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quarta-feira, 23 de julho de 2008

A propósito do facilitismo

Este blogue escapa ao cerco do sistema educativo, pelas suas conclusões originais na adição.


A criança que não é desafiada a entrar num exercício como numa floresta de perigos, armadilhas, códigos por decifrar, cheiros de mistérios e noção de conseguir alcançar algo que não está já ali, perde a emoção da aprendizagem, isso que no fundo é a cor da motivação. Torna-se por decreto público parte da lista do granjeamento de acéfalos bem sucedidos estatisticamente.
O nossos filhos deveriam estar protegidos dessa oferta.

domingo, 13 de abril de 2008

A propósito da Educação

Jean Paul Sartre seria fulminado como professor, nos dias de hoje ?

“(...) Os estudantes de Sartre no Lycée François I nunca tinham conhecido ninguém como ele. Estavam fascinados por este homenzinho roliço, que aparecia na escola com um velho casaco de tweed –sem gravata– sentava-se em cima da secretária, com as pernas a abanar e arremessava ideias para o ar sem nunca olhar para os seus apontamentos, como se estivesse a falar com amigos.
Ele não era como os outros adultos. Levava as ideias muito a sério mas não levava minimamente a sério a sua posição de autoridade.
Nunca falhava aos estudantes e quase nunca lhes dava notas negativas. Até os deixava fumar nas aulas.
(,,,) Não tinha nada de snob e parecia não haver tema que não lhe interessasse. Era da opinião que tudo nos dizia qualquer coisa sobre a civilização contemporânea. “Vão muitas vezes ao cinema”, dizia-lhes.
Era um imitador brilhante e tão engraçado e inventivo que conseguia provocar risos até numa aula de Filosofia.
Sartre parecia não preocupar-se com as coisas com que os outros adultos se importavam. Os estudantes que chegaram a ver o seu quarto de hotel, ficaram chocados pela sua austeridade espartana. Ele disse-lhes que tinha poucos bens e que não estava interessado em aquisições materiais.
(...) Os seus alunos sabiam que ele estava a trabalhar num romance que continha as suas ideias sobre contingência e liberdade. Às vezes em algumas noites encontrava-se no café com dois ou três dos seus alunos. Fazia-lhes perguntas e eles davam por si a conversarem sobre todo o tipo de coisas. Ele era encorajador e fazia-os ver que tinham opções. Por vezes jogavam póquer, ou Sarte ensinava-lhes canções picantes.(...)”
In: Sartre e Beauvoir, Hazel Rowley, Ed Caderno

terça-feira, 1 de abril de 2008

"a carolina michaëlis fica onde nós quisermos, nomeadamente ao canto da boca"

"também eu vou atirar uma posta de pescada sobre a polémica do vídeo na carolina michaëlis, mas já agora de pescada zero, que costuma designar aquela que se coze em água e sal para desesfaimar, palavra que acabo de inventar, o gato lá de casa, coitadinho. das minhas memórias do ensino secundário, e estas podem fornecer pistas sobre a situação patética que é a minha vida adulta, guardo com especial fervor as 'visitas de estudo' programadas pela professora de matemática, personagem a dar para o blasé, na versão amigável, totalmente tresloucada-chique, na versão maldosa, que muito gostava de laurear com os seus alunos sob a capa do interesse complementar ao plano de estudos. para tal pagava-se inscrição e alugava-se a camioneta, o motorista sempre o mesmo, os destinos mais ou menos variáveis, sempre rumo a norte, vila real, por exemplo, local onde conheci de perto as potencialidades dos garragões de vinho levados para o quarto da residencial, ou covilhã/serra da estrela, em que certa e determinada ressaca me fez perder a viagem de camioneta à zona da torre, razão pela qual fiz esse trajecto à boleia numa carrinha de caixa aberta em pleno janeiro, rodeado de laranjas, por forma a não perder as dinâmicas de grupo da turma durante o resto do dia. e o estudo incluído na vistia, claro. pois bem, numa dessas viagens de grande instrução acabei por receber de forma enviesada uma série de informação com que nunca sonhei, nomeadamente em termos estéticos, uma vez que, em determinada altura em que foi necessário bater à porta da professora para combinar algum plano das festas, a senhora aparece à ombreira da dita [porta] com o ar mais natural do mundo, secundada na penumbra pelo motorista do machibombo, sempre o mesmo, sempre fiável. presa ao colete de forças mental das equações de segundo grau, da fórmula resolvente ou dos casos notáveis a nossa interlocutora esqueceu-se de supervisionar ao espelho a figura com que iria aparecer aos seus instruendos de 16/17 anos, observadores implacáveis, e como tal ostentava um comprometedor pintelho ao canto da boca, enquanto perorava acerca do cumprimento dos horários das visitas, ou coisa que o valha. na altura telemóveis nem vê-los. youtube muito menos. poupou-se no enxovalho imediato, ganhou-se na hilariedade privada, liberta aos borbotões entre os nossos grupos de amigos ao longo de anos a fio. obrigado stora. obrigado sistema educativo. telemóveis nas aulas? isso é coisa para meninos."
pedro vieira, Irmão Lúcia, 1.4.08



