Obama reduz fundos para Combate à SIDA
A luta contra a SIDA vai nos próximos tempos deparar com enormes dificuldadades de financiamento devido a dois factores:
1) A crise económica/financeira mundial;
2) A administração de Barack Obama.
Comecemos por recordar alguns factos. O financiamento da luta contra a SIDA através do mundo e particularmente em África tem sido feito essencialmente através de duas fontes, nomeadamente A) o Fundo Presidencial para Alívio da SIDA (iniciado por George W. Bush e conhecido pelas iniciais PEPFAR) e B) o Fundo Global de Combate à SIDA, Tuberculose e Malária.
É no caso do Fundo Global que a crise financeira internacional entra em jogo. Quando criado em 2001 pela então Secretário-geral da ONU Kofi Annan o Fundo Global previa um “pote” de 7 mil milhões a 10 mil milhões de dólares.
Na prática os Estados Unidos (quem mais poderia ser?) deveriam contribuir com 50 cêntimos americanos por cada dólar doado pela comunidade internacional.
Mas as outras nações têm doado tão pouco que o govenro americano tem pago anualmente muito menos do que aquilo autorizado pelo Congresso americano. Desde a sua fundação o fundo gastou 6 mil milhões de dólares e o ano passado recebeu menos 3 mil milhões do que havia previsto forçando o fundo a reduzir as suas doações em cerca de 12%.
Para além disso o orçamento do governo americano para 2011 prevê uma redução de 50 milhões de dólares da contribuição dos Estados Unidos para o fundo.
Mas não é só para o Fundo Global que a administração Obama está a aplicar reduções. O PEPFAR de George Bush está autorizado pelo congresso a gastar entre 2008 e 2013 48 mil milhões de dólares. O seu orçamento tem sido na realidade de cerca de sete mil milhões de dólares anuais. A administraçao Obama avisou já os receptores dessa ajuda (entre os quais organizações que operam em Moçambique) que não devem esperar aumentos por pelo menos nos próximos dois anos.
Em Moçambique organizações envolvidas em actividades relacionadas com o PEPFAR vão encerrar alguns programas.
Talvez surpreedente para alguns é que a decisão da administração Obama não se deve a somente a questões económicas. Obama criou a sua propria Iniciativa Global de Saúde e as suas prioridades não são a SIDA.
E se é verdade que os activistas da luta contra a SIDA estão em fúria a verdade é também que Obama e a sua adminsitração têm razão quando afirma que mais vidas serão salvas se se concentrar fundos em doenças infatis facilmente curàveis ou preveníveis. Muito mais gente morre no mundo de doenças tratáveis ou que podem ser prevenidas como infecções respiratórias (mais de quatro milhões de mortes por ano), meningite (174.000 mortes por ano), tétano (214.000 mortes por ano), tosse convulsa (entre 200.000 e 300.000 mortes por ano), sarampo (530.000 mortes por ano), diarreia (2,2 milhões de mortes por ano), malária (entre 1 e 5 milhõe de mortes por ano).
Eu sempre fui de opinião que a razão por que se deu tanto enfâse à SIDA se deve ao facto de ser uma doença que afecta ou pode afectar também o mundo desenvolvido e para a qual não há cura. Para aquelas doenças que há cura ou que são preveniveis mas que não afectam o mundo desenvolvido pouca atenção se presta. Um milhão de mortes por malária e 530.000 de sarampo por ano deveria ser o suficiente para criar fundos mundiais de combate como foram feitos para a SIDA. Mas pouca atenção se presta a isso.
Um estudo aqui divulgado revela que para tratar um paciente da SIDA no Uganda durante toda a sua vida (desde que a doençaa é detectada até a sua morte) custa ceca de 11.500 dólares.
Com gastos de 1 a 10 dólares pode-se salvar mais vidas em prevenção e combate à diarreia, malária, sarampo e tétano com atibioticos, redes mosquiteiras, filtros de água e vacinas.
Não é simpático e talvez seja mesmo um pouco cruel falar-se em termos de custos e gastos para avaliar vidas humanas. Mas governar é ter que escolher. Na maior parte das vezes entre o mau e o pior. Essas escolhas envolvem sempre fundos limitados e em alguns casos como agora essas limitações são agravadas por uma crise.
Mas por muito que custe não é de admirar a escolha de Barack Obama. É lógica. Ao fim e ao cabo Obama é produto da Universidade de Chicago onde, segundo se diz, “as mentes são frias e analíticas quando o resto do mundo se emociona”, mentes que “seguem os factos até aos seus extremos lógicos”.
Da Capital do Império,
Jota Esse Erre
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quarta-feira, 19 de maio de 2010
Da Capital do Império
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segunda-feira, 10 de maio de 2010
Da Capital do Império
O fim da UEtopia?
Em tempo de crise eu fiquei à espera que o presidente da Europa tivesse vindo a público tentar acalmar os seus cidadãos quanto à crise dos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha). Tive sempre uma réstea de esperança emocional que estivesse enganado e que o Tratado de Lisboa que os Bien Pensants de Bruxelas meteram à força pela garganta abaixo dos seus cidadãos fosse como diziam a unificação da Europa e não apenas uma UEtopia como me dizia o meu cérebro.
Sei também que a Bélgica é uma invenção histórica para irritar os franceses e que ninguém toma a sério os belgas, mas mesmo assim tive uma esperança vaga que alguém se lembrasse de dizer ao presidente belga da Europa (alguém ainda se lembra do seu nome?) que uma das funções presidenciais é aparecer na televisão em tempo de crise e não aguardar pelo funeral.
Nem nada. O que assistismos foi a a presidentes e primeiros-ministros a trocarem acusações entre si. O que me fez lembrar o Charles de Gaulle que afirmou certa vez que “on peut sauter sur la chaise comme un cabri en disant: ‘L’Europe! L’Europe! L’Europe!’ mas celá n’aboutit à rien e celá ne signifie rien”. Pois não. O que não é bom sinal para o que vem por aí e que poderá resultar no desmoronar do Euro e nos sonhos da tal Europa unida.
Há no entanto que começar por pôr a Grécia em perspectiva. A Grécia não é em termos económicos a Lehman Brothers. Longe disso. A falência da Lehman Brothers teve mais implicações à escala global do que a falência da Grécia ou de Portugal poderá ter. Nenhum desses países tem o peso económico ou as ligações e tentáculos à escala internacional que tinha a Lehman Brothers.
Mas a crise nos PIGS traz ao de cima aquilo que a introdução do Euro foi: colocar a carroça à frente dos bois.
Uma moeda tem que ter vários atributos e um desses atributos é um governo central. Que não há e que não haverá pois um governo central não são burocratas em Bruxelas a discutirem o tamanho dos pepinos ou como é que se deve ou não fabricar queijos num qualquer canto da França. Foi por isso que os governos locais dos PIGS puderam agir irresponsavelmente para alegria dos seus cidadãos que viram o seu nivel de cima aumentar consideravelmente graças ao Euro. Euro forte significou dívidas baratas para esses paises fracos. Todos violaram o acordo sobre os défices orçamentais e nada aconteceu porque nada podia acontecer. Mas agora o Euro transformou-se numa armadilha.
No tempo do Escudo e do Drachma os governos saíam de crises deste género aumentando a sua competitividade através da desvalorização da sua moeda e de um aumento da inflação. Mas Frau Merkel e Monsieeur Sarkozy não vão permitir isso. O que singifica que para a Grécia e Portugal só há duas possiveis saídas: Cortes drásticos de despesa o que provoca uma deflação. O que significa que teoricamente vai ser uma tarefa muito árdua equilibrar as contas nestes países que pouca possibilidade têm de competir a nivel internacional. (Um estudo aqui publicado afirma que no minimo demorará até 2017 para a Grécia regressar ao nível que estava em 2008).
Daí que na semana passada na televisão eu tenha visto um analista financeiro americano a afirmar que “se vocês acreditam que a Grécia vai sair desta crise deste modo então vocês acreditam que os porcos (os tais PIGS) podem voar”.
O que leva a uma segunda alternativa: mais ajuda da Alemnha e da França o que a julgar pela reacção a este primeiro pacote será muito dificil. A Grécia pode então dizer “não temos dinheiro para pagar os juros das nossas dívidas”. O que terá consequências desastrosas para os bancos alemães e franceses. Ou então a Grécia abandona o Euro com consequências desastrosas para o projecto monetário europeu.
Impossivel de acontecer? Para a Argetnina também era impensável abandonar a ligacão da sua moeda ao dólar. Foi o que tiveram que fazer limitando depois o acesso ao dinheiro nos bancos para se evitar uma “corrida” aos depósitos.
Mais preocupante ainda é que mesmo se a a UE decidir salvar a Grécia (o que este pacote não promete) não há garantias que esteja tudo resolvido. Ao fim e ao cabo o governo federal americano salvou a Bear Sterns mas teve que deixar caír a Lehman Brothers.
Da Capital do Império,
Jota Esse Erre
Em tempo de crise eu fiquei à espera que o presidente da Europa tivesse vindo a público tentar acalmar os seus cidadãos quanto à crise dos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha). Tive sempre uma réstea de esperança emocional que estivesse enganado e que o Tratado de Lisboa que os Bien Pensants de Bruxelas meteram à força pela garganta abaixo dos seus cidadãos fosse como diziam a unificação da Europa e não apenas uma UEtopia como me dizia o meu cérebro.
Sei também que a Bélgica é uma invenção histórica para irritar os franceses e que ninguém toma a sério os belgas, mas mesmo assim tive uma esperança vaga que alguém se lembrasse de dizer ao presidente belga da Europa (alguém ainda se lembra do seu nome?) que uma das funções presidenciais é aparecer na televisão em tempo de crise e não aguardar pelo funeral.
Nem nada. O que assistismos foi a a presidentes e primeiros-ministros a trocarem acusações entre si. O que me fez lembrar o Charles de Gaulle que afirmou certa vez que “on peut sauter sur la chaise comme un cabri en disant: ‘L’Europe! L’Europe! L’Europe!’ mas celá n’aboutit à rien e celá ne signifie rien”. Pois não. O que não é bom sinal para o que vem por aí e que poderá resultar no desmoronar do Euro e nos sonhos da tal Europa unida.
Há no entanto que começar por pôr a Grécia em perspectiva. A Grécia não é em termos económicos a Lehman Brothers. Longe disso. A falência da Lehman Brothers teve mais implicações à escala global do que a falência da Grécia ou de Portugal poderá ter. Nenhum desses países tem o peso económico ou as ligações e tentáculos à escala internacional que tinha a Lehman Brothers.
Mas a crise nos PIGS traz ao de cima aquilo que a introdução do Euro foi: colocar a carroça à frente dos bois.
Uma moeda tem que ter vários atributos e um desses atributos é um governo central. Que não há e que não haverá pois um governo central não são burocratas em Bruxelas a discutirem o tamanho dos pepinos ou como é que se deve ou não fabricar queijos num qualquer canto da França. Foi por isso que os governos locais dos PIGS puderam agir irresponsavelmente para alegria dos seus cidadãos que viram o seu nivel de cima aumentar consideravelmente graças ao Euro. Euro forte significou dívidas baratas para esses paises fracos. Todos violaram o acordo sobre os défices orçamentais e nada aconteceu porque nada podia acontecer. Mas agora o Euro transformou-se numa armadilha.
No tempo do Escudo e do Drachma os governos saíam de crises deste género aumentando a sua competitividade através da desvalorização da sua moeda e de um aumento da inflação. Mas Frau Merkel e Monsieeur Sarkozy não vão permitir isso. O que singifica que para a Grécia e Portugal só há duas possiveis saídas: Cortes drásticos de despesa o que provoca uma deflação. O que significa que teoricamente vai ser uma tarefa muito árdua equilibrar as contas nestes países que pouca possibilidade têm de competir a nivel internacional. (Um estudo aqui publicado afirma que no minimo demorará até 2017 para a Grécia regressar ao nível que estava em 2008).
Daí que na semana passada na televisão eu tenha visto um analista financeiro americano a afirmar que “se vocês acreditam que a Grécia vai sair desta crise deste modo então vocês acreditam que os porcos (os tais PIGS) podem voar”.
O que leva a uma segunda alternativa: mais ajuda da Alemnha e da França o que a julgar pela reacção a este primeiro pacote será muito dificil. A Grécia pode então dizer “não temos dinheiro para pagar os juros das nossas dívidas”. O que terá consequências desastrosas para os bancos alemães e franceses. Ou então a Grécia abandona o Euro com consequências desastrosas para o projecto monetário europeu.
Impossivel de acontecer? Para a Argetnina também era impensável abandonar a ligacão da sua moeda ao dólar. Foi o que tiveram que fazer limitando depois o acesso ao dinheiro nos bancos para se evitar uma “corrida” aos depósitos.
