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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

“O Deus da Carnificina” - Um happening retardado, ou a vingança de Polansky?


Desde a minha juventude que Polansky é uma figura incontornável do meu imaginário cinematográfico. Embora os seus últimos filmes não me fizessem colar às cadeiras do cinema como sucedia habitualmente, nem por isso deixavam de ter um nível acima da média (caso, por exemplo de O Pianista e do excelente The Ghost Writer ) e, apesar dos seus quase 70 anos, via-o como um génio maldito que iria resistir às amarguras da idade. O seu último filme, acabado de ver, suscitou-me algumas interrogações que conduziram a este breve (!) ensaio. O argumento do filme é muito simples: a partir de um desentendimento entre duas crianças num jardim nova-iorquino (?) em que uma delas acaba por sair algo machucada, todo o resto do filme desenrola-se numa troca de explicações entre dois casais muito civilizados da classe média americana, com vista sobretudo a encontrar uma forma pedagógica de responsabilizar/ culpabilizar o jovem agressor do seu irresponsável acto; todo o tempo fílmico desenrola-se no espaço algo limitado do apartamento dos pais da criança maltratada (algures num prédio central de Nova York!), onde as relações e tensão entre os casais se vão deteriorando gradualmente, transformando uma situação aparentemente simples de resolução num exercício masoquista de dissolução entre os quatro elementos (não faltando inclusive uma pequena guerra de géneros, sobretudo na fase mais alcoólica, transformando imprevisivelmente os maridos em aliados casuais face às respectivas esposas, aparentemente mais vulneráveis aos poderes do whisky de 18 anos). Trata-se, em certa medida, de um regresso à técnica do happening, que fez história nos anos 60 no cinema, e principalmente no teatro e na literatura (as peças teatrais de Sartre, que na altura fizeram grande furor, assentavam todas elas na estratégia do “huis-clos”); inspirada nas ideias terapêuticas de um psicólogo famoso na época, Jacob Moreno, e vista como alternativa à decadente e “burguesa” psicanálise freudiana, uma das técnicas do happening consistia em encerrar os actores em espaços mais ou menos fechados onde, a partir de situações imprevisíveis e espontâneas, se despoletava um psicodrama que os fazia sair das suas mascaras/defesas e, normalmente num contexto de tensão crescente, exporem as suas verdadeiras naturezas psico-motoras e sociais. Se no âmbito da prática clinica ela tinha em vista uma catarse libertadora de tensões reprimidas (Moreno foi o inspirador das psicoterapias de grupo), na cena artística dos anos 60 tinha por alvo principal desmascarar a moral burguesa, ridicularizando as suas falsas e reaccionárias (em linguagem revolucionária da época) convenções. Polansky, no início da sua carreira, e sem ser um ortodoxo, recorria com frequência a aspectos de este tipo de técnica, casos de “Faca na Água”, “Beco”, “Inquilino”, “Repulsa”.
A questão que se coloca agora, a propósito do filme em causa “Deus da Carnificina”, e quando tal técnica entrou há muito em desuso, trata de saber se, passado 40 anos dos libertadores anos 60/70, será ainda muito premente fazer da desconstrução da moral burguesa um grande alvo de ataque. Creio que não, e que a verdadeira intenção do filme oculta uma pequena maldadezinha pessoal do realizador em relação à América e ao seu sistema judicial, que não desiste de o trazer de volta, a fim de cumprir a pena por um acto praticado há mais de 40 anos num contexto social e de mentalidades completamente diferente do de hoje, transformando-o num bode expiatório dos seus vícios privados. Ainda há pouco tempo foi alvo de um processo vexatório na Suíça aquando da mais recente tentativa de o extraditar para os EUA, onde seria com certeza atirado aos bichos. Logo no início do filme intrigou-me um aspecto, para o qual não vi ainda qualquer referência da crítica: estando há muitas décadas proibido de pôr os pés na América, vivendo e trabalhando em países (França e Inglaterra sobretudo) fora da alçada de uma eventual e persistente extradição judicial, é estranho que toda a acção do filme se desenrole numa cidade do país que o remeteu à condição de acossado até morrer. Apesar da cena inicial das crianças localizar-se visivelmente num parque nova-iorquino, julguei que rapidamente a trama do filme fugiria para paragens mais acolhedoras ao realizador (creio que não mais filmou nos States depois do rocambolesco processo judicial); mas enganei-me, o filme continuou até ao fim na mesma cidade/território americano, apesar de ser perfeitamente indiferente à história em causa desenrolar-se aí, ou noutra qualquer cidade da Europa . É impossível que este aspecto não deva irritar solenemente as autoridades mais zelosas dos EUA, e daí ver neste filme uma vingança subtil de Polansky para com aqueles que fizeram dele o inimigo das publicas virtudes americanas. Estaria também assim explicada a opção pela referida técnica do happening (tudo se desenrolar num espaço minúsculo e fechado, facilmente concretizável em qualquer estúdio do mundo).*Quanto ao filme propriamente dito: vê-se com agrado, tem alguns momentos conseguidos de sarcasmo, mas sem deslumbrar, não acrescenta nada à sua longa e extraordinária filmografia, porventura o menos importante. Julgo que a intenção era outra.