Recordações da Casa Amarela, João César Monteiro

Uma genuflexão perante o Irmão Lúcia e o
Sinusite Crónica.

Do choque

"(...) já agora, assinalo o meu profundo choque por o Presidente da República precisar do YouTube para se chocar (profundamente) com as escolas portuguesas." UM PASSO LONGE DEMAIS, DN, 1/04/08, João Miguel Tavares

domingo, 23 de março de 2008

Ser professor é difícil (4)

A escola do antigamente

"Os anjinhos dos bons velhos tempos

Fiquei chocadíssimo ao aperceber-me de que, afinal, só a minha turma do liceu é que gozava perdidamente com os professores.

Recordo-me do J. e do S. a emitirem um programa radiofónico lá da última fila nas aulas daquele professor de História surdo; da professora de Português estrábica a quem nunca respondia o aluno que interrogava, mas outro sentado no lado oposto da sala; ou da turma toda a uivar quando a professora de Inglês que usava mini-saia se esticava toda, de costas para nós, para escrever no alto do quadro. E fico-me por aqui.

Castigue-se quem deve ser castigado, mas poupem-me às prédicas sobre o respeito dos alunos pelos professores nas escolas do antigamente
(...)
"
João Pinto e Castro
. ...bl-g- -x-st

"Caderneta escolar

Frequentei uma escola exigente. No entanto qualquer professor que revelasse não ter pulso, passava por situações complicadas, que não se limitavam a “imitar as palavras da professora, berrar com os colegas e levantarem-se sem autorização”, nas palavras do famoso dr. Charrua, que agora surge encaixado no gabinete de apoio ao aluno da escola Carolina Michaelis.

Havia no entanto uma diferença essencial: os professores “sem pulso” não se punham a medir forças com os alunos. Chamavam o auxiliar administrativo — ou o responsável da escola.
(...)
"
Miguel Abrantes. Câmara Corporativa

"No meu tempo

Há dias recebi um convite dos colegas para participar no 30º aniversário do fim do nosso ano de liceu. Não poderei participar, mas sei quem lá encontraria: senhores e senhoras de meia idade, pais e mães de família, empresários, quadros superiores, médicos, advogados, arquitectos, certamente também alguns "falhados".
Frequentei o liceu numa cidade de província, uma escola pública. A escola, sem ser de elite, tinha uma boa reputação. O director era um padre jesuíta, muito respeitado dentro e fora da escola e, por nós, também temido. A maioria dos outros professores também não tinha problemas maiores de disciplina.
Mas havia as aulas de educação visual, em que sempre jogámos às cartas, o que a professora fingiu não ver. Tínhamos 14 ou 15 anos. As aulas de latim, dadas pelo Dr. S., de quem me lembro hoje com respeito e carinho: era um senhor perto da idade de reforma, tão delicado que quando nós cruzámo-nos com ele na rua, levantava mesmo para nós adolescentes o chapeu, cumprimento já na altura antiquado. Isso não impediu que, quando nos virava as costas na aula, lhe atirámos com bolinhas de papel.
E havia a professora de inglês, Mrs. T., que recentemente tinha enviuvado, o que poderá ter contribuído pela sua incapacidade de impor disciplina nas suas aulas. Lembro-me de uma em especial. Alguém tinha trazido uma bola de futebol para a sala, e a professora teve a triste ideia de tentar confiscá-la. Durante minutos, a bola voava de um para outro, para o gáudio de todos. Continuava a voar ainda algum tempo, mesmo depois de ela ter desistido e ter voltado a debitar a matéria, que nós ignorámos como ela então ignorava a bola.