Mais preocupante ainda é que mesmo se a a UE decidir salvar a Grécia (o que este pacote não promete) não há garantias que esteja tudo resolvido. Ao fim e ao cabo o governo federal americano salvou a Bear Sterns mas teve que deixar caír a Lehman Brothers.
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segunda-feira, 26 de abril de 2010
Da Capital do Império
Uma história da China
A acreditar no que se apregoa por toda a parte a China irá nas próximas décadas assumir o controlo do mundo. Só que isso não vai acontecer. É um mito, tal como na década de 1960 e 1970 havia o mito de que era o Japão que ia ultrapassar os EUA e tornar-se na grande potência mundial.
Em primeiro lugar há que dizer que o “milagre económico” da China não deve ser negado. É uma das verdadeiras provas dos benefícios da globalização e do realismo económico. Mas o sucesso da China está agora rodeado de mitos.
Exemplos:
1) Investimento estrangeiro. É verdade que a China se tornou num dos grandes pólos de atracção de Investimento Directo Estrangeiro. Mas em comparação com os Estados Unidos é uma ninharia. Em 2008 o Investimento Directo Estrangeiro nos Estados Unidos foi de 325.300 milhões de dólares. Uma subida de 37% em relação a 2007. Na China foi de 27.514 milhões uma queda de pouco mais de 27% em relação ao ano anterior. Mais preocupante para as autoridades chinesas é que o investimento directo estrangeiro está em queda desde 2005.
2) A economia da China está prestes a ultrapassar a dos Estados Unidos. Longe disso. Este ano é possível (não uma certeza) que a economia da China ultrapasse a do Japão. O que a acontecer a tornará na segunda maior economia do mundoou seja ... um pouco acima de um terço da economia americana.
Para além disso a economia americana também cresce. Quando a economia americana cresce 3% ao ano, a China só para não perder terreno tem que crescer 8%. Sendo a economia chinesa baseada nas exportações um estudo do Banco Mundial afirma que para manter o seu actual nivel de crescimento acima dos 8 por cento a China terá que duplicar a sua fatia das exportações mundiais nos próximos 10 anos. Isso não vai acontecer. “A dependência da China num crescimento baseado nas exportações é insustentável,” disse recentemente o Presidente do Banco Mundial Robert Zoelick.
Habituados que estamos em vêr as “lojas do china” em todo mundo a venderem relógios, sapatos, televisões esquecemo-nos que na verdade é só isso que a China produz e exporta: produtos de consumo de baixo valor ou produtos electrónicos para consumo em massa.. Em termos de valor dos produtos exportados (como por exemplo aviões, produtos de alta tecnologia) os Estados Unidos produzem 20 por cento da manufacturação global desses produtos ou seja o dobro da China
Os problemas da China avolumam-se porque os países desenvolvidos (Europa, Estados Unidos) estão agora cientes de que parte do problema financeiro que ia destruindo as suas economias se deve à grande acumulação de reservas na China que facilitou a manutenção de crédito barato criando “bolhas” que irónicamente se estendem agora à própria China. As pressões para a China valorizar a sua moeda só tendem a aumentar
Para além de isso comparar números do PIB é totalmente irrealista. A população da China é 1.300 milhões; a dos Estados Unidos é de pouco acima dos 300 milhões. O PIB per capita da China é actualmente 1/7 do PIB per capita dos Estados Unidos. O seu rendimento per capita é neste momento acim da Ucrânia mas abaixo da ... Namíbia
Para além disso cerca de um terço de todo a investigação e desenvolvimento (research and development) do mundo ocorre nos Estados Unidos (veja-se a “limpeza” anual nos Nobel) onde em parte devido a isso a produtividade do trabalhador americano é quase 10 vezes mais do que a produtividade do trabalhador chinês. Esta diferença não vai desaparecer na proxima geração.
A economia chinesa está também cheia de “buracos” que existem e se multiplicam no actual sistema repressivo de controlo de informação. Um exemplo: um estudo a circular entre especialiststas na economia chinesa estima que dívidas não listadas de companhias de investimento chinesas podem ascender a 34% do PIB da China, um número que talvez seja um indicativo do porquê da queda sistemática nos ultimos anos dos investimentos estrangeiros na China.
Um dos grandes problemas a que a China faz face é a questão demográfica. Um recente estudo do Pentágono referiu se a isso como o problema “4-2-1”. Não se trata de uma táctica de futebol. Quatros avós têm dois filhos e um neto, resultado da política da “uma criança por familia” o que significa que se está a assistir a um fenómeno único no mundo: A China está envelhecer antes de enriquecer. O número de trabalhadores entre os 15 e os 24 anos de idade deverá cair um terço nos próximos 12 anos. Com trabalhadores jovens mais raros os salarios vão ter que subir e isso começa já a sentir-se. O mês passado na provincia de Guangdong (o principal centro de exportações da China) o salário minimo foi aumentado 20%.
Sei que nada no mundo segue uma via linear. Tudo pode correr bem na China e mal no ocidente. Para além disso um aspecto da realidade chinesa que me continua a impressionar é o realismo da liderança chinesa. Por isso muitos destes problemas ( e outros como os problemas étnicos no seu vasto país que resultam violência esporádica ou os propblemas politicos) poderão ser resolvidos com sucesso.
Ao fim e ao cabo foi uma declaração do primeiro-ministro Wen Jiabao quem me levou a investigar os factos para esta crónica.
“O grande problema da economica chinesa é que o seu crescimento é instável, desiquilibrado, descordenado e insustentável”. Foi Wen quem disse isso. Em 2007 e tinha toda a razão. Seria bom que deixassemos de ter uma exuberância irracional quando falamos da China. Wen não a tem.
Da capital do Império,
Jota Esse Erre
A acreditar no que se apregoa por toda a parte a China irá nas próximas décadas assumir o controlo do mundo. Só que isso não vai acontecer. É um mito, tal como na década de 1960 e 1970 havia o mito de que era o Japão que ia ultrapassar os EUA e tornar-se na grande potência mundial.
Em primeiro lugar há que dizer que o “milagre económico” da China não deve ser negado. É uma das verdadeiras provas dos benefícios da globalização e do realismo económico. Mas o sucesso da China está agora rodeado de mitos.
Exemplos:
1) Investimento estrangeiro. É verdade que a China se tornou num dos grandes pólos de atracção de Investimento Directo Estrangeiro. Mas em comparação com os Estados Unidos é uma ninharia. Em 2008 o Investimento Directo Estrangeiro nos Estados Unidos foi de 325.300 milhões de dólares. Uma subida de 37% em relação a 2007. Na China foi de 27.514 milhões uma queda de pouco mais de 27% em relação ao ano anterior. Mais preocupante para as autoridades chinesas é que o investimento directo estrangeiro está em queda desde 2005.
2) A economia da China está prestes a ultrapassar a dos Estados Unidos. Longe disso. Este ano é possível (não uma certeza) que a economia da China ultrapasse a do Japão. O que a acontecer a tornará na segunda maior economia do mundoou seja ... um pouco acima de um terço da economia americana.
Para além disso a economia americana também cresce. Quando a economia americana cresce 3% ao ano, a China só para não perder terreno tem que crescer 8%. Sendo a economia chinesa baseada nas exportações um estudo do Banco Mundial afirma que para manter o seu actual nivel de crescimento acima dos 8 por cento a China terá que duplicar a sua fatia das exportações mundiais nos próximos 10 anos. Isso não vai acontecer. “A dependência da China num crescimento baseado nas exportações é insustentável,” disse recentemente o Presidente do Banco Mundial Robert Zoelick.
Habituados que estamos em vêr as “lojas do china” em todo mundo a venderem relógios, sapatos, televisões esquecemo-nos que na verdade é só isso que a China produz e exporta: produtos de consumo de baixo valor ou produtos electrónicos para consumo em massa.. Em termos de valor dos produtos exportados (como por exemplo aviões, produtos de alta tecnologia) os Estados Unidos produzem 20 por cento da manufacturação global desses produtos ou seja o dobro da China
Os problemas da China avolumam-se porque os países desenvolvidos (Europa, Estados Unidos) estão agora cientes de que parte do problema financeiro que ia destruindo as suas economias se deve à grande acumulação de reservas na China que facilitou a manutenção de crédito barato criando “bolhas” que irónicamente se estendem agora à própria China. As pressões para a China valorizar a sua moeda só tendem a aumentar
Para além de isso comparar números do PIB é totalmente irrealista. A população da China é 1.300 milhões; a dos Estados Unidos é de pouco acima dos 300 milhões. O PIB per capita da China é actualmente 1/7 do PIB per capita dos Estados Unidos. O seu rendimento per capita é neste momento acim da Ucrânia mas abaixo da ... Namíbia
Para além disso cerca de um terço de todo a investigação e desenvolvimento (research and development) do mundo ocorre nos Estados Unidos (veja-se a “limpeza” anual nos Nobel) onde em parte devido a isso a produtividade do trabalhador americano é quase 10 vezes mais do que a produtividade do trabalhador chinês. Esta diferença não vai desaparecer na proxima geração.
A economia chinesa está também cheia de “buracos” que existem e se multiplicam no actual sistema repressivo de controlo de informação. Um exemplo: um estudo a circular entre especialiststas na economia chinesa estima que dívidas não listadas de companhias de investimento chinesas podem ascender a 34% do PIB da China, um número que talvez seja um indicativo do porquê da queda sistemática nos ultimos anos dos investimentos estrangeiros na China.
Um dos grandes problemas a que a China faz face é a questão demográfica. Um recente estudo do Pentágono referiu se a isso como o problema “4-2-1”. Não se trata de uma táctica de futebol. Quatros avós têm dois filhos e um neto, resultado da política da “uma criança por familia” o que significa que se está a assistir a um fenómeno único no mundo: A China está envelhecer antes de enriquecer. O número de trabalhadores entre os 15 e os 24 anos de idade deverá cair um terço nos próximos 12 anos. Com trabalhadores jovens mais raros os salarios vão ter que subir e isso começa já a sentir-se. O mês passado na provincia de Guangdong (o principal centro de exportações da China) o salário minimo foi aumentado 20%.
Sei que nada no mundo segue uma via linear. Tudo pode correr bem na China e mal no ocidente. Para além disso um aspecto da realidade chinesa que me continua a impressionar é o realismo da liderança chinesa. Por isso muitos destes problemas ( e outros como os problemas étnicos no seu vasto país que resultam violência esporádica ou os propblemas politicos) poderão ser resolvidos com sucesso.
Ao fim e ao cabo foi uma declaração do primeiro-ministro Wen Jiabao quem me levou a investigar os factos para esta crónica.
“O grande problema da economica chinesa é que o seu crescimento é instável, desiquilibrado, descordenado e insustentável”. Foi Wen quem disse isso. Em 2007 e tinha toda a razão. Seria bom que deixassemos de ter uma exuberância irracional quando falamos da China. Wen não a tem.
Da capital do Império,
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domingo, 4 de abril de 2010
Da capital do Império
Ganhar 15.000 dólares por mês para estar num escritório a pensar é sem dúvida um bom emprego. Mesmo que a condição seja a de não estar a pensar na morte da bezerra mas sim em produzir uma ideia genial ao fim de um tempo determinado, digamos seis meses.
Isso, descobri outro dia, é bem possível e também bem comum aqui nos “states”, graças ao chamado “Venture Capital”. É aquilo que em português se chama de “capital de risco”, capital que busca investimentos em novas companhias, procurando novas ideias para apostar no seu triunfo e em lucros futuros.
“Venture capital” é assim também aquilo que todos os aspirantes a empresário procuram para poderem lançar a sua ideia que se poderá tornar no próximo Yahoo ou no próximo Google ou no próximo avião não tripulado capaz de ultrapassar as capacidades dos actuais. É essa junção de ideia/sonho com capital que é ao fim e ao cabo essencial para o sucesso.
Se há ainda “capitalistas de risco” individuais hoje em dia esse tal capital de risco é administrado por companhias de investimentos que se concentram nesse tipo de especulação. Por exemplo, a Foundation Capital ou a New Enterprise Associates e outras.
Essas companhias concorrem entre si à procura daqueles que possam ter ideias e por isso estão dispostos a pagar para outros pensarem. E os que pensam por um período de tempo até aperfeiçarem a sua ideia tem mesmo um nome – “Empresário Residente” (Entreperneur in Residence) ou EIR na gíria das companhias de capital de risco.
Vejamos por exemplo o caso do Professor de Informática Kai Li. Encontrou-se com um velho amigo que trabalha para a New Enterprise e falou-lhe de uma ideia em que há muito estava a matutar. Conversa puxa conversa, uns almoços e jantares e Kai Li acaba como EIR na New Enterprise. Quando o seu projecto final foi aprovado a New Enterprise forneceu o capital necessário, Kai Li foi nomeado um dos directores da nova empresa e assim nasceu a Data Domain. A Data Domain foi comprada o ano passado pela EMC pelo valor de 2.300 milhões de dólares. Embora a New Enterprise não tenha revelado qual o montante do seu investimento inicial todos concordam que o seu lucro deve ter sido enorme. Ter Kai Li a pensar durante vários meses em troca de um bom salário e de um investimento inicial foi mais do que compensador.
