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domingo, 5 de fevereiro de 2012

O pessimismo de Antoni Negri

© Laura Cruch, Madrid, 2006

"A procura de segurança é uma necessidade que encontra campo nas pessoas perante uma insegurança crescente. Uma ordem mantida pelo medo. E há ainda o problema do homem representado, representado de que forma? Chegamos aos absurdos mais inimagináveis: a corte suprema americana deu a autorização de serem anónimos aos que contribuem com fundos para as campanhas dos candidatos. Significa que a riqueza enquanto tal assume o papel fundamental na escolha da classe dirigente. Entramos no reino da pura loucura."

Excerto da entrevista conduzida por Nuno Ramos de Almeida. Embora insípida, pode ser lida aqui

sábado, 26 de abril de 2008

Toni Negri: A Democracia e a Guerra (1)

“As novas possibilidades da Democracia defrontam-se com o obstáculo que a Guerra constituiu. O mundo contemporâneo está mergulhado numa guerra civil global, generalizada, permanente; e, por outro lado, está constantemente ameaçado por uma violência que, de facto, suspende a democracia. Mas o estado de guerra permanente não acarreta tão-só a suspensão indefinida da democracia: os poderes soberanos respondem pela guerra às novas pressões em favor da democracia. A guerra funciona sob a forma de um mecanismo de contenção. No momento em que o povo (governados) recuperam os seus direitos face à soberania( Super-Imperialismo), a guerra e a violência tornam-se na fundamentação de todo o poder não-democrático.”

“A relação que a modernidade tinha estabelecido entre guerra e política inverteu-se. A guerra deixou de ser um instrumento à disposição, ao qual podia recorrer num número de casos limitados: passou pelo contrário a definir os fundamentos do sistema politico. A guerra tornou-se numa forma de governo.”

“A violência deixou de ser legitimada na base de estruturas jurídicas ou mesmo de princípios morais. Tornou-se legítima post factum, e essa legitimação é fundada pelos efeitos da violência, e pela capacidade de criar e manter uma ordem. Constata-se também que a ordem das prioridades que prevalecia no corrente da época moderna também se alterou totalmente: a violência é prioritária e serve de fundamento à negociação política e moral que se desenvolve a partir dos seus efeitos. As novas possibilidades da democracia forçaram a soberania(S-Imperialismo) a recorrer a formas puras de dominação e de violência.”

“As forças da democracia devem opor-se contra este tipo de violência, mas evitando ser o seu pólo oposto e simétrico. Há a tentação, logicamente, de fazer da democracia uma força absolutamente pacífica em oposição à guerra permanente que é realizada pela soberania(S-Imperialismo). As forças emergentes da democracia- como no êxodo dos Judeus- não devem opor à violência repressiva do poder soberano uma ausência absoluta de violência que seria como que o seu oposto lógico.”

In Antonio Negri e Michael Hardt, "Multitude", editions poche 10/18. Paris

FAR

domingo, 30 de março de 2008

Toni Negri: “Um só combate político vale a pena ser travado: o do amor contra o egoísmo”

A pedido de várias famílias de combatentes e entusiastas pela descoberta de conceitos e de modus-operandi, retomamos de novo a expressão de mais algumas das ideias-força de Toni Negri, o ultra-radical pensador e agitador politico italiano. Ao longo dos dois anos e picos do Blogue, Negri ocupou sempre um lugar de destaque, que não deve ser despromovido ou censurado. Houve já sucesso para o nosso Blogue, com a impressão no Google do artigo-em-cima do acontecimento sobre o último livro de Alain Badiou, “Petit panthéon portatif”, como já tinha sido inserido uma tradução de Bakunine. São coisas que dão força e vitalidade ao 2+2=5, e que importa tentar multiplicar. Para a felicidade de todos nós, claro!

* “A história da filosofia é uma espécie de teologia, uma construção abstracta. Ninguém se liga a uma tradição. Vive-se, muda-se, é tudo”.

* “Espinoza é o primeiro filósofo a fornecer um quadro materialista à existência humana”.

* “Não sejamos hipócritas: a violência, mesmo ilegal, existe também nas instituições e no conjunto das relações sociais”.

* "Os conceitos de povo, de proletariado e de classes sociais estão caducos. Correspondiam a certas realidades históricas hoje desaparecidas. A ideia de Povo estava ligada ao Estado-Nação; a de Proletariado ao desenvolvimento industrial do séc. XIX".

