sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Hoje à noite
terça-feira, 27 de abril de 2010
A 1 de Maio no Maxime (4)

GRUPO DE TEATRO ENXADA MYSTIC
Grupo de Teatro criado no seio da XII Internacional Strikista-Positivista.
A peça “A Madrugada Rubra – O Material Tem Sempre Razão”, escrita por Karl Marxime e adaptada pelo operário-lutador Barreirense, Alípio Silva Mendes Silva, é apresentada no Cabaret Maxime no dia 1 de Maio. Faz sentido, dado que visa, precisamente, a luta de classes, a luta contra o capital, a luta contra os porcos-burgueses, enfim, a luta em geral - citando a tradução de Mendes Silva: “A fome imperialista não se mata com uma colher!”
FAT PACK
Os Fat Pack não são de ano algum.
Duo romântico constituído por Frank Sinistro (A voz) e Maestro Nick Internationale (O piano), tocam canções intemporais, contemporâneas e serôdias, temas estultos. São classe, estilo, inovação e o contraponto perfeito às parvoíces de esquerda que se irão ouvir na primeira parte do show – Fat Pack é música para gente gira, endinheirada e que sabe estar.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
A 1 de Maio, no Maxime (3)
Sobre o tradutor:
Alípio Silva Mendes Silva (Barreiro, 13 de Novembro de 1887- 31 de Dezembro de 1946), operário Barreirense, dedicou a sua vida à luta por uma terra sem donos.
Abalado pelo início da ditadura em Portugal, lançou-se na tarefa hercúlea de traduzir e adaptar o texto “Morgenrot- Das Material ist immer Recht” de Karl Marxime, tendo passado os seus últimos vinte anos de vida a trabalhar neste projecto, durante o dia, dedicando a noite à luta.
A sua caligrafia humilde e os seus parcos, senão nulos, conhecimentos de Alemão, transportam o texto de Marxime para uma nova dimensão da palavra. A linguística strikista-positivista encontra nesta obra o seu expoente máximo.
Mendes Silva morreu, às mãos da PIDE, a 31 de Dezembro de 1946, durante a tortura de passagem-de-ano. As suas últimas palavras foram: “Mataram-me com desdém. Já é meia-noite?”.
A 1 de Maio, no Maxime (2)
Sobre o autor:
Nos apontamentos de Alípio Silva Mendes Silva, Karl Marxime é descrito como sendo o pseudónimo de Heinrich Gähnenriesige, marinheiro e operário fabril, nascido em Ratzburgo, em 1847.
A única nota com laivos de biografia encontrada nas anotações de Mendes Silva ilustra o autor como sendo “um sábio trabalhador, humilde, com uma inteligência acima da média.” Mendes Silva refere também que “…o fulano que me vendeu o livro disse-me que o autor é muito conhecido na União Soviética e que o próprio Lenine tem um exemplar que lê, todos os dias, antes de se deitar na tábua com pregos a que chama cama. ”
Até aos dias de hoje, são estas as únicas informações disponíveis sobre Karl Marxime.
A 1 de Maio, no Maxime (1)
GRUPO DE TEATRO ENXADA MYSTIC
apresenta:
MARXIME-LENINIME
A MADRUGADA RUBRA – O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO
AUTORIA: KARL MARXIME
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: ALÍPIO SILVA MENDES SILVA
Com:
Pai – Ricardo Guerreiro
Mãe – Bruno Rosa
Filho – André Carapinha
Outro Filho – Carlos Alves
Narrador – Carlos Ramos
Narrador 2 – Pedro Enguiça
Burguês – Nélson Oliveira
Operário 1 – António Pinto
Operário 2 – Miguel Afonso
sábado, 24 de abril de 2010
Karl Valentin nas Caldas
29 e 30 de Abril e 01 de Maio | 21h30
6 e 7 de Maio | 19h30
8 de Maio | 12h00
Stand Florescar
Rua Heróis da Grande Guerra
Caldas da Rainha
TEATRO DA RAINHA
anaCrónicas 17
É uma relação de todo improvável, mas a contemporaneidade tem destas coisas: quando um autor “menor” é rebuscado do baú das preciosidades, ou das antiguidades vivificáveis, pode de facto ressurgir em qualquer parte do globo, mesmo numa pequena cidade de um Oeste que não tem a ínfima parte da fama do outro e que, culturalmente, é uma semi-pasmaceira auto complacente.
