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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Kant - O que é o iluminismo (3 e final)


(...) Mas não deveria uma sociedade de clérigos, por exemplo, uma assembleia eclesiástica ou uma venerável classis (como a si mesma se denomina entre os Holandeses) estar autorizada sob juramento a comprometer-se entre si com um certo símbolo imutável para assim se instituir uma interminável supertutela sobre cada um dos seus membros e, por meio deles, sobre o povo, e deste modo a eternizar? Digo: isso é de todo impossível. Semelhante contrato, que decidiria excluir para sempre toda a ulterior ilustração do género humano, é absolutamente nulo e sem validade, mesmo que fosse confirmado pela autoridade suprema por parlamentos e pelos mais solenes tratados de paz. Uma época não se pode coligar e conjurar para colocar a seguinte num estado que se tornará impossível a ampliação dos seus conhecimentos (sobretudo os mais urgentes), a purificação dos erros e, em geral, o avanço progressivo na ilustração. Isso seria um crime contra a natureza humana, cuja determinação original consiste justamente neste avanço. E os vindouros têm toda a legitimidade para recusar essas resoluções decretadas de um modo incompetente e criminoso. A pedra de toque de tudo o que se pode decretar como lei sobre um povo reside na pergunta: poderia um povo impor a si próprio essa lei? Seria decerto possível, na expectativa, por assim dizer, de uma lei melhor, por um determinado e curto prazo, para introduzir uma certa ordem. Ao mesmo tempo, facultar-se-ia a cada cidadão, em especial ao clérigo, na qualidade de erudito, fazer publicamente, isto é, por escritos, as suas observações sobre o que há de erróneo nas instituições anteriores; entretanto, a ordem introduzida continuaria em vigência até que o discernimento da natureza de tais coisas se tivesse de tal modo difundido e testado publicamente que os cidadãos, unindo as suas vozes (embora não todas), poderiam apresentar a sua proposta diante do trono a fim de protegerem as comunidades que, de acordo com o seu conceito do melhor discernimento, se teriam coadunado numa organização religiosa modificada, sem todavia impedir os que quisessem ater-se à antiga. Mas é de todo interdito coadunar-se numa constituição religiosa pertinaz, por ninguém posta publicamente em dúvida, mesmo só durante o tempo de vida de um homem e deste modo aniquilar, por assim dizer, um período de tempo no progresso da humanidade para o melhor e torná-lo infecundo e prejudicial para a posteridade. Um homem, para a sua pessoa, e mesmo então só por algum tempo, pode, no que lhe incumbe saber, adiar a ilustração; mas renunciar a ela, quer seja para si, quer ainda mais para a descendência, significa lesar e calcar aos pés o sagrado direito da humanidade. O que não é lícito a um povo decidir em relação a si mesmo menos o pode ainda um monarca decidir sobre o povo, pois a sua autoridade legislativa assenta precisamente no facto de na sua vontade unificar a vontade conjunta do povo. Quando ele vê que toda a melhoria verdadeira ou presumida coincide com a ordem civil, pode então permitir que em tudo o mais os seus súbditos façam por si mesmos o que julguem necessário fazer para a salvação da sua alma. Não é isso que lhe importa, mas compete-lhe obstar a que alguém impeça à força outrem de trabalhar segundo toda a sua capacidade na determinação e fomento da mesma. Constitui até um dano para a sua majestade imiscuir-se em tais assuntos, ao honrar com a inspecção do seu governo os escritos em que  os seus súbditos procuram clarificar as suas ideias, quer quando ele faz isso a partir do seu discernimento superior, pelo que se sujeita à censura ‘Caesar non est supra grammaticos’ (1) quer também, e ainda mais, quando rebaixa o seu poder supremo a ponto de, no seu Estado, apoiar o despotismo espiritual de alguns tiranos contra os demais súbditos.
