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terça-feira, 11 de maio de 2010

Das "polémicas", reais ou inventadas

Não me parece que haja nenhuma polémica em especial neste blogue, de momento. No entanto, impõe-se um esclarecimento quanto ao tal de Agostinho Lopes e outros assuntos: primeiro, acho estranho que se identifique a "canalha totalitária", que a há, e foi até bem nomeada pelo Armando nos comentários ao post, com a prática política de um partido tão inócuo, parlamentar, e dentro do sistema como é hoje o PCP. Segundo, no meu caso pessoal faço questão de não ter vacas sagradas, detesto rebanhos e ainda mais pastores. O exercício de memória do Agostinho Lopes quanto à história das privatizações em Portugal é fundamental, por muito que isso doa a quem insiste em acreditar (esses sim) em cantigas de embalar sopradas com a palavra mágica, "esquerda", e assim dormem um sono sossegado enquanto se vai dando cabo daquilo que significa isso mesmo, a esquerda. Terceiro, que quem me conhece, ou quem lê este blogue, sabe muito bem onde me situo perante os valores democráticos, e a exigência, tanto na prática política como intelectual, como ainda (e isso é o mais importante) na forma como se vivem os valores que se apregoam, da democracia, da liberdade e da solidariedade; por isso mesmo me espanto, oh se me espanto, que perante os maiores ataques à democracia alguns fiquem calados, preferindo continuar a confundir a forma com o conteúdo, satisfazendo-se com o mínimo denominador comum, recusando a exigência em troca, lá está, de um bom travesseiro onde deitar a sua cabeça. Quarto, dizer que é pena que alguns anónimos-não-tão anónimos, que demonstram à exaustão desconhecer o que é a democracia e a liberdade, na prática da sua vida de todos os dias, aí onde é decisivo, pretendam lançar veneno, acusando à boa maneira do novo estalinismo pessoas que estão muito acima delas, que vivem de cabeça erguida recusando o anonimato, que assumem as suas opiniões, debatem ideias e não lançam lama para cima de outros, que parece ser a única maneira como esta gente opera no mundo, eles lá saberão porquê. Quinto, e por último, tenho a certeza absoluta que a amizade e o respeito intelectual que me unem a quase, quase todos os actuais e antigos colaboradores deste blogue se mantém intactos, e que, à nossa maneira e escala, o 2+2=5 continuará a ser um blogue à esquerda e um espaço de liberdade.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Free Speech Movement (2)


