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sábado, 29 de dezembro de 2007

Da Capital do Império

Olá,

Foi preciso ir a Viana do Castelo para ter a prova viva daquilo que eu cá com os meus botões já sabia há muito tempo: Os anglófonos ganharam.
Notei isso quando ao fim da tarde a beber um copo de verde em frente à foz do Rio Lima vi um cartaz que dizia: “Visite o Retail Park em Darque”.
Eu sei que Park rima com Darque mas não sei quantas pessoas em Viana do Castelo sabem o que é um retail park antes de lá se deslocarem.
Aceito que muitas vezes é difícil traduzir conceitos da língua inglesa. A língua é a alma de um povo e o português tal como o povo que o fala tende a ser cheio de complicações, floreados, muitas palavras para dizer pouco, incapacidade de ir direito ao assunto, incapaz de dizer “não” preferindo “sabe que isso é capaz de ser um pouco difícil”, incapaz de aceitar a pergunta directa americana “what’s de bottom line?” com um resposta igualmente directa preferindo “Sabe vou ter que pensar depois telefono-lhe”. Por isso muitas vezes é preferível usar as palavras inglesas, directas, “streamlined”, capazes de descrever um conceito incapaz de ser descrito noutra língua. Indeed. Mas Retail Park tem em português centro comercial. No centro comercial não há vendas a granel. Só a retalho.
Mas se já com o meu terceiro copo de verde achei uma certa piada e até criatividade ao anúncio do Retail Park em Darque, no dia seguinte fiquei totalmente varado quando visitei o resplandecente centro comercial de Viana de Castelo que muitos acusam de estar a destruir o pequeno comércio local. Cum carago, se não fosse a pronúncia local eu teria pensado que estava na América ou em Inglaterra com algumas pouca lojas de imigrantes tugas.
Logo à entrada deparei com a loja “Premier” que tinha uma “promoção Happy Days”. Estava logo à entrada ao cimo da escada rolante. Seguiu-se a loja “Beautiful” (joalharia), “Silver Field”, “Soap Story”, “Game”, “Pull and Bear”, “Kiddy’s Class”, “Women’s Secret”, “Throttleman – Boxer shorts”, “The B Design”, “Details”, “Sun Planet”, “Sports Zone” e mesmo uma “Bowling House”. Havia mais mas eu não consigo ler a minha letra no meu livro de notas. Sei que havia uma loja muito pan europeia pois chamava-se Tiffosi Kids
O que eu quis saber é como é que um gajo de Biána pronuncia “Throttleman – Boxer Shorts” e/ou “Pull and Bear”. Por isso foi ao guiché das informações onde ao seu lado estava uma senhora a dar folhetos religiosos (em português) e pondo a minha melhor pronúncia inglesa perguntei às duas miúdas que lá estavam onde é que ficavam essas duas lojas.
Espertas as miúdas. Nem pestanejaram. Perguntaram-me logo: “Cumo é quisso se escrebe?”. Depois foram a uma lista e indicaram-me o local. Mudei de táctica. “Então digam-me lá já agora onde é que fica o Segredo da Mulher”. Riram-se. Se bem me recordo ficava no segundo andar, um andar acima dos “Happy Days”.
Em português havia a “Loja dos Grelhados”. Não é de admirar. Mas faz face à concorrência no “food court” do “The Grill Place” (não estou a inventar) e da “Pasta Mix”
Tenho a dizer-vos que isto não é um fenómeno vianense. Já no regresso a Lisboa nos arredores do Porto estão em construção umas torres de apartamentos com o nome de “Arrabida Lake Towers”. Parecem muito “upmarket”. (Lake Towers é Torres do Lago mas como é que se diz “upmarket” em português? Seria preferível talvez anunciar as “Torres do Lago – Apartamentos upmarket”. Não?)
Tenho a dizer também que os francófonos não se devem sentir totalmente abandonados mas devem ser realistas e aceitar que o francês está a ficar um tanto ou quanto démodé. No centro comercial de Viana havia a “Bijoux Brigitte” e a “Parfois”. Nada mais. Totalmente esmagados pelos anglófonos e o seu comercialismo.
Quando contei isto a uns amigos francófonos que vivem aqui na Capital do Império “ils etaient bien amusés” e sugeriram que eu passasse umas noites a ouvir o noticiário televisivo da France Deux. Segui a sugestão e Mon Dieu, quel horreur!
Fiquei a saber que uma companhia qualquer francesa tinha recrutado um “cost killer” para se tornar mais competitiva (good idea!) estando também a pensar em oferecer “discount” nos seus produtos. Falaram também de um “wine maker” em Bordeaux o que francamente me deixou totalmente perplexo e mesmo boquiaberto. As celebridades são “Les People” (verdade!) e pelos vistos há uma certa moda de vestir a que os parisienses chamam de “streetwear”.
Um dos apresentadores falou da “showbization” (ler à francesa) da presidência de Sarkozy para depois ao falar ainda da relação da Carla Bruni com o Sarkozy afirmar que “sa reaction officielle c’est no comment”. Num outro dia o noticiário da France Deux falou de um cantor chamado James Blunt que descreveu como “le serial lover de la pop”.
Não há dúvida. Os anglófonos ganharam.
Ainda bem. Good.
Um abraço e Happy New Year.

Da capital do Império,

Jota Esse Erre