Claro que isto é um sucesso de uma envergadura rara. A média de negócios de companhias apoiadas inicialmente por capital de risco foi o ano passado de apenas 144 milhões de dólares.
Mas há outros sucessos grandes. Roger Linquist que foi EIR na companhia de capital de risco Accel formou a companhia MetroPCS que acabou por angariar investimentos de 1200 milhões de dólares.
Mas qual o número de EIRs que são pagos para pensarem e que realmente produzem ideias válidas e de sucesso? Cerca de 50%. Ou por outras palavras: metade dos EIRs não produzem ideias em que valha a pena investir.
Mas 50% por sucesso de pensadores parece ser suficiente. Só assim se pode justificar o facto das principais companhias de capital de risco possuírem hoje dois ou três EIRs a pensarem ao mesmo tempo, a apresentarem regularmente o desenvolvimento dos seus planos.
Por exemplo a Foundation Capital está neste momento a pagar 15.000 dólares por mês a um tal Michael Bauer. Contracto inicial de seis meses para expandir numa ideia de um negócio de energia. O resto é segredo.
Nada de especial nesse acordo, diz a companhia. Na generalidade ter EIRs a pensarem compensa, acrescenta.
As estatísticas comprovam isso. Nos dez anos terminados a 30 de Setembro do ano passado os lucros dessas companhias de capital de risco foram de uma média anual de 8,4%. Não é mau. Mas se contarmos os 10 anos terminados a 30 de Setembro de 2008 então os lucros anuais das companhias de capital risco foram de 40,2 %. O que é excelente. Capital de Risco é como o nome indica arriscado. Mas parece ser uma boa ideia disposta a arriscar por outras. Alguém tem uma?
Abraços,
Da capital do Império
Jota Esse Erre
Isso, descobri outro dia, é bem possível e também bem comum aqui nos “states”, graças ao chamado “Venture Capital”. É aquilo que em português se chama de “capital de risco”, capital que busca investimentos em novas companhias, procurando novas ideias para apostar no seu triunfo e em lucros futuros.
“Venture capital” é assim também aquilo que todos os aspirantes a empresário procuram para poderem lançar a sua ideia que se poderá tornar no próximo Yahoo ou no próximo Google ou no próximo avião não tripulado capaz de ultrapassar as capacidades dos actuais. É essa junção de ideia/sonho com capital que é ao fim e ao cabo essencial para o sucesso.
Se há ainda “capitalistas de risco” individuais hoje em dia esse tal capital de risco é administrado por companhias de investimentos que se concentram nesse tipo de especulação. Por exemplo, a Foundation Capital ou a New Enterprise Associates e outras.
Essas companhias concorrem entre si à procura daqueles que possam ter ideias e por isso estão dispostos a pagar para outros pensarem. E os que pensam por um período de tempo até aperfeiçarem a sua ideia tem mesmo um nome – “Empresário Residente” (Entreperneur in Residence) ou EIR na gíria das companhias de capital de risco.
Vejamos por exemplo o caso do Professor de Informática Kai Li. Encontrou-se com um velho amigo que trabalha para a New Enterprise e falou-lhe de uma ideia em que há muito estava a matutar. Conversa puxa conversa, uns almoços e jantares e Kai Li acaba como EIR na New Enterprise. Quando o seu projecto final foi aprovado a New Enterprise forneceu o capital necessário, Kai Li foi nomeado um dos directores da nova empresa e assim nasceu a Data Domain. A Data Domain foi comprada o ano passado pela EMC pelo valor de 2.300 milhões de dólares. Embora a New Enterprise não tenha revelado qual o montante do seu investimento inicial todos concordam que o seu lucro deve ter sido enorme. Ter Kai Li a pensar durante vários meses em troca de um bom salário e de um investimento inicial foi mais do que compensador.
Claro que isto é um sucesso de uma envergadura rara. A média de negócios de companhias apoiadas inicialmente por capital de risco foi o ano passado de apenas 144 milhões de dólares.
Mas há outros sucessos grandes. Roger Linquist que foi EIR na companhia de capital de risco Accel formou a companhia MetroPCS que acabou por angariar investimentos de 1200 milhões de dólares.
Mas qual o número de EIRs que são pagos para pensarem e que realmente produzem ideias válidas e de sucesso? Cerca de 50%. Ou por outras palavras: metade dos EIRs não produzem ideias em que valha a pena investir.
Mas 50% por sucesso de pensadores parece ser suficiente. Só assim se pode justificar o facto das principais companhias de capital de risco possuírem hoje dois ou três EIRs a pensarem ao mesmo tempo, a apresentarem regularmente o desenvolvimento dos seus planos.
Por exemplo a Foundation Capital está neste momento a pagar 15.000 dólares por mês a um tal Michael Bauer. Contracto inicial de seis meses para expandir numa ideia de um negócio de energia. O resto é segredo.
Nada de especial nesse acordo, diz a companhia. Na generalidade ter EIRs a pensarem compensa, acrescenta.
As estatísticas comprovam isso. Nos dez anos terminados a 30 de Setembro do ano passado os lucros dessas companhias de capital de risco foram de uma média anual de 8,4%. Não é mau. Mas se contarmos os 10 anos terminados a 30 de Setembro de 2008 então os lucros anuais das companhias de capital risco foram de 40,2 %. O que é excelente. Capital de Risco é como o nome indica arriscado. Mas parece ser uma boa ideia disposta a arriscar por outras. Alguém tem uma?
Abraços,
Da capital do Império
Jota Esse Erre
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Kai Li,
Michael Bauer,
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segunda-feira, 29 de março de 2010
Da Capital do Império
A situação em África deverá piorar antes de … piorar. Essa é a opinião do JOE. Não um Joe qualquer mas sim o Joint Operating Environment (JOE), um estudo efectuado pelo Comando Conjunto das Forças Armadas americanas sobre o que nos aguarda a todos no futuro.
Claro que todos nós sabemos que - como disse alguém - é difícil fazer previsões principalmente sobre o futuro e que muitas vezes as previsões só servem para tornar a leitura dos signos em algo de respeitável. Mas de qualquer modo previsões – principalmente quando feitas pelo Comando Conjunto das forças do império – não devem ser totalmente ignoradas e este estudo abrange um pouco de tudo e de todos, desde a Europa á China e Índia, aos movimentos extremistas, ao ciberespaço e mais. Mais senso comum (que na verdade deveria ser chamado de senso raro) do que qualquer revelação extraordinária.
Para aqueles que mantêm ligações com África o estudo é no entanto particularmente sombrio porque afirma que mesmo em países onde se está a registar algum avanço (vem á mente claro está Moçambique) poderá haver recuos
Há que dizer que o estudo denota muito pouco espaço a África, só por si indicativo que para o comando das forças armadas americanas África vai continuar a ser nas próximas décadas algo de marginal.
“ A África subsaariana representa um conjunto único de desafios que incluem factores económicos, sociais e demográficos, muitas vezes exacerbados pela má governação, interferência de potências estrangeiras e crises de saúde tais como a SIDA,” diz o documento.
“Mesmo bolsas de crescimento económico estão sob pressão e poderão recuar devido a múltiplos problemas que constituem obstáculos à capacidade do governo responder a esses problemas,” acrescenta para afirmar ainda que “poderá haver algum progresso na região mas é quase uma certeza que muitas dessas nações continuarão na lista das nações mais pobres do mundo”.
O documento nota que os recursos naturais de África são uma faca de dois gumes. Esses recursos “atraem a atenção de estados poderosos” e muitos estados africanos têm dificuldades em resistir á pressão e interferência desses estados e de forças “não estatais”, situação que o estudo diz poderá afectar os estados fracos e pobres”.
Mas ao mesmo tempo o envolvimento desses “estados poderosos” em África devido aos recursos do continente poderá ser um desenvolvimento positivo porque com o seu envolvimento poderá vir também investimento e tecnologia e conhecimentos.
“A importância dos recursos da região irá assegurar que as grandes potências mantenham o seu interesse na estabilidade e desenvolvimento da região,” diz o estudo.
E o papel das forças armadas americanas? A acreditar no estudo até haver “estabilidade e segurança” em África o envolvimento militar americano será o de “impedir desastres humanitários e mesmo genocidios numa situação em que estados africanos e grupos tribais lutam pelo poder e por controlo”.
Até agora isso parece ser verdade. Mas como disse certa vez um treinador de futebol … “prognósticos só no fim do jogo”.
Jota Esse Erre
Claro que todos nós sabemos que - como disse alguém - é difícil fazer previsões principalmente sobre o futuro e que muitas vezes as previsões só servem para tornar a leitura dos signos em algo de respeitável. Mas de qualquer modo previsões – principalmente quando feitas pelo Comando Conjunto das forças do império – não devem ser totalmente ignoradas e este estudo abrange um pouco de tudo e de todos, desde a Europa á China e Índia, aos movimentos extremistas, ao ciberespaço e mais. Mais senso comum (que na verdade deveria ser chamado de senso raro) do que qualquer revelação extraordinária.
Para aqueles que mantêm ligações com África o estudo é no entanto particularmente sombrio porque afirma que mesmo em países onde se está a registar algum avanço (vem á mente claro está Moçambique) poderá haver recuos
Há que dizer que o estudo denota muito pouco espaço a África, só por si indicativo que para o comando das forças armadas americanas África vai continuar a ser nas próximas décadas algo de marginal.
“ A África subsaariana representa um conjunto único de desafios que incluem factores económicos, sociais e demográficos, muitas vezes exacerbados pela má governação, interferência de potências estrangeiras e crises de saúde tais como a SIDA,” diz o documento.
“Mesmo bolsas de crescimento económico estão sob pressão e poderão recuar devido a múltiplos problemas que constituem obstáculos à capacidade do governo responder a esses problemas,” acrescenta para afirmar ainda que “poderá haver algum progresso na região mas é quase uma certeza que muitas dessas nações continuarão na lista das nações mais pobres do mundo”.
O documento nota que os recursos naturais de África são uma faca de dois gumes. Esses recursos “atraem a atenção de estados poderosos” e muitos estados africanos têm dificuldades em resistir á pressão e interferência desses estados e de forças “não estatais”, situação que o estudo diz poderá afectar os estados fracos e pobres”.
Mas ao mesmo tempo o envolvimento desses “estados poderosos” em África devido aos recursos do continente poderá ser um desenvolvimento positivo porque com o seu envolvimento poderá vir também investimento e tecnologia e conhecimentos.
“A importância dos recursos da região irá assegurar que as grandes potências mantenham o seu interesse na estabilidade e desenvolvimento da região,” diz o estudo.
E o papel das forças armadas americanas? A acreditar no estudo até haver “estabilidade e segurança” em África o envolvimento militar americano será o de “impedir desastres humanitários e mesmo genocidios numa situação em que estados africanos e grupos tribais lutam pelo poder e por controlo”.
Até agora isso parece ser verdade. Mas como disse certa vez um treinador de futebol … “prognósticos só no fim do jogo”.
Jota Esse Erre
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quarta-feira, 24 de março de 2010
Da Capital do Império
Agora que o governo britânico expulsou um diplomata israelita de Londres acho por bem aproveitar a oportunidade para revisitar o assassinato do dirigente do Hamas Mahmoud Al-Mabhouh no Dubai a 19 de Janeiro.
É uma história de faca e alguidar e não me perguntem como é que sei o que vos vou contar. Não digo.
Al-Mabhouh – para além de no passado ter estado envolvido em operações terroristas pelo Hamas e de estar na lista de terroristas dos serviços secretos e de imigração europeus – era actualmente o elo de ligação entre o Hamas e o Irão no negócio de armas. O Dubai como porto livre é um dos principais locais para o negócio de armas do mundo. (Os serviços secretos russos assassinaram no Dubai um ano antes um dos dirigentes rebeldes chechenos)
Mas o assassinato de Al-Mabhouh não foi levado a cabo numa operação relâmpago.
O tipo de operação que decorreu no Dubai revela que o líder do Hamas estava a ser meticulosamente seguido há meses senão anos. O tipo de controlo levado a cabo deve ter envolvido meios técnicos, humanos e físicos.
Três (ou quatro) palestinianos foram presos no Dubai após o assassinato e tem havido um silêncio total sobre a sua identidade. Na Síria alguns elementos do Hamas foram também interrogados.
O dirigente do Hamas chegou ao Dubai sem guarda-costas. Aparentemente os guarda-costas não conseguiram reservar bilhetes de passagem para o dia em que Al-Mabhouh viajou o que indica que a viajem ou pelo menos as reservas da mesma foi precipitada.