* "Antigamente, a exploração capitalista incidia sobre a força bruta de trabalho dos operários e o sítio dessa exploração era a fábrica/atelier. Hoje, são as aptidões intelectuais e as necessidades afectivas que são exploradas. Não são mais as fábricas mas as cidades-metrópoles – nas quais vivem agora mais de metade da humanidade - que representam o tecido produtivo. Num certo sentido, a exploração tal qual a vivemos nas cidades-metrópoles de hoje, é pior que a precedente porque nunca existe repouso. Quando se trabalha com a inteligência ou os afectos, estamos ao serviço 24-horas-sobre-24".

* "Robinson Crusöe nunca existiu, nem existirá. Ninguém consegue viver isolado. As singularidades funcionam em rede. Partilham a mesma vida. Vivemos numa comunidade exposta e espontânea, que criamos sem cessar".

* "Contra o transcendentalismo dos Modernos, a importância do comum foi sublinhada por outros filósofos muito importantes para mim, que são Maquiavel, Marx e Espinosa. Em Maquiavel, o papel não só do povo como o dos pobres, é muito importante para a construção de uma República, não só justa como forte. Há uma certa continuidade entre Maquiavel e Espinosa nesse ponto. Espinosa mostrando que a multitude - classe, grupo livre - nunca se imobiliza, pois, vai-se sempre realizando".

FAR

sexta-feira, 28 de março de 2008

Toni Negri ao “Le Monde”: Maio 68 corre-nos nas veias para sempre!

Os 40 anos da efeméride exaltante de Maio 68 prometem um dilúvio de teses e de cerimónias evocativas. O Le Monde, o jornal de centro-esquerda francês mais conhecido no Mundo, resolveu dar à estampa um número Especial sobre o tema. Sob a batuta do sociólogo Jean Birnbaum, optou por entrevistar António Negri, um dos mais conhecidos filósofos e altermundialistas da mouvance italiana.
Negri anuncia na sua residência de Veneza, que quer compor uma Autobiografia para ser publicada até ao final do ano.

O “maestro cattivo”, o cúmplice de Deleuze e Guattari, traça as diferenças essenciais entre o Maio 68 francês e o italiano. A experiência italiana começou nas fábricas e repercutiu-se nas Universidades. A insurreição tricolor começou em Nanterre-Universidade, se bem que Debord e os seus muxaxos tenham andado a espevitar a coisa uns anos antes por Estrasburgo, Lille e Toulouse.

“Sim, Maio 68, foi o fim do velho movimento operário. A reconstrução terminou e assiste-se a uma formidável mutação dos assalariados. Em Maio 68 nasce um movimento que procura reinventar o comunismo de outra forma. Depois disso, o capitalismo soube-se organizar. Helàs, ao contrário do movimento operário”, afirma Negri.

Birnbaum questiona-o se o conceito de “multitude”- massa, classe e outras coisas mais - nasceu em Maio 68. Negri atira: “ O operário indistinto cede o seu lugar ao trabalhador social. Na linguagem marxista, fala-se de produção para as mercadorias e de reprodução para a vida. Melhor seria realizar o inverso: dizer produção quando se fala da vida e reprodução quando diz respeito às mercadorias. É esta mutação que é fundamental em Maio 68“.

“Afirmar que a produção é cada vez mais “ imaterial”, é sublinhar que em realidade ela se torna cada vez mais vital, e que o elemento corporal se revela decisivo. 68, é a revolução dos corpos, uma reivindicação de libertinagem que passa pela libertação do desejo“, reitera.

Negri elabora um terrível requisitório contra a Esquerda tradicional: “O socialismo real é incapaz de compreender isso: não é mais possível organizar a produção e as pessoas de maneira vertical e hierarquizada. Passámos da hierarquia às redes! Em Maio 68, isso foi claro, nós tínhamos assimilado essa mutação, de um ponto de vista teórico. Mas perdemos sobre o terreno político."

“Como diz a anedota, os verdadeiros marxistas estão em Wall Street. A esquerda não conseguiu compreender esta mutação. Ela abordou-a, tão-só, sob o aspecto negativo, da forma: o comunismo acabou. Existe uma grande crise da Esquerda, hoje. Não é somente devido ao facto de não ter compreendido a nova base material da nossa sociedade. Mas também isso se prende com o facto de não ter sabido mudar, de não ter conseguido reorganizar-se, acabar com a velha forma do partido bolchevique, um modo de funcionamento que não se adaptará nunca mais ao processo de trabalho actual, isto é, intelectual e baseado em redes “. E conclui: “ Mas o pior erro da esquerda, é de não compreender a fraqueza do capitalismo, que é agora obrigado a apoiar-se num tipo de pessoas como Bush, Berlusconi ou Sarkozy. O sistema está terrivelmente fragilizado, porque o capitalismo financeiro é uma forma absurda de dominação: eis, o que a Esquerda não percebeu“.