Se, pois, se fizer a pergunta – Vivemos nós agora numa época esclarecida? – a resposta é: não. Mas vivemos numa época do Iluminismo. Falta ainda muito para que os homens tomados em conjunto, da maneira como as coisas agora estão, se encontrem já numa situação ou nela se possam apenas vir a pôr de, em matéria de religião, se servirem bem e com segurança do seu próprio entendimento, sem a orientação de outrem. Temos apenas claros indícios de que se lhes abre agora o campo em que podem actuar livremente, e diminuem pouco a pouco os obstáculos à ilustração geral ou à saída dos homens da menoridade de que são culpados. Assim considerada, esta época é a época do Iluminismo, ou o século de Frederico.
Um príncipe que não acha indigno de si dizer que tem por dever nada prescrever aos homens em matéria de religião, mas deixar-lhes aí a plena liberdade, que, por conseguinte, recusa o arrogante nome de tolerância, é efectivamente esclarecido e merece ser encomiado pelo mundo grato e pela posteridade como aquele que, pela primeira vez, libertou o género humano da menoridade, pelo menos por parte do governo, e concedeu a cada qual a liberdade de se servir da própria razão em tudo o que é assunto da consciência. Sob o seu auspício, clérigos veneráveis podem, sem prejuízo do seu dever ministerial e na qualidade de eruditos, expor livre e publicamente ao mundo para que este examine os seus juízos e as suas ideias que, aqui ou além, se afastam do símbolo admitido; mas, mais permitido é ainda a quem não está limitado por nenhum dever de ofício. Este espírito de liberdade difunde-se também no exterior, mesmo onde entra em conflito com obstáculos externos de um governo que a si mesmo se compreende mal. Com efeito, perante tal governo brilha um exemplo de que, no seio da liberdade, não há o mínimo a recear pela ordem pública e pela unidade da comunidade. Os homens libertam-se pouco a pouco da brutalidade, quando de nenhum modo se procura, de propósito, conservá-los nela.
Apresentei o ponto central do Iluminismo, a saída do homem da sua menoridade culpada, sobretudo nas coisas de religião, porque em relação às artes e às ciências os nossos governantes não têm interesse algum em exercer a tutela sobre os seus súbditos; por outro lado, a tutela religiosa, além de ser mais prejudicial, é também a mais desonrosa de todas. Mas o modo de pensar de um chefe de Estado, que favorece a primeira, vai ainda mais além e discerne que mesmo no tocante à sua legislação não há perigo em permitir aos seus súbditos fazer uso público da sua própria razão e expor publicamente ao mundo as suas ideias sobre a sua melhor formulação, inclusive por meio de uma ousada crítica da legislação que já existe; um exemplo brilhante que temos é que nenhum monarca superou aquele que admiramos.
Mas também só aquele que, já esclarecido, não receia as sombras e que, ao mesmo tempo, dispõe de um exército bem disciplinado e numeroso para garantir a ordem pública – pode dizer o que a um Estado livre não é permitido ousar: raciocinai tanto quanto quiserdes e sobre o que quiserdes; mas obedecei! Revela-se aqui um estranho e não esperado curso das coisas humanas; como, aliás, quando ele se considera em conjunto, quase tudo nele é paradoxal. Um grau maior da liberdade civil afigura-se vantajosa para a liberdade do espírito do povo e, no entanto, estabelece-lhe limites intransponíveis; um grau menor cria-lhe, pelo contrário, o espaço para ela se alargar segundo toda a sua capacidade. Se a natureza, sob este duro invólucro, desenvolveu o germe de que delicadamente cuida, a saber, a tendência e a vocação para o pensamento livre, então ela actua também gradualmente sobre o modo do sentir do povo (pelo que este se tornará cada vez mais capaz de agir segundo a liberdade) e, por fim, até mesmo sobre os princípios do governo que acha salutar para si próprio tratar o homem, que agora é mais do que uma máquina, segundo a sua dignidade.