Mas a equipa enviada para matar Al-Mabhouh já se encontrava no Dubai quando este lá chegou vindo da Síria onde residia. (Excepto o comandante no terreno da operação um francês usando o nome falso de Peter Elvinger que chegou na madrugada do dia da chegada de al Mabhouh). A equipa tinha na verdade chegado ao Dubai vinda de diferentes partes do mundo (Paris, Frankfurt, Roma e Zurique) o que só por si é indicativo de como a operação tinha sido planeada com muita antecedência. Mas não se sabia para que hotel o homem do Hamas iria. Ou melhor sabia-se o nome de dois hotéis dos quais Al-Mabhouh iria escolher um após chegar ao Dubai. Sabia-se também que o palestiniano viajava com um passaporte falso o que obviamente lhe deu falsa segurança. Um grupo foi estacionado num hotel; outro grupo no outro. No dia da chegada do dirigente do Hamas um outro grupo estava no aeroporto à sua espera para o seguir. Quando ficou claro que al-Mabhouh iria seguir para o Al Bustan Rotana Hotel o outro foi abandonado pelos elementos da equipa que ali estavam colocados concentrando-se toda a equipa no hotel escolhido pelo palestinano e nas suas imediações.
No hotel que Al-Mabhouh escolheu o palestiniano foi seguido de perto até ao seu quarto (é o video do hotel com dois homens disfarçados de jogadores de tenis a sairem no mesmo andar que al Mabhouh). Com o quarto identificado (quarto 230) agentes reservaram um quarto no mesmo andar ( A reserda co quarto 237 foi feita em nome de Elvinger).
Nesse mesm dia (19 de Janeiro) o dirigente do Hamas esteve na embaixada do Irão para discutir um carregamento de armas para a Faixa de Gaza. Regressou ao seu hotel por volta das 8.30 da noite. Antes disso houve uma entativa de “reprogramar” a chave electrónica do quarto de al Mabhou. Os agentes sabiam que Al-Mabhouh não tinha nenhum encontro previsto para essa noite. Nessa noite foi assassinado pouco depois de ter chegado. Não houve qualquer indício de arrobamento ou violência para se entrar no quarto. Al-Mabhouhb recebeu primeiro um choque eléctrico de uma “stun gun” depois foi injectado com Suxamethonium que quando injectado em grandes quantidades causa a paralisação do coração. Dificil de detectar após a morte.
Os agentes que participaram na missão estiveram sempre em contacto telefónico com um número na Áustria. É possivel no entanto que esse numero trasnferisse automaticamente as chamadas para um outro noutra parte do mundo. Isto indica que o comandante ou comandantes da operação não acompanharam a equipa ao Dubai.
Todos os membros da equipa enviada ao Dubai usaram cartões de crédito ligados a uma companhia de nome Payoneer. O director da Payoneer é um antigo membro das forças especiais israelitas. A Payoneer é controlada por uma outra companhia sediada em Israel. A maior parte dos pagamentos que efectuaram para despesas no Dubai foram no entanto feitos em cash
Os membros da equipa de assassinos deixaram o Dubai para diferentes partes do mundo. O comandante no terreno, o francês Elvinger, deixou o Dubai pouco antes do assassinato.
Quatro deles foram para a África do Sul.
Dois deles partiram para o Irão.
Pode não haver dúvidas sobre quem levou a cabo a operação. As incertezas jazem em quem colaborou, porquê e durante quanto tempo.
Jota Esse Erre
É uma história de faca e alguidar e não me perguntem como é que sei o que vos vou contar. Não digo.
Al-Mabhouh – para além de no passado ter estado envolvido em operações terroristas pelo Hamas e de estar na lista de terroristas dos serviços secretos e de imigração europeus – era actualmente o elo de ligação entre o Hamas e o Irão no negócio de armas. O Dubai como porto livre é um dos principais locais para o negócio de armas do mundo. (Os serviços secretos russos assassinaram no Dubai um ano antes um dos dirigentes rebeldes chechenos)
Mas o assassinato de Al-Mabhouh não foi levado a cabo numa operação relâmpago.
O tipo de operação que decorreu no Dubai revela que o líder do Hamas estava a ser meticulosamente seguido há meses senão anos. O tipo de controlo levado a cabo deve ter envolvido meios técnicos, humanos e físicos.
Três (ou quatro) palestinianos foram presos no Dubai após o assassinato e tem havido um silêncio total sobre a sua identidade. Na Síria alguns elementos do Hamas foram também interrogados.
O dirigente do Hamas chegou ao Dubai sem guarda-costas. Aparentemente os guarda-costas não conseguiram reservar bilhetes de passagem para o dia em que Al-Mabhouh viajou o que indica que a viajem ou pelo menos as reservas da mesma foi precipitada.
Mas a equipa enviada para matar Al-Mabhouh já se encontrava no Dubai quando este lá chegou vindo da Síria onde residia. (Excepto o comandante no terreno da operação um francês usando o nome falso de Peter Elvinger que chegou na madrugada do dia da chegada de al Mabhouh). A equipa tinha na verdade chegado ao Dubai vinda de diferentes partes do mundo (Paris, Frankfurt, Roma e Zurique) o que só por si é indicativo de como a operação tinha sido planeada com muita antecedência. Mas não se sabia para que hotel o homem do Hamas iria. Ou melhor sabia-se o nome de dois hotéis dos quais Al-Mabhouh iria escolher um após chegar ao Dubai. Sabia-se também que o palestiniano viajava com um passaporte falso o que obviamente lhe deu falsa segurança. Um grupo foi estacionado num hotel; outro grupo no outro. No dia da chegada do dirigente do Hamas um outro grupo estava no aeroporto à sua espera para o seguir. Quando ficou claro que al-Mabhouh iria seguir para o Al Bustan Rotana Hotel o outro foi abandonado pelos elementos da equipa que ali estavam colocados concentrando-se toda a equipa no hotel escolhido pelo palestinano e nas suas imediações.
No hotel que Al-Mabhouh escolheu o palestiniano foi seguido de perto até ao seu quarto (é o video do hotel com dois homens disfarçados de jogadores de tenis a sairem no mesmo andar que al Mabhouh). Com o quarto identificado (quarto 230) agentes reservaram um quarto no mesmo andar ( A reserda co quarto 237 foi feita em nome de Elvinger).
Nesse mesm dia (19 de Janeiro) o dirigente do Hamas esteve na embaixada do Irão para discutir um carregamento de armas para a Faixa de Gaza. Regressou ao seu hotel por volta das 8.30 da noite. Antes disso houve uma entativa de “reprogramar” a chave electrónica do quarto de al Mabhou. Os agentes sabiam que Al-Mabhouh não tinha nenhum encontro previsto para essa noite. Nessa noite foi assassinado pouco depois de ter chegado. Não houve qualquer indício de arrobamento ou violência para se entrar no quarto. Al-Mabhouhb recebeu primeiro um choque eléctrico de uma “stun gun” depois foi injectado com Suxamethonium que quando injectado em grandes quantidades causa a paralisação do coração. Dificil de detectar após a morte.
Os agentes que participaram na missão estiveram sempre em contacto telefónico com um número na Áustria. É possivel no entanto que esse numero trasnferisse automaticamente as chamadas para um outro noutra parte do mundo. Isto indica que o comandante ou comandantes da operação não acompanharam a equipa ao Dubai.
Todos os membros da equipa enviada ao Dubai usaram cartões de crédito ligados a uma companhia de nome Payoneer. O director da Payoneer é um antigo membro das forças especiais israelitas. A Payoneer é controlada por uma outra companhia sediada em Israel. A maior parte dos pagamentos que efectuaram para despesas no Dubai foram no entanto feitos em cash
Os membros da equipa de assassinos deixaram o Dubai para diferentes partes do mundo. O comandante no terreno, o francês Elvinger, deixou o Dubai pouco antes do assassinato.
Quatro deles foram para a África do Sul.
Dois deles partiram para o Irão.
Pode não haver dúvidas sobre quem levou a cabo a operação. As incertezas jazem em quem colaborou, porquê e durante quanto tempo.
Jota Esse Erre
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segunda-feira, 15 de março de 2010
Da Capital do Império
Eu sei que a memória tem a sua própria verdade. Selecciona, elimina, altera, exagera, minimiza, glorifica e claro está calunia. Há quem diga que o acabado de publicar “calhamaço” do Sérgio Vieira é bem exemplo disso.
Mas de qualquer modo acho que Pedro Pires, antigo maquisard, hoje presidente devia escrever as suas memórias. Digo isto porque outro dia, quase que despercebidamente Pires falou no seu país e abordou aquilo que em meados da década de 1970 deixou pasmado os revolucionários (entre aspas talvez?) que tinham tomado o poder no Maputo e em Luanda.
Ao fim e ao cabo o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo verde, o PAIGC, tinha-se apresentado na luta de libertação nacional como um partido seguindo uma linha política de combate e ideologia semelhante à da Frelimo em Moçambique. Contudo após a tomada do poder em Cabo Verde o PAIGC seguiu uma via que causou inquietação entre os revolucionários ( entre aspas talvez?) mas que resultou hoje tantas décadas depois em que o país saído oficialmente da lista internacional de países pobres. Um dos poucos países africanos em que na verdade se avançou
Pois Pires disse a semana passada que quando o PAIGC assumiu o poder em Cabo Verde cedo se apercebeu que o país “reunia todas as condições para que não desse certo” tanto em termos de “condições materiais, como em termos de factores objectivos e naturais”.
“Naquele momento depois da independência precisávamos para a direcção do país de homens do estado,” disse Pires para depois acrescentar:
“Há uma diferença entre o chamado revolucionário e o homem de estado.”
Recordando que ele e os outros dirigentes do PAIGC tinham “chegado pela via revolucionária” Pires descreveu depois o revolucionário como alguém “impaciente e que tem um mal de fundo”.
“É um irrealista. Não pensa nas consequências dos seus actos ou se os seus desejos mais nobres são realizáveis ou capazes de execução,” disse.
Para Pedro Pires o verdadeiro estadista é aquele que é “paciente, realista e sensato” e ainda “persistente”.
Para Pires havia pois uma diferença entre que aqueles que pensavam “ que é possível mudar o mundo de um dia para o outro” e aqueles que sabem que “é preciso construir o futuro passo a passo, degrau a degrau com desafios acrescidos todos os dias”.
Pedro Pires recordou que o PAIGC era “uma elite política” mas cedo se apercebeu que tinha que ir “buscar a parte técnico/operativa” para poder pôr o país a funcionar.
“Só havia um sítio onde a ir buscar: na administração colonial,” disse o actual presidente.
“Daí a nossa opção de guardar no país todos os funcionários públicos que quisessem cá ficar. Se não tivéssemos feito isso teríamos o estado mas não teríamos a administração do estado. São esses quadros que estão na base da construção do estado de Cabo Verde e principalmente da administração pública,” acrescentou.
Pedro Pires foi diplomata quanto aos outros PALOP.
“Cada processo é um processo. Não somos donos da verdade,” disse ele.
Para Pedro Pires a pergunta a fazer é “se descobrimos em Cabo Verde homens de estado” que conseguiram dar prioridade “aos interesses comuns”.
Boa pergunta. Que talvez se deva estender a outros PALOP. É por isso que estou desejoso de ler o “calhamaço” do Sérgio Vieira para ver o que é que ele revela a este respeito sobre si mesmo.
Abraços,
Da Capital do Império
Jota Esse Erre
Mas de qualquer modo acho que Pedro Pires, antigo maquisard, hoje presidente devia escrever as suas memórias. Digo isto porque outro dia, quase que despercebidamente Pires falou no seu país e abordou aquilo que em meados da década de 1970 deixou pasmado os revolucionários (entre aspas talvez?) que tinham tomado o poder no Maputo e em Luanda.
Ao fim e ao cabo o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo verde, o PAIGC, tinha-se apresentado na luta de libertação nacional como um partido seguindo uma linha política de combate e ideologia semelhante à da Frelimo em Moçambique. Contudo após a tomada do poder em Cabo Verde o PAIGC seguiu uma via que causou inquietação entre os revolucionários ( entre aspas talvez?) mas que resultou hoje tantas décadas depois em que o país saído oficialmente da lista internacional de países pobres. Um dos poucos países africanos em que na verdade se avançou
Pois Pires disse a semana passada que quando o PAIGC assumiu o poder em Cabo Verde cedo se apercebeu que o país “reunia todas as condições para que não desse certo” tanto em termos de “condições materiais, como em termos de factores objectivos e naturais”.
“Naquele momento depois da independência precisávamos para a direcção do país de homens do estado,” disse Pires para depois acrescentar:
“Há uma diferença entre o chamado revolucionário e o homem de estado.”
