Uma "Biographie Croisé" de Deleuze/ Guattari, assinada por François Dosse, acaba de sair na editora La Découverte, em Paris.
Uma perca do primeiro original obrigou-nos a adquirir, em Estrasburgo, de novo, o colossal livro de cerca de 650 páginas. Trata-se com efeito, de um dos grandes acontecimentos do ano. A dupla inconfundível beneficia de um crescendo de reconhecimento nos EUA, Japão, Itália e Inglaterra. Memorável o seminário de três dias com Foucault/Deleuze e Guattari na Columbia University, em Nova Iorque, já em 1975. Para lá de ter induzido a posteriori a constituição de um Centro Internacional de Filosofia na École Normale Supérieure de la Rue dŽUlm.
De incaboudora de Sartre, Althusser, Derrida, a ENS dŽ Ulm é, hoje, a ágora de um conjunto de novos filósofos que defendem com unhas e dentes o legado de Deleuze e Guattári. Élie During,Thomas Bénatouil e Isabelle Stengers, são hoje nomes incontornáveis do novo espaço filosófico francês, entre outros.
Dosse ouviu toda a gente que lidou de perto com Deleuze e Guattari, ao longo dos anos. Traça todas as implicações da sua estratégia, os seus desenvolvimentos, choques e rupturas. Realiza uma maravilhosa e pedagógica maratona conceptual. O perfil da amizade entre a famosa dupla é objecto de uma sucessiva e pormenorizada investigação. Do mesmo modo, analisa com profundidade e sem emoções perdedoras, o encontro de Foucault com Deleuze; e o estreitamento dos laços de inaugural camaradagem entre Deleuze, Chatelêt e Tournier, desde os bancos da Sorbonne.
A génese e desenvolvimento dos conceitos principais dos dois grandes livros escritos pela dupla - O Anti-Édipo e Os Mil Tabuleiros - merece uma exaustiva análise.
"Os primeiros desses princípios são constituídos em torno da conexão e a heterogeneidade. Um outro princípio, o da multiplicidade, com origem em Riemann, adquire uma maior importância do que o de microfísica", diz Deleuze citado pelo biógrafo.
Joaquim Vital, o grande editor português de Paris, que imprimiu o livro de Deleuze sobre Francis Bacon, em 1981, A lógica da sensação, Editions La Différence, revelou a Dosse a história de um jantar falhado entre Deleuze e Bacon. " O jantar foi infecto - tão infecto como o diálogo entre os dois criadores", revela Vital.
Apesar de tudo, Bacon dizia para quem o queria ouvir: " Parece que ele, Deleuze, estava atrás de mim quando eu pintava". Belíssimas histórias as que se prendem com a revelação de uma amizade fantástica entre Deleuze/ Guattari e os seus tradutores italianos e japoneses. Hidenobu Suzuki, membro da extrema-esquerda de Tóquio, chega a Paris para estudar a Língua. Como era admirador de Kafka, descobre Deleuze e os seus livros. Desde 1974 até hoje, Suzuki continua a decifrar a nova filosofia francesa. O mesmo se passa com Giorgio Passerone, vindo de Génova, que traduziu os Mil tabuleiros. Dosse revela-nos que Deleuze deixou um livro inédito - Ensembles et Multiplicités- e Raymond Bellour tem uma entrevista também inédita de centenas de páginas com a dupla, conforme confessou ao biógrafo.
FAR
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terça-feira, 20 de novembro de 2007
Pavé sobre a filosofia do devir
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Guattari
terça-feira, 3 de julho de 2007
Gilles Deleuze: O que é ser de Esquerda
Video Éditions Montparnasse, Julho 2007
Um vídeo de oito horas acaba de sair em Paris, com o filme-diálogo entre o Filósofo, Claire Parnet e Pierre-André Boutang, realizado um ano antes da sua morte violenta. Mais uma peça fundamental para o Organon da Ultra-Esquerda do séc. XXI.
Um extracto de um diálogo:
"Ora, não ser de Esquerda o que é? É um pouco como ter uma direcção postal. Partir de si, da rua onde se vive, a cidade, o país, os outros países, cada vez mais longe. Começamos por nós e na medida em que somos privilegiados e estamos num país rico, dizemos - " Como fazer para que a situação se eternize? Sentimos que há perigos e que ela não se vai prolongar por muito tempo. Oh-la-la, a China...como fazer para que a Europa ainda se aguente, etc."
"Ser de Esquerda é o inverso. É perceber de imediato o contorno dos problemas. O Mundo, o Continente, a Europa, a França, a rue de Bizerte, eu. É um fenómeno de percepção: compreender primeiro o horizonte. E não é por generosidade, nem por moral: é uma questão de endereço postal. Vemos no horizonte. Sabemos que isto não se vai aguentar: esses biliões de pessoas que morrem de fome e de injustiça absoluta. Consideramos que isso são problemas a resolver. E não é só classificá-los para diminuir a natalidade. Pelo contrário, é encontrar soluções, as famosas conexões mundiais."
"Ser de Esquerda é fazer muitas vezes mais por resolver os problemas do Terceiro Mundo do que tentar resolver os do nosso Bairro. É verdadeiramente uma questão de percepção. Não de angelismo. É ser, logo de início, de Esquerda para nós próprios ".
FAR
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