segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Kant - O que é o iluminismo (3 e final)
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Kant - O que é o iluminismo (2)
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Kant - O que é o iluminismo (1)

Resposta à pergunta: “O Que é o Iluminismo?”
IMMANUEL KANT
lluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria, se a sua causa não residir na carência de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo, sem a guia de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento! Eis a palavra de ordem do Iluminismo.
A preguiça e a cobardia são as causas de os homens em tão grande parte, após a natureza os ter há muito libertado do controlo alheio (naturaliter maiorennes), continuarem, todavia, de bom grado menores durante toda a vida; e também de a outros se tornar tão fácil assumir-se como seus tutores. É tão cómodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem entendimento por mim, um director espiritual que em vez de mim tem consciência moral, um médico que por mim decide da dieta, etc., então não preciso de eu próprio me
esforçar. Não me é forçoso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros empreenderão por mim essa tarefa aborrecida. Porque a imensa maioria dos homens (inclusive todo o belo sexo) considera a passagem à maioridade difícil e também muito perigosa é que os tutores de bom grado tomaram a seu cargo a superintendência deles. Depois de terem, primeiro, embrutecido os seus animais domésticos e evitado cuidadosamente que estas criaturas pacíficas ousassem dar um passo para fora da carroça em que as encerraram, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça, se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo não é assim tão grande, pois acabariam por aprender muito bem a andar. Só que um tal exemplo intimida e, em geral, gera pavor perante todas as tentativas ulteriores.
É, pois, difícil a cada homem desprender-se da menoridade que para ele se tomou quase uma natureza. Até lhe ganhou amor e é por agora realmente incapaz de se servir do seu próprio entendimento, porque nunca se lhe permitiu fazer semelhante tentativa. Preceitos e fórmulas, instrumentos mecânicos do uso racional, ou antes, do mau uso dos seus dons naturais são os grilhões de uma menoridade perpétua. Mesmo quem deles se soltasse só daria um salto inseguro sobre o mais pequeno fosso, porque não está habituado ao movimento livre. São, pois, muito poucos apenas os que conseguiram mediante a transformação do seu espírito arrancar-se à menoridade e encetar então um andamento seguro(...).
sexta-feira, 16 de abril de 2010
quarta-feira, 17 de março de 2010
anaCrónicas 9
Quem teoriza no arame faz uma coisa que o teórico consistente não é capaz de fazer.Olhando-se não se reconhece na imagem sempre movente e aí talvez escape ao narcisismo, doença destes tempos de filhos únicos e protecções materno-paternais ansiosas.
A imprecisão do que se quer fixar é uma constante e o desejo de forma, outra. Quem, como se diz, tem os pés na terra, diante do bitoque de que fala o Gil, esquece o resto e converte-o em entretenimento. Começa polémica e risco o que começa e se foca em qualquer coisa discernível e termina culinário. Estes últimos, os dos pés na terra, são muito úteis como polícias. Os outros não têm finalidade. São mesmo inúteis. Talvez aí comece qualquer coisa.
FMR
quinta-feira, 4 de março de 2010
A Cirurgia do Prazer
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
A propósito das manhãs negadas
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Jorge Luís Borges: " O que proponho relaciona-se com o eventual devir perpétuo da linguagem "
A aproximação do solstício de Verão aporta-nos dias pletóricos da força da leitura e da vida, do amor e da solidão recuperada. Aproveitemos tal dádiva celestial para procurarmos sinalizar uma cartografia poética e crítica de um alcance incalculável como a de Jorge Luís Borges, poeta, escritor e crítico literário de renome universal .
Poeta preferido: Verlaine. " Creio ter dito que se tivesse que escolher um poeta, escolheria Verlain, se bem que por vezes hesite entre Verlaine e Virgílio. Alguém me disse que Virgílio não será senão um eco de Homero. Voltaire disse, a esse respeito: se Homero ajudou a fazer Virgílio, isso foi o que ele fez de melhor ".
O rebelde William Blake. " Blake acrescenta à salvação, digamos, ética, e ao avanço intelectual, uma terceira redenção- necessária a todos os homens, segundo ele- que seria o resgate pela estética. De facto, Blake era um discípulo de Swedenborg, mas rebelde porque ele diz mal dessa ligação. De todo o modo, sem Swedenborg ele nunca teria existido ".
Russell e Espinoza. " Bertrand Russell afirma que a filosofia de Espinosa não é invariavelmente credível mas, acrescenta, que de todos os filósofos, ele é o mais digno de ser amado e enaltecido. Permaneceu como uma personalidade, uma personalidade digna de ser amada e amada por todos."