Recordando que ele e os outros dirigentes do PAIGC tinham “chegado pela via revolucionária” Pires descreveu depois o revolucionário como alguém “impaciente e que tem um mal de fundo”.
“É um irrealista. Não pensa nas consequências dos seus actos ou se os seus desejos mais nobres são realizáveis ou capazes de execução,” disse.
Para Pedro Pires o verdadeiro estadista é aquele que é “paciente, realista e sensato” e ainda “persistente”.
Para Pires havia pois uma diferença entre que aqueles que pensavam “ que é possível mudar o mundo de um dia para o outro” e aqueles que sabem que “é preciso construir o futuro passo a passo, degrau a degrau com desafios acrescidos todos os dias”.
Pedro Pires recordou que o PAIGC era “uma elite política” mas cedo se apercebeu que tinha que ir “buscar a parte técnico/operativa” para poder pôr o país a funcionar.
“Só havia um sítio onde a ir buscar: na administração colonial,” disse o actual presidente.
“Daí a nossa opção de guardar no país todos os funcionários públicos que quisessem cá ficar. Se não tivéssemos feito isso teríamos o estado mas não teríamos a administração do estado. São esses quadros que estão na base da construção do estado de Cabo Verde e principalmente da administração pública,” acrescentou.
Pedro Pires foi diplomata quanto aos outros PALOP.
“Cada processo é um processo. Não somos donos da verdade,” disse ele.
Para Pedro Pires a pergunta a fazer é “se descobrimos em Cabo Verde homens de estado” que conseguiram dar prioridade “aos interesses comuns”.
Boa pergunta. Que talvez se deva estender a outros PALOP. É por isso que estou desejoso de ler o “calhamaço” do Sérgio Vieira para ver o que é que ele revela a este respeito sobre si mesmo.
Abraços,
Da Capital do Império
Jota Esse Erre
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sexta-feira, 12 de março de 2010
Da Capital do Império
Alguém disse uma vez. Já não sei quem:
“Qualquer pessoa que tenha estado envolvida numa causa política - e coitado daquele que não tenha estado – conhece as pressões que o ardor político causa à honestidade intelectual. Quando se separa o universo em partes e se escolheu uma das partes, o melhor sinal de honestidade intelectual são as expressões de compreensão pelo outro lado e de antipatia pelo seu próprio lado”.
Tomei nota. Há muito tempo. Mas não tomei nota de quem o disse.
Abraços,
Da capital do Império
Jota Esse Erre
“Qualquer pessoa que tenha estado envolvida numa causa política - e coitado daquele que não tenha estado – conhece as pressões que o ardor político causa à honestidade intelectual. Quando se separa o universo em partes e se escolheu uma das partes, o melhor sinal de honestidade intelectual são as expressões de compreensão pelo outro lado e de antipatia pelo seu próprio lado”.
Tomei nota. Há muito tempo. Mas não tomei nota de quem o disse.
Abraços,
Da capital do Império
Jota Esse Erre
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domingo, 7 de março de 2010
Da Capital do Império
Com a Europa irritada com a recusa de Barack Obama em participar na cimeira anual EU/EUA dando preferência a uma deslocação à Ásia, importa dizer que aqui em Washington o impensável começa a ser mencionado: desligar os Estados Unidos da NATO.
Não que isto seja moeda corrente ou que vá acontecer já no próximo ano, mas o facto de essa possibilidade ser agora mencionada por analistas credíveis e de passado militar reflecte um crescente mal-estar, senão mesmo irritação de Washington com a falta de vontade dos países europeus de assumirem na generalidade maiores gastos com a defesa e em particular um maior papel na guerra no Afeganistão.
“Os dirigentes da Europa precisam de dizer a si próprios – e aos seus eleitores – a verdade. A guerra no Afeganistão não envolve apenas a segurança da América. É também uma questão de negar santuários à Al Qaeda que também já levou a cabo ataques mortíferos na Europa”, em editorial do Washington Post no passado dia 25 de Fevereiro.
Deste lado do Atlântico reconhece-se agora que a “desmilitarização” ou “pacificação” da Europa é uma realidade que para alguns vai inevitavelmente resultar na “finlandização” da Europa., uma entidade que em palavras se assume como parte da Aliança Atlântica mas que na prática e por diversas razões é incapaz de assumir posições que a possam levar a assumir riscos e gastos militares.
“A desmilitarização da Europa – com grandes sectores do público em geral e da classe política contrários ao conceito de força militar e aos riscos que isso inclui -- transformou-se de uma bênção no século 20 para um impedimento em se alcançar uma segurança real e uma paz duradoira no século XXI,” disse no final do mês passado aqui em Washington o Secretário de Defesa Robert Gates.
Gates – um homem que continua a acreditar no futuro da NATO -- fez notar que muitos dos países da NATO não estão dispostos a cumprir os seus deveres quanto à aquisição de aviões de transporte, de reabastecimento, helicópteros e mesmo na aquisição de “intelligence”.
A NATO, disse ele, tem que fundamentalmente mudar o meio como “estabelece as suas prioridades e o uso de recursos” para poder continuar “relevante” numa nova situação estratégica.
“A NATO precisa de reformas imediatas, sérias, de grande alcance para fazer face uma crise que é um produto de vários anos,” acrescentou.
Mas Andrew Bacevich, um antigo oficial de alta patente do exército Americano, e actual professor universitário em Boston disse já este mês de Março que na sua opinião “a pacificação da Europa deverá provar ser irreversível”, algo que contudo ele vê como “uma oportunidade extraordinária”.
Para Bacevich os Estados Unidos querem transformar a NATO num “instrumento de projecção de poder” e o Afeganistão é o “indicador mais importante” das tentativas de Washington de transformar a NATO.
O analista militar considera que a expansão da NATO criou uma falta de coesão agravada pelo facto de apenas quatro países europeus respeitarem o acordo de gastarem pelo menos dois por cento dos PIB em gastos militares. O comandante geral da NATO, disse ele, “tem agora tanta importância como o presidente de uma universidade de tamanho decente”.
Para Bacevich a NATO só poderá ter um futuro se voltar às suas origens, nomeadamente “garantir a segurança das democracias europeias”.
Para isso “os Estados Unidos devem atrever-se a fazer o impensável: permitir à Nato voltar a ser uma organização europeia dirigida por europeus para servir interesses europeus, garantir a segurança e bem-estar de uma Europa unida e livre”.
O problema com esta análise, dizem outros especialistas, é que países europeus como a Polónia, Republica Checa e Lituânia não têm qualquer confiança na França e Alemanha como garantes das suas liberdades preferindo garantir a sua segurança numa NATO ancorada nos EUA e na Grã-Bretanha.
Lembram esses analistas que aquando a guerra nos Balcãs (Bósnia e Kosovo) houve quem em Bruxelas tivesse declarado que isso era “um problema europeu a ser resolvido pelos europeus”. Acabou por ser a força aerea dos Estados Unidos que levou Slobodan Milosvic à rendição face à incapacidade militar dos países europeus de lidarem com a situação de modo efectivo.
A NATO está actualmente a elaborar um novo Conceito Estratégico para definir o seu futuro, mas aqui todos se recordam que aquando do 50 aniversário da NATO isso foi também discutido em grande detalhe
Caso o novo Conceito Estratégico não aprove mudanças operacionais e institucionais concretas não vai valer o preço do papel onde fôr escrito. Quem o diz não sou eu. É Robert Gates.
Da Capital do Império,
Jota Esse Erre
Não que isto seja moeda corrente ou que vá acontecer já no próximo ano, mas o facto de essa possibilidade ser agora mencionada por analistas credíveis e de passado militar reflecte um crescente mal-estar, senão mesmo irritação de Washington com a falta de vontade dos países europeus de assumirem na generalidade maiores gastos com a defesa e em particular um maior papel na guerra no Afeganistão.
“Os dirigentes da Europa precisam de dizer a si próprios – e aos seus eleitores – a verdade. A guerra no Afeganistão não envolve apenas a segurança da América. É também uma questão de negar santuários à Al Qaeda que também já levou a cabo ataques mortíferos na Europa”, em editorial do Washington Post no passado dia 25 de Fevereiro.
Deste lado do Atlântico reconhece-se agora que a “desmilitarização” ou “pacificação” da Europa é uma realidade que para alguns vai inevitavelmente resultar na “finlandização” da Europa., uma entidade que em palavras se assume como parte da Aliança Atlântica mas que na prática e por diversas razões é incapaz de assumir posições que a possam levar a assumir riscos e gastos militares.
“A desmilitarização da Europa – com grandes sectores do público em geral e da classe política contrários ao conceito de força militar e aos riscos que isso inclui -- transformou-se de uma bênção no século 20 para um impedimento em se alcançar uma segurança real e uma paz duradoira no século XXI,” disse no final do mês passado aqui em Washington o Secretário de Defesa Robert Gates.
Gates – um homem que continua a acreditar no futuro da NATO -- fez notar que muitos dos países da NATO não estão dispostos a cumprir os seus deveres quanto à aquisição de aviões de transporte, de reabastecimento, helicópteros e mesmo na aquisição de “intelligence”.
A NATO, disse ele, tem que fundamentalmente mudar o meio como “estabelece as suas prioridades e o uso de recursos” para poder continuar “relevante” numa nova situação estratégica.
“A NATO precisa de reformas imediatas, sérias, de grande alcance para fazer face uma crise que é um produto de vários anos,” acrescentou.
Mas Andrew Bacevich, um antigo oficial de alta patente do exército Americano, e actual professor universitário em Boston disse já este mês de Março que na sua opinião “a pacificação da Europa deverá provar ser irreversível”, algo que contudo ele vê como “uma oportunidade extraordinária”.
Para Bacevich os Estados Unidos querem transformar a NATO num “instrumento de projecção de poder” e o Afeganistão é o “indicador mais importante” das tentativas de Washington de transformar a NATO.
O analista militar considera que a expansão da NATO criou uma falta de coesão agravada pelo facto de apenas quatro países europeus respeitarem o acordo de gastarem pelo menos dois por cento dos PIB em gastos militares. O comandante geral da NATO, disse ele, “tem agora tanta importância como o presidente de uma universidade de tamanho decente”.
Para Bacevich a NATO só poderá ter um futuro se voltar às suas origens, nomeadamente “garantir a segurança das democracias europeias”.
Para isso “os Estados Unidos devem atrever-se a fazer o impensável: permitir à Nato voltar a ser uma organização europeia dirigida por europeus para servir interesses europeus, garantir a segurança e bem-estar de uma Europa unida e livre”.
O problema com esta análise, dizem outros especialistas, é que países europeus como a Polónia, Republica Checa e Lituânia não têm qualquer confiança na França e Alemanha como garantes das suas liberdades preferindo garantir a sua segurança numa NATO ancorada nos EUA e na Grã-Bretanha.
Lembram esses analistas que aquando a guerra nos Balcãs (Bósnia e Kosovo) houve quem em Bruxelas tivesse declarado que isso era “um problema europeu a ser resolvido pelos europeus”. Acabou por ser a força aerea dos Estados Unidos que levou Slobodan Milosvic à rendição face à incapacidade militar dos países europeus de lidarem com a situação de modo efectivo.
A NATO está actualmente a elaborar um novo Conceito Estratégico para definir o seu futuro, mas aqui todos se recordam que aquando do 50 aniversário da NATO isso foi também discutido em grande detalhe
Caso o novo Conceito Estratégico não aprove mudanças operacionais e institucionais concretas não vai valer o preço do papel onde fôr escrito. Quem o diz não sou eu. É Robert Gates.
Da Capital do Império,
Jota Esse Erre
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quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Da Capital Do Império
Flushing

Lado a lado. Mesquita e igreja presbiteriana
Flushing

Templo budista em construção ao lado de sede do templo da Ciência Cristã

Anúncio de centro para ajudar desertores do Partido Comunista. "China Town", Flushing, Nova Iorque.
Abraços,
Da Capital do Império,
Texto e fotos
Lado a lado. Mesquita e igreja presbiteriana
Flushing
Templo budista em construção ao lado de sede do templo da Ciência Cristã
Olá!
Foi Ernest Hemingway que disse que os subúrbios residenciais americanos são o local “onde acabam os bares e começam as igrejas”. O que é, na generalidade, verdade.
Só que neste cozido cultural que é a América em muitos subúrbios hoje não só há igrejas das mais diversas denominações cristãs mas templos das mais diversas crenças que ocupam o lugar onde pelos vistos o Hemingway gostaria de ver bares.
E se um dia forem a Nova Iorque não se esqueçam de visitar o subúrbio de Flushing mais conhecido por ser o local dos grunhidos do US Open em ténis do que pelas entoações nos seus templos religiosos. Mas que merece uma visita pela mistura incrível de templos religiosos literalmente uns ao lado dos outros, uma herança de um princípio de liberdade religiosa que data ainda da presença holandesa naquilo que hoje é Nova Iorque. Flushing é aliás o evoluir anglófono do nome holandês Vlissingen.
