 de Março às 12h00 uma prova de vinhos.

Cervantes


Uma dell’artização do entremez

Eu explico-me. A Commedia dell’arte é uma técnica teatral – foi um modo de vida e uma economia nos séculos XVI E XVII, em Itália e pela Europa fora – que deve tudo à teatralidade, o teatro sem o texto como disse Barthes, e menos portanto ao texto em cena. Teatro de imagens e da corporalidade, assenta numa trama simples – o “canovachio” – e nas capacidades gestuais, incluindo vocais, dos actores e actrizes (teatro de actores), além de ser um teatro de arquétipos e personagens em embrião, sempre fixos, Arlequim, Pantaleão, o Doutor, o Capitão, Columbina e o sempre elencado par de amorosos, sempre contrariados e sempre vencedores.
O soldado vigilante é um entremez de Cervantes e pertence àquela literatura que hoje se chama de marginal. Tal como surgiu aliás a Commedia dell’arte, teatro de ar livre, amigo de estrebarias e estalagens, ambientes onde a virtude não fazia o quatro e a noite era fértil em gozos e desatinos. São portanto da mesma família, o entremez e a dell’arte. Nada anormal em casá-los numa mesma escrita e estética. São também coetâneos como se sabe. O entremez, arremedilho, burlaria, muitos outros nomes, nasceu bastardo, fora dos territórios fechados da respeitabilidade literária e entalado entre género maior, chamado comédia, na altura tão importante que designava o teatro. Com a literatura de latrina, os versos de pé quebrado e o surrealismo primitivo, tem horror às academias e vive livre e vadio a sua aversão à domesticidade burguesa, pequena, média e grande, à reverência cultural, não se intimidando com os clássicos, frequentando-os e tendo horror ao mesmismo retórico que exorciza através da palavra doutoral farsificada.
O que mancha o entremez não fará dele literatura de salão, seja qual for o salão, aristocrata burro ou provinciano, com ou sem sanefas. Não há que ter-lhe respeito mais do que pede, há que irmanarmo-nos do espírito que respira e entremear também, que é petiscar, sabe-se. O entremez não é nunca aliás prato principal, é intervalo, e porventura poderá ser entrada ou saída. Aqui, neste Soldado, quisemo-lo prato principal, parte inteira. Coitado, promovido a peça em actos, mais desacatos.
Resolvemos então pegar no entremez pelo que diz fundo – a farsa tem um reverso. Um soldado de amores perdido dentro de si, combatendo um sacristão lúbrico, os dois atrás de uma menina que está em idade casadoira e a quem, um sapateiro calça o peito do pé com denodo oficinal e calçadeira. Com a dona da casa presente, uma estranha criatura híbrida – na moda de hoje portanto – um casório parece desenhar-se. Mas isso é no espectáculo, se quiserem. Se não quiserem tudo bem. Este, como todo o entremez, é rápido e meio amanhado, desimportante, portanto vai bem com um bom copo na mão.
E o que fizemos? Pensando que na farsa há tragédia quisemos desenvolver a teatralidade implícita no entremez, escrevendo-o através de um conjunto de referências a desgraçados teatros irmãos e ao mesmo tempo revelar o avesso do próprio soldado, a humanidade que só se adivinha na figura por imaginação contraposta do espectador, ele que é um primo remoto dos sonâmbulos bipolares com que nos cruzamos hoje.