Dickens e Dostoievski. " O romance russo teve uma grande influência à volta do Mundo. Li algures que Dostoievski era um leitor de Dickens; ora, segundo Forster, amigo e biógrafo do romancista inglês, houve um tempo em que Dickens farejava assassinatos por tudo quanto era sítio...".
Voltaire. " Voltaire imaginou que não era impossível supôr a existência de uma centena de sentidos; mas já com um sentido suplementar toda a nossa visão do Mundo se modificaria. Esta visão, a ciência já a alterou; o que para nós é um objecto constitui para ela um sistema de átomos, de neutrões e de eleições; nós próprios somos constituídos por esses sistemas atómicos e nucleares ".
Coleridge. " (…) a verdade afectiva, noutros termos., durante o tempo em que escrevo, devo acreditar nisso. Dessa forma estou em sintonia com Coleridge, para quem a fé poética e afectiva é a suspensão momentânea da incredulidade ".
Mallarmé " Creio que foi Mallarmé que disse que não existia nenhuma diferença entre o verso e a prosa; que, se sonha um pouco com o ritmo, se se sonha um pouco com o audível, então fazemos poemas, mesmo se se escreve em prosa . Existe sempre uma estrutura e uma forma ".
FAR
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Paul Veyne: Podemos viver sem mitos?
"A humanidade pode passar sem a existência de mitos, tais como os da consciência e do progresso? Não sei, mas não se imagina que o consiga. Assim como não se consegue vê-la sem religiosidade ou ainda sem curiosidade filosófica. Apesar de todos os Nietzsche e Foucault do mundo, a humanidade gosta de invocar a Verdade e acredita ser verdadeiro aquilo em que crê. "Mitos" é uma palavra demasiado carregada de sentidos múltiplos, falemos porventura mais de enganos; o calvinismo foi o engano da economia da empresa capitalista."
"Essa palavra engano apareceu com grande insistência sob a caneta de Foucault, e tentamo-nos para lhe dar um destino, afirmando que constitui a primeira facilidade das estetizações: não é uma necessidade (cria-a, antes do mais), e não visa qualquer finalidade; as que pretendem continuar são pretextos: a salvação, a tranquilidade da alma, o nirvana, etc. A sua energia procede da sua liberdade, de uma pulsão do eu, da misteriosa "caixa negra" íntima, mais do que qualquer doutrina persuasiva: esta serve tão-somente de engano, de racionalização e de terreno de exercício".
In « Foucault », de Paul Veyne, Albin Michel Editeurs, Paris, Abril, 2008
FAR
domingo, 30 de março de 2008
Toni Negri: “Um só combate político vale a pena ser travado: o do amor contra o egoísmo”
* “A história da filosofia é uma espécie de teologia, uma construção abstracta. Ninguém se liga a uma tradição. Vive-se, muda-se, é tudo”.
* “Espinoza é o primeiro filósofo a fornecer um quadro materialista à existência humana”.
* “Não sejamos hipócritas: a violência, mesmo ilegal, existe também nas instituições e no conjunto das relações sociais”.
* "Os conceitos de povo, de proletariado e de classes sociais estão caducos. Correspondiam a certas realidades históricas hoje desaparecidas. A ideia de Povo estava ligada ao Estado-Nação; a de Proletariado ao desenvolvimento industrial do séc. XIX".
* "Antigamente, a exploração capitalista incidia sobre a força bruta de trabalho dos operários e o sítio dessa exploração era a fábrica/atelier. Hoje, são as aptidões intelectuais e as necessidades afectivas que são exploradas. Não são mais as fábricas mas as cidades-metrópoles – nas quais vivem agora mais de metade da humanidade - que representam o tecido produtivo. Num certo sentido, a exploração tal qual a vivemos nas cidades-metrópoles de hoje, é pior que a precedente porque nunca existe repouso. Quando se trabalha com a inteligência ou os afectos, estamos ao serviço 24-horas-sobre-24".
* "Robinson Crusöe nunca existiu, nem existirá. Ninguém consegue viver isolado. As singularidades funcionam em rede. Partilham a mesma vida. Vivemos numa comunidade exposta e espontânea, que criamos sem cessar".
* "Contra o transcendentalismo dos Modernos, a importância do comum foi sublinhada por outros filósofos muito importantes para mim, que são Maquiavel, Marx e Espinosa. Em Maquiavel, o papel não só do povo como o dos pobres, é muito importante para a construção de uma República, não só justa como forte. Há uma certa continuidade entre Maquiavel e Espinosa nesse ponto. Espinosa mostrando que a multitude - classe, grupo livre - nunca se imobiliza, pois, vai-se sempre realizando".