Königsberg na Prússia, 30 de Setembro de 1784.
Immanuel Kant

(1) - “César não está acima dos gramáticos.”

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Kant - O que é o iluminismo (2)


(...) Mas é perfeitamente possível que um público a si mesmo se esclareça. Mais ainda, é quase inevitável, se para tal lhe for concedida a liberdade. Sempre haverá, de facto, alguns que pensam por si, mesmo entre os tutores estabelecidos da grande massa que, após terem arrojado de si o jugo da menoridade, espalharão à sua volta o espírito de uma estimativa racional do próprio valor e da vocação de cada homem para pensar por si mesmo. Importante aqui é que o público, antes por eles sujeito a este jugo, os obriga doravante a permanecer sob ele quando por alguns dos seus tutores, pessoalmente incapazes de qualquer ilustração, é a isso incitado. Semear preconceitos é muito danoso, porque acabam por se vingar dos que pessoalmente, ou os seus predecessores, foram os seus autores. Por conseguinte, um público só muito lentamente consegue chegar à ilustração. Por meio de uma revolução talvez se possa levar a cabo a queda do despotismo pessoal e da opressão gananciosa ou dominadora, mas nunca uma verdadeira reforma do modo de pensar. Novos preconceitos, justamente como os antigos, servirão de rédeas à grande massa destituída de pensamento.
Mas, para esta ilustração, nada mais se exige do que a liberdade; e, claro está, a mais inofensiva entre tudo o que se pode chamar liberdade, a saber, a de fazer um uso público da sua razão em todos os elementos. Agora, porém, de todos os lados ouço gritar: não raciocines! Diz o oficial: não raciocines, mas faz exercícios! Diz o funcionário de Finanças: não raciocines, paga! E o clérigo: não raciocines, acredita! (Apenas um único senhor no mundo diz: raciocinai tanto quanto quiserdes e sobre o que quiserdes, mas obedecei!) Por toda a parte se depara com a restrição da liberdade. Mas qual é a restrição que se opõe ao Iluminismo? Qual a restrição que o não impede, antes o fomenta? Respondo: o uso público da própria razão deve sempre ser livre e só ele pode, entre os homens, levar a cabo a ilustração; mas o uso privado da razão pode, muitas vezes, coarctar-se fortemente sem que, no entanto, se entrave assim notavelmente o progresso da ilustração. Por uso público da própria razão entendo aquele que qualquer um, enquanto erudito, dela faz perante o grande público do mundo letrado. Chamo uso privado àquele que alguém pode fazer da sua razão num certo cargo público ou função a ele confiado. Ora, em muitos assuntos que têm a ver com o interesse da comunidade, é necessário  um certo mecanismo em virtude do qual alguns membros da comunidade se comportarão de um modo puramente passivo com o propósito de, mediante uma unanimidade artificial, serem orientados pelo governo para fins públicos ou de, pelo menos, serem impedidos de destruir tais fins. Neste caso, não é decerto permitido raciocinar, mas tem de se obedecer. Na medida, porém, em que esta parte da máquina se considera também como elemento de uma comunidade total, e até da sociedade civil mundial, portanto, na qualidade de um erudito que se dirige por escrito a um público em entendimento genuíno, pode certamente raciocinar sem que assim sofram qualquer dano os negócios a que, em parte, como membro passivo, se encontra sujeito. Seria, pois, muito pernicioso se um oficial, a quem o seu superior ordenou algo, quisesse em serviço sofismar em voz alta acerca da inconveniência ou utilidade dessa ordem; tem de obedecer, mas não se lhe pode impedir de um modo justo, enquanto perito, fazer observações sobre os erros do serviço militar e expô-las ao seu público para que as julgue. O cidadão não pode recusar-se a pagar os impostos que lhe são exigidos; e uma censura impertinente de tais obrigações, se por ele devem ser cumpridas, pode mesmo punir-se como um escândalo (que poderia causar uma insubordinação geral). Mas, apesar disso, não age contra o dever de um cidadão se, como erudito, ele expuser as suas ideias contra a inconveniência ou também a injustiça de tais prescrições. Do mesmo modo, um clérigo está obrigado a ensinar os instruendos de catecismo e a sua comunidade em conformidade com o símbolo da Igreja, a cujo serviço se encontra, pois ele foi admitido com esta condição. Mas, como erudito, tem plena liberdade e até a missão de participar ao público todos os seus pensamentos cuidadosamente examinados e bem-intencionados sobre o que de erróneo há naquele símbolo, e as propostas para uma melhor regulamentação das matérias que respeitam à religião e à Igreja. Nada aqui existe que possa constituir um peso na consciência. Com efeito, o que ele ensina em virtude da sua função, como ministro da Igreja, expõe-no como algo em relação ao qual não tem o livre poder de ensinar segundo a sua opinião própria, mas está obrigado a expor segundo a prescrição e em nome de outrem. Dirá: a nossa Igreja ensina isto ou aquilo; são estes os argumentos comprovativos de que ela se serve. Em seguida, ele extrai toda a utilidade prática para a sua comunidade de preceitos que ele próprio não subscreveria com plena convicção, mas a cuja exposição se pode, no entanto, comprometer, porque não é de todo impossível que neles resida alguma verdade oculta. De qualquer modo, porém, não deve neles haver coisa alguma que se oponha à religião interior, pois se julgasse encontrar aí semelhante contradição, então não poderia em consciência desempenhar o seu ministério; teria de renunciar. Por conseguinte, o uso que um professor contratado faz da sua razão perante a sua comunidade é apenas um uso privado, porque ela, por maior que seja, é sempre apenas uma assembleia doméstica; e no tocante a tal uso, ele como sacerdote não é livre e também o não pode ser, porque exerce uma incumbência alheia. Em contrapartida, como erudito que, mediante escritos, fala a um público genuíno, a saber, ao mundo, por conseguinte, o clérigo, no uso público da sua razão, goza de uma liberdade ilimitada de se servir da própria razão e de falar em seu nome próprio. É, de facto, um absurdo, que leva à perpetuação dos absurdos, que os tutores do povo (em coisas espirituais) tenham de ser, por sua vez, menores (...). 

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Kant - O que é o iluminismo (1)


Bem a propósito do post do Luiz Inácio mais abaixo, em que é citado este opúsculo fundamental do filósofo Immanuel Kant, resolvi publicar o dito por aqui. Devido à sua extensão, será dividido em partes. Este texto, um dos primeiros publicados por Kant, é, na minha modestíssima opinião, um dos seus mais brilhantes. Como foi realçado pelo Luiz nesse post, não chegou para ganhar o concurso, dizendo-nos algo sobre a justiça desse tipo de apreciações. Lembro-me de um professor meu da faculdade ter referido uma vez o nome do grande vencedor, mas a memória foi-se-me e não consegui descobrir pesquisando na net. Alguém sabe?