*Quanto ao filme propriamente dito: vê-se com agrado, tem alguns momentos conseguidos de sarcasmo, mas sem deslumbrar, não acrescenta nada à sua longa e extraordinária filmografia, porventura o menos importante. Julgo que a intenção era outra.


Paulo Ferreira

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Alain Robbe-Grillet, o primor da mise-en-scène




Talvez mais facilmente reconhecido como o guinista do "L'année dernière à Marienbad" (1961), realizado por Alain Resnais, Alain Robbe-Grillet é a excelência da mise-en-scène.

"L'éden et après" (1970) é um filme mas também uma experiência da ordem psicanalítica (como era a estrutura do espaço em Marienbad). Nesse sentido, queira o espectador entregar-se ao momento e pode dar-se a uns segundos de catarse. 

Passado no universo do faz-de-conta e das possibilidades, aqui e ali tende a escalar para o lugar dos sonhos, dos desejos mortais, assim confrontando-nos com a autenticidade dos nossos impulsos.

Como quase sempre, corporiza o medo e erotiza o desejo, envolvendo-os com a mestria da forma. Em "Léden et après" o mundo pertence à arte, desde a arquitetura às performativas, percorrendo uma série de movimentos dentro das belas-artes. Pela pluralidade e acutilância do discurso, este é um filme que todos deveriam ter a oportunidade de ver.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sessão Temporariamente Suspensa - Movimento de apoio à Cinemateca Portuguesa

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Espeto de Pau



Vi ontem no DocLisboa, e ainda passa hoje (quarta) às 16:30 no Londres: "Cuchillo de Palo", um espantoso documentário de Renate Costa, a não perder. No Paraguai, a realizadora procura descobrir o rasto escondido de um tio, que, por ser homossexual, sofreu a perseguição da ditadura de Stroessner e a ostracização social e da sua própria família, até à sua morte, ao que dizem, "de tristeza". Renate Costa constrói um documentário pessoalíssimo que é não só um pungente retrato da homofobia como um encontro com o seu próprio passado, com a relação, também ela distante, com o seu pai, e com a relação deste com o irmão homossexual. Um documentário magnífico na abordagem ao tema (forte sem ser panfletário, comovente sem ser lamechas), ao ritmo, à filmagem, enfim, e como disse ao princípio, só passa mais uma vez hoje às 16:30, vão vê-lo ao Londres!

quarta-feira, 31 de março de 2010

anaCrónicas 11

Ele há dois tipos de cinemas: aqueles em que se comem pipocas e aqueles em que se batem punhetas. O primeiro tipo de salas, o das pipocas, é o espaço acústico em que os pipoqueiros produzem um som do tipo herbívoro que busca a unanimidade de um movimento maxilar compassado para construir uma banda comum, e é também o espaço em que os mesmos pipoqueiros interiorizam o som que produzem para fora, pois o interior do corpo é também um espaço acústico que recebe dentro o que se faz para fora, o que os ouvidos, entradas de som, provam à evidência, pois quando não ouvem para fora estão absolutamente ocupados para dentro nessa função de sondar as músicas interiores – acontece muito.
Infelizmente nem todos os comedores de pipocas estão suficientemente adestrados para o fazerem ao mesmo tempo no mesmo lugar como a sublime experiência da unanimidade referida – chegados aí, os poucos que o sabem fazer, os iniciados, entram no céu da comunhão maxilar, só comparável ao êxtase inexplicável do milagre em directo – só os da católica valem, os outros são falsos. Claro que a pipoca, tendo a dupla condição de criar som externo e interno, vai mais longe: o movimento estético-mandibular pode fundir-se com o gesto criador numa espécie de big bang da invenção da partícula estética. A cavidade bucal funciona, na trituração, como um verdadeiro acelerador de partículas do universo sensível.
Já a punheta pede um cinema específico em matéria fílmica e em característica de sala. Neste tipo de sala convém usar guarda-chuva porque esta cinefilia praticante funciona como actividade sexual de tipo aberto, cujo limite é apenas orgânico e a fantasia só comparável com a poética amorosa dos símios.
Entretanto, a diferença radical entre o punheteiro cinéfilo e o pipoqueiro está em que tendo ambos uma intervenção clara no curso da acção fílmica, o primeiro exprime-se para o exterior, produzindo opinião clara sob a forma de uma secreção húmida e identitária e o segundo só o faz para dentro, numa atitude mais moderada e sensata. O que normalmente se traduz, para o pipoqueiro na preferência pelo filme familiar, divórcio mais casamento, mais filhos, mais divórcio e casamento, continuando por aí, e para o punheteiro num tipo de cinema mais próximo da dança do varão, essa expressão superior da dança contemporânea que agora é muito comum nos workshops para mães de família e que se generalizou depois do conhecido caso “as mães de Bragança”.