Karl Valentin é nomeado como clown metafísico por Brecht. É na opinião de alguns teóricos a referência física do teatro épico, essa invenção de B.B.
Brecht disse que Valentin não conta blagues, ele é a própria blague. Num país em que o humor se identifica com as expressões do requentado mais óbvio, Valentin é uma intrusão, um cómico burlesco inesperado, um autor que não conta piadas garantidas mas que espalha um tipo de humor nos alicerces dos rituais e estruturas de conservação como um antídoto rebelde para o conformismo.
A Ida ao teatro, A Primeira Comunhão, O Projector avariado, o Teatro obrigatório, são pequenas peças, sketches – e a forma breve tem essa eficácia do resultado imediato e da mobilidade extrema, na montagem e na fama partilhável, história fácil de contar, como fogo em palha – em que o mundo às direitas é metido às avessas pelos caminhos da lógica contestada e nessas avessas se percebe, mostrada, dada e baralhada de novo, a convencionalidade bacoca do mundo às direitas. Assim é escanhoada aos limites do masoquismo evidente a relação conjugal do casal de a Ida ao teatro e a sua visão pequeno burguesa, os seus limites de entendimento das liberdades e da liberdade do outro e a sua sujeição absoluta à sedução mundana meio parvónia, assim se vê na primeira comunhão o modo como a educação progride por etapas simbólicas ritualizadas e sem conteúdo real e a infantilização absurda de quem um dia virá a ser adulto, mas que ali, no gag revelador, se encerra numa adolescência prolongada infantilmente até à senilidade.
E o génio de Valentin é duplo: é um especialista da graça verbal, da piada literal levada ao absurdo, de uma profundidade lida na tacanhez do desejo das personagens retratadas, na ambivalente superfície das palavras, mas é também o criador da sua figura e da parceira, Liesl Karlstadt, ambos dedicados ao mundo do cómico, opção de vida e porventura de coincidência entre vocação humana para se ser livre e condição do próprio ser. E essas figuras, Valentin e Liesl, como Chaplin e Keaton, são personagens físicos: o corpo é desde logo uma marca do que são, o corpo é sujeito, ele liberta-se de uma total sujeição ao figurino e também de uma dependência da palavra como se fosse a sua ilustração. Não, o corpo é sujeito e funde-se com a palavra. Este tipo de clown e o seu jogo é já um resultado da modernidade e explora a confrontação entre uma humanidade ainda artesanal, ainda dependente da operacionalidade da mão e das virtudes do polegar oponível e as convenções e maquinismos da sociedade burguesa industrial em ascensão. Estamos na Europa dos anos vinte.
Quando Brecht diz que Valentin é a própria blague é porque dele se solta essa liberdade de quem não vive para contar graças a metro, cada piada cada dólar, mas de quem vive livremente a inadaptação, naquele modo fora de tom que Pirandello descreve no Humorismo, um modo que é ingenuamente acusador das verdades oficiais, do mundo das falsas aparências em que os analfabetos fazem de doutores e em que os poderes são reverenciados e o oportunismo uma regra. Valentin tem essa capacidade que a infância ainda não aculturada e regrada tem, aquela que diz “o rei vai nu” e que fustiga o preconceito, como o nosso Cervantes tão bem estigmatiza no seu Retábulo das maravilhas, um sketch do seu Século de ouro em que faz uma análise “científica” do preconceito como um verdadeiro mecanismo de ilusão colectiva convencionado entre poderes e aparências, o que nunca foi tão actual como hoje, em que domina a chamada sociedade do espectáculo.