Resposta à pergunta: “O Que é o Iluminismo?”

IMMANUEL KANT


lluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria, se a sua causa não residir na carência de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo, sem a guia de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento! Eis a palavra de ordem do Iluminismo.

A preguiça e a cobardia são as causas de os homens em tão grande parte, após a natureza os ter há muito libertado do controlo alheio (naturaliter maiorennes), continuarem, todavia, de bom grado menores durante toda a vida; e também de a outros se tornar tão fácil assumir-se como seus tutores. É tão cómodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem entendimento por mim, um director espiritual que em vez de mim tem consciência moral, um médico que por mim decide da dieta, etc., então não preciso de eu próprio me

esforçar. Não me é forçoso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros empreenderão por mim essa tarefa aborrecida. Porque a imensa maioria dos homens (inclusive todo o belo sexo) considera a passagem à maioridade difícil e também muito perigosa é que os tutores de bom grado tomaram a seu cargo a superintendência deles. Depois de terem, primeiro, embrutecido os seus animais domésticos e evitado cuidadosamente que estas criaturas pacíficas ousassem dar um passo para fora da carroça em que as encerraram, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça, se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo não é assim tão grande, pois acabariam por aprender muito bem a andar. Só que um tal exemplo intimida e, em geral, gera pavor perante todas as tentativas ulteriores.

É, pois, difícil a cada homem desprender-se da menoridade que para ele se tomou quase uma natureza. Até lhe ganhou amor e é por agora realmente incapaz de se servir do seu próprio entendimento, porque nunca se lhe permitiu fazer semelhante tentativa. Preceitos e fórmulas, instrumentos mecânicos do uso racional, ou antes, do mau uso dos seus dons naturais são os grilhões de uma menoridade perpétua. Mesmo quem deles se soltasse só daria um salto inseguro sobre o mais pequeno fosso, porque não está habituado ao movimento livre. São, pois, muito poucos apenas os que conseguiram mediante a transformação do seu espírito arrancar-se à menoridade e encetar então um andamento seguro(...).

sexta-feira, 16 de abril de 2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

anaCrónicas 9

Não se escreve em definitivo sobre nada. E a experimentação na escrita não deixa de ser uma experimentação dos conceitos ou da matéria que para lá caminhe entre o informe e a forma – não há como a escrita para pensar e não há pensar que não seja ficção. Falou o José Gil, na última aula, que venho glosando numa espécie de vontade de ser eco, do risco como pensamento, isto é, de que pensamento e risco seriam sinónimos. Tenho andado a tentar perceber isso. Uma coisa acho que entendi: as teorias cheias de consistência – e nelas incluo as plenas de inconsistência, a medida contrária que afirma a irracionalidade mas não explica as cidades nem a romanização por exemplo, menos ainda o pão e circo, o canibalismo e outras façanhas humanas consistentes e constitutivas do ser, como também o extermínio selectivo – são formas de esquivar ao risco.
Quem teoriza no arame faz uma coisa que o teórico consistente não é capaz de fazer.Olhando-se não se reconhece na imagem sempre movente e aí talvez escape ao narcisismo, doença destes tempos de filhos únicos e protecções materno-paternais ansiosas.
A imprecisão do que se quer fixar é uma constante e o desejo de forma, outra. Quem, como se diz, tem os pés na terra, diante do bitoque de que fala o Gil, esquece o resto e converte-o em entretenimento. Começa polémica e risco o que começa e se foca em qualquer coisa discernível e termina culinário. Estes últimos, os dos pés na terra, são muito úteis como polícias. Os outros não têm finalidade. São mesmo inúteis. Talvez aí comece qualquer coisa.

FMR

quinta-feira, 4 de março de 2010

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A propósito das manhãs negadas

Diógenes, o Cínico (cão em grego), era sem dúvida um homem irreverente e perspicaz. Acerca dele, existem algumas histórias que nos atingem a dormência. Por exemplo, em relação à pobreza avançou com uma metáfora, ao num determinado dia no mercado estando a masturbar-se, filosoficamente dizer "ah, se ao menos se pudesse apaziguar a fome, esfregando assim o estômago". Diógenes, foi homenageado em Corinto, na cidade onde morreu em 327 A.C., com uma coluna em sua honra com um cão no alto.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Jorge Luís Borges: " O que proponho relaciona-se com o eventual devir perpétuo da linguagem "


A aproximação do solstício de Verão aporta-nos dias pletóricos da força da leitura e da vida, do amor e da solidão recuperada. Aproveitemos tal dádiva celestial para procurarmos sinalizar uma cartografia poética e crítica de um alcance incalculável como a de Jorge Luís Borges, poeta, escritor e crítico literário de renome universal .
Percorremos vários livros de Ensaios de Borges; e detectámos uma panóplia magistral de observações críticas de alta precisão e endereçadas aos seus autores preferidos. " Verlaine- como Óscar Wilde- é uma criança que brinca. Recordo esta frase tão bela, por certo citei-a inúmeras vezes, de Robert Louis Stevenson: Sim, a arte é um jogo, mas é preciso jogar com a seriedade com que uma criança brinca ". Vamos ver, pois, não esquecendo a tónica central de JL Borges:
" A tradição é composta sobretudo por revoluções…".