Reteatralizámo-lo portanto com outros teatros populares entremeados, mantendo como referência assumida estruturante a Commedia dell’arte, particularmente assumida na figura do soldado protagonista e fio condutor. Nada que muitos criadores teatrais não tenham sonhado no seu tempo, Copeau e Meyerhold, por exemplo.
E que teatros? As marionetas, a “boçalidade” revisteira, a tradição declamatória, os palhaços e as suas “clowneries”, o fado – nada mais português e teatral, com toda a panóplia de convenções, poses rituais e mesmo fundo caracterial – e finalmente, esse teatro maior que é o prazer lúdico, o da imitação imediata, esse teatro espontâneo das crianças. Temos assim um objecto multicultural a que não falta sequer um “preto”. Multicultural abrangente portanto, de uma universalidade quase espontânea, pura antropologia lúdica – que obviamente já lá estava, quem mais universal que Cervantes, vida e obra, mundo e invenção?
E esta opção levou-nos a uma reconfiguração dos tipos, cirurgia cénico-dramática total, segundo uma ambiguidade muito contemporânea, aquela que nos fragmenta, multiplica e híbrida, como tipos e aparências.
Assim o soldado é poeta soldado e soldado poeta, frustrado militante e jogando a palavra como arma e a espada como extensão gestual da palavra amorosa, repisada obcecadamente a cada gesto, numa contradição insolúvel e autêntica.
E o Sacristão? Talvez lembre o frade das Caldas, mas não é de louça e é mesmo inteiro, como diz, e tem uns arranques que faz pensar nos zanis da dell’arte primitiva, espécie de diabos repentinos na gestualidade imprevista e animal.
Surge também um “preto” mascarado que não chegamos a saber de onde vem mas que vende pau de Cabinda – virá de Cabinda? -, entre rendas portuguesas, num bazar portátil inesquecível.
E aparece um sapateiro, homem de ofício como os antigos e que fala de calçar a menina de um modo que só pode levantar o moral dos espectadores. Revela-se também, além de criatura de contas certas, poeta e amoroso, o que para sapateiro dá mais nas mãos mesmo que rime com as solas. Que lhe terá sucedido?
Mas mais estranho, neste painel humano um pouco zoológico, é a Ama de Cristina, a menina casadoira, que não chegamos a perceber como convive com o seu hermafroditismo conatural. A auto-suficiência finalmente? É portanto um teatro de aberrações que vos propomos.
Mas, e digo mas, reticências, não falta ao entremez encenado a cereja no topo da torta mal parida, como desagradava aos antigos e aos fanáticos da proporção e simetrias direitas: Cristina, a menina casadoira, é a mãe de todos os quiproquós. Por ela todos se batem. Será que algum a vê? E ela, ela mesma, o que deseja mais que a liberdade de libertar o corpo?
Felizmente, para bem das nossas angústias e a favor da moral e da gente séria que ainda resta neste mundo, o final feliz repõe tudo onde deve estar. Cristina casará…