Mas antes de entrarmos na história quero também dizer vos que se numa viagem a Nova Iorque quiserem visitar uma “China Town” que não a de Manhattan então apanhem o Metro para Flushing. É como entrar na China. Lojas, peixarias, restaurantes, onde uma cara caucasiana é rara e onde o inglês quase não se fala. Entrei num desses restaurantes e comi estômago de porco frito. Nada mau embora talvez demasiado picante. A próxima vez quero provar o intestino de porco … também frito.
É obvio também que em Flushing deve haver agentes do Partido Comunista chinês porque numa esquina estava uma mesa com um dístico anunciando “ O Centro de Serviço para Deixar o Partido Comunista”. ( ver foto)
O que é interessante em Flushing é que a zona chinesa é substituída gradualmente por uma zona coreana, notada por mim pelos caracteres de escrita que são bem diferentes. E também pela igreja presbiteriana coreana. E uma outra anunciando orações em coreano e … espanhol! E há também judeus porque vi duas sinagogas. E muçulmanos porque vi uma mesquita … ao lado de uma igreja prebisteriana da comunidade coreana e chinesa. E Hindus porque vi (e visitei) um templo ao Deus Ganesh. E até budistas que estão a construir um enorme templo mesmo ao lado do templo dos Cientistas Cristãos (um grupo que apesar de se denominar de Ciência Cristã não acredita em procurar cuidados médicos para questões de saúde!). Ambos estão situados em frente a uma propriedade de uma igreja cristã coreana (creio que Metodista) e a dois passos de uma igreja católica chinesa que ficam quase em frente do edifício do Exercito da Salvação. Tudo isto numa distância que se pode percorrer perfeitamente a pé.
Membros da chamada Sociedade Religiosa de Amigos (uma seita hoje mais conhecida pelo nomes de Quakers) chegaram a Flushing em meados de 1600 para desagrado do então governador Peter Stuyvesant que de imediato os prendeu e os enviou para a Holanda. Penso que terá sido pelo facto dos Quakers serem pacifistas e lutarem então contra a escravatura. Em 1657 30 cidadãos do que é hoje Flushing enviaram uma carta ao governador lembrando-lhe que a liberdade religiosa é um conceito que se “estende a judeus, turcos e egípcios e Presbiterianos, independentes, Baptistas ou Quakers”. O homem que liderou essa luta dava pelo nome de John Bowne. A sua casa ainda lá está, hoje museu (encerrado “durante os próximos meses” para reabilitação) na rua que hoje tem o seu nome. E é nas suas proximidades num bairro residencial – surpreendente talvez pela qualidade das suas casas – que existe esse mosaico de templos, igrejas e mesquitas tudo erguido pelas diversas comunidades de imigrantes que chegam a Nova Iorque. A recém construída mesquita Hazrat I Abubakar Sadia é obra da comunidade afegã (ao lado da tal igreja presbiteriana construída por coreanos).
Talvez seja um sinal de que nem tudo é tolerância o facto de na parte frontal da mesquita estar fixado um aviso lembrando a todos que de acordo com a lei do estado de Nova Iorque é um crime interferir com actividades religiosas. E talvez não seja coincidência que do outro lado da rua numa casa privada o seu dono tenha escolhido colocar uma enorme bandeira americana no jardim.
Mas apesar disso depois de visitar Flushing não sei se o Hemingawy tinha razão quando afirmou que os subúrbios residenciais americanos são também zonas “ de grandes relvados e pequenas mentes”. Não parece ser Flushing um exemplo disso. Sei que se pode considerar Flushing o berço da liberdade e tolerância religiosa. (O governo holandês deu na altura razão ao John Bowne. Os Quakers regressaram aos Estados Unidos. Um deles formou o estado da Pensilvânia. O Peter Stuyvesant é hoje marca de cigarros. Os Quakers continuam a irritar muitos pelos seus princípios pacifistas)
À procura de desertores
Foi Ernest Hemingway que disse que os subúrbios residenciais americanos são o local “onde acabam os bares e começam as igrejas”. O que é, na generalidade, verdade.
Só que neste cozido cultural que é a América em muitos subúrbios hoje não só há igrejas das mais diversas denominações cristãs mas templos das mais diversas crenças que ocupam o lugar onde pelos vistos o Hemingway gostaria de ver bares.
E se um dia forem a Nova Iorque não se esqueçam de visitar o subúrbio de Flushing mais conhecido por ser o local dos grunhidos do US Open em ténis do que pelas entoações nos seus templos religiosos. Mas que merece uma visita pela mistura incrível de templos religiosos literalmente uns ao lado dos outros, uma herança de um princípio de liberdade religiosa que data ainda da presença holandesa naquilo que hoje é Nova Iorque. Flushing é aliás o evoluir anglófono do nome holandês Vlissingen.
Mas antes de entrarmos na história quero também dizer vos que se numa viagem a Nova Iorque quiserem visitar uma “China Town” que não a de Manhattan então apanhem o Metro para Flushing. É como entrar na China. Lojas, peixarias, restaurantes, onde uma cara caucasiana é rara e onde o inglês quase não se fala. Entrei num desses restaurantes e comi estômago de porco frito. Nada mau embora talvez demasiado picante. A próxima vez quero provar o intestino de porco … também frito.
É obvio também que em Flushing deve haver agentes do Partido Comunista chinês porque numa esquina estava uma mesa com um dístico anunciando “ O Centro de Serviço para Deixar o Partido Comunista”. ( ver foto)
O que é interessante em Flushing é que a zona chinesa é substituída gradualmente por uma zona coreana, notada por mim pelos caracteres de escrita que são bem diferentes. E também pela igreja presbiteriana coreana. E uma outra anunciando orações em coreano e … espanhol! E há também judeus porque vi duas sinagogas. E muçulmanos porque vi uma mesquita … ao lado de uma igreja prebisteriana da comunidade coreana e chinesa. E Hindus porque vi (e visitei) um templo ao Deus Ganesh. E até budistas que estão a construir um enorme templo mesmo ao lado do templo dos Cientistas Cristãos (um grupo que apesar de se denominar de Ciência Cristã não acredita em procurar cuidados médicos para questões de saúde!). Ambos estão situados em frente a uma propriedade de uma igreja cristã coreana (creio que Metodista) e a dois passos de uma igreja católica chinesa que ficam quase em frente do edifício do Exercito da Salvação. Tudo isto numa distância que se pode percorrer perfeitamente a pé.
Membros da chamada Sociedade Religiosa de Amigos (uma seita hoje mais conhecida pelo nomes de Quakers) chegaram a Flushing em meados de 1600 para desagrado do então governador Peter Stuyvesant que de imediato os prendeu e os enviou para a Holanda. Penso que terá sido pelo facto dos Quakers serem pacifistas e lutarem então contra a escravatura. Em 1657 30 cidadãos do que é hoje Flushing enviaram uma carta ao governador lembrando-lhe que a liberdade religiosa é um conceito que se “estende a judeus, turcos e egípcios e Presbiterianos, independentes, Baptistas ou Quakers”. O homem que liderou essa luta dava pelo nome de John Bowne. A sua casa ainda lá está, hoje museu (encerrado “durante os próximos meses” para reabilitação) na rua que hoje tem o seu nome. E é nas suas proximidades num bairro residencial – surpreendente talvez pela qualidade das suas casas – que existe esse mosaico de templos, igrejas e mesquitas tudo erguido pelas diversas comunidades de imigrantes que chegam a Nova Iorque. A recém construída mesquita Hazrat I Abubakar Sadia é obra da comunidade afegã (ao lado da tal igreja presbiteriana construída por coreanos).
Talvez seja um sinal de que nem tudo é tolerância o facto de na parte frontal da mesquita estar fixado um aviso lembrando a todos que de acordo com a lei do estado de Nova Iorque é um crime interferir com actividades religiosas. E talvez não seja coincidência que do outro lado da rua numa casa privada o seu dono tenha escolhido colocar uma enorme bandeira americana no jardim.
Mas apesar disso depois de visitar Flushing não sei se o Hemingawy tinha razão quando afirmou que os subúrbios residenciais americanos são também zonas “ de grandes relvados e pequenas mentes”. Não parece ser Flushing um exemplo disso. Sei que se pode considerar Flushing o berço da liberdade e tolerância religiosa. (O governo holandês deu na altura razão ao John Bowne. Os Quakers regressaram aos Estados Unidos. Um deles formou o estado da Pensilvânia. O Peter Stuyvesant é hoje marca de cigarros. Os Quakers continuam a irritar muitos pelos seus princípios pacifistas)
À procura de desertores
Anúncio de centro para ajudar desertores do Partido Comunista. "China Town", Flushing, Nova Iorque.
Abraços,
Da Capital do Império,
Jota Esse Erre
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Da Capital do Império,
Flushing,
Nova Iorque,
USA
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Da Capital do Império
Olá!
Como vocês sabem o Grupo dos 20 Gajos (G-20) esteve aqui recentemente para um boa jantarada em que um dos vinhos ( Shafer Cabernet Hillside Reserve 2003)) custa a retalho entre 350 e 400 dólares a garrafa. Nada mau!
Mas o que me chateou não foi isso. Eu acho que um bom vinho deve ser bebido sempre em boa companhia e mesmo em má companhia porque após o terceiro ou quarto copo a companhia começa a já não interessar muito, principalmente quando o pretexto para os copos é resolver os problemas financeiros do mundo.
O que me chateou um pouco foi ver que o Nicolas Czarkozi já foi ligeiramente infectado pela doença infantil da UEtupia que é o anti americanismo primário. É uma doença perigosa porque resulta de imediato na incapacidade de analisar friamente factos ou mesmo em certos casos na paralisação total do cérebro cada vez que a palavra “América” é mencionada. Em alguns casos leva mesmo demência total quando a palavra “Bush” é ouvida.
Digo isto porque o Czarkozi mostrando a tal infecção veio juntar a sua voz ao coro daqueles que nos últimos meses têm vindo a pregar o fim do estatuto dos Estados Unidos como superpotência mundial. Vêm aí os chineses! os indianos! e agora vejam lá até os brasucas vêm aí acabar com o estatuto de superpotência de Washington.
“Os Estados Unidos continuam a ser a maior potência mas já não são a única potencia,” disse o Czarkozi um pouco à La Palisse. Deve ter andado a estudar aqueles analistas que proclamam que os Estados Unidos “não podem já ditar e esperar que os outros sigam”. Pois claro que não. Não são nem nunca foram a única potencia nem nunca puderam ditar à espera que os outros seguissem. Foi por isso que houve guerras na Coreia, no Vietname, no Iraque. Sempre houve outras potências e sempre as haverá. Sempre houve e sempre haverá quem não obedeça a “sugestões” de grandes e superpotências. Ser superpotência nunca significou ser-se única potência ou omnipotência. Significa apenas isso: ser-se Numero Uno e por isso ter-se mais influencia, mais capacidade de acção, mais poder.
E aí nada mudou. Vejamos:
O rebentar da bolha financeira acabou logo à partida com o mito de uma economia mundial desligada da economia americana como se apregoava. Os Estados Unidos constiparam-se o mundo apanhou uma gripe. O que só pode espantar aqueles que ao início não podiam esconder o seu regozijo perante a crise americana demonstrando ou uma total ignorância da realidade ou um caso óbvio de doença infantil da UEtupia. Senão vejamos: O ano passado os Estados Unidos constituíram 21 por cento da economia mundial. Em 1980 eram 22 por cento. Tendo em conta o advento da China, Índia e brasucas a perda de um por cento da produção económica mundial em 27 anos não me parece um sinal de descalabro económico. E ou muito me engano quando a poeira assentar essa percentagem terá aumentado
Vejamos os números da crise: O Congresso aprovou um pacote de 700 mil milhões de dólares. Isso é 5 (cinco) por cento do Produto Interno Bruto americano. A Alemanha (a maior economia europeia) aprovou um pacote de entre 400 mil milhões e 536 mil milhões de dólares. Isso é entre 12 e 16 por cento do seu Produto Interno Bruto. O pacote aprovado pelos ‘bifes” é de 835 mil milhões ou seja 30 (trinta) por cento do seu PIB.
Essas percentagens não são de admirara Em termos de PIB a economia americana é quase tão grande como a dos outros seis países do G 7
Dividas americanas? São tantos zeros que já não sei se devo dizer triliões ou milhões de milhões. Mas qualquer que seja a palavra certa a percentagem da dívida do governo americano em relação ao PIB é de 62%. Muito? Talvez. Na zona do Euro é de 75 por cento. No Japão 180%.