Começo este texto, há tanto tempo por escrever, no dia em que tomo conhecimento de que o Herman José estreia um novo programa. Regressa num talk-show à RTP1.É uma coincidência. Há muito que quero ter o atrevimento algo estranho de, exactamente por me dedicar ao estudo de direitos fundamentais, tentar explicar por que é que o Herman José contribuiu, em toda a sua carreira, para libertar a tão em voga liberdade de expressão, ele sim, um homem censurado, em plena democracia.
As normas jurídicas não são enunciados mortos, sequências linguísticas deixadas num papel datado sem que o que se vá passando na sociedade, para a qual elas se dirigem, não seja absorvido pelas mesmas, dando-lhes um novo significado, sem que seja necessário alterar uma letra. Em 1976, no dia, no mês e no ano em que eu nasci, inscreveram-se duas liberdades fundamentais no estatuto do Estado e da sociedade, que dá pelo nome de Constituição: a liberdade de consciência e a liberdade de expressão, mas todos nós sabemos que o mesmo enunciado quer dizer hoje uma coisa e queria dizer, nos anos oitenta, uma outra completamente diferente. Os referentes mudaram.
Aprovar um texto não muda uma sociedade de um dia para o outro. A democracia da sociedade civil precede a democracia que o Estado lhe prescreva. Nessa mudança há indivíduos que fazem a diferença. O Herman José fez a diferença. Não conheço um caso igual. Conheço casos de sucesso, sim. Mas não conheço um caso igual. Esse é o ponto.
O Herman é um humorista e a história mostra a capacidade e a seriedade do humor para mexer com os sistemas. Eça de Queiroz escreveu que o riso é a mais útil forma da crítica, porque é a mais acessível à multidão. O riso dirige-se não ao letrado e ao filósofo, mas à massa, ao imenso público anónimo. E o Herman percebeu isto. Este homem pensou sempre primeiro que todos nós. Talvez ainda estivéssemos encostados a uma manta cinzenta quando o Herman, contra um país com medo, atreveu-se a demonstrar o que hoje temos por evidente: é que o humor não tem limites quanto ao objecto. Pode fazer-se humor com tudo: com o sexo; com a religião; com a morte; com os nossos costumes; com a família; com a hipocrisia; com a censura velada; com a estratificação social: com a pobreza; com a sida; com a homossexualidade; com a nossa história; com os falsos casais; com o machismo; com a violência nas relações; com a arte popular; com a política; com a nossa gente; com o sentir português; com tudo. Não há limites para o humor. Que juiz diria, hoje, o contrário?
Os limites serão outros, os mesmos que encontra a liberdade de expressão em geral, mas, quanto ao objecto, não há limites. O Herman atreveu-se, antes de todos nós, a escolher os seus próprios padrões de valoração ética ou moral na conduta subjacente ao seu trabalho, sem contemplações, porque o mistério de fazer rir, para ele, foi sempre, também, o mistério de nos acordar.
Não pretendo, aqui, fazer o historial dos programas de Herman José. Já o fizeram. Pretendo apenas dizer que sei que hoje Portugal é mais livre por causa do Herman.
É uma ternura rever os atrevimentos do Herman de há tantos anos atrás com figuras históricas, a célebre última ceia, que lhe valeu a indignação de meio país, missas de desagravo, histerias, e hoje revemos aquilo, e sabemos que essas mesmas pessoas que gritavam pela censura ao atrevimento estão hoje cientes de que têm a opção de mudar de canal e que nada há ali de ofensivo, mas apenas um exercício de ironia, de humor, com Jesus Cristo, sim, mas como não brincar com a religião e com as nossas figuras históricas se nós somos o produto disso mesmo?
Lembro-me da forma genial como o Nelo explicou à sua Idália o que era a Sida, destruindo num humor socialmente demolidor e implacável, todos os preconceitos e toda a desinformação sobre a doença, em gestos e palavras, e de como eu e um amigo seropositivo quase morremos de falta de ar e de satisfação: a sida tinha cores, o vírus era saltitante, dai que fosse mais apegado a gente dada para a brincadeira, e por aí fora.
Tantos e tantos episódios, o Herman sempre adiantado em relação ao país, daí figuras como o Diácono Remédios, que caricaturava preventivamente a crítica que Herman sabia existir na cabeça de tantos.
E quem está na televisão, na rádio, nos espectáculos durante mais de trinta anos a fazer rir ininterruptamente um país ? E quem nos dá alegria mesmo quando a não tem? Só um profissional de excepção.
Mesmo na sua exteriorização criticada do produto do seu trabalho, fossem relógios, fossem carros, fosse o seu barco, a vergonha não era nem deveria ser de Herman, mas de quem o criticava; o Herman estava apenas a ser livre, a ser o que queria ser, quem o criticava era, sim, o rosto da vergonha, ainda era herdeiro de um certo salazarismo que mandava ser rico com “decoro”, “sem mostrar”, de fato cinzento, de preferência.
Eu tenho 34 anos e não me lembro do Herman não existir. Passei a minha vida a rir e a aprender com o Herman. Desde logo a ser mais livre.
Este é um texto de gratidão. A gratidão é tanta, que tenho com o Herman – que não conheço – o mesmo tipo de instinto que tenho na amizade. Quando leio uma crítica ao seu trabalho, quando vejo alguém de fraca memória sublinhar um minúsculo aspecto da carreira deste monstro esquecendo o seu conjunto, fico roxa de fúria. Para mim, o Herman é e será sempre um génio. Sempre. E é um profissional que não falha. Morre-lhe o pai e ele dá o espectáculo que tem agendado para esse dia. Porque tem um compromisso connosco.
Quem me dera. Quando chegar a minha vez, daqui a muitos e muitos anos, se tiver um prazo para cumprir, duvido que o cumpra.