Fernando Mora Ramos

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Natal dos Hospitais

Precariedade exclusiva
Hoje usa-se muito a palavra inclusivo, escola inclusiva, arquitectura inclusiva e por simpatia antónima diz-se também muito a palavra exclusivo, em diversos contextos. Por exemplo: o Natal dos hospitais é inclusivo. Aqueles deserdados da vida que têm ali onde cair mortos, assistem àquela manifestação de beleza incomparável num palco mediatizado, ouvem aquela massa sonora inteligente e sensível de catadupas de sensibilidade generosamente derramada, mais play back, menos microfone pela goela abaixo, num êxtase que, quase religioso, se finaliza com fitas de alegria postiça envolvendo pacotes de paralelipipédica vocação, grandes para caber em exclusivo protagonismo num primeiro plano de ecrã televisivo. Extenuados de amor, no fim, agradecem, lacrimejando e somando palmas num entusiasmo unânime. Trata-se de um momento inclusivo que perdoa um ano de exclusão (um ano inteiro de inclusão numa cama hospitalar pode ser uma situação de absoluta exclusão da vida) através de uma boa acção espectacular – boa acção não é só aquela de dar a mão a velhinhas quando o semáforo está no amarelo intermitente, condição do semáforo nacional, ambíguo e hesitante, sempre ao serviço do atropelador potencial.
Exclusivo, no sentido de um dever de fidelidade a um estatuto de responsabilidade profissional exclusiva, é qualquer coisa de que nem parlamentares nem altos quadros da administração pública – com excepções honrosas – querem ouvir falar. E o rendimento familiar alargado, os quatro carros, as três sopeiras, ou quatro mesmo?
O salário mínimo nacional são 450 euros. Não se pratica sequer. Com a multiplicação das formas de regular desregulando, via contrato, os horários de trabalho, qualquer part time é hoje um horário completo e muito salário de 700 euros, em empresas multinacionais, significa horário que muitas vezes vai até à meia noite – muitos têm meio salário mínimo nacional atribuído a um suposto meio horário, cujo tempo de contagem também é altamente suspeito para não falar dos tempos envolventes, chegar ao trabalho e regressar a casa. Estes trabalhadores que têm estes horários e conheço directamente uma quantidade de casos, têm obviamente um vínculo de tempo exclusivo. O resto do tempo será sono se ele vier tranquilo. Os outros, os dos trabalhos e contratos vários, das muitas administrações de empresa, esses têm um horário exclusivo consigo mesmos atribuído por leis subjectivas e por relações de casta. A coisa tem vindo a lume na sua expressão bandida e todos os dias assistimos a novos casos de católicos muito dedicados a realizar o seu bem privado nos paraísos fiscais suas propriedades inventadas. Mas para estes, a lei e os amigos no poder, são uma garantia não só de liberdade – não vão presos – mas, mais do que isso, de imposição mediatizada de um estatuto de seriedade moral. Tudo converge num mesmo momento, instituições da república e canais televisivos, para dizer o mesmo: a criatura é impoluta eticamente. A República, assim fazendo, transforma-se em Máfia, máfia republicana, se quiserem, um contra-senso nos termos, mas uma verdade insofismável.
A mim o que me incomoda agora é a palavra Crise. Como sou patrão a recibo verde, dirijo uma micro companhia de teatro, a Crise é para mim uma velha amiga. Nunca conhecemos outra coisa e a experiência de doze salários continua uma miragem. O interesse do nosso trabalho, estabelecida a sua vocação de serviço público, está determinado em leis. Leis constitucionais e leis parlamentares e governativas. Um articulado todo europeu na retórica para humanista e absolutamente informe e mal amanhado nos aspectos de regulação, rigor contratual, acompanhamento e avaliações. Nada disto existe. Para além de mafiosa a Republica é das bananas. A Res Publica está de rastos, de facto está num coma porventura sem regresso, corpo vegetal vai realizando mínimos de cidadania vital.
O que me chateia é que agora nem a Crise é nossa. Agora foi democratizada, mesmo massificada. E nós que tínhamos aquela ilusão de ter uma relação de exclusividade com a precariedade. Como rima tão bem.

Fernando Mora Ramos
Director do Teatro da Rainha

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Teatro da Rainha - Julho 2008


O MÉDICO À FORÇA
de Molière

Dia 12 de Julho, 21h30m
Associação Social e Desenvolvimento de Casais da Serra
Freguesia de Landal, Caldas da Rainha

Dia 19 de Julho, 21h30
Associação Desenvolvimento de Casais da Carrasqueira
Freguesia de Vidais, Caldas da Rainha

Teatro da Rainha

segunda-feira, 19 de maio de 2008

"Por que é que os índios não falam todos espanhol?"



Na Lima inventada por Mérimée segundo os traços expressionistas do romantismo, um Vice Rei colonial sofre de amor e gota. Com o reino em caos crescente sob o impacto da revolta índia lá para os confins da sua geografia, e em dia de cerimónia religiosa dirigida pelo bispo local, sua alteza está enciumada por causa da actriz Perichole, sua amante, escandalosa de comportamentos num meio dominado pelas beatas da pequena corte local. Conseguirá Perichole que o Vice-Rei lhe ceda o mais belo Coche de Lima, de fazer morrer de inveja as famílias tradicionais poderosas?
E a revolta índia, por onde andará?
Estará a resposta no índio que Tabori constrói, mais de um século depois?


Teatro da Rainha