E não vou entrar aqui em “research and development” ou investimentos na educação terciária. Não é preciso números. Basta ir dar uma passeata por uma universidade americana onde as bibliotecas estão abertas até ás 23 e 24 horas com malta a “marrar” e onde há computadores que sobram. Depois atravessar o lago e dar se uma passeata por uma universidade desse lado do charco e está tudo dito. Defesa? Os Estados Unidos gastam mais em defesa do que os seguintes 14 países em conjunto. E isso é apenas 4,1 por cento do PIB, mais baixo do que durante a Guerra-fria. Iraque, Afeganistão? Menos de um por cento do PIB. (Sim eu sei que o poder militar não é necessariamente sinal de força. Sei que é consequência.)
O Czarkozi deveria feito uma leitura fria dos números. Não o fez e depois meteu outra vez a pata na poça quando afirmou que “o dólar já não é moeda de reserva” do mundo. Aí eu desatei a rir às gargalhadas. Lembrei-me daquilo que o “garganta funda” disse aos jornalistas do Washington Post quando estavam a investigar o escândalo Watergate: “ If you want to know the truth follow the money”.
Ora bem: Vocês devem lembrar-se que o Euro atingiu 1,60 dólares por volta de Abril, altura em que a Libra esterlina valia pouco mais de dois dólares. Tenho a dizer que eu ficava cheio de inveja a ver os “europas” e “bifes” a virem a este lado do charco encher as malas de compras. Depois rebentou a bolha financeira e o Euro e a Libra Esterlina pareciam mergulhadores a saltar da prancha dos dez metros nos jogos olímpicos. A última vez que olhei para os câmbios o Euro estava a 1,26 e a Libra esterlina a 1,50 dólares. Nunca tão poucos caíram tanto em tão pouco tempo.
Então porquê? Porque em tempo de crise verdadeira, como aquela que se faz sentir agora através do mundo o princípio é muito simples. Segurança só há uma: no dólar e mais nenhuma. Só em Setembro (mês em que a bolha estoirou) a China comprou 43 mil e 600 milhões de dólares de títulos do tesouro americano.
A procura de dólares foi tão grande que a 29 de Outubro o banco central americano, o Federal Reserve assinou um acordo de “troca de liquidez” com os bancos centrais do Brasil, México, Coreia (do sul) e Singapura. Cada um vai receber dos States 30 mil milhões de dólares para “mitigar o alastramento das dificuldades …. em economias que são fundamentalmente boas e bem administradas”.
Enterrado no fim do comunicado dizia–se que o Federal Reserve tinha autorizado acordos semelhantes com a Austrália, Canada, Dinamarca, Inglaterra, Banco Central Europeu, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Suécia e Suíça.
A julgar pelo que disse o Czarkozi eu pensava que deveria ter sido ao contrário. Obviamente o Czarkozi não leu o comunicado do FED. Pior do que isso: He did not follow the money. Só veio aqui beber um vinho caro …americano.
Abraços,
Da Capital do Império,
Jota Esse Erre
Como vocês sabem o Grupo dos 20 Gajos (G-20) esteve aqui recentemente para um boa jantarada em que um dos vinhos ( Shafer Cabernet Hillside Reserve 2003)) custa a retalho entre 350 e 400 dólares a garrafa. Nada mau!
Mas o que me chateou não foi isso. Eu acho que um bom vinho deve ser bebido sempre em boa companhia e mesmo em má companhia porque após o terceiro ou quarto copo a companhia começa a já não interessar muito, principalmente quando o pretexto para os copos é resolver os problemas financeiros do mundo.
O que me chateou um pouco foi ver que o Nicolas Czarkozi já foi ligeiramente infectado pela doença infantil da UEtupia que é o anti americanismo primário. É uma doença perigosa porque resulta de imediato na incapacidade de analisar friamente factos ou mesmo em certos casos na paralisação total do cérebro cada vez que a palavra “América” é mencionada. Em alguns casos leva mesmo demência total quando a palavra “Bush” é ouvida.
Digo isto porque o Czarkozi mostrando a tal infecção veio juntar a sua voz ao coro daqueles que nos últimos meses têm vindo a pregar o fim do estatuto dos Estados Unidos como superpotência mundial. Vêm aí os chineses! os indianos! e agora vejam lá até os brasucas vêm aí acabar com o estatuto de superpotência de Washington.
“Os Estados Unidos continuam a ser a maior potência mas já não são a única potencia,” disse o Czarkozi um pouco à La Palisse. Deve ter andado a estudar aqueles analistas que proclamam que os Estados Unidos “não podem já ditar e esperar que os outros sigam”. Pois claro que não. Não são nem nunca foram a única potencia nem nunca puderam ditar à espera que os outros seguissem. Foi por isso que houve guerras na Coreia, no Vietname, no Iraque. Sempre houve outras potências e sempre as haverá. Sempre houve e sempre haverá quem não obedeça a “sugestões” de grandes e superpotências. Ser superpotência nunca significou ser-se única potência ou omnipotência. Significa apenas isso: ser-se Numero Uno e por isso ter-se mais influencia, mais capacidade de acção, mais poder.
E aí nada mudou. Vejamos:
O rebentar da bolha financeira acabou logo à partida com o mito de uma economia mundial desligada da economia americana como se apregoava. Os Estados Unidos constiparam-se o mundo apanhou uma gripe. O que só pode espantar aqueles que ao início não podiam esconder o seu regozijo perante a crise americana demonstrando ou uma total ignorância da realidade ou um caso óbvio de doença infantil da UEtupia. Senão vejamos: O ano passado os Estados Unidos constituíram 21 por cento da economia mundial. Em 1980 eram 22 por cento. Tendo em conta o advento da China, Índia e brasucas a perda de um por cento da produção económica mundial em 27 anos não me parece um sinal de descalabro económico. E ou muito me engano quando a poeira assentar essa percentagem terá aumentado
Vejamos os números da crise: O Congresso aprovou um pacote de 700 mil milhões de dólares. Isso é 5 (cinco) por cento do Produto Interno Bruto americano. A Alemanha (a maior economia europeia) aprovou um pacote de entre 400 mil milhões e 536 mil milhões de dólares. Isso é entre 12 e 16 por cento do seu Produto Interno Bruto. O pacote aprovado pelos ‘bifes” é de 835 mil milhões ou seja 30 (trinta) por cento do seu PIB.
Essas percentagens não são de admirara Em termos de PIB a economia americana é quase tão grande como a dos outros seis países do G 7
Dividas americanas? São tantos zeros que já não sei se devo dizer triliões ou milhões de milhões. Mas qualquer que seja a palavra certa a percentagem da dívida do governo americano em relação ao PIB é de 62%. Muito? Talvez. Na zona do Euro é de 75 por cento. No Japão 180%.
E não vou entrar aqui em “research and development” ou investimentos na educação terciária. Não é preciso números. Basta ir dar uma passeata por uma universidade americana onde as bibliotecas estão abertas até ás 23 e 24 horas com malta a “marrar” e onde há computadores que sobram. Depois atravessar o lago e dar se uma passeata por uma universidade desse lado do charco e está tudo dito. Defesa? Os Estados Unidos gastam mais em defesa do que os seguintes 14 países em conjunto. E isso é apenas 4,1 por cento do PIB, mais baixo do que durante a Guerra-fria. Iraque, Afeganistão? Menos de um por cento do PIB. (Sim eu sei que o poder militar não é necessariamente sinal de força. Sei que é consequência.)
O Czarkozi deveria feito uma leitura fria dos números. Não o fez e depois meteu outra vez a pata na poça quando afirmou que “o dólar já não é moeda de reserva” do mundo. Aí eu desatei a rir às gargalhadas. Lembrei-me daquilo que o “garganta funda” disse aos jornalistas do Washington Post quando estavam a investigar o escândalo Watergate: “ If you want to know the truth follow the money”.
Ora bem: Vocês devem lembrar-se que o Euro atingiu 1,60 dólares por volta de Abril, altura em que a Libra esterlina valia pouco mais de dois dólares. Tenho a dizer que eu ficava cheio de inveja a ver os “europas” e “bifes” a virem a este lado do charco encher as malas de compras. Depois rebentou a bolha financeira e o Euro e a Libra Esterlina pareciam mergulhadores a saltar da prancha dos dez metros nos jogos olímpicos. A última vez que olhei para os câmbios o Euro estava a 1,26 e a Libra esterlina a 1,50 dólares. Nunca tão poucos caíram tanto em tão pouco tempo.
Então porquê? Porque em tempo de crise verdadeira, como aquela que se faz sentir agora através do mundo o princípio é muito simples. Segurança só há uma: no dólar e mais nenhuma. Só em Setembro (mês em que a bolha estoirou) a China comprou 43 mil e 600 milhões de dólares de títulos do tesouro americano.
A procura de dólares foi tão grande que a 29 de Outubro o banco central americano, o Federal Reserve assinou um acordo de “troca de liquidez” com os bancos centrais do Brasil, México, Coreia (do sul) e Singapura. Cada um vai receber dos States 30 mil milhões de dólares para “mitigar o alastramento das dificuldades …. em economias que são fundamentalmente boas e bem administradas”.
Enterrado no fim do comunicado dizia–se que o Federal Reserve tinha autorizado acordos semelhantes com a Austrália, Canada, Dinamarca, Inglaterra, Banco Central Europeu, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Suécia e Suíça.
A julgar pelo que disse o Czarkozi eu pensava que deveria ter sido ao contrário. Obviamente o Czarkozi não leu o comunicado do FED. Pior do que isso: He did not follow the money. Só veio aqui beber um vinho caro …americano.
Abraços,
Da Capital do Império,
Jota Esse Erre
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Da Capital do Império,
Europa,
G 20,
Sarkozy,
USA
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Da Capital do Império
Olá!
Espero que vocês aí do outro lado do charco já se tenham acalmado. Aqui ainda anda tudo um pouco excitado de modo frívolo por aquilo que o próprio Obláblá disse “só ser possível na América”. O que de certo modo é verdade. Ao fim e ao cabo o histórico não é o facto de o Obláblá ser de descendência negra e ter ganho as eleições. O histórico é o facto de um eleitorado esmagadoramente branco ter votado no Obláblá. Para já isso “só é possível na América”. Não é possível em França (Mon Dieu!), em Inglaterra (falo do posto de Primeiro ministro claro está e não imagino um dos partidos a ter como seu líder um Barack Hussein Obama)), nem sequer no “multirracial” (?) Brasil onde até há pouco tempo não havia sequer (não sei se já há) um embaixador negro brasileiro.
Há que dizer que a razão por que o fenómeno Obama só é possível na América é porque ele é o efeito não a causa de mudanças. Isto é o longo processo de integração racial já tinha atingido pontos não vistos noutros países. Colin Powell foi conselheiro de Segurança Nacional na presidência de …. Ronald Reagan. Foi chefe de estado-maior general das forças armadas na presidência do Bush pai. Clarence Thomas é juiz do supremo tribunal aprovado por um congresso de maioria Democrata mas nomeado por um presidente Republicano (Bush pai). Condoleezza Rice ‘e Secretária de Estado. Percorra-se a América e a integração de uma classe média negra americana na cena política e social no país não tem igualdade noutros países ocidentais com minorias equivalentes. Nem de longe, Olhe-se pra as forças armadas, para as estações de televisao. Tudo isso, tal como Obama, resultado de uma longa caminhada. Primeiro pelo fim da escravatura, depois pelo fim da discriminação, pelos direitos cívicos. Tudo isso ajudado por uma política de “discriminação positiva”’ de extremo sucesso” quiçá já desnecessária senão mesmo agora contra producente. Obama não é portanto causa de mudança como se prega por aí. É efeito.
Há dois outros pontos interessantes a fazer:
1) O Obláblá nunca fez referência à questão racial. No dia em que foi oficialmente nomeado candidato do Partido Democrático celebrava-se 40 anos do famoso discurso de Martin Luther King “Tenho um sonho”. O Obláblá nem sequer o mencionou. No seu discurso de vitória eleitoral nem uma menção ao tal facto histórico à parte a referencia que “a minha história só é possível na América”. Foi esta recusa em falar da sua raça ou dos problemas raciais que levou inicialmente os Jesse Jacksons deste mundo a não o considerarem “suficientemente negro” ou a afirmarem que o Obblablá “ não viveu a experiencia dos negros americanos” (o que neste ultimo caso é verdade) e a ameaçar “cortar os colhões ao Obama porque fala de alto para os pretos”. Os Jesse Jacksons deste mundo não conseguiam o apoio da brancalhada mesmo a liberal porque lhe estava sempre a lembrar a escravatura, a discriminação, as injustiças, a história e depois a pedir favores para “corrigir” essas injustiças. Jesse Jackson, Al Sharpton e outros dirigentes tradicionais dos negros americanos viviam (e ainda vivem) da indústria da culpabilidade histórica tão aceite pela brancalhada. O génio do Obláblá foi projectar uma América pós racial e depois deixar que essa projecção definisse a decência política. O Obláblá disse à brancalhada: eu não falo de raça se vocês também não falarem dela ou a usarem contra mim. Foi a receita perfeita. Lembrem-se que foi no Iowa durante as primárias que Obama se tornou um candidato viável. No Ohio 95 por cento do eleitorado é branco. O sucesso da receita pode ser visto ainda pelo facto de que em certos círculos de brancos ou negros pôr em causa os “pecos” do Obláblá era como tentar dizer mal do Maomé em frente a uma audiência dos Mujahidines Sem Fronteira.
