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sábado, 10 de maio de 2008

Quando ouço falar nos “cheiros de África” só me lembro de disenteria

Num comentário hoje aqui publicado, o FAR chama a atenção para a campanha anti-José Eduardo Agualusa desencadeada pela cáfila do outro José Eduardo, o Zé Du. Esse mesmo, cuja filhinha é, nem mais nem menos, uma das principais accionistas do novo banco português. Que a corrupção, a cupidez e a tirania do regime angolano não têm limites, já se sabia. Parece que só o Jerónimo de Sousa é que não sabia, e vá de tecer rasgados elogios ao regime angolano, no termo de uma recente visita a Angola. Deve andar distraído! Mas não é só ele. A esquerda portuguesa continua a investir numa postura grunhófila, com cagaço que lhe chamem neo-colonial (insulto favorito da luminária Mugabe). A intelectualidade nacional assanha-se contra o regime de Harare, sem reparar que em Luanda a situação é bem pior. E quem fala de Luanda, fala de Maputo, onde o presidente Armando Guebuza vai apertando a rosca ao garrote. Ainda há dias um relatório dos Repórteres Sem Fronteiras anunciava que Moçambique caiu dezenas de lugares no concerto das nações, em termos de liberdade de imprensa. Por cá, o relatório passou despercebido, se não ignorado. Prefere-se dar ouvidos à intelectualidade do regime, que, infelizmente, mia pouco, borboleteando nas imaginâncias em vez de chamar os bois pelos nomes. E os nomes são miséria, corrupção, nepotismo, filha da putice institucionalizada. Mete nojo ouvir falar dos “cheiros de África” em tom saudoso, porque a África de hoje cheira a cadáver e a disenteria. Mete nojo ouvir falar no camarão-tigre, enquanto lá os putos da rua vasculham os montes de lixo em busca dos restos do “banquete das hienas”. Mas, é claro, há vozes de revolta, como o rapper Azagaia. Não admira que a Procuradoria da República, em Maputo, o tenha intimado a explicar-se sobre a letra da canção “Povo no Poder”, alusiva às manifestações contra o aumento do preço dos “chapas”, em Fevereiro. Para ver se a letra continha passagens apelando à violência. Como se a revolta não fosse um dever cívico, quando a tirania se torna inenarrável. Em boa hora o Armando reproduziu aqui uma canção do Azagaia, e em boa hora o FAR apela a uma campanha contra a censura e as perseguições (a artistas e não só) nas antigas colónias. Basta de paternalismo! Ser amigo de África é denunciar sem reservas os regimes corruptos e tirânicos, e a pretensa intelectualidade que os apoia. É isso que os africanos, ingenuamente talvez, esperam da Europa. E dos portugueses em particular. Outra coisa é ser cúmplice.

José Pinto de Sá