FMR

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Cinema Ponte


07.Nov. Hantverkargatan 70. Stockholm

18h00m
Mozambique, journal d’une Indépendence ”Mocambique, om en självständig tidning”
Um filme de Margarida Cardoso
(por volta de 53minutos)

I N T E R V A L O pause
chá-café ou laranjada !!!! chamussas...etc.

19h10m
Cinémas de Mozambique
Sonhos Guardados “Bevarade drömmar”
Um filme de Isabel Noronha
(2004/doc./30minutos)
A Janela “Fönstret”
Um filme de Sol Carvalho
(2006/ficcão/8minutos)
Acampamento de desminagem
Um filme de Licinio Azevedo
(2005/doc./60minutos)
Os filmes tem legendas em Francês/Inglês/Espanhol.

20h00m
C O N V Í V I O
Bar – aperitivos (tilltugg) e pequenas delicadezas(delikateser) moçambicanas e não só, com música de fundo......e muito mais.. .......
Entrada gratuíta (fri inträde till medlemar) para os sócios da Associação Ponte.
Pede-se a regularização das quotas em atrazo por todos membros e aceitam-se novas inscrições! PlusGirot 43 45 62 - 5

domingo, 4 de maio de 2008

Festival Indie Lisboa 08

Depois de vários dias a decorrer o Indie Lisboa, espalhado em diferentes salas de cinema, um filme tailandês foi o triunfador, "Wonderful train", de Aditya Assarat.
Venceu o Grande Prémio "Cidade de Lisboa" para longa metragem, no valor de 15 mil euros.

O Prémio "Tobis", foi entregue ao documentário "Via de acesso", de Nathalie Mansoux na qualidade da melhor longa metragem portuguesa, no valor de cinco mil euros.

Nas curtas metragens, "One day", de Ditte Haarløv Johnsen, recebeu três mil euros, um filme dinamarquês; a melhor curta metragem portuguesa "Paisagem urbana com rapariga e avião", de João Figueiras, foi premiado com 2.500 euros.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Da Capital do Império