FAR
terça-feira, 18 de março de 2008
Alain Badiou: Sabotemos o cálice das paixões tristes (1)
Assumidos estes tópicos éticos, Badiou avança, muita vezes evocando os seus tempos de aluno da ENS Rue d´Ulm, para as suas homenagens (com perspectiva crítica) aos mestres e colegas de uma época de ouro do pensamento francês, 1960/80: Georges Canguilhelm, Jean Hyppolite (o grande tradutor de Hegel, lido fervorosamente na Alemanha), Louis Althusser (prof e cúmplice na ENS: “A filosofia é a instância de apelação imanente dos fracassos da política”) e Jean-Paul Sartre (“A Esquerda Proletária(GP) não tinha senão esta palavra de ordem: Temos razão em nos revoltar. A “Crítica da Razão Dialéctica", constitui a razão dessa razão”…).
No que se refere aos seus colegas e, amiúde, contraditores, como Foucault, Deleuze, Lyotard, por exemplo, os textos de Badiou prolongam polémicas acerbas ou esbatem diferenças assimiladas. De grande nível, intensidade conceptual e filosófica. Sobre Lyotard e o seu irremediável cepticismo, Badiou escreve: “Como resistir sem o marxismo, isto é,sem sujeito histórico objectivo, e mesmo, como ele o afirma, sem finalidades determinadas?”. E aprofunda em páginas muito densas o seu pensamento: “A política não se estabelece com o poder, pertence à ordem do pensamento. Não visa a transformação, mas sim, a criação de possibilidades anteriormente informuláveis. Não se deduz a partir de situações, porque as deve determinar à partida".
“Até à mais extrema das consequências , diz Lyotard. Este princípio: agarrar a consequência, mesmo se for julgada extrema pela opinião corrente, é filosoficamente crucial. Isso é a meu ver, a lei essencial de uma verdade qualquer. Porque toda a verdade se tece de consequências extremas. Não existe verdade senão for extrema”, frisa.
Sobre Deleuze, num texto muito belo e profundo, sinaliza: “Com o esvaziamento de todo o pensamento da finitude (fim da metafísica, fim das ideologias, fim das narrativas, fim das revoluções…) Deleuze confronta a convicção : nada é interessante que não seja afirmativo. A crítica, os limites, as fraquezas, os fins, a modéstia, tudo isso não se equivale a uma só afirmação Verdadeira”. ( Continua)
FAR
domingo, 16 de março de 2008
Breaking News Breaking News
“Petit panthéon portatif”, é o título geral de um panfleto subversivo de luta contra a falsificação teórica, o abuso da especulação mediática e as deletérias e sinistras dominações políticas. Trata-se de uma recolha de textos de homenagem e crítica aos mestres e colegas desaparecidos, realizada superiormente por Alain Badiou. Ultrapassando o estigma da circunstância e da emoção pura, o guru da Ultra-Gauche francesa e mundial confronta e ilumina os traços fundamentais do pensamento de Deleuze, Foucault, Lyotard, Derrida e Françoise Proust, entre muitos outros. Trata-se de um conjunto absolutamente genial de hipóteses e de cartografia de conceitos operacionais e não estáticos. Dada a singularidade do acontecimento, alertamos para o valor incalculável deste projecto, desde já. Vamos analisar e detalhar a estratégia transformativa do trabalho, nos dias que se irão suceder. O livro foi posto, hoje, à venda em França: La Fabrique Éditions, Paris.
FAR
terça-feira, 11 de março de 2008
Allan David Bloom: A poesia é indispensável
“Na análise que propõe da inteligência homérica, a primeira etape de Sócrates consiste em determinar a natureza de um poema. Um poema, afirma-o, tal como uma pintura, possui um modo de existência bastante singular. Representa outros seres particulares que, por seu turno, não devem o seu ser senão à participação num ser singular, e subsistindo por si-próprios. A Poesia depende do mundo que nos envolve; ela não realiza os seus objectos, e a sua força é proporcional à profundidade com que os envolve”.
In “The Republic of Plato”, Basic Books, N.York
FAR
domingo, 30 de dezembro de 2007
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
"O diálogo: entre quem e sobre o quê?"
«“O diálogo: entre quem e sobre o quê?” é a pergunta em torno da qual girará a nova edição do Dia Mundial da Filosofia, acolhido este ano generosamente pela Turquia.
