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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Fidel e os homossexuais


Através do Vias de Facto cheguei a esta notícia: Fidel Castro assume a sua responsabilidade na ignóbil perseguição que o regime cubano moveu, até muito dentro dos anos 80, aos homossexuais. Não lhe fica mal assumir os erros, embora seja muito difícil de acreditar que estes se devessem, como Fidel argumenta, a estar muito preocupado com outras coisas na altura. Na verdade, a perseguição aos homossexuais era regra na época, não tivesse Fidel, logo em 1959, declarado que os gays "não podem ser revolucionários"; ou, em 1971, decretado a homossexualidade como "patologia anti-social" (e não vale insinuar que se tratam de calúnias de "agentes da CIA", como é habitual quando se critica Cuba. Estas questões estão amplamente documentadas, constam até de resoluções do PC Cubano, e encontram-se facilmente em inúmeros sites ligados aos movimentos LGBT. Por exemplo aqui, mas há muitos outros. Pesquisem!). Também é curioso que seja agora assumida uma perseguição que negou em 1992, quando afirmou: "Nunca promovi políticas contra homossexuais"!


A tímida assunção de culpa de Fidel trouxe-me à memória a extraordinária autobiografia de Reinaldo Arenas, "Antes que Anoiteça"; um calhamaço de 500 páginas que li de seguida, em nove ou dez horas, sem intervalos para comer (acreditem se quiserem). Também deu um filme com Javier Bardem (em cima uma imagem do mesmo), que não vi. Imprescindível esta narração da extraordinária saga de Arenas, da sua desilusão com a revolução, das perseguições que a sua condição de homossexual lhe acarretou, e do modo sistemático como foram executadas, trágica mas com pormenores caricatos (por exemplo: tais foram as calúnias sobre Arenas, "agente da CIA", "terrorista", e etc., que quando é preso é respeitado na prisão como um indivíduo extraordinariamente perigoso - ele, um escritor - o que lhe vale uma estadia bem mais tranquila que à grande maioria dos homossexuais). Bem melhor estaria Fidel se assumisse por inteiro os preconceitos da cultura revolucionária dos "barbudos", machista até ao tutano, e o sofrimento que provocou, em vez de se limitar a pôr as culpas nos "outros", ou no "ambiente que se vivia". A culpa é de todos em geral, a culpa não é de ninguém em particular, já dizia o José Mário Branco.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Análise crítica de uma análise crítica

O blogue Cinco Dias é um histórico que albergou, e ainda alberga, gente muito respeitável. Contudo, ultimamente tem servido de pousio a determinadas personagens cuja companhia intelectual muito pouco se recomenda. O maior de todos, sem dúvida, um controleiro de nome Carlos Vidal, aliás um figurão (infelizmente) conhecido de alguns outros carnavais. Não há espaço aqui para uma descrição detalhada de todas as alarvidades já lá escritas pelo estalinista controleiro. E eu, como tem notado os leitores, também não tenho estado muito dado a escrever, seja sobre política seja sobre outros blogues.

Acontece que me saltou a tampa com este post. O controleiro aqui revela-se em todo o seu esplendor. Em relação à esta canalhice alarve, a que chamamos “post” por falta de termo mais adequado, apraz-me só dizer isto:

1 – Uma democracia determina-se precisamente por não impedir uma manifestação, seja de seis ou de seis mil pessoas, quer a maioria da população esteja de acordo ou não.

2 – Insinuar que os opositores a qualquer coisa são “traidores a soldo do inimigo” é um método que infelizmente conhecemos bem demais, que apenas revela quem o pratica. Além de se tratar de uma falácia deveras utilizada por fascistas de direita ou de esquerda como o nosso Vidal, denuncia enorme fragilidade intelectual, desconfiança no uso da razão, incapacidade em argumentar dentro de um quadro de linguagem a que se chama de “discursivo”, em suma, o pior do defeito a que chamamos, por maioria de razão, de “imbecilidade”.

E quanto à caixa de comentários desse abjecto “post”, há a referir que:

1 – Dizer que Cuba não tem presos políticos, pois isso está mesmo é entre a cegueira e a insanidade completa;

2 – Dizer que Cuba é uma democracia “porque tem eleições” revela a concepção diminuída de democracia que os controleiros estalinistas possuem. O Estado Novo também tinha eleições, e até com algumas semelhanças (havia eleições, o que havia era um partido só). Há que ter a esperança de que algum dia entendam que a democracia é muito mais que eleições. E que se aqui defendemos a democracia é porque defendemos a Liberdade, e ainda não encontrámos forma melhor de viver em Liberdade que aquela que se consubstancia numa organização política democrática.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Da Savana

(...)
Percebo igualmente bem que muitos dos próprios cubanos não gostem do seu governo. As condições de falta de liberdade em que se vive naquele país são difíceis de suportar. Diria mesmo que são insuportáveis. Mas, pelo que descrevo acima, tenho muita dificuldade em imaginar um moçambicano que não goste da Cuba de Fidel. Só que Jota Esse Erre não é moçambicano.

