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segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Sobre o ensino (público) entre nós...

Sucede que, por vezes, vejo a RTP Memória e, por vezes, leio o jornal "Público".
Nesta segunda-feira houve uma conjunção de vistas e leituras.
No jornal uma entrevista com Júlio Pedrosa, responsável pela CNE, e na TV uma reportagem de Barata Feyo sobre o Plano Nacional de Alfabetização (1978).

Perfazemos exactamente 3 - décadas - 3 de erros consecutivos no nosso sistema de ensino (público)!

Desculpem, mas é aquilo que deduzo. Do dito plano aos dias de hoje vejo apenas uma tentativa para facilitar.
Criar a ilusão para que esta se pareça com a realidade - esta tem sido a política seguida.

Um Ministério a engordar de funcionários, gente que se fica pelos corredores e engrossa as Direcções Gerais e Regionais e tudo o que seja burocracia para evitar o contacto com a situação real: sala de aula.

As famigeradas ESE's, ao abrigo dos Institutos Politécnicos (Públicos), a lançar para o Sistema gente que não tem nem habilitação, nem condição para se considerar Professor.
Lanço o desafio: vamos ao 1º ciclo do Ensino Básico Público e contabilizemos as habilitações e a proveniência das mesmas daqueles que são efectivos desse mesmo quadro.
E lá me vejo eu a questionar os docentes. A culpá-los daquilo que não funciona neste sistema de ensino. A achar que se uma professora não consegue responder correctamente num concurso televisivo devia procurar outra profissão ou, então, dar o seu lugar a uma criança com 10 anos...

Sem rei nem roque.
Há ideias para o nosso sistema de ensino?

A fazer fé nas últimas determinações do ME (estatuto do aluno do Ens. Secundário) parece que entrámos num 'sauve qui peut...'.

O 'pãozinho': esse continua a ser essencial. Não há escolaridade obrigatória, nem abandono escolar sem que estejam garantidas as condições para que uma família mande o seu filho à escola.
A fome sempre foi má conselheira, sabêmo-lo todos. Com a barriga a doer, por estar vazia, não há lugar para discernimento de qualquer espécie.
Quem quer aprender de barriga vazia?...

O ensino, entre nós, continua a ser um problema social.
Lá vou eu ao desperdício: ponham os olhos no Porto: 3 - dias - 3 para uma Conferência, que começou hoje e há-de terminar na próxima 4ª feira, sobre o Ensino Artístico em Portugal, organização a cabo do ME, com convidados estrangeiros e etc.
As Escolas Soares dos Reis e António Arroio a desmarcar-se de tal evento, os órgãos de comunicação a calarem, a conversa de surdos, com tradução directa.

Tudo vai bem, no melhor do mundo possível. Ou, como diria Pangloss: "o que se deve dizer é que tudo está o melhor possível.".

terça-feira, 16 de outubro de 2007

O PSD e a constituição (2)

Em mais um dos seus editoriais no Público (sem link directo, como sabem, mas podem procurá-lo através do site, em "edição impressa"), José Manuel Fernandes brinda-nos com outro dos seus excelsos momentos que gosto de designar como o género "cortina de fumo". A táctica é, através de uma pretensa neutralidade, um apelo ao eficientismo, e uma generosa vontade de "tratar dos problemas do país", mascarar a ideologia que sempre lhe subjaz. Desta vez, a propósito da "nova constituição", proposta por Menezes, JMF não faz por menos que propôr a refundação da República. Acabar com a terceira, e passar à quarta, essa que, por decreto refundador, irá finalmente combater as razões de todos os nossos males nacionais.
Claro que não se limita a defender uma "Quarta República" assim sem mais, não vamos nós supor que, num movimento de regressão à juventude, ande agora a defender suloções chavistas. Também nos indica alguns dos caminhos que, no seu entender, a devem nortear. Mas o que é curioso, é que todas as suas soluções são apresentadas como óbvias, evidentes, empíricas, quase obrigatórias. Essa refundação deverá «enfrentar os problemas que o actual regime nos coloca». Claro que todos esses problemas tem uma raiz nos preâmbulos e artigos "socialistas" que a actual constituição ainda mantém: o direito a uma educação "progressivamente gratuita" ou a uma saúde "tendencialmente gratuita" (olha que grande socialismo que isto é). Mas o mais curioso é que o próprio JMF, imediatamente a seguir, argumenta com o facto de que estes artigos, tão lesivos do nosso progresso, «não estão a ser cumpridos: arranjou-se sim artifícios para que as leis de que o país necessitava passassem no Tribunal Constitucional». Ah!, mas não é Portugal um país de regime socialista? É. Mas pode-se praticar o contrário? Pode. Isso não é uma contradição? Pschhht!!! Daí que, na sua lógica imparável, JMF se questione candidamente sobre se, «apenas por uma atitude de bom senso [a constituição] não deve ser reinventada».
Sejamos claros: JMF tem todo o direito de defender uma mudança de regime ou uma nova constituição, devia era ter a honestidade intelectual de não se refugiar em argumentos de practicidade e assumir as suas opções ideológicas. Porque o faz, não é difícil de adivinhar: dificilmente se encontrará matéria que una tão fortemente as esquerdas como a defesa da actual constituição, daí que seja tacticamente preferível, para consumo externo, fazer de conta que tudo não passa de uma inócua "actualização"; no mesmo editorial em que, para consumo interno, se assume a causa como decisiva para o futuro do País. Mas não tenhamos receio, aliás, venham daí essas propostas "revolucionárias" de mudança, que nós, na Esquerda, estamos a precisar como pão para a boca de uma causa comum, que idealistas como JMF e oportunistas como Menezes nos vão oferecer de bandeja.