Poeta preferido: Verlaine. " Creio ter dito que se tivesse que escolher um poeta, escolheria Verlain, se bem que por vezes hesite entre Verlaine e Virgílio. Alguém me disse que Virgílio não será senão um eco de Homero. Voltaire disse, a esse respeito: se Homero ajudou a fazer Virgílio, isso foi o que ele fez de melhor ".

O rebelde William Blake. " Blake acrescenta à salvação, digamos, ética, e ao avanço intelectual, uma terceira redenção- necessária a todos os homens, segundo ele- que seria o resgate pela estética. De facto, Blake era um discípulo de Swedenborg, mas rebelde porque ele diz mal dessa ligação. De todo o modo, sem Swedenborg ele nunca teria existido ".

Russell e Espinoza. " Bertrand Russell afirma que a filosofia de Espinosa não é invariavelmente credível mas, acrescenta, que de todos os filósofos, ele é o mais digno de ser amado e enaltecido. Permaneceu como uma personalidade, uma personalidade digna de ser amada e amada por todos."

Dickens e Dostoievski. " O romance russo teve uma grande influência à volta do Mundo. Li algures que Dostoievski era um leitor de Dickens; ora, segundo Forster, amigo e biógrafo do romancista inglês, houve um tempo em que Dickens farejava assassinatos por tudo quanto era sítio...".

Voltaire. " Voltaire imaginou que não era impossível supôr a existência de uma centena de sentidos; mas já com um sentido suplementar toda a nossa visão do Mundo se modificaria. Esta visão, a ciência já a alterou; o que para nós é um objecto constitui para ela um sistema de átomos, de neutrões e de eleições; nós próprios somos constituídos por esses sistemas atómicos e nucleares ".

Coleridge. " (…) a verdade afectiva, noutros termos., durante o tempo em que escrevo, devo acreditar nisso. Dessa forma estou em sintonia com Coleridge, para quem a fé poética e afectiva é a suspensão momentânea da incredulidade ".

Mallarmé " Creio que foi Mallarmé que disse que não existia nenhuma diferença entre o verso e a prosa; que, se sonha um pouco com o ritmo, se se sonha um pouco com o audível, então fazemos poemas, mesmo se se escreve em prosa . Existe sempre uma estrutura e uma forma ".

FAR

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Paul Veyne: Podemos viver sem mitos?

O Foucault de Paul Veyne surgiu. Vai fazer acontecimento. Tem o rigor de um trabalho minucioso de filosofia e de história. Conta episódios fundamentais da vida quotidiana do autor de "As palavras e das coisas". Paul Veyne é um dos maiores historiadores do século XX/XXI, e conheceu M. Foucault nos bancos da ENS da Rue d´Ulm.

"A humanidade pode passar sem a existência de mitos, tais como os da consciência e do progresso? Não sei, mas não se imagina que o consiga. Assim como não se consegue vê-la sem religiosidade ou ainda sem curiosidade filosófica. Apesar de todos os Nietzsche e Foucault do mundo, a humanidade gosta de invocar a Verdade e acredita ser verdadeiro aquilo em que crê. "Mitos" é uma palavra demasiado carregada de sentidos múltiplos, falemos porventura mais de enganos; o calvinismo foi o engano da economia da empresa capitalista."

"Essa palavra engano apareceu com grande insistência sob a caneta de Foucault, e tentamo-nos para lhe dar um destino, afirmando que constitui a primeira facilidade das estetizações: não é uma necessidade (cria-a, antes do mais), e não visa qualquer finalidade; as que pretendem continuar são pretextos: a salvação, a tranquilidade da alma, o nirvana, etc. A sua energia procede da sua liberdade, de uma pulsão do eu, da misteriosa "caixa negra" íntima, mais do que qualquer doutrina persuasiva: esta serve tão-somente de engano, de racionalização e de terreno de exercício".

