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sexta-feira, 16 de maio de 2008

Citações universais dispersas de António Maria Lisboa(2)


" Dentro dos nomes genéricos, mais amplos e capazes de abrigar as personalidades mais díspares, foi até hoje o Surrealismo que me apareceu, pois os seus princípios e, portanto, denominadores comuns são poucos e indistintos- automatismo psíquico, Liberdade, o encontro dum determinado ponto do espírito sintético, o Amor, a transformação da realidade, a recuperação da nossa força psíquica, o Desejo, o Sonho, a POESIA.

" Mas, mesmo assim, depressa, posto a funcionar, se criaram as diversas cores Surrealistas( sem no entanto negar os seus princípios…claro!) e de tal forma, e tanto mais feroz, que o Movimento ou passa a ser a cauda dum Pontífice Inadmissível ou cai na ofensa e na querela inútil do EU SOU tu não és, a não ser que outro caminho se tenha adivinhado. E de facto assim foi: Livre, nem mesmo a um agrupamento de indivíduos Livres pode estar ligado Umbilicalmente.

" Na criação de um Partido existe a criação dum Compromisso entre os que o compõem, o que, forçosamente, mais dia menos dia, lhe vem a cortar os passos, lhe vem a negar a Necessidade duma Necessidade Imperiosa, lhe vem barrar um Desejo Intenso – e, uma vez por todas, o Compromisso do Poeta é com o Amor e o acto um acto Livre no Tempo-Único !

"O Surrealismo que engloba dentro das suas consequências toda a Realidade( pois em Poesia só podemos falar em termos de Absoluto e Totalidade), para a transformar, não exclui o particular, antes o admite para que renasça no conjunto.

" As frentes do Surrealismo não são apenas as da Arte, da Moral e da Política, embora seja nestas que mais se tenha ouvido, mas toda a actividade do Homem. Uma posição revolucionária em qualquer situação é muito provável que seja ou se possa chamar de Surrealista. A atitude inicial é que lhe determina a denominação( desde que interesse denominá-la).

" – O que se entende por acção revolucionária? Ou o que nós entendemos?- Toda a acção Livre, Apaixonada, Poética. Quero dizer: toda a acção que sem compromissos, de qualquer ordem, pretende estabelecer num meio opressor( qualquer meio) a sua antítese, ou seja: Não Opressor.

" O Poeta já não apela para a lógica do espectador( antes a nega), nem tão-pouco para a sua memória da natureza- mas para a sua Imaginação. Trata-se de Inventar o Mundo! Descobrir as semelhanças e dissemelhanças, pôr a nu o rendilhado que une o Invisível ao Visível, estabelecer um Arco-Voltaico entre o Consciente e o Inconsciente, entre o Passado e o Futuro, provocar um Curto-circuito para os destruir isolados, perfurar a Razão com a Loucura e vice-versa- todas as formas são boas, todas as conjugações possíveis ".

In " Poesia, António Maria Lisboa", colectânea realizada por M-Cesariny de Vasconcelos.
Editora Assírio & Alvim, Lisboa 1995
FAR

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Citações universais esparsas de António Maria Lisboa (1)


" É fácil ser subversivo– a palavra não custa…é um caso de hábito de audição. Eu sou subversivo, tu és subversivo, nós somos subversivos – um verbo que se conjuga só nestas três pessoas como se sabe:as duas primeiras do singular, a única do plural-. O Romance e os seus problemas, uma presença, a Presença ( e Régio? porquê Aquilino? e porquê Fernando Pessoa a figura central? Por assiduidade ao café? pelo seu inglês clássico?ou pelas respostas às charadas que enviava para Londres?

" Houve centro? e a haver não seria esse Magnífico Sá-Carneiro de que todos se serviram e perante o qual Pessoa perde todas as pessoas porque Sá-Carneiro é o seu assassino?A que distância um do outro: Pessoa, o capacho-confesso, Sá Carneiro…um Esfinge-Gordo, exacto! Um, um literato, fazendo um esforço de Quatro para não recuperar o meio – fracassando; o outro, excesso do meio!, toda uma " Confusão " dum " tempo incerto ", de " pés fincados na terra ", embora nem sempre a cabeça os acompanhasse- e ainda bem, claro ". ( Resposta a uma entrevista de Adolfo Casais Monteiro sobre o Movimento Surrealista em Portugal, in D.Popular, 30 Agosto 1950. Texto inserto no volume de "Poesia de A.M. Lisboa, realizado por M.C. de Vasconcelos, Editora Assírio e Alvim, 1995, Lisboa.

Nota Bene: Ao andar a reler Jorge de Sena, escritos e correspondência, confirmei a importância das influências de M-Cesariny, António Maria Lisboa e de António Pedro, dos três grandes realizadores do Movimento Surrealista Português, na escrita e pensamento do genial autor de " Peregrinatio ad loca infecta ". Justamente, de António Maria Lisboa, Sena chama a atenção para a inexcedível densidade do seu pensamento crítico e poético.


FAR