Consolidar os diálogos (políticos, filosóficos, interculturais) e o entendimento mútuo em torno de memórias e valores compartilhados, ambições e projetos comuns, requer, com efeito, um entendimento atualizado das linhas de convergência e divergência, das divisões, dos silêncios, dos mal-entendidos e das situações inextricáveis sempre possíveis.
O principal objetivo desse dia é, portanto, identificar as possibilidades para um diálogo universal, aberto à diversidade dos interlocutores, das correntes e das tradições filosóficas, bem como estabelecer um inventário, observar o mundo e fazer uma re-leitura crítica de nossos conceitos e formas de pensar.
Ao dar a palavra à sociedade civil e aos filósofos, aos historiadores, aos educadores e aos pesquisadores, a UNESCO se propõe a suscitar um amplo debate, aberto à dinâmica das idéias.
Além de ser um fórum de encontro das culturas, o Dia Mundial da Filosofia é, acima de tudo, um exercício coletivo do pensamento livre, racional e informado sobre as grandes problemáticas do nosso tempo.
A UNESCO, por seu lado, tem a satisfação de publicar nesta ocasião um amplo estudo sobre o ensino da filosofia no mundo, entitulado La Philosophie, une école de la liberté – Enseignement de la philosophie et apprentissage du philosopher (A Filosofia, uma escola da liberdade – Ensino da filosofia e da aprendizagem de filosofar), que visa a incorporar a exigência filosófica ao projeto de sociedades do conhecimento.
Faço votos que o maior número possível de Estados Membros respondam presente a este convite e participem na celebração deste Dia, ampliando os debates a todos os atores da Sociedade e em particular aos mais jovens, com a esperança de reconstruir e renovar nossos distintos espaços intelectuais.»
Koichiro Matsuura
sábado, 22 de setembro de 2007
Biografia gigante de Deleuze e Guattari
FAR
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Antologia dos textos de Imprensa de Claude Lefort gera apoteose
Aí está o que mais importa: a agitação de ideias, a crítica dos embustes e falsificações que do leninismo ao mao-spontex, de Altusser aos solavancos da Perestroika, e seus produtos derivados e incorporados, contribuiram para o preocupante impasse político actual, à escala universal.Tudo isso está analisado no grande pavé de Lefort, a assinalar os seus 80 anos de vida, que se arrisca a tornar-se num dos grandes momentos políticos do ano. Como o romance autobiográfico de Thomas Pynchon o há-de ser. Ou o processo teórico da candidatura de Obama Barack o será certamente pela novidade e rigor.
Mais de mil páginas de textos avulsos de Lefort, o companheiro e émulo crítico de Castoriadis e Morin, Manent e Thibaud, para ler e matutar. "O poder provém da divisão social e nisso se enreda", frisa o demiurgo pensador de Maio 68 que, dez anos antes, tinha rompido com os colegas de "Socialisme ou Barbarie", porque a ruptura com os conceitos de direcção, de revolução iria implicar a crítica substancial do legado de Marx. Anos depois(1976), os fundadores de "S.B." iriam reencontrar-se num projecto teórico capital em torno da revista Libre, que veio a gerar a terceira série da Esprit e a Le Débat. Esse folhetim exaltante é agora recuperado pela recolha dos textos de circunstância, o que é óptimo.
Justamente, sobre a grande e maravilhosa experiência do projecto político e teórico tecido em torno da constituição de "Socialisme ou Barbarie", Lefort traça e revela episódios de grande valor. As ligações de Castoriadis, logo ao início em 1949, com dissidentes de um partido trotskista americano, sobretudo Rya Stone, que já pensavam na via sobre a crítica à burocracia soviética e a resistência operária ao capitalismo industrial ; a entrada na revista dos luxemburguistas, dos bordiguistas e dos conselhistas, onde avultavam Lyotard e Mothé, Véga e Soueyris, que se tornaram famosos aos mais tarde são momentos detalhados de várias entrevistas agora reunidas no volume.
"O relativismo é a versão doce, pacífica, do nihilismo; e o nihilismo contém a virtualidade do terror. Quando nos interrogamos sobre o relativismo em democracia, é preciso pensar que, sob a exibição da tolerância ds pontos de vista, do "cada um com o seu direito, cada um com a sua verdade", projecta-se a ameaça do nada e do nada sai o nazismo - uma ameaça de auto-afirmação absoluta", aponta Lefort para denunciar os novos desafios do racionalismo contemporâneo.
Claude Lefort- Le temps présent.Écrits 1945-2005. Editorial Belin. Paris. Maio 2007
FAR