FAR

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Negri e o "Adeus ao Socialismo" (2)

O livro de Antonio Negri ressalta de uma longa conversa com Raf Valvola Scelsi. São 15 partes de um todo trabalhado pela tentativa de constituição de um novo paradigma sobre a resistência, "resistir para vencer quem nos quer explorar", assinala, já que os conceitos de "resistência e de democracia se legitimam". "O direito à resistência é fundamental, como o é de resto também o direito à desobediência. Isso constituem direitos radicais. É a demanda, a reivindicação, que está na origem do verdadeiro pacifismo. Nisso se coloca/disponibiliza um dispositivo que está na origem da instituição de novos poderes e direitos".

Negri ataca de frente os revisionistas, como Furet e Nolte, que tentam justificar a hipocrisia de um socialismo sem violência ou liberdade."A luta de classes na Rússia representou uma experiência extrema. Isso foi qualquer coisa de monstruoso. Porque consistiu no ataque não só à superstição das religiões, como aos interesses convergentes da propriedade e da ideologia burguesa, foi portanto, qualquer coisa de muito duro".

"Quando falo de corpos, quero sublinhar que uma coerência se coloca entre a argumentação e a troca efectiva de informação, entre o eu e o tu. É desse modo que a iniciativa política se torna efectiva e escapa aos antigos modelos de que a ideia de partido representava a finalidade, da forma: primeiro o movimento, em seguida o partido. O que é que hoje substituiu o partido? Não se vislumbra. Toda a série de tentativas que visavam propor uma nova definição sobre o partido, não resultaram em nada de bom, e observamos que sempre que se quis definir o partido, isso traduziu-se pela formulação de uma tangente em relação aos problemas reais", formula preclaro.

Antonio Negri "Adeus ao Socialismo", Edit. Au Seuil. France 2007

FAR

sábado, 24 de novembro de 2007

Negri e o "Adeus ao Socialismo" (1)

Trata-se do mais recente livro do grande pensador italiano. Consiste num ataque mirabolante e complexo aos preconceitos da Esquerda clássica.
A tradução francesa de "Goodbye, Mr Socialism", data da Primavera passada, e foi publicada pela edit. Au Seuil. Négri assinala entre outros pontos axiais da sua argumenação que: 1) O ciclo "agressivo neo-liberal terminou"; 2) O recuo do "Estado-providência é menor"; 3) Assiste-se a uma "recomposição revolucionária das pessoas"; 4) Perspectiva, por encanto, um "comunismo do capital", produto das acções e dos fundos de pensão a sererem desviados...

"O capital não pode sobreviver sem exploração. Os padres e os socialistas acreditaram, desde sempre, que podia existir uma justa medida de exploração. Mas não pode. Isso não existe. Não há lugar nem para uma relação correcta entre o desenvolvimento e o comando descentralizado, nem para um capitalismo equitável e permanente", acentua. Para indicar, em desdobramento: "O socialismo não é outra coisa senão a transformação estatista do capitalismo".

Négri diz que o regime salarial está em crise. "Hoje, penso que é o novo ciclo do trabalho precário, imaterial e cognitivo, que está em vias de se tornar fundamental. Não somente aqui, mas por todo o lado, num interior de um mercado global unificado até à China. Isso constitui a nova forma de trabalho: é o novo terreno de revolta da força de trabalho. è aqui que se tornaa necessário o " desejo comunista ", pontua. E acrescenta: " Os critérios de avaliação da riqueza não dependem mais da lei clássicas do valor e do desenvolvimento industrial, mas de um processo cada vez mais ligado estreitamenteao controlo das populações e das sociedades, portanto aos dispositivos de biopoder".
"A partir do momento em que se começa a passar de uma economia de subsistência a uma economia de excedente, o trabalho cognitivo torna-se cada vez mais fundamental e obtém-se uma produtividade que não se pode avaliar mais. Isso é uma crítica radical da concepção economicista do real", sintetiza.

FAR