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quinta-feira, 21 de abril de 2011

As quatro burlas

Em Portugal, um dos países do "mundo ocidental" em que os ricos menos contribuem para as despesas do Estado, um banco com nula vocação para depósitos ou empréstimos, e toda para avultados investimentos de alto risco efectuados por detentores de grandes fortunas à procura da multiplicação fácil do seu capital, chamado BPN, entrou em pré-falência devido ao crash de um sistema financeiro global assente num "esquema de Ponzi" (primeira burla). Alertado pelas sumidades do sistema bancário nacional, que nem por isso estavam menos envolvidas no esquema de Ponzi, para o risco de "contágio do sistema bancário", o governo investiu milhões e milhões de euros do erário público para salvar o referido banco, e assim também os tais investidores, que no final do processo não tiveram risco nenhum no investimento, já que os seus prejuízos foram assegurados pelo Estado, isto é, pelo conjunto dos cidadãos, "todos em geral e ninguém em particular" (segunda burla). Isto provoca a entrada do país em recessão técnica; aproveitando-se deste facto, agências de notação financeira directamente ligadas a grandes grupos de investimento vão aumentando o risco da dívida do país, o que origina que os empréstimos dos tais grandes grupos de investimento, a que estão directamente ligadas, sejam efectuados a juros cada vez mais altos, ou seja, com cada vez maior lucro (terceira burla). No final deste processo, incapaz de cumprir com os seus compromissos, Portugal "pede ajuda" ao FMI, "ajuda" essa que consiste em novos empréstimos, efectuados contra a garantia do "emagrecimento" das despesas do Estado, ou seja, de que o dinheiro dos contribuintes portugueses, em lugar de servir para as despesas do Estado português (como saúde, educação, transportes, infra-estruturas, investimento, etc.), sirva para pagar os empréstimos aos grandes investidores, e agora, ao FMI (quarta, e decisiva, burla). No passo, as mesmas sumidades do sistema bancário que foram salvas pelo Estado português, assim provocando a recessão e o empobrecimento dos cidadãos portugueses, declaram que os seus bancos "não ajudarão mais o Estado", esquecendo-se de mencionar que essa "ajuda" consistiu apenas em empréstimos a um juro relativamente mais baixo que o dos mercados internacionais, mas substancialmente mais alto que o do BCE, a quem esses bancos pedem emprestado. Isto apesar de a operação de resgate do BPN e do restante sistema bancário não ter sido efectuada através de nenhum empréstimo, mas apenas da injecção pura e simples de dinheiro, e da "nacionalização dos prejuízos". Perante isto, recusar pagar a dívida pública não é nenhum "calote"; pelo contrário, trata-se não só de uma medida essencial para a recuperação económica, e acima de tudo para a manutenção da soberania nacional, como também algo da mais elementar justiça.