Machado da Graça, Savana, 7/03/2008

Penso que Jota Esse Erre é moçambicano. Sei que um homem agarra aquilo a que quer pertencer. Machado da Graça entende que deve agradecer a G. Bush, pela ajuda USA a Moçambique. A talhe de foice diria que está enganado. A lógica é fodida.

domingo, 9 de março de 2008

NY. Times: Não haverá perestroika em Cuba!

O famoso jornal acabou finalmente por analisar o que se está a passar em Cuba. E o que nos diz para nos acalentar a esperança? Que Raúl é mais um “ pragmático do que um agente de mudança” e que Cuba - o sistema político, principalmente - continuará a ser inflexível sobre as liberdades políticas. E a depender da ajuda “ pequena “ dos seus amigos, em especial da Venezuela, que lhe envia 92 mil barris de ouro negro/ dia e lhe deu 2 biliões de dólares a fundo perdido, nos últimos dois anos, de acordo com um artigo rubricado por Ian Bremer, politólogo associado do matutino nova-iorquino.

A China é o segundo parceiro solidário, com trocas bilaterais a dispararem em flecha. Os chineses introduziram grandes melhorias nas comunicações e no sistema de Transportes, por forma a invadir a ilha com os seus gadgets técnicos e de vestuário, subentende-se perfeitamente o estilo também usado em África.

Outros parceiros importantes no processo de desenvolvimento cubano são a Espanha, o Canadá e o reino árabe do Dubai. A Espanha investiu a fundo no Turismo na ilha, tirando partido de uma relação cultural muito forte. Tudo corre sobre rodas e o superavit comercial é muito animador. O Canadá investiu no sector mineiro e o Dubai prepara-se para construir um grande porto comercial que poderá dominar as Caraíbas.

Como frisa I. Bremer, na actualidade o “mandato de Raúl Castro parece desenrolar-se sem vagas”. Vai tentar melhorar o nível de vida, mas mantendo o controlo e a vigilância política. Ele não tem a envergadura de Fidel e, se tentar lançar reformas na Economia, a liberalização à chinesa, como se apregoa, a paciência do povo pode esfumar-se se as coisas se agravarem ainda mais nesse plano, aponta o politólogo. Por outro lado, tem que manter o “moral” nas Forças Armadas, que controlam apertadamente certos sectores económicos e não permitirão que alguém os tente privatizar.