Olá,

Hoje creio eu que vos vou surpreender. Desculpem-me o meu entusiasmo mas vou falar-vos de cinema, mais precisamente de um filme que fui há dias ver. “There will be blood” que não sei como vai ser chamado aí desse lado do charco.
Antes disso tenho a dizer-vos que eu continuo a ser um grande fã do cinema. Só vi televisão pela primeira vez na minha vida aos 20 anos de idade em 1972 (um dos benefícios do colonialismo) e o cinema foi aquilo que marcou o meu mundo áudio visual. Dai que só use a televisão para ver futebol e noticias e todos os dias diga para mim: “Tenho mais de duzentos canais de televisão e não tenho nada para ver.”
Talvez por isso continuo também a preferir ver os filmes na sala de cinema, apesar de aqui nos Estados Unidos às vezes ficar irritado com o reflexo pavloviano dos americanos que quando entram na sala de cinema têm que ter na mão um pacote enorme de pipocas e noutro um copo enorme de cartão de Coca-Cola. Americano, qualquer que seja a sua idade, quando compra bilhete de cinema começa a sentir o sabor de pipoca e o gosto de Coca-Cola. Está-lhes gravado no seu AND e por isso têm que entrar na sala com isso na mão. O resultado é que as vezes os filmes iniciam-se e o maralhal ainda está a mastigar pipocas ou então a chupar o fim da Coca-Cola pela palhinha que com o gelo a derreter provoca aquele barulho irritante schlup schlup schlup. Ou então a meio do filme alguns têm que ir despejar a Coca-Cola, algo que acontece principalmente em dois escalões etários, os muitos jovens e os mais velhos idades em que a capacidade das bexigas está em ordem inversa ao tamanho dos filmes.
Mas apesar dessa pequena irritação cultural americana nada bate um filme visto no écran grande. Raramente vejo filmes na televisão e creio que nunca aluguei um DVD, embora tenha uma colecção enorme dos meus filmes favoritos em vídeo … que nunca vejo.
Isto tudo a propósito de “There will be blood” um filme cujos minutos iniciais de um tal Daniel Plainview (o actor Daniel Day Lewis) a garimpar num buraco no meio de uma zona semi desértica inospitável, sem outro som que o da picareta e do seu respirar são só por si memoráveis.
Plainview reincarna o princípio da América. A terra hostil, a pobreza dos que a exploram, a sua cobiça, a sua energia, a sua brutalidade.
Plainview (que se pode traduzir por “vista clara”) é isso mesmo. O seu individualismo, o seu egoísmo, a sua capacidade de usar as necessidades dos outros para ele avançar, estão ali à vista clara de todos, como também estão a sua criatividade, a sua vontade de vencer, ultrapassando barreiras físicas, económicas e sociais.
A religião surrealista evangélica que acompanha os pobres nessas zonas abandonadas também está lá em coexistência tensa e nervosa, às vezes em confronto com o capitalismo que cresce e se fortalece nessas zonas, formando a identidade americana e do seu capitalismo. Às vezes em “cooperação” forçada a lembrar Henrique IV de França que em 1593 se converteu ao catolicismo porque “Paris vale bem uma missa”. Plainview “converte-se” também ao evangelismo louco porque precisa disso para avançar.
É um filme com momentos de ternura (uma curta cena de Plainview com o seu filho num comboio, sem palavras, sem abraços, sem beijos, é magistral) mas sempre de tensão, de incerteza que é afinal aquilo que é a vida principalmente em situações novas e difíceis.
Sangue ao contrário do que o titulo possa indicar há pouco. Na cena de um trabalhador que morre num poço de petróleo o seu sangue e o seu corpo misturam-se na lama, no sujo da nova força que revoluciona a paisagem, o país.
Capitalismo criador e que como tudo o que cria também destrói. A analogia da América está ali, numa história bem contada que prende qualquer pessoa sem pretender ensinar ninguém, sem pretensiosismos intelectuais, uma vitória para o realizador Paul Andersen a provar que na “indústria” do cinema americano se produz também arte do mais alto calibre.
Daniel Day Lewis faz um papel como há muito não se vê no cinema. A voz e a pronúncia que usa durante quase todo o filme ficou-me gravado na memória com um ponto de interrogação E três dias depois a luz acendeu-se no meu cérebro. É uma imitação perfeita da voz do falecido realizador/actor John Houston. Não sei o porquê disso. Mas actuação de Day Lewis vale só por si o preço do bilhete. Junte-se a isto uma cinematografia extraordinária e música composta por Jonny Greenwood do grupo Radiohead, e “There will be blood” é uma vitória, um triunfo para aqueles que como eu gostam do cinema.
Façam-me um favor: se este ano forem ao cinema duas vezes, uma delas tem que ser para ver este filme.
Abraços,

Da capital do Império,
Jota Esse Erre

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Filme de fim de Verão


The last picture show

Cine-corrente

Não gosto de ser desmancha-prazeres, mas estou a acabar as minhas férias e não gosto de ser acorrentado. No entanto, por ter recebido um convite da IO, do Chuinga e, da E-Ko, do Ekonoklasta, não quero ser indelicado. Deixo~lhes aqui um beijinho.
Tenho postado vários filmes que me marcaram, de forma que, agora, escolho apenas os dois mais.

O Bambi que durante anos aterrorizou uma irmã minha e me deixou longo tempo angustiado (vimo-lo muito miúdos)

E o Garganta Funda que combinado com umas leituras do relatório Kinsey, o Masters and Johnson e umas passas, me deixou o resto da vida inquieto.


Quebro aqui a corrente. Não quero submeter outros blogger's a esta provação.

Posto mais acima um grande filme.