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sábado, 9 de fevereiro de 2008

Terra - Hiasse, ei Amigo

Hiasse/2 Sumbe (06)
Foto:G.ludovice

Curiosamente, um hiasse que se destine a mais longa viagem, extra cidade portanto, tem uma particular hora de partir.
Liga-se à estrada quando estiver sem vazios dentro de si, qual barriga depois do que a faça ser algo menos desatendida.
Quando há muita concorrência de azuis e brancos e as pessoas vão chegando como escassa chuva miúda, os moços dos carros litigam entre eles pelos seus passageiros, encaminham-nos num educar de passos para uma porta e não outra e se for caso ajudam nos volumes para assegurar a seguida dos donos desses custosos pesos. Algum alguém mais leve, ainda pode ir enganado no colo de um moço, como se bagagem esperneasse e ganhasse palavreados com unhas.
Por vezes, tudo são meios cheios hiasses e nenhum se decide a mexer destinos.
Os transeuntes na demora de se tornarem viajantes, aborrecem-se em faces e de um momento para o outro, arrancam-se aos interiores dos lategados animais pasmados sob as palavras aflitas dos candongueiros e num repente enchem o meio hiasse do lado, ventre inchado que empoeira os demais de invejas e finalmente o tempo, se torna na hora certa da partida e todos aqueles juntos, mostram fotografáveis contentamentos por terem dobrado o horário, às suas pacientes vontades.
Vamos chegar, então! É o pensamento começado no volante e acabado na porta dos fundos.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Terra - Hiasse, ei Amigo

Hiasse/1 Luanda 2006
Foto:G.Ludovice

O hiasse é um inteligente modo bem africano, e em quase todo o continente se pode encontrar um naipe imenso deles com outras cores e outros nomes, mas com o mesmo objectivo, transportar as pessoas em modo colectivo e a baixo custo.
Em Angola, são de capota branca e o resto da carroceria em azul, e por cada viagem em 2006, pagava-se 50 Kwanzas. Nunca gostei tanto de andar de táxi, como andar num hiasse, pela possibilidade de aproximação a um povo, na sua realidade de vida e pelo que de profundo se aprende, com esse aconchego sem nome.
Param por momentos, em qualquer sítio onde haja alguém que o queira apanhar na rota que têm traçada.
Basta erguer o braço e fazer um sinal, "Ei, Amigo" e o choffer desacelera para entrarmos. Para além dele viaja igualmente no hiasse um moço, que cobra as viagens durante o percurso, destroca kwanzas, abre a porta e fecha, chama por possíveis clientes com pregões especiais, na concorrência desmedida e que também tem de ir lá dentro no espaçito magro que sobrar. Pode-se ouvir num hiasse, kizomba, semba, merengue, e as novidades musicais. Pouco se conversa num hiasse, cada um vai compenetrado no seu estreitar de carnes e nas paragens, a ver se ainda vai entrar mais alguém não sei para onde -"Ei amigo, não dá mais, vamos só, estamos apertados, quer o quê afinal?"
Por essa razão, não são para ser tomados por toda a gente, por pessoas que exijam ter um lugar só para si e que não admitam se espremer entre outros tantos que sorrindo se vão ajeitando de ombros inclinados, pernas como se fossem só uma, sacos, caixas, mamãs envoltas em panos coloridos com as suas crianças de colo, jovens que se transladam, militares desarmados, mais velhos com os seus paus de apoio às curvaturas da idade, às vezes galinhas atadas e sempre aquela estranha alegria no ar à beira dos olhos, que desfaz um qualquer coração ossudo e traz risos ternurentos ao dia.