Isabel Moreira, Herman José ou de um contributo para a liberdade
no Jugular

terça-feira, 13 de maio de 2008

Azagaia


Este rapper faz mais pelas liberdades do que todos os engagés intelectuais, escritores e jornalistas de Moçambique.
Que nunca a voz lhe doa!


As Mentiras da Verdade.

sábado, 27 de outubro de 2007

Félix Guattari: "Je suis à la fois hyper pessimiste et hyperoptimiste"

"Nous sommes engagés dans une fuite en avant éperdue: on ne peut plus se retourner, revenir à um état de nature, à de bons sentiments, à de bonnes petites productions artisanales. Les processus de production, de plus en plus intégrés mondialement, autorisent- et je crois que c´est là une intuition marxiste qui demeure valable - un épanouissement de la liberté et des désirs. De nouveaux moyens nous sont donnés de sortir d´un Moyen Âge, voire d´un néolithisme des rapports humains."

"Le capitalisme ne peut impulser de motivation productive - à l´échelle personnelle, locale, régionale, mondiale - qu´en faisant appel à des techniques ségrégatives d´une incroyable cruauté. Il ne sélectionne et valorise économiquement que ce qui entre dans ses créneaux spécifiques ; tout le reste est dévalué, pollué, massacré. À cet égard, il faut bien dire, que le socialisme du goulag est devenu la forme suprême du capitalisme. Il nous a toutefois légué une chose essentielle: la compréhension de ce qu´aucun socialisme, aucune libération sociale ne saurait uniquement reposer sur des remaniements économiques"

In "Les années d´Hiver", par Félix Guattari, Edit. Bernard Barrault. Paris

FAR

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Memórias

A propósito da manifestação dos anarcas em Lisboa, e da carga policial que se lhe seguiu, vou contar uma história: há uns aninhos, quando eu era um bocadinho mais radical que agora, participei numa manifestação do mesmo génro no Porto. O objectivo era protestar contra a realização da cimeira da OSCE, em que se aprovaram várias leis limitadoras das liberdades individuais a pretexto da "guerra ao terrorismo".
A manifestação teve uma particularidade notável: deu-se às 7h30m da manhã. O objectivo, com o qual não estive de acordo desde o princípio, era "estragar o pequeno-almoço aos ministros". Tentar-se-ia manifestarmo-nos durante todo o dia. A essa hora, estiveram cerca de 50 pessoas em frente da Alfândega: algumas ainda dormiam.
A manifestação durou o tempo da descida dos Caldereiros à Alfândega, e mais um minuto em frente a esta. Ninguém insultou a polícia. O trânsito não foi cortado. Ao fim desse minuto foi vítima de uma brutal carga policial, efectuada por cerca de 100 polícias, de choque e outros. Fui preso, juntamente com mais dez pessoas, uma das quais a minha namorada da altura. Fui também agredido à bastonada, tendo ficado com um hematoma na perna do tamanho de uma bola de ténis.
Após varias e engraçadas peripécias na esquadra, todas com o objectivo de empatar ao máximo a nossa situação e levar-nos o mais tarde possível ao tribunal, fui ouvido ao fim de cerca de 10 horas detido. Acusaram-nos, como agora acusam os manifestantes de Lisboa, de estarmos armados com paus (que eram os cabos das faixas e bandeiras), de termos insultado e provocado a polícia, e de cortarmos a rua. As acusações foram arquivadas, e foi aberto inquérito à actuacção da polícia pela Inspecção Geral da Administração Interna, no qual testemunhei, mas de que desconheço o resultado. Tivemos a imensa felicidade de estar presente no local a câmara da SIC. Estive no total detido 12 horas.
Sendo estas as minhas memórias, não me é difícil acreditar na versão dos manifestantes. Acho-a absolutamente plausível e provável.