O que distingue o nosso caso de 1974 do da Carolina Michaëlis é que não tínhamos como gravar e colocar o espectáculo no Youtube.
"
Lutz Brückelmann. quase em português

Frequentei o ensino público antes do 25 de Abril. Sou professor. Tenho filhos. A escola hoje é muito menos violenta, do que a do meu tempo de aluno, e responde a desafios maiores. Bendita democracia

Ser professor é difícil (3)

"(...)
Sempre houve indisciplina na escola e nas salas de aula. O tempo que as pessoas fantasiam nas suas cabeças desapareceu há umas décadas. Aceito, no entanto, que hoje seja mais grave. Algumas de muitas razões: famílias demissionárias ou ausentes (as mulheres hoje trabalham e espero que não as queiram de volta para casa), formas de socialização entre adolescentes que os pais e os professores desconhecem e com os quais não sabem lidar, concentração de miúdos problemáticos nas mesmas escolas e turmas, pais e alunos que não respeitam a escola porque não a vêem como uma forma de ascensão social, depreciação da imagem do professor, confusão entre autoritarismo e autoridade (sem a qual a educação - aceitação de que a pessoa que está à nossa frente tem qualquer coisa para nos ensinar - é impossível), uma escola cada vez mais distante da realidade quotidiana vivida pelos adolescentes, a hiper-mediatização de cada episódio que deixa de poder ser gerido dentro da sala de aula e passa a ser debatido por todos (para esta última contribuo eu próprio).
Alguns destes factores são inultrapassáveis. São assim mesmo. Outros não o são e vale a pena discuti-los. Mas há debates que não vejo muito bem para onde nos podem levar. O que propõem exactamente, para resolver os problemas de disciplina, alguns que aqui deixaram comentários?
1. Que o castigo físico volte a ser reintroduzido como forma de ensino?
2. Que os alunos complicados sejam proibidos de ir à escola e se acabe com o ensino obrigatório?
3. Que se acabe com a Internet e com a televisão?
4. Que se esterilizem os pais que não saibam educar os seus filhos?
(...)
A importância de preparar os professores para lidar com a indisciplina (que passa por saber gerir uma crise, mas também por saber dar aulas) e com adolescentes pareceu-me evidente. Defender a dignidade dos professores é defender os professores, mas não só. É defender a sua qualificação. E quem trabalha com adolescentes em 2008 tem de saber trabalhar com os adolescentes que existem em 2008, com todas as diferenças que há entre eles, e não com o adolescente que devia existir ou que um dia existiu (se é que existiu). Haverá sempre excelentes professores, professores medianos, professores maus e professores péssimos. Haverá sempre excelentes alunos, alunos medianos, alunos maus e alunos péssimos. A formação dos professores, a valorização da profissão para que os mais capazes queiram leccionar e a adaptação da escola à realidade que tem pela frente é o que podemos fazer. O resto depende, como em todas as profissões, da qualidade de cada um. Mas fazer de cada professor uma vítima aos olhos da sociedade, dos pais e dos adolescente só piora o problema. Uma coisa não está ao nosso alcance: escolher os adolescentes que podem estudar. E ainda menos os pais deles. Por isso é que faz sentido falar dos professores e, claro, do funcionamento da escola.
De resto, os que não querem resolver os problemas podem continuar a falar do seu tempo. Já foi. Era outro. E sobre o outro tempo podemos também falar. Há muito para dizer e está longe de ser consensual. Mas não serve de muito para aquilo que está em debate. Esse tempo passou. Passa sempre. A escola que temos tem estes adolescentes que têm estes pais. Acabada a indignação, vamos discutir o que interessa?
PS1: Uma coisa que não suporto ouvir: o meu papel é ensinar a matéria, não é educar, gerir conflitos ou resolver este tipo de problemas. E não suporto por uma razão simples: é falso. Mesmo que fosse justo (e não é), não aguentava um segundo de contacto com a realidade. E denuncia uma relação burocrática com a docência que é intolerável.
"
Daniel Oliveira. Arrastão

terça-feira, 11 de março de 2008

Da política (5)

"Sim, e agora?