2) Obama fez uso da sua capacidade de retórica para atrair multidões aos seus discursos. Nas multidões todos são iguais e todos projectam as suas aspirações, os seus sonhos no candidato. Milhares de descontentes com milhares de visões e outros tantos milhares de ingenuidades, todos identificados com o Oblablá que por isso foi sempre coisas diferentes para diferentes eleitores. O Obláblá tinha assim que mandar “pecos” que não o definissem. “Esperança”, “mudança” foram as palavras de ordem. “Não pretos, não há brancos, não há estados republicanos, não há estados Democratas, há Estados Unidos da América”. Bom peco.
Foi prometido tudo a todos e essa aliança de brancos de classe média superior, e minorias raciais gostou. Como dizem os americanos o Obama “talked the talk”. Agora resta saber “if he can walk the walk”.
Um abraço,
Da capital do Império,
Jota Esse Erre
Espero que vocês aí do outro lado do charco já se tenham acalmado. Aqui ainda anda tudo um pouco excitado de modo frívolo por aquilo que o próprio Obláblá disse “só ser possível na América”. O que de certo modo é verdade. Ao fim e ao cabo o histórico não é o facto de o Obláblá ser de descendência negra e ter ganho as eleições. O histórico é o facto de um eleitorado esmagadoramente branco ter votado no Obláblá. Para já isso “só é possível na América”. Não é possível em França (Mon Dieu!), em Inglaterra (falo do posto de Primeiro ministro claro está e não imagino um dos partidos a ter como seu líder um Barack Hussein Obama)), nem sequer no “multirracial” (?) Brasil onde até há pouco tempo não havia sequer (não sei se já há) um embaixador negro brasileiro.
Há que dizer que a razão por que o fenómeno Obama só é possível na América é porque ele é o efeito não a causa de mudanças. Isto é o longo processo de integração racial já tinha atingido pontos não vistos noutros países. Colin Powell foi conselheiro de Segurança Nacional na presidência de …. Ronald Reagan. Foi chefe de estado-maior general das forças armadas na presidência do Bush pai. Clarence Thomas é juiz do supremo tribunal aprovado por um congresso de maioria Democrata mas nomeado por um presidente Republicano (Bush pai). Condoleezza Rice ‘e Secretária de Estado. Percorra-se a América e a integração de uma classe média negra americana na cena política e social no país não tem igualdade noutros países ocidentais com minorias equivalentes. Nem de longe, Olhe-se pra as forças armadas, para as estações de televisao. Tudo isso, tal como Obama, resultado de uma longa caminhada. Primeiro pelo fim da escravatura, depois pelo fim da discriminação, pelos direitos cívicos. Tudo isso ajudado por uma política de “discriminação positiva”’ de extremo sucesso” quiçá já desnecessária senão mesmo agora contra producente. Obama não é portanto causa de mudança como se prega por aí. É efeito.
Há dois outros pontos interessantes a fazer:
1) O Obláblá nunca fez referência à questão racial. No dia em que foi oficialmente nomeado candidato do Partido Democrático celebrava-se 40 anos do famoso discurso de Martin Luther King “Tenho um sonho”. O Obláblá nem sequer o mencionou. No seu discurso de vitória eleitoral nem uma menção ao tal facto histórico à parte a referencia que “a minha história só é possível na América”. Foi esta recusa em falar da sua raça ou dos problemas raciais que levou inicialmente os Jesse Jacksons deste mundo a não o considerarem “suficientemente negro” ou a afirmarem que o Obblablá “ não viveu a experiencia dos negros americanos” (o que neste ultimo caso é verdade) e a ameaçar “cortar os colhões ao Obama porque fala de alto para os pretos”. Os Jesse Jacksons deste mundo não conseguiam o apoio da brancalhada mesmo a liberal porque lhe estava sempre a lembrar a escravatura, a discriminação, as injustiças, a história e depois a pedir favores para “corrigir” essas injustiças. Jesse Jackson, Al Sharpton e outros dirigentes tradicionais dos negros americanos viviam (e ainda vivem) da indústria da culpabilidade histórica tão aceite pela brancalhada. O génio do Obláblá foi projectar uma América pós racial e depois deixar que essa projecção definisse a decência política. O Obláblá disse à brancalhada: eu não falo de raça se vocês também não falarem dela ou a usarem contra mim. Foi a receita perfeita. Lembrem-se que foi no Iowa durante as primárias que Obama se tornou um candidato viável. No Ohio 95 por cento do eleitorado é branco. O sucesso da receita pode ser visto ainda pelo facto de que em certos círculos de brancos ou negros pôr em causa os “pecos” do Obláblá era como tentar dizer mal do Maomé em frente a uma audiência dos Mujahidines Sem Fronteira.
2) Obama fez uso da sua capacidade de retórica para atrair multidões aos seus discursos. Nas multidões todos são iguais e todos projectam as suas aspirações, os seus sonhos no candidato. Milhares de descontentes com milhares de visões e outros tantos milhares de ingenuidades, todos identificados com o Oblablá que por isso foi sempre coisas diferentes para diferentes eleitores. O Obláblá tinha assim que mandar “pecos” que não o definissem. “Esperança”, “mudança” foram as palavras de ordem. “Não pretos, não há brancos, não há estados republicanos, não há estados Democratas, há Estados Unidos da América”. Bom peco.
Foi prometido tudo a todos e essa aliança de brancos de classe média superior, e minorias raciais gostou. Como dizem os americanos o Obama “talked the talk”. Agora resta saber “if he can walk the walk”.
Um abraço,
Da capital do Império,
Jota Esse Erre
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Barack Obama,
Da Capital do Império,
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segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Da Capital do Império
Olá,
Desculpem lá o silêncio mas afazeres, viagens e trabalho reduziram-me a vontade de escrever. Vai aqui uma nota para vos dizer o seguinte: O Barack Obláblá vai ser o próximo presidente dos Estados Unidos.
Não percam tempo a seguir as eleições na Terça-feira à noite. Eu já fiz as contas por vocês e o Obláblá não tem possibilidades de perder.
Contudo se quiserem ficar com a certeza fiquem apenas acordados até à uma da manhã (vossa hora) e aí ficarão mesmo com a certeza. Até essa hora encerram as urnas de alguns estados entre eles Virgínia (vossa meia noite) Florida, New Hampshire e Pensilvânia.
Se o Obláblá vencer os dois primeiros já nem vale a pena esperar mais. Podem-se abrir as garrafas de champanhe à vitória do candidato “trans-pós-racial”, já que a partir daí será preciso um super milagre para salvar o McCain.
Como eu expliquei anteriormente as eleições presidenciais americanas são disputadas estado a estado. Cada estado nomeia delegados a um Colégio Eleitoral de 538 membros pelo que um candidato precisa de 270 delegados para vencer.
Quanto a mim o Obláblá já tem garantidos no saco 227 delegados. E tem outros 64 praticamente garantidos. Entre os estados que não estão garantidos contam-se a Florida, Virgínia e Pensilvânia. Tendo em conta que a Florida tem 27 delegados, a Virgínia 13 e a Pensilvânia 21 quando ouvirem os canais de televisão a dar a vitória a Obláblá nesses estados então podem ir dormir na certeza que se vai iniciar a era pós Bush com uma “descompressão” (como me dizia um diplomata) a nível internacional que contudo se vai transformar gradualmente em desilusão. Isto porque em política externa mesmo o Obláblá vai ter que tomar decisões que a malta daí desse lado do charco não vai gostar. Grandes poderes significam grandes responsabilidades, já dizia o Spiderman e quem não tem responsabilidades pode mandar pecos mas quando se tem que se assumir essas responsabilidades há muitas vezes que tomar medidas. E como em politica externa de super potência as escolhas geralmente não são entre o bom e o mau mas sim entre o mau e o pior é óbvio que mesmo o Obláblá vai desagradar a muita gente que está com a ideia que o dito cujo é um messias que vai por toda a malta em redor do mundo a cantar Grândola vila morena terra da fraternidade na versão iraniana, norte coreana e do Hamas e que vamos todos viver em felicidade da era pós Bush.
É uma nova era histórica que se abre. Sem dúvida. O país que muitos aí desse lado do charco acusam de super racista, onde a população negra é apenas 12 ou 13 por cento da população elege um candidato negro. É como ver a França a eleger um presidente com o nome de Barack Hussein Obama. Embora a França seja a terra da Egalité e fraternité … ça ce n’est pas possible. Os imigrantes lá sabem muito bem que o seu lugar é no gueto a queimar carros.
Dá para analisar. Fica para uma próxima ocasião. Entretanto abram as garrafas de champanhe para celebrar a vitória do Obláblá. Os Democratas vão também aumentar a representação no Congresso dando-lhes controlo total da legislatura e executivo. O que vai ser interessante. Tendo em conta a tendência dos Democratas para exagerarem eu espero que o Barack seja mesmo a versão americana em termos políticos do Tony Bláblá de Inglaterra. Caso contrário não quero nem pensar.
Abraços,
Da Capital do Império,
Jota Esse Erre
Desculpem lá o silêncio mas afazeres, viagens e trabalho reduziram-me a vontade de escrever. Vai aqui uma nota para vos dizer o seguinte: O Barack Obláblá vai ser o próximo presidente dos Estados Unidos.
Não percam tempo a seguir as eleições na Terça-feira à noite. Eu já fiz as contas por vocês e o Obláblá não tem possibilidades de perder.
Contudo se quiserem ficar com a certeza fiquem apenas acordados até à uma da manhã (vossa hora) e aí ficarão mesmo com a certeza. Até essa hora encerram as urnas de alguns estados entre eles Virgínia (vossa meia noite) Florida, New Hampshire e Pensilvânia.
Se o Obláblá vencer os dois primeiros já nem vale a pena esperar mais. Podem-se abrir as garrafas de champanhe à vitória do candidato “trans-pós-racial”, já que a partir daí será preciso um super milagre para salvar o McCain.
Como eu expliquei anteriormente as eleições presidenciais americanas são disputadas estado a estado. Cada estado nomeia delegados a um Colégio Eleitoral de 538 membros pelo que um candidato precisa de 270 delegados para vencer.
Quanto a mim o Obláblá já tem garantidos no saco 227 delegados. E tem outros 64 praticamente garantidos. Entre os estados que não estão garantidos contam-se a Florida, Virgínia e Pensilvânia. Tendo em conta que a Florida tem 27 delegados, a Virgínia 13 e a Pensilvânia 21 quando ouvirem os canais de televisão a dar a vitória a Obláblá nesses estados então podem ir dormir na certeza que se vai iniciar a era pós Bush com uma “descompressão” (como me dizia um diplomata) a nível internacional que contudo se vai transformar gradualmente em desilusão. Isto porque em política externa mesmo o Obláblá vai ter que tomar decisões que a malta daí desse lado do charco não vai gostar. Grandes poderes significam grandes responsabilidades, já dizia o Spiderman e quem não tem responsabilidades pode mandar pecos mas quando se tem que se assumir essas responsabilidades há muitas vezes que tomar medidas. E como em politica externa de super potência as escolhas geralmente não são entre o bom e o mau mas sim entre o mau e o pior é óbvio que mesmo o Obláblá vai desagradar a muita gente que está com a ideia que o dito cujo é um messias que vai por toda a malta em redor do mundo a cantar Grândola vila morena terra da fraternidade na versão iraniana, norte coreana e do Hamas e que vamos todos viver em felicidade da era pós Bush.
É uma nova era histórica que se abre. Sem dúvida. O país que muitos aí desse lado do charco acusam de super racista, onde a população negra é apenas 12 ou 13 por cento da população elege um candidato negro. É como ver a França a eleger um presidente com o nome de Barack Hussein Obama. Embora a França seja a terra da Egalité e fraternité … ça ce n’est pas possible. Os imigrantes lá sabem muito bem que o seu lugar é no gueto a queimar carros.
Dá para analisar. Fica para uma próxima ocasião. Entretanto abram as garrafas de champanhe para celebrar a vitória do Obláblá. Os Democratas vão também aumentar a representação no Congresso dando-lhes controlo total da legislatura e executivo. O que vai ser interessante. Tendo em conta a tendência dos Democratas para exagerarem eu espero que o Barack seja mesmo a versão americana em termos políticos do Tony Bláblá de Inglaterra. Caso contrário não quero nem pensar.
Abraços,
Da Capital do Império,
Jota Esse Erre
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