Realizar este espectáculo no âmbito de uma parceria com a câmara e num projecto apoiado por programas da Mais Centro (CCRC) é mais que um dever, é um prazer. No coração das Caldas esta Ida ao teatro obrigatório é uma lança no coração do sistema urbano, uma lança para ferir imobilidades rasteiras e conformismos, assim como falsas inovações e pseudo vanguardismos analfabetos.
E agora senhores e senhoras, no Cabaret da Rainha, os actores: a Isabel Lopes, o Victor Santos e o Carlos Borges. Podem crer, é um privilégio. A partir de 29 em cena.
FMR
quarta-feira, 21 de abril de 2010
anaCrónicas 16
Molière criou duas figuras que o nosso modo de vida social confirmou como personagens reconhecíveis e sempre em vias de não extinção, isto é, existentes, reais, sempre de boa proa: Tartufo e Alceste, o Misantropo. Se o primeiro é fácil de reencontrar, sob todas as vestes do oportunismo, nas figuras da nossa vida pública, o segundo é mais difícil de entender num tempo, agora, que impõe a visibilidade como prova de existência. Nem me refiro à dimensão dessa prova como expressão mediatizada que a concretize, refiro-me sim a uma dimensão do narcisismo como modo específico da socialização, o que para qualquer Alceste será estranho, mais propenso a uma arrogância associal do que a uma publicitação da sua extrema introversão, exibicionista seja. Não há forma de vaidade mais evidente que o espectáculo da modéstia. Não será o caso de Alceste, a não ser numa pequena parte. Quanto ao Tartufo, será hoje um comportamento aplaudido como uma forma superior do Chico-espertismo, essa criação nacional prima do fado.
Na nossa galeria de tipos não falta a diversidade: do Jardim da ilha, palavra tonitruante e bufão autoritário, inteligência que baste para manter o atraso no progresso devido, a ignorância onde estava e o turismo em alta, com ou sem tsunami, o engenheiro mais esperto da serra, capaz de fazer de pocilgas vivendas ou vice-versa, muito amigo do rei ilhéu, o presidente muito austero de verbo e de maxilar emproado, o Pacheco do círculo quadrado, já ao serviço sistémico-circense ainda andava com o colarinho à Mao, o Marcelo filho do pai dele, sempre em alta, etc., um conjunto de espécimes que só o cómico rotineiro de serviço há décadas supera em capacidade de sobrevivência e poder – o sistema tem estes pilares como estrutura, são os tais pilares da comunidade.
Não se é cómico de ter piada toda a vida, aliás, pode ser-se cómico uma vida inteira. Como profissão. Já ter graça é outra coisa. A anedota é uma vocação nacional e é o reverso da incapacidade da tragédia. Fizemos o Frei Luís e pouco mais, dizem que a Castro. Mesmo a tragédia romântica tem pouco fôlego e nada deve à matriz grega, pouca dada ao que o melodrama exacerba, sentimentos prolongando-se em marés lacrimejantes. A tragédia é outra cosia, é o inelutável após o crime acidental, ou a morte irremediável, ou mesmo o desafio suicidário das hierarquias homicidas, o impossível em debate. Tudo em verbo sublime e sincero, ritmo apoiado nas cadências de inspiração ritual, vindas do tempo e fundo da irracionalidade e da festa.
O grande cómico da República é um daqueles actores que joga no requentado, que não faz um gesto espontâneo, para quem os minutos se contam como dólares. É o que se chama um canastrão, um actor vulgar, um apóstolo da falta de rigor, da laracha e da deixa rasca. Esses, desse tipo, em Portugal, fazem carreira e são incensados. Os espectadores são pouco exigentes e não entendem sequer que, de facto, a verdade, a concentração, o rigor dos textos, a articulação, a dicção, a gestualidade, etc., são o que é constitutivo da cifra estilística, de um contributo verdadeiro pela liberdade, dando o corpo ao manifesto à letra aqui. O que nunca se reveste de balda, de desenrasca e de improvisos de terceira categoria. Mas para quê falar de pérolas?