Rui Tavares mistura várias coisas no mesmo saco no seu artigo de hoje no Público, entre elas: a) A avaliação dos méritos genéricos da escola pública; b) A avaliação da pedagogia dominante no nosso ensino; c) A avaliação do modelo de gestão escolar hoje vigente.

No fim, acusa a Ministra e o Governo de terem baralhado tudo: “Um discurso que nos diz que todo o ensino público está mal não é nem nunca será reformista.” Peço desculpa, mas a confusão é dele.

Deixo, porém, à Ministra o encargo de se defender a si mesma, e passo a explicar a minha opinião sobre o tema. Sinteticamente, porque tem que ser:

1. Avalio muito positivamente o desempenho global do ensino público após o 25 de Abril de 1974. Transformou o analfabetismo num fenómeno residual. Alargou drasticamente os anos de ensino obrigatório. Chegou a todo o país. Permitiu a milhões de jovens concluírem os seus estudos secundários e abriu as portas da universidade a centenas de milhares deles.

2. Repudio a retórica sobre o eduquês como uma catilinária reaccionária e ignorante que pretende fazer-nos recuar aos tempos anteriores a Coménio (o fundador da pedagogia moderna que os pobres críticos confundem com Rousseau).

3. Acredito que a escola pública tem condições para superar a sua actual crise de forma a continuar a assegurar a educação universal e gratuita primária e secundária a todos os que a ela queiram recorre.

4. Não tenho o menor desejo de polemizar sobre se as coisas teriam sido melhores ou piores se outro caminho tivesse sido seguido. Fizemos o que fizemos, e fizemo-lo genericamente bem.

5. Interessa-me exclusivamente discutir os problemas da escola pública de hoje e encontrar para eles as melhores soluções.

6. Não acredito que haja respostas definitivas para os problemas, válidas independentemente das épocas e das circunstâncias. Julgo, por isso, que certos arranjos que provaram ser adequados ou ao menos neutros no passado se encontram hoje obsoletos.

7. Tal como vejo as coisas, a escola pública tem hoje dois grandes desafios pela frente: a) o desafio da adaptação do conteúdo do ensino às necessidades da sociedade contemporânea; b) o desafio da gestão criteriosa dos recursos ao seu dispor.

8. O primeiro desafio é o mais difícil e exigente. Não falarei dele agora, excepto para dizer que as potencialidades da escola pública a esse nível só poderão ser libertadas se se resolver primeiro o segundo, dado que, sem isso, não teremos recursos para o fazer.

9. A escola pública é hoje um local de esbanjamento das capacidades dos professores e dos alunos. O sistema por ele responsável existe há muito tempo, mas só na última década se converteu num travão essencial ao progresso.

10. As escolas públicas têm sido geridas, perante a complacência do governo central, por uma aliança perversa entre a máquina burocrática da 5 de Outubro e os sindicatos dos professores.

11. Como tem sido observado por múltiplos comentadores, os professores presentemente não são avaliados nem prestam contas a ninguém. Esta situação insólita, sem par, ao que julgo, em qualquer país desenvolvido, tem que terminar. Este é que é o problema.

12. Tal como a pressão sobre o Ministério da Saúde atingiu o seu clímax quando se encontrava prestes a entrar em vigor o controlo dos horários dos médicos e a abertura de farmácias nos hospitais, os professores mobilizaram-se em massa para bloquearem o Ministério da Educação quando se aproxima o momento decisivo em que eles começarão a ser avaliados e em que entrará em vigor o novo regime de gestão das escolas.

13. Nestas condições, é ingénua a reivindicação do diálogo da Ministra com os professores, quando é claro que os sindicatos recusam qualquer forma de avaliação e temem perder o controlo sobre as gestão das escolas. Alguma vez propuseram outra coisa que não fosse a pura e simples manutenção do statu quo?

14. Soa-me estranha aos ouvidos a afirmação de que a reforma não pode ser feita contra os professores. Trata-se de uma constatação ou de uma ameaça? Porque, se, como parece, é uma ameaça, a resposta é muito simples: os professores que boicotarem a avaliação não serão promovidos e poderão eventualmente ser alvo de processos disciplinares.