FAR

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Da Capital do Império

Olá,

Se há algo que o Fidel Castro sempre teve foi o dom de ter prazer em escutar a sua própria voz o que aliado ao facto de ter uma audiência cativa tornava os seus discursos em verdadeiras maratonas de martírio de banalidades orais.
Felizmente portanto que o Fidel já não tem saúde para fazer discursos. Se não os desgraçados dos cubanos teriam apanhado com uma conversa em família de cinco ou sete horas a explicar a sua decisão de finalmente dizer adios e passar o negócio familiar ao irmão. Felizmente o Fidel agora é só o “colunista - comandante en jefe “ do Granma pelo que todos foram poupados a esse martírio.
Eu sei que quando se fala de Fidel Castro e do santo Che Guevara a maior parte do pessoal de certa esquerda(?) não tem opiniões racionais, mas apenas sentimentos. Sentimentos esses que vêm daquela época em que muitos de nós pensavam que os guerrilheiros espalhados através do mundo eram criaturas moralmente singulares cuja sinceridade legitimava automaticamente todas as suas acções. Era a ingenuidade de acreditar que os ideais mais ou menos sinceros da guerrilha se iriam transferir automaticamente para o poder. Uma ilusão romântica que alguns ainda choram em segredo embora às vezes trocem dela em público. Ilusão que como todas as ilusões protege da dureza da realidade e portanto continua a ter o condão de impedir em muitos análises frias da realidade cubana (e outras).
O Fidel, como vocês devem saber, disse no início da sua carreira depois do seu ataque suicida, mal planeado e desastroso ao Quartel de Moncada que “a história me absolverá”. Tenho a dizer que nos últimos dias tenho estado a analisar em detalhe a situação em Cuba e parece-me que o júri da história não irá concordar. São muitos os números das mais diversas fontes cobrindo desde dados económicos a sociais e alguns dele são verdadeiramente surpreendentes. Estaria no entanto a ser tão chato como o Fidel se me pusesse aqui a dar-vos estatísticas sobre linhas de telefone, consumo de carne, deficit habitacional, veículos, etc, mas digo-vos que o Fidel e “sus companeros” não saem nada airosos com essas estatísticas. Pelo contrário!
Eu claro esta que tenho uma vantagem sobre os cubanos: Tenho acesso ao Google e ao Yahoo. Tentar isso em Cuba pode ser arriscado como é arriscado escrever ou falar de outras coisas que os fidelistas possam considerar perigoso. Não sei se é de rir ou chorar mas recentemente um grupo de jornalistas cubanos foi para a pildra por “ameaçar” a economia do país.
Não sei bem o que ‘e que isso quer dizer mas tenho a dizer no entanto que não creio que seja possível “ameaçar” a economia de Cuba!
Estudos indicam que a produção de 14 dos 20 produtos chaves (vão desde ovos a têxteis) caiu o ano passado para o seu nível mais baixo desde 1989. A colheita de açúcar foi o ano passado a mais baixas dos últimos cem anos. O Fidel viveu anos e anos à custa de subsídios soviéticos e de países do leste europeus de quem tinha tornado Cuba num feudo económico. Esses subsídios são estimados entre 100 mil e 150 mil milhões de dólares e excluem a ajuda militar. Dinheiro deitado à rua. Cuba tem hoje um PIB per capita mais baixo do que …a Jamaica. A maior parte da população cubana vive de cartões de racionamento que não cobrem agora as necessidades mensais. A economia esta dividida entre aqueles que tem “pesos convertíveis” e os que não os têm. Em alusão ao “socialismo ou muerte” do Fidel os cubanos afirmam que já têm o socialismo e agora só falta la muerte.
Para evitar “ameaças à economia” cubana e numa demonstração de confiança fidelista no povo os cubanos não podem comprar computadores (incrível não é?) e podem apenas ter acesso à internet em lojas do estado onde o acesso ao Google e Yahoo …. está vedado. Os turistas esses têm acesso à internet nos hotéis … onde os cubanos não podem entrar e onde mesmo assim “Firewalls” impedem a entrada em alguns “sites” considerados obviamente mais perigosos para a empresa fidelista.
Mas deixemo-nos de economia e coisas banais como liberdade de informação e passemos a coisas mais reais como fuzilamentos:
As estimativas variam mas um dos números baixos que encontrei diz que mais de 14.000 pessoas foram fuziladas em Cuba desde o início da revolução. É mais que o Pinochet embora, em abono da verdade, menos que a junta argentina do Videla/ Galtieri! Sei que há quem argumente que após o fervor inicial revolucionário em que algumas centenas de pessoas foram fuziladas sumariamente por ordens do santo Che (“A pedagogia do Paredon” como ele disse) nunca mais houve “assassinatos extra judiciais”. Mas para citar uma conhecida organização de direitos humanos “as estruturas institucionais e legais de Cuba são a raiz das violações dos direitos humanos”.
Há que dizer contudo que desde 2003 não houve fuzilamentos e o Fidel deixou há alguns anos de dar ordens aos seus agentes para metralharem quem tenta ir de jangada, bóias, pneus e outros meios para Miami. Talvez fosse porque ficaria sem balas.
A repressão é no entanto contínua. Em 2007 (o ano passado!) dissidentes presos disseram ter sido agredidos e submetidos e humilhações nas prisões do dito cujo. Alguns foram há poucas semanas enviados para Espanha. Em Julho do ano passado 25 jornalistas estavam presos por “ameaçarem a independência nacional e a economia de Cuba”. Um colega americano foi recentemente interrogado em Havana porque a “secreta” soube que ele tinha entregado a carta de direitos humanos da ONU a um cubano que lha havia pedido numa anterior visita. A “secreta” obviamente trabalha bem.
Os cubanos esses fogem às dezenas e dezenas de milhar preferindo as incertezas do capitalismo norte-americano (e de qualquer outro pais!) às promessas de Fidel e aos seus cuidados médicos e educação livre que ele tanto apregoa. Nem o Pinochet conseguiu pôr tanta malta a cavar do país! O que me leva a pensar que na América Latina existiram lideres como o Pinochet e o Fidel para nos demonstrar que a estrada para inferno pode ser alcatroada com quaisquer que sejam as intenções - boas e/ou más.
“A história me absolverá”? Duvido mas para tirar dúvidas proponho que o Fidel, agora que decidiu ir embora, organize um plebiscito. Como fez o Pinochet. Tenho a certeza que tal como aconteceu ao Pinochet os cubanos não o absolveriam. E cantariam como cantaram no Chile “La Alegria Ya Viene”
Abraços,

Da capital do Império
Jota esse Erre