Quando um proxeneta é homenageado como um campeão da moral e mais, como um libertador dos sentidos, só poderemos temer o juízo da massa, esse poder acéfalo e criminoso. Por omissão ou por pressão. De resto o poder sempre conviveu bem com a crítica fulanizada e sempre se deu mal com a crítica coerente e articulada. O que fez, quando esse modo de vida era vivo, meias tintas com todo o tipo de tráficos, mais carne menos carne, o sucesso da tal revista que, na realidade, nunca foi portuguesa a não ser nas coxas e pernas. Na realidade, essa crítica, só servia de aval à publicidade da própria liberdade de expressão parangonada pela propaganda. A liberdade, essa, é outra coisa, e nada tem com o poder dizer-se o que se quiser, mas tudo tem com a capacidade, estruturada, formada, crítica, culta, de saber dizer porque se sabe ler, descodificar, conhecer as coisas que estão atrás das coisas, como dizia o velho Brecht falando das causas profundas e das evidências enganadoras. E obviamente com a capacidade de indignação e a coragem de dizer. O que também escasseia. E cada vez mais, nesta falta de liberdade crescente, não só pela inexistência do espaço público como ideias em confronto vivo, como pela vocação policial dos de cima e seus lacaios.
De resto as liberdades imaginativas da sensualidade e o erotismo não passam por aqui, muito menos com a caução das diversas formas de impotência inventiva em serviço, as mimético-naturalistas e as que têm pura e simplesmente falta dela, imaginação, o que também sucede.
FMR
sábado, 3 de abril de 2010
Dodô - no rasto do pássaro do sono

Um rapaz embarca numa aventura, em busca do pássaro do sono, o Dodô. Dizem-lhe que desapareceu da face da terra, recusando-se a acreditar, e não resistindo ao apelo do desafio de encontrar nem que seja o último, voa para a ilha de Reunião de onde dizem ser nativo o Dodô.Em terra tudo se chama Dodô, finalmente descobre que o Dodô se extinguiu pelas mãos dos Homens. Mas ele não desiste, continua a acreditar firmemente na sobrevivência do Dodô. Essa procura, que é também a aventura do conhecer-se, poderá ser um sonho sonhado ou um sonho desejado. Mas também pode ser, e será certamente, a realidade, nem que seja aquela que faz parte da imaginação de uma criança.
Estreia a 8 de Abril de 2010 | 21h30
Antiga Lavandaria do Centro Hospitalar Oeste Norte. Caldas da Rainha
Em cena nos dias 9 e 10 de Abril | 21h30. De 13 a 30 de Abril (2ª a 6ª às 11h00 e às 15h00 para o público escolar)
Maiores de 6 anos. Duração [1:20m]
Teatro da Rainha
sábado, 13 de março de 2010
O Soldado Vigilante

Start Time: Thursday, March 25, 2010 at 9:30pm
End Time: Friday, March 26, 2010 at 12:30am
Location: Beco do Forno
O espectáculo continua em cena no dia 26 de Março, às 21h30 e apresentar-se-á no dia 27 de Março, Dia Mundial do Teatro, às 12h00 e 21h30, e conta com a colaboração do Restaurante Pachá, que promoverá terá no dia 27 de Março às 12h00 uma prova de vinhos.
Cervantes

Uma dell’artização do entremez
Eu explico-me. A Commedia dell’arte é uma técnica teatral – foi um modo de vida e uma economia nos séculos XVI E XVII, em Itália e pela Europa fora – que deve tudo à teatralidade, o teatro sem o texto como disse Barthes, e menos portanto ao texto em cena. Teatro de imagens e da corporalidade, assenta numa trama simples – o “canovachio” – e nas capacidades gestuais, incluindo vocais, dos actores e actrizes (teatro de actores), além de ser um teatro de arquétipos e personagens em embrião, sempre fixos, Arlequim, Pantaleão, o Doutor, o Capitão, Columbina e o sempre elencado par de amorosos, sempre contrariados e sempre vencedores.