In « Foucault », de Paul Veyne, Albin Michel Editeurs, Paris, Abril, 2008

FAR

domingo, 30 de março de 2008

Toni Negri: “Um só combate político vale a pena ser travado: o do amor contra o egoísmo”

A pedido de várias famílias de combatentes e entusiastas pela descoberta de conceitos e de modus-operandi, retomamos de novo a expressão de mais algumas das ideias-força de Toni Negri, o ultra-radical pensador e agitador politico italiano. Ao longo dos dois anos e picos do Blogue, Negri ocupou sempre um lugar de destaque, que não deve ser despromovido ou censurado. Houve já sucesso para o nosso Blogue, com a impressão no Google do artigo-em-cima do acontecimento sobre o último livro de Alain Badiou, “Petit panthéon portatif”, como já tinha sido inserido uma tradução de Bakunine. São coisas que dão força e vitalidade ao 2+2=5, e que importa tentar multiplicar. Para a felicidade de todos nós, claro!

* “A história da filosofia é uma espécie de teologia, uma construção abstracta. Ninguém se liga a uma tradição. Vive-se, muda-se, é tudo”.

* “Espinoza é o primeiro filósofo a fornecer um quadro materialista à existência humana”.

* “Não sejamos hipócritas: a violência, mesmo ilegal, existe também nas instituições e no conjunto das relações sociais”.

* "Os conceitos de povo, de proletariado e de classes sociais estão caducos. Correspondiam a certas realidades históricas hoje desaparecidas. A ideia de Povo estava ligada ao Estado-Nação; a de Proletariado ao desenvolvimento industrial do séc. XIX".

* "Antigamente, a exploração capitalista incidia sobre a força bruta de trabalho dos operários e o sítio dessa exploração era a fábrica/atelier. Hoje, são as aptidões intelectuais e as necessidades afectivas que são exploradas. Não são mais as fábricas mas as cidades-metrópoles – nas quais vivem agora mais de metade da humanidade - que representam o tecido produtivo. Num certo sentido, a exploração tal qual a vivemos nas cidades-metrópoles de hoje, é pior que a precedente porque nunca existe repouso. Quando se trabalha com a inteligência ou os afectos, estamos ao serviço 24-horas-sobre-24".

* "Robinson Crusöe nunca existiu, nem existirá. Ninguém consegue viver isolado. As singularidades funcionam em rede. Partilham a mesma vida. Vivemos numa comunidade exposta e espontânea, que criamos sem cessar".

* "Contra o transcendentalismo dos Modernos, a importância do comum foi sublinhada por outros filósofos muito importantes para mim, que são Maquiavel, Marx e Espinosa. Em Maquiavel, o papel não só do povo como o dos pobres, é muito importante para a construção de uma República, não só justa como forte. Há uma certa continuidade entre Maquiavel e Espinosa nesse ponto. Espinosa mostrando que a multitude - classe, grupo livre - nunca se imobiliza, pois, vai-se sempre realizando".

FAR

terça-feira, 18 de março de 2008

Alain Badiou: Sabotemos o cálice das paixões tristes (1)

O novo livro de Alain Badiou, “Petit panthéon portatif”, que acaba de ser publicado em França, pelas edições “La Fabrique”, Paris, exorta e convida, como o estabeleceu, “definitivamente, Platão, que é a partir da Verdade, declinada se for preciso como Belo ou Bem, que se origina toda a paixão lícita e toda a criatividade de irradiação universal”. E pensar e sentir com Espinosa, acrescenta o autor de “O Ser e o Acontecimento”, que “só os homens livres são muito reconhecidos”. E lembra que para Deleuze, “o pensamento não é senão outra coisa que uma incandescente exposição face ao infinito caótico, no Cosmos”.

Assumidos estes tópicos éticos, Badiou avança, muita vezes evocando os seus tempos de aluno da ENS Rue d´Ulm, para as suas homenagens (com perspectiva crítica) aos mestres e colegas de uma época de ouro do pensamento francês, 1960/80: Georges Canguilhelm, Jean Hyppolite (o grande tradutor de Hegel, lido fervorosamente na Alemanha), Louis Althusser (prof e cúmplice na ENS: “A filosofia é a instância de apelação imanente dos fracassos da política”) e Jean-Paul Sartre (“A Esquerda Proletária(GP) não tinha senão esta palavra de ordem: Temos razão em nos revoltar. A “Crítica da Razão Dialéctica", constitui a razão dessa razão”…).

No que se refere aos seus colegas e, amiúde, contraditores, como Foucault, Deleuze, Lyotard, por exemplo, os textos de Badiou prolongam polémicas acerbas ou esbatem diferenças assimiladas. De grande nível, intensidade conceptual e filosófica. Sobre Lyotard e o seu irremediável cepticismo, Badiou escreve: “Como resistir sem o marxismo, isto é,sem sujeito histórico objectivo, e mesmo, como ele o afirma, sem finalidades determinadas?”. E aprofunda em páginas muito densas o seu pensamento: “A política não se estabelece com o poder, pertence à ordem do pensamento. Não visa a transformação, mas sim, a criação de possibilidades anteriormente informuláveis. Não se deduz a partir de situações, porque as deve determinar à partida".