15. Pretender o contrário é aceitar que a política educativa deve ser confiada ao soviete dos professores. Digo soviete para não dizer corporação, visto que esta palavra parece ferir muito certos ouvidos.

16. Sustento que a manifestação de sábado passado foi uma vitória de Pirro, pela simples razão de que nem o PCP, nem os sindicatos, nem os restantes partidos da oposição sabem o que fazer com ela? Semana de luto? Que tal semana da fome? Greve geral da função pública? E depois? É eleições antecipadas que pretendem? Para quê? Para serem derrotados nas urnas?

17. As mesmas pessoas que há semanas declaravam defunto o movimento sindical encontram-lhe agora insuspeitadas virtudes. Pois a verdade é que os sindicatos continuam, como sempre, amarrados à política suicida do PCP.

18. Já outros fizeram notar que o Governo continua a não depender de ninguém nesta matéria, desde que não se esqueça que o ensino existe para educar os alunos, não para empregar os professores, e desde que focalize as suas atenções no tema da gestão escolar, que é o nó da luta pelo poder que estamos a presenciar.

19. De modo que me parece que a pergunta do Rui - “Contentes, agora?” - deverá antes ser endereçada aos sindicatos e aos professores que com eles alinharam.
"

João Pinto e Castro, 10 Março 2008

Com a devida vénia ao Cinco Dias

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Como se acaba com a Escola Pública

O "estatuto do aluno", especialmente no que toca ao fim das penalizações por faltas injustificadas, é a prova que faltava, se era preciso prova alguma mais, de que os "responsáveis" pelas políticas educativas em Portugal, ou perderam o juízo, ou estão completamente desligados da realidade do que é uma escola neste país, ou se preocupam apenas com as estatísticas do insucesso escolar e nada com os resultados das políticas que aplicam na formação das próximas gerações deste pobre país. Ou ainda, o que é mais assustador, mas que considero plausível, não acreditam sequer no modelo de Escola Pública.
O meu ilustre colega de blogue Armando Rocheteau, nas muitas conversas que já tivemos sobre estes temas, tem razão quando diz que o poder dos professores era muitas vezes usado por pequenos ditadores, que, todos o sabemos, destruiram a vida de muitos alunos, especialmente dos menos preparados culturalmente para a sobrevivência na selva. E tem também razão quando diz que o ensino obrigatório tem, necessariamente, de ser para todos. Mas há um limite que se ultrapassou, um limite de bom senso, inteligência, e resultado. Começou algures nos anos 90, com os disparates pedagógicos das "areas escolas" e afins, ao mesmo tempo que se diminuia a exigência dos programas das disciplinas nucleares. E foi prosseguindo até atingir o climax nesta Ministra da Educação, com a total descredibilização da autoridade prática e mesmo moral dos professores, cujo culminar é a criminosa rábula dos colocados com cancro e outras doenças incapacitantes, tratados como crápulas, vigaristas, usurpadores dos recursos do Estado em seu proveito próprio.
É que o problema principal já não é, sequer, as condições de trabalho dos professores. Neste momento, a questão é mesmo os alunos. Não se consegue entender que interesse futuro terão em sairem da escola aprendendo nada ou quase nada. A escola democrática, inclusiva, e a própria essência do conceito de ensino obrigatório, entende-se facilmente, são subvertidas nesta lógica de facilitismo. Há muitos anos que não era tão compensador para o futuro de uma criança colocá-la numa escola privada. Se pensarmos que, em breve, as universidades passarão a escolher os alunos que admitem, percebe-se o triste destino das próximas gerações daqueles que, por razões económicas ou culturais, definharão no caixote do lixo da escola pública. Nessa altura será tarde para pedir responsabilidades a esta ministra ou a outros responsáveis. As virtudes da democracia representativa fá-los-ão justificar-se com a "livre escolha dos eleitores", e os seus filhos e netos aprenderão felizes no colégio, esperando o bilhete garantido para a melhor faculdade e o seu futuro brilhante, onde cumprirão a especial e necessária função de se perpetuarem como casta dominante.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

terça-feira, 3 de abril de 2007