O soldado vigilante é um entremez de Cervantes e pertence àquela literatura que hoje se chama de marginal. Tal como surgiu aliás a Commedia dell’arte, teatro de ar livre, amigo de estrebarias e estalagens, ambientes onde a virtude não fazia o quatro e a noite era fértil em gozos e desatinos. São portanto da mesma família, o entremez e a dell’arte. Nada anormal em casá-los numa mesma escrita e estética. São também coetâneos como se sabe. O entremez, arremedilho, burlaria, muitos outros nomes, nasceu bastardo, fora dos territórios fechados da respeitabilidade literária e entalado entre género maior, chamado comédia, na altura tão importante que designava o teatro. Com a literatura de latrina, os versos de pé quebrado e o surrealismo primitivo, tem horror às academias e vive livre e vadio a sua aversão à domesticidade burguesa, pequena, média e grande, à reverência cultural, não se intimidando com os clássicos, frequentando-os e tendo horror ao mesmismo retórico que exorciza através da palavra doutoral farsificada.
O que mancha o entremez não fará dele literatura de salão, seja qual for o salão, aristocrata burro ou provinciano, com ou sem sanefas. Não há que ter-lhe respeito mais do que pede, há que irmanarmo-nos do espírito que respira e entremear também, que é petiscar, sabe-se. O entremez não é nunca aliás prato principal, é intervalo, e porventura poderá ser entrada ou saída. Aqui, neste Soldado, quisemo-lo prato principal, parte inteira. Coitado, promovido a peça em actos, mais desacatos.
Resolvemos então pegar no entremez pelo que diz fundo – a farsa tem um reverso. Um soldado de amores perdido dentro de si, combatendo um sacristão lúbrico, os dois atrás de uma menina que está em idade casadoira e a quem, um sapateiro calça o peito do pé com denodo oficinal e calçadeira. Com a dona da casa presente, uma estranha criatura híbrida – na moda de hoje portanto – um casório parece desenhar-se. Mas isso é no espectáculo, se quiserem. Se não quiserem tudo bem. Este, como todo o entremez, é rápido e meio amanhado, desimportante, portanto vai bem com um bom copo na mão.
E o que fizemos? Pensando que na farsa há tragédia quisemos desenvolver a teatralidade implícita no entremez, escrevendo-o através de um conjunto de referências a desgraçados teatros irmãos e ao mesmo tempo revelar o avesso do próprio soldado, a humanidade que só se adivinha na figura por imaginação contraposta do espectador, ele que é um primo remoto dos sonâmbulos bipolares com que nos cruzamos hoje.
Reteatralizámo-lo portanto com outros teatros populares entremeados, mantendo como referência assumida estruturante a Commedia dell’arte, particularmente assumida na figura do soldado protagonista e fio condutor. Nada que muitos criadores teatrais não tenham sonhado no seu tempo, Copeau e Meyerhold, por exemplo.
E que teatros? As marionetas, a “boçalidade” revisteira, a tradição declamatória, os palhaços e as suas “clowneries”, o fado – nada mais português e teatral, com toda a panóplia de convenções, poses rituais e mesmo fundo caracterial – e finalmente, esse teatro maior que é o prazer lúdico, o da imitação imediata, esse teatro espontâneo das crianças. Temos assim um objecto multicultural a que não falta sequer um “preto”. Multicultural abrangente portanto, de uma universalidade quase espontânea, pura antropologia lúdica – que obviamente já lá estava, quem mais universal que Cervantes, vida e obra, mundo e invenção?
E esta opção levou-nos a uma reconfiguração dos tipos, cirurgia cénico-dramática total, segundo uma ambiguidade muito contemporânea, aquela que nos fragmenta, multiplica e híbrida, como tipos e aparências.
Assim o soldado é poeta soldado e soldado poeta, frustrado militante e jogando a palavra como arma e a espada como extensão gestual da palavra amorosa, repisada obcecadamente a cada gesto, numa contradição insolúvel e autêntica.
E o Sacristão? Talvez lembre o frade das Caldas, mas não é de louça e é mesmo inteiro, como diz, e tem uns arranques que faz pensar nos zanis da dell’arte primitiva, espécie de diabos repentinos na gestualidade imprevista e animal.
Surge também um “preto” mascarado que não chegamos a saber de onde vem mas que vende pau de Cabinda – virá de Cabinda? -, entre rendas portuguesas, num bazar portátil inesquecível.
E aparece um sapateiro, homem de ofício como os antigos e que fala de calçar a menina de um modo que só pode levantar o moral dos espectadores. Revela-se também, além de criatura de contas certas, poeta e amoroso, o que para sapateiro dá mais nas mãos mesmo que rime com as solas. Que lhe terá sucedido?
Mas mais estranho, neste painel humano um pouco zoológico, é a Ama de Cristina, a menina casadoira, que não chegamos a perceber como convive com o seu hermafroditismo conatural. A auto-suficiência finalmente? É portanto um teatro de aberrações que vos propomos.
Mas, e digo mas, reticências, não falta ao entremez encenado a cereja no topo da torta mal parida, como desagradava aos antigos e aos fanáticos da proporção e simetrias direitas: Cristina, a menina casadoira, é a mãe de todos os quiproquós. Por ela todos se batem. Será que algum a vê? E ela, ela mesma, o que deseja mais que a liberdade de libertar o corpo?
Felizmente, para bem das nossas angústias e a favor da moral e da gente séria que ainda resta neste mundo, o final feliz repõe tudo onde deve estar. Cristina casará…
Fernando Mora Ramos
terça-feira, 2 de março de 2010
“Se for caso…”

Foto Sol de Carvalho
Prometi que mandava um texto para a segunda série do 2+2, e aqui vai. Não era para ser isto, mas o que tem que ser pode muito. Esta manhã, mal acordei, recebi um sms de Maputo. Era o José Manuel: “Morreu Leopoldo Fernandes, madrugada de hoje”. Parece que agora não faço outra coisa senão escrever obituários. De há uns tempos para cá, desataram todos a morrer. Lembro-me do meu pai, aos setenta e tal anos, desterrado num apartamento em Vila Nova de Gaia, com vista para o pátio: “O mais triste na velhice é que os amigos estão todos mortos”. Cito de memória, e a memória já me vai traindo. Já não me lembro como conheci o Leopoldo. Sei que foi em 1985, porque ele figura no programa de uma peça que encenei com o Tchova Xita Duma pelos dez anos da Independência. Fui desencantar o programa e lá está ele na foto de grupo, franzino e sorridente, ao lado da Joaninha Zambeze, mais o Bartolomeu, a Ana Magaia, eu sei lá… Já na altura era um sobrevivente. Em 1977, com 24 anos, tinha ido parar ao campo de reeducação de Sakuzo, acusado de ser surumático. Mas não o reeducaram. Ao fim de três meses revistaram-lhe a enxerga e encontraram-lhe passa. Aplicaram-lhe cinquenta chambocadas, mas nem assim o reeducaram. Acabou por fugir e andou dias a corta-mato, às escondidas dos leopardos. E dos frelos, que eram mais perigosos. Felizmente há gajos assim, não há nada que os reeduque. Continuou a gostar de suruma, e de cerveja, e de mulheres. Continuou a parar pela esplanada do Goa, com a malta da pesada. Continuou amigo do Che, da Dorinha e da Gina China, que morreu de Sida na berma da Julius Nyerere. E continuou a cantar. Cantava bem, até ganhou um concurso no Rádio Clube, com o nome artístico de Tony Fernandes. Dei-lhe um fado para interpretar na peça, com letra escrita pelo Patraquim. Era um actor a sério. Tinha estudado teatro em Lisboa, com o Gutkin, mas a escola não lhe domou a exuberância. Manteve-se um actor à africana, como eu gosto, tão liberto do texto como um jazzman da partitura. Nunca o convenci a empinar um papel; nunca o vi gaguejar num improviso. Encontrei-me com ele pela última vez faz agora um ano, na sede da editora Ndjira, em Maputo. Eu tinha ido entregar o manuscrito de um livro, ele trabalhava lá como revisor. Tinha a barba grisalha, filhos ainda pequenos. Disse-me que gostava de voltar ao palco, e eu deixei no ar uma vaga promessa. Despedimo-nos, combinando um encontro para dias depois. Para matar saudades, para beber uns copos, “se for caso”, como ele dizia. Mas não. Não voltaremos a trabalhar juntos. Não voltarei a exasperar-me por ele me chegar grosso a um ensaio. Na semana passada queixou-se que não se sentia bem. Ontem pediu para o levarem ao hospital. Em Maputo era Verão, máxima 33, mínima 18, mas não foi sentar-se no muro de casa a apanhar fresco, diante do charco perene na esquina da Sekou Touré, onde antes era o lar dos Velhos Colonos e agora é outra coisa qualquer. Agora é sempre outra coisa qualquer. Ontem pediu para o levarem ao hospital, e foi lá que se apagou, de madrugada, entre a imundície e o cheiro a mijo. Sozinho, como morremos todos.
José Pinto de Sá
domingo, 30 de novembro de 2008
“Terra de Fuga” no ESTÚDIO DO TEATRO DA TRINDADE
Nod e aqui uma estância de férias nao longe da fronteira entre Israel e a Cisjordânia. E é lá que dois criminosos - Baltasar e Serafim - se encontram, um deles acompanhado pela namorada - Sara -, no despontar de uma possivel década de 50. Os três estrangeiros, chegam por acaso aquele lugar, vindos à deriva mas com um objectivo específico: entre o calor do deserto, o Mar Morto e os tiros que árabes e judeus trocam "lá fora", esperam de um Padrinho a ordem de execução para um crime. Quem é a vítima? E o Padrinho existe?
Ficha Técnica
Texto e Encenação: Eduardo Condorcet
Interpretação: Alexandra Sargento, Fernando Rebelo, Karas
Iluminação: Gabriel Orlando
Fotografia de Cena: António Coelho
Produção: Ninho de Víboras
Espectáculo subsidiado pela Câmara Municipal de Almada (2008).Apoio: INATEL/ Teatro da Trindade
De 26 de Novembro a 21 de Dezembro de 2008 - ESTÚDIO DO TEATRO DA TRINDADE - Lisboa
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
A Dança da Serpente
A última criação de Bruno Schiappa, de novo com textos do próprio, abre a temporada de 2008/9 da Sala Estúdio do Teatro da Trindade. Um espectáculo fortemente interpelativo, como é habitual em Bruno Schiappa, cujo último trabalho, "(I)mortal", mereceu a distinção dos prémios Guia dos Teatro para o melhor espectáculo a solo 2007. Bruno Schiappa despede-se, assim, dos monólogos de criação pessoal.SALA ESTÚDIO: 18 Setembro a 11 Outubro / / 4ª a Sábado: 22h00
Preço: 8€; Desconto de 30%: Sócios do INATEL, Grupos + 10 pax, Jovens c/ – 25 anos, Pin Cultura, Profissionais do Espectáculo e Seniores c/+ de 65 anos
Bilheteira: Tel.: 21 342 00 00
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
A Castro nos Jerónimos
sábado, 19 de julho de 2008
Extremistas ao palco
quarta-feira, 9 de julho de 2008
quarta-feira, 25 de junho de 2008
A Castro nos Jerónimos, amanhã às 21h e 30m
segunda-feira, 19 de maio de 2008
"Por que é que os índios não falam todos espanhol?"


Na Lima inventada por Mérimée segundo os traços expressionistas do romantismo, um Vice Rei colonial sofre de amor e gota. Com o reino em caos crescente sob o impacto da revolta índia lá para os confins da sua geografia, e em dia de cerimónia religiosa dirigida pelo bispo local, sua alteza está enciumada por causa da actriz Perichole, sua amante, escandalosa de comportamentos num meio dominado pelas beatas da pequena corte local. Conseguirá Perichole que o Vice-Rei lhe ceda o mais belo Coche de Lima, de fazer morrer de inveja as famílias tradicionais poderosas?
E a revolta índia, por onde andará?
Estará a resposta no índio que Tabori constrói, mais de um século depois?
Teatro da Rainha