Até à mais extrema das consequências , diz Lyotard. Este princípio: agarrar a consequência, mesmo se for julgada extrema pela opinião corrente, é filosoficamente crucial. Isso é a meu ver, a lei essencial de uma verdade qualquer. Porque toda a verdade se tece de consequências extremas. Não existe verdade senão for extrema”, frisa.

Sobre Deleuze, num texto muito belo e profundo, sinaliza: “Com o esvaziamento de todo o pensamento da finitude (fim da metafísica, fim das ideologias, fim das narrativas, fim das revoluções…) Deleuze confronta a convicção : nada é interessante que não seja afirmativo. A crítica, os limites, as fraquezas, os fins, a modéstia, tudo isso não se equivale a uma só afirmação Verdadeira”. ( Continua)

FAR

domingo, 16 de março de 2008

Breaking News Breaking News

Alain Badiou homenageia os seus mestres

Petit panthéon portatif”, é o título geral de um panfleto subversivo de luta contra a falsificação teórica, o abuso da especulação mediática e as deletérias e sinistras dominações políticas. Trata-se de uma recolha de textos de homenagem e crítica aos mestres e colegas desaparecidos, realizada superiormente por Alain Badiou. Ultrapassando o estigma da circunstância e da emoção pura, o guru da Ultra-Gauche francesa e mundial confronta e ilumina os traços fundamentais do pensamento de Deleuze, Foucault, Lyotard, Derrida e Françoise Proust, entre muitos outros. Trata-se de um conjunto absolutamente genial de hipóteses e de cartografia de conceitos operacionais e não estáticos. Dada a singularidade do acontecimento, alertamos para o valor incalculável deste projecto, desde já. Vamos analisar e detalhar a estratégia transformativa do trabalho, nos dias que se irão suceder. O livro foi posto, hoje, à venda em França: La Fabrique Éditions, Paris.

FAR

terça-feira, 11 de março de 2008

Allan David Bloom: A poesia é indispensável

“A poesia é indispensável aos homens. Mas o tipo de poesia que irriga a sua alma estabelece a diferença radical entre as formas de compreensão da vida, que, ela, nada possui de poético. Sócrates esboçou um novo género de poesia, que o conduz para lá de si mesmo, que não reduz a alternativa a uma escolha entre o trágico e o cómico, e que apoia a vida filosófica. Sócrates oferece o princípio que Aristóteles desenvolverá na Poética, e que ilustra as obras de um Dante ou de um Shakespeare. Trata-se sempre de poesia, mas de uma poesia que brilha e emite signos para lá dela própria.”

“Na análise que propõe da inteligência homérica, a primeira etape de Sócrates consiste em determinar a natureza de um poema. Um poema, afirma-o, tal como uma pintura, possui um modo de existência bastante singular. Representa outros seres particulares que, por seu turno, não devem o seu ser senão à participação num ser singular, e subsistindo por si-próprios. A Poesia depende do mundo que nos envolve; ela não realiza os seus objectos, e a sua força é proporcional à profundidade com que os envolve”.

In “The Republic of Plato”, Basic Books, N.York

FAR

domingo, 30 de dezembro de 2007

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

"O diálogo: entre quem e sobre o quê?"

Mensagem do Diretor Geral da UNESCO, por ocasião do Dia Mundial da Filosofia – 15 de Novembro de 2007

«“O diálogo: entre quem e sobre o quê?” é a pergunta em torno da qual girará a nova edição do Dia Mundial da Filosofia, acolhido este ano generosamente pela Turquia.

Consolidar os diálogos (políticos, filosóficos, interculturais) e o entendimento mútuo em torno de memórias e valores compartilhados, ambições e projetos comuns, requer, com efeito, um entendimento atualizado das linhas de convergência e divergência, das divisões, dos silêncios, dos mal-entendidos e das situações inextricáveis sempre possíveis.

O principal objetivo desse dia é, portanto, identificar as possibilidades para um diálogo universal, aberto à diversidade dos interlocutores, das correntes e das tradições filosóficas, bem como estabelecer um inventário, observar o mundo e fazer uma re-leitura crítica de nossos conceitos e formas de pensar.

Ao dar a palavra à sociedade civil e aos filósofos, aos historiadores, aos educadores e aos pesquisadores, a UNESCO se propõe a suscitar um amplo debate, aberto à dinâmica das idéias.

Além de ser um fórum de encontro das culturas, o Dia Mundial da Filosofia é, acima de tudo, um exercício coletivo do pensamento livre, racional e informado sobre as grandes problemáticas do nosso tempo.

A UNESCO, por seu lado, tem a satisfação de publicar nesta ocasião um amplo estudo sobre o ensino da filosofia no mundo, entitulado La Philosophie, une école de la liberté – Enseignement de la philosophie et apprentissage du philosopher (A Filosofia, uma escola da liberdade – Ensino da filosofia e da aprendizagem de filosofar), que visa a incorporar a exigência filosófica ao projeto de sociedades do conhecimento.

Faço votos que o maior número possível de Estados Membros respondam presente a este convite e participem na celebração deste Dia, ampliando os debates a todos os atores da Sociedade e em particular aos mais jovens, com a esperança de reconstruir e renovar nossos distintos espaços intelectuais.»

Koichiro Matsuura

sábado, 22 de setembro de 2007

Biografia gigante de Deleuze e Guattari

Acaba de sair em Paris, Éditions La Découverte, a primeira Biografia Cruzada sobre os dois pensadores-farol de Maio 68. François Dosse elaborou um trabalho piramidal e de rara profundidade. Não esconde nenhuma realidade política e intelectual dos dois sátiros de alta voltagem do establishment parisiense, Muitas histórias e sobretudo uma fabulosa arqueologia do pensamento radical. Sabe-se como Deleuze se fascinou pelo agir de Sartre como filósofo, e também da paixão pela filosofia deEspinosa, Nietzsche, etc. E como veio a defender a Al Fath, ou o Gip de Foucault e Mauriac Filho... Guattari veio da mouvance comunista e ultrapassou a Psicanálise institucional por contágio radical com Laing, Cooper e os esquerdistas "normaliens" que acreditaram na nova leitura de Freud realizada por Lacan e seus colaboradores. Dosse "mergulha" e revela-nos em espiral a "maceração" dos conceitos. E como se sabe, um conceito é uma arma contra a laracha e a obscena anedota trabalhada pela ideologia dominante. Tudo leva a crer, convenhamos, que se trata de um dos grandes acontecimentos literários da rentrée francesa deste ano.


FAR

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Antologia dos textos de Imprensa de Claude Lefort gera apoteose

A colectânea do filósofo e pensador desvenda os bastidores da génese de um dos gurus da Ultra-Esquerda mundial. É um verdadeiro acontecimento e um manual para a acção implacável dos que não se querem deixar agrilhoar por falsas questões e aldrabões de feira...

Aí está o que mais importa: a agitação de ideias, a crítica dos embustes e falsificações que do leninismo ao mao-spontex, de Altusser aos solavancos da Perestroika, e seus produtos derivados e incorporados, contribuiram para o preocupante impasse político actual, à escala universal.Tudo isso está analisado no grande pavé de Lefort, a assinalar os seus 80 anos de vida, que se arrisca a tornar-se num dos grandes momentos políticos do ano. Como o romance autobiográfico de Thomas Pynchon o há-de ser. Ou o processo teórico da candidatura de Obama Barack o será certamente pela novidade e rigor.

Mais de mil páginas de textos avulsos de Lefort, o companheiro e émulo crítico de Castoriadis e Morin, Manent e Thibaud, para ler e matutar. "O poder provém da divisão social e nisso se enreda", frisa o demiurgo pensador de Maio 68 que, dez anos antes, tinha rompido com os colegas de "Socialisme ou Barbarie", porque a ruptura com os conceitos de direcção, de revolução iria implicar a crítica substancial do legado de Marx. Anos depois(1976), os fundadores de "S.B." iriam reencontrar-se num projecto teórico capital em torno da revista Libre, que veio a gerar a terceira série da Esprit e a Le Débat. Esse folhetim exaltante é agora recuperado pela recolha dos textos de circunstância, o que é óptimo.

Justamente, sobre a grande e maravilhosa experiência do projecto político e teórico tecido em torno da constituição de "Socialisme ou Barbarie", Lefort traça e revela episódios de grande valor. As ligações de Castoriadis, logo ao início em 1949, com dissidentes de um partido trotskista americano, sobretudo Rya Stone, que já pensavam na via sobre a crítica à burocracia soviética e a resistência operária ao capitalismo industrial ; a entrada na revista dos luxemburguistas, dos bordiguistas e dos conselhistas, onde avultavam Lyotard e Mothé, Véga e Soueyris, que se tornaram famosos aos mais tarde são momentos detalhados de várias entrevistas agora reunidas no volume.

"O relativismo é a versão doce, pacífica, do nihilismo; e o nihilismo contém a virtualidade do terror. Quando nos interrogamos sobre o relativismo em democracia, é preciso pensar que, sob a exibição da tolerância ds pontos de vista, do "cada um com o seu direito, cada um com a sua verdade", projecta-se a ameaça do nada e do nada sai o nazismo - uma ameaça de auto-afirmação absoluta", aponta Lefort para denunciar os novos desafios do racionalismo contemporâneo.

Claude Lefort- Le temps présent.Écrits 1945-2005. Editorial Belin. Paris